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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

“You've got mail” – Parte IV

“You've got mail” é um clássico do gênero cinematográfico das comédias românticas. Neste filme pode-se encontrar tudo que uma comédia romântica de boa qualidade pede: química entre o casal de protagonistas, embate e discussões entre o casal apaixonado, encontros e desencontros, um contexto bem formulado para o desenrolar da história de amor, amigos simpáticos dos protagonistas com quem estes desabafam ao longo do enredo e é claro, eles só se beijam no final! Este filme além de nos brindar com todas estas características tão tocantes também tem seu roteiro baseado em “Orgulho e Preconceito”. Pronto! Receita perfeita para nos apaixonarmos pela história!

 

Como já foi muito bem apresentado, este filme retrata um romance que nasce e se desenvolve a partir da troca de mensagens via e-mails pelos protagonistas.

 

Joe Fox (brilhantemente interpretado por Tom Hanks), o nosso herói, confidencia a seu simpático amigo Kevin:

"Kevin, this is possibly the most adorable creature I've ever been in contact with, and if she turns out to be as good looking as a mailbox... I would be crazy enough to turn my life upside down and marry her."

Joe Fox não imagina que a vida dele poderia mudar radicalmente através de uma simples troca de mensagens. Ele não fazia ideia que diante de seus olhos o sinal de email recebido era o toque que o destino fazia para que ele pudesse encontrar a sua alma gêmea. Ele afirma para o seu colega de trabalho, Kevin, de que seria capaz de virar a sua vida do avesso e casar com a mulher com quem ele se correspondia. Através da troca de mensagens, ele enxergava alguém de rara beleza. Alguém que ele não conseguia ver na sua vida quotidiana. Alguém que o entende e que o completa. Cada mensagem é uma confirmação deste veredicto. A ansiedade vive à distância de um clique e da leitura de cada email.

 

O mesmo acontece para Kathleen Kelly (meigamente interpretada por Meg Ryan), nossa heroína, ela se percebe envolvida completamente por alguém que ela não conhece, mas que sintetiza tudo que ela deseja em um homem. Assistindo ao filme, nos observamos ansiosos e curiosos em ler as mensagens trocadas pelo casal e nos divertimos com os embates vividos pelos personagens quando se encontram pessoalmente e em como esta condição muda quando eles se falam através do chat.

 

O filme é um exemplo de como podemos nos envolver “virtualmente” com alguém e estabelecer uma densa relação que só se concretiza por meio de mensagens virtuais. Mas destaca que quando a relação se torna real, concreta, este vínculo pode ser mais prazeroso e intenso.

 

Boa dica de diversão!

You’ve got mail e a internet – uma outra forma de troca de correspondência


“Kathleen Kelly: [in an email to Joe Fox] The odd thing about this form of communication is that you're more likely to talk about nothing than something. But I just want to say that all this nothing has meant more to me than so many somethings. “ 

 

 

You’ve got mail é um filme de 1998. Insere-se na última década do século XX, quando a utilização da internet e do correio electrónico começou a ser uma ferramenta do utilizador comum. Ainda não era um instrumento de massas mas já era bastante conhecido e utilizado.

 

Entendo perfeitamente o fascínio de Joe Fox e Kathleen Kelly. Nesta altura, a questão do chat era uma fonte de novos horizontes. Lembro-me de, em 1998, estar na universidade e ser totalmente viciada em chats. Havia páginas na Web de chats, canais de conversação em tempo real, em que podíamos conversar com pessoas de vários países. Isto era fascinante. Cheguei a conhecer algumas pessoas e a me corresponder com elas. Claro que sempre se coloca a questão da veracidade. Contudo, parece-me que naquele início de utilização da internet tudo era ainda muito inocente. Depois, surgiram os chats temáticos e de seguida a moda do msn. Hoje em dia, as redes sociais comandam: myspace, facebook, twitter, etc.

 

Enviar uma mensagem tem a ver com partilha. Pequenos gestos do quotidianos ditos de maneira informal talvez fale mais sobre a nossa visão da vida e do mundo do que um extenso discurso. É nisto que a troca de mensagens em You’ve got mail ressalta. A realidade do desuso das cartas escritas é outras das mensagens que o filme expõe. Podemos fazer uma comparação e dizer que assim como as grandes livrarias vieram causar a queda das pequenas livrarias (Fox books-The shop around the corner) também a internet veio causar uma queda na escrita e envio de cartas. Acho que não é uma comparação descabida. Mas, de igual forma, podemos afirmar que apesar do instrumento físico de envio de mensagens ter mudado, a necessidade de partilha não deixou de existir. Pelo contrário, é cada mais reforçada e fazemo-la de diversas formas.

 

Aqui, neste momento, a meia luz na minha sala em casa, estou a partilhar convosco estes pensamentos, estes “pequenos nadas” e com isto revelo um pouco de mim, da minha alma. Escrever num blogue tem esta dimensão: um conjunto de “pequenos nadas” que podem significar um todo consistente. Toda a vez que eu vou ler um blogue ou um email penso: o que ele me dirá hoje?

 

 

What will NY152 say today, I wonder. I turn on my computer. I wait impatiently as it connects. I go online, and my breath catches in my chest until I hear three little words: You've got mail. I hear nothing. Not even a sound on the streets of New York, just the beating of my own heart. I have mail. From you. 


[ Kathleen Kelly, You’ve got mail ] 

 

 

 

 

 

You’ve got mail e Jane Austen

Joe Fox: Oh right, yeah, a snap to find the one single person in the world who fills your heart with joy. 

