Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Próxima Sessão do Clube de Leitura Jane Austen

 

Clube de Leitura Bertrand

Créditos da imagem: http://clubedeleiturabertrand.blogspot.pt/p/clube-de-leitura-jane-austen.html

 

 

A próxima sessão do Clube de Leitura Jane Austen da Bertrand irá decorrer no próximo dia 17 (domingo), às 15H30, na livraria do Saldanha, como tem sido habitual.

 

Desta vez,  vamos analisar as dificuldades que encontram os tradutores dos clássicos de Jane Austen e tentar compreender como funciona o processo de tradução. Para este efeito, temos um convidado muito especial que tem estado a colaborar com o JAPT há algum tempo, traduzindo aquela que é considerada a obra mais emblemática de Miss Austen, cujo bicentenário se celebra este ano: Orgulho e Preconceito.

 

Fracisco Niebro, tem-se dedicado à tradução de vários clássicos para a segunda língua do território português: o mirandês. Por isso, a conversa também nos levará para a  compreensão desta língua e para a sua história até aos dias de hoje.

 

Será, certamente, uma conversa animada, produtiva e muito austeniana, claro, em torno de Orgulho e Preconceito ou Proua e Percunceito e da língua mirandesa.

 

 

Contamos convosco.

 

Boas leituras!

Despertar para "Proua e Percunceito"

 

 

Foi com um misto de receio e expetativa que convidei o Fracisco Niebro para traduzir a obra mais conhecida de Jane Austen para mirandês. Com este convite, queria que a obra de Jane fosse ao encontro da língua mirandesa. Creio que entre elas existem grandes similitudes, designadamente, as características rurais, no sentido de estarem mais ligadas à parte rural e não tanto ao meio citadino, e até mesmo de aceitação. Mas, como tudo o que tem qualidade vinga, ambas aí estão marcando o seu percurso e lugar nas respetivas histórias e categorias.

 

Aquela que é a segunda língua de Portugal, empresta agora a sua voz especial a "Orgulho e Preconceito". A sua sonoridade particular faz lembrar o castelhano e baralha os ouvidos; faz eco na cabeça quando procuramos encontrar as palavras já tão conhecidas. Mas assim que nos concentramos, ela revela-se clara e nítida. É Jane Austen em mirandês.

 

Para melhor conhecer e absorver esta língua, nossa língua, nada melhor do que abordá-la através de uma obra que se gosta. São estas as razões que me levaram a tomar coragem e a abordar o Fracisco, desafiando-o descaradamente para este projeto do "JAPT". Para minha grande surpresa, o convite foi aceite com entusiasmo. Assim, há já algum tempo que este escritor e tradutor mirandês colabora connosco com trabalho dedicado, de grande qualidade e rigor, como é seu cunho em tudo o que faz.

 

Todavia, este projeto não é estático, nem fechado e muito menos exclusivo. Por isso, a tradução de "Orgulho e Preconceito" para mirandês está também a decorrer no blogue "Na Sombra dos Livros", pela pena do mesmo tradutor. Felicito a autora pela visão demonstrada ao adotar e acolher este lindíssimo projeto. A tradução, naquele blogue, conta agora com o primeiro capítulo.

 

Aos dois autores, da tradução e do blogue, os meus sinceros agradecimentos pelo acolhimento deste romance de Jane Austen na língua mirandesa e pela língua mirandesa. Gostaria, pois, de deixar mais um desafio ao Fracisco Niebro: a tradução dos restantes romances de Jane Austen. Às editoras deste país, deixo outro: que peguem nesta tradução e a transformem num livro para todos os colecionadores das obras de Jane Austen, para todos os mirandeses e para que o público em geral fique e conhecer um pouco mais sobre a nossa segunda língua.

 

Buonas lheituras, melhores çcubiertas!