Nelson Fox: Well, don't be ridiculous. Have I ever been with anyone who fit that description? Have you? 

[ You’ve got mail ]

 

Há muitos filmes que são adaptações, alguns são inspirados e outros fazem alguma referência à obra literária de Jane Austen. You’ve got mail, do meu ponto de vista, não faz apenas referência, é inspirado em Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Em Joe Fox/Tom Hanks e Kathleen Kelly/Meg Ryan podemos identificar Mr. Darcy e Elizabeth Bennet. Mas esta identificação não é imediata. Não se trata daqueles filmes que pensamos “Ok, a tua base é O&P” e andamos à caça de todos os personagens do livro. Não. Este filme foca a questão subjacente que Jane Austen sempre quis destacar em O&P: o erro que caímos quando nos fiamos nas primeiras impressões. Falamos de duas pessoas que se conhecem antes de se conhecerem de facto. Joe e Kathleen correspondem-se por emails, sem se conhecerem, e fazem-no sem se identificarem com os seus verdadeiros nomes. Apenas identificam-se através de um nickname. Falam sobre as coisas aparentemente pequenas do quotidiano, mas sem revelarem dados concretos de suas vidas privadas. Acabam por se conhecer em concreto, contudo, sem saberem que se correspondem. A primeira impressão é horrível. Detestam-se, espicaçam-se e evitam-se. A antipatia é latente. Ele, porque a vê como um obstáculo a ser ultrapassado profissionalmente; ela, porque o vê como a causa do infortúnio do seu negócio. Há todo este pano de fundo do sector livreiro: ele, um grande empresário e dono de uma cadeia de livrarias de grande alcance; ela, dona de uma pequena livraria de literatura infantil. O facto de serem concorrentes no ramo das livrarias é o tempero que dá sabor a esta história. Há este duelo de vontades, de olhares e de palavras. Um “duelo” bem ao estilo “Darcy/Elizabeth” que fascina a cada momento do filme.

 

Joe Fox é quem primeiro descobre a verdade sobre a identidade de ambos enquanto correspondentes. Ele descobre e ela ignora a verdade. A cena em que eles vão se encontrar num café para se conhecerem faz-me sempre lembrar a cena em que Darcy declara-se pela primeira vez a Elizabeth. Não pela semelhança de acções mas por tratar-se do momento de viragem da história. Ele, tal como Darcy, quer demonstrar a Kathleen que a primeira impressão que ela tem dele não é a verdadeira. Ele quer conquistá-la. Ele tenta, sem se revelar, fazer com que ela goste tanto dele – Joe Fox – como do “NY152” (seu nickname). Ao baixar as defesas também Kathleen mostra-se como ela realmente é, tal e qual a sua “Shopgirl”.

 

A dinâmica entre eles faz lembrar aquela máxima que defende que odiamos na mesma intensidade em que amamos. Há intensidade, sobretudo. A verdade é que se eu ouvisse Joe Fox a dizer “You must allow me to tell you how ardently I admire and love you” para a Kathleen Kelly, não acharia estranho.

You’ve got mail – o filme

 

Whatever you do, just don't listen to anything I say.

Joe Fox, You’ve got mail


 

Este filme é dirigido por Nora Ephron. Na sua filmografia podemos reconhecer vários filmes de sucesso. Aliás, é ela responsável por umas das comédias românticas de que eu mais gosto: When Harry met Sally. Dela também é o excelente “Julie & Julia”.

 

O argumento gira em torno de duas vertentes. Uma delas retrata o fenómeno do reforço e do crescimento das grandes livrarias e o consequente retrocesso/queda das pequenas livrarias de estilo comércio tradicional. Outra vertente é a generalização do uso da internet ao nível de práticas sociais: trocas de mensagens por email e por chat com intuito de estabelecer convívio.

 

A grande livraria é a Fox Books que quer monopolizar o mercado livreiro. Joe Fox é o herdeiro deste “império” e está empenhado na abertura da mais recente loja no West Side em Nova Iorque. Indiferente a este processo encontra-se “The shop around the corner” de Kathleen Kelly, uma pequena e tradicional livraria especializada em literatura infantil. A ascenção de uma livraria levará a queda da outra. Ambos não se conhecem pessoalmente mas correspondem-se por email, sem saber a identidade um do outro. Tratam-se por “nicknames” e não falam de coisas e dados pessoais. Ele, Joe Fox, é NY152. Ela, Katlheen Kelly, é Shopgirl. Nesta troca de emails revelam pensamentos, trivialidades, pequenos episódios e sentimentos. Sem o saberem, revelam-se. Quando conhecem-se pessoalmente, detestam-se. Reconhecem-se como rivais e concorrentes no seu ramo de negócio mas ignoram que se correspondem por emails. Este é o motor do filme, a partir daqui algumas peripécias e momentos divertidos acontecem.

 

Pessoalmente, eu adoro este filme. Eu sou uma grande fã de Meg Ryan, do Tom Hanks, de Greg Kinnear, de Jane Austen, de Orgulho e Preconceito, de internet, de livros, de livrarias e de café. Este filme tem tudo isto. Parece estranho… Mas é um filme que consegue reunir todos estes elementos de uma forma inteligente e encantadora. O casal Tom Hanks/Meg Ryan estabelecem uma excelente química e isto é muito importante num filme deste género. Posso afirmar que este está no meu top 3 de filmes inspirados em Jane Austen.

 

Se alguém não o assitiu, não perca tempo. É uma comédia romântica como poucas: bons actores, boa banda sonora e um argumento encantador.