 

 

 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #BR

Lendo Sense and Sensibility no Brasil 200 anos depois – parte II



Alcançada esta Segunda Etapa da Leitura Comparada de Sense and Sensibility de Jane Austen nas traduções Sensibilidade e Bom Senso (Maria Luísa Ferreira da Costa) e Razão e Sentimento (Ivo Barroso), partilho convosco o olhar da Raquel Sallaberry sobre estes capítulos que está publicado no Lendo Jane Austen:

 

Lendo Sense and Sensibility Brasil-Portugal - parte II

 

 

Mas, a Raquel também remete para outros dois textos que acrescentam valor a dois episódios que surgem ao longo destes capítulos em análise:

 

-O bom e velho Constância

-O duelo de Razão e Sentimento 

 

--

 

Obrigada, Raquel, por mais esta etapa!

 

 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #BR

Lendo Sense and Sensibility no Brasil 200 anos depois – parte I

 

Depois de publicado os meus primeiros textos sobre a Leitura Comparada de Sense and Sensibility de Jane Austen nas traduções “Sensibilidade e Bom Senso”  (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso), tenho o prazer de também partilhar a ligação para os textos da Raquel Sallaberry que estão publicados no Lendo Jane Austen. Eu já os lí e estão excelentes. 

 

Lendo Sense and Sensibility no Brasil 200 anos depois – I  

 A Idade de Marianne Dashwood 

--

 

Aproveito para deixar-vos os posts anteriores publicados pela Raquel. Eu estou a adorar os textos dos leitores convidados por ela para falarem sobre "Sense and Sensibility" - uma ideia original e interessante.

 

Bicentenário de Sense and Sensibility – Abril a Junho

Com quem casam os rapazes de hoje: Elinor ou Marianne?

Leitores convidados no Jane Austen em Português

Sense and Sensibility: duzentos anos este ano

Sensibilidade e insensibilidade

Boa Páscoa leitores do Jane Austen em Português

Marianne e Willoughby na Índia!

A terceira irmã Dashwood

Sense and Sensibility – aquarelas de C. E. Brock

 
 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #38

- Sense and Sensibility em Portugal 200 anos depois – I  Parte - #2

- O tradutor visto por uma leiga -

 

 

Como eu afirmei no post anterior, não sou tradutora e estou bem longe disto. Contudo, a dada altura e durante a leitura comparada, comecei a reflectir sobre a posição do tradutor. Neste desafio não estamos a focar o olhar unicamente sobre Jane Austen, mas sobretudo sobre as opções tomadas por cada tradutor.

 

Dei por mim a pensar na dinâmica deste trabalho e surgiu-me este pensamento: haverá condição mais solitária do que o tradutor no exercício do seu ofício? Não sei se a minha interrogação será abusiva mas comecei a visualizar mentalmente o tradutor neste diálogo silencioso de leitura e de descodificação de uma mensagem. Ele está diante de uma obra, que pertence a um tempo histórico, a uma cultura, a um tipo de mentalidade e a uma língua específica. Para além disso, ainda temos que considerar que há o escritor e a sua intencionalidade. E, ainda temos de considerar também, que o tradutor tem o seu ponto de vista de leitor e que tem de abstrair-se disto. Ou não?

Interrogo-me, muitas vezes, se a dualidade “tradutor/leitor” entram em conflito na actividade de tradução. Há a intenção do autor da obra que, excepto ele a deixe por escrito, nunca a alcançamos totalmente. Há a interpretação da obra por parte do leitor. Isto será um terreno minado para quem tem a tarefa de traduzir uma obra?

 

Parto da ideia de que para efectuar qualquer tradução estarão inerentes determinados processos que levam ao rigor e a objectividade para obter um resultado final fiel ao original. Num texto técnico, o rigor e a objectividade parecem-me ser metas indispensáveis senão fundamentais. Num texto e obra de cariz literário, para além disto, há toda uma série de condicionalismos. Alguns condicionalismos foram referidos acima: tempo histórico, cultura, língua, mentalidade; mas ainda há outros, dentre eles: o estilo de escrita do autor da obra, a coordenação entre a subjectividade do autor e do tradutor, e a interpretação da intencionalidade do autor pelo tradutor. Será que podemos conceber que exista este espaço de interpretação? Isto é, a semelhança de um jornalista, há a necessidade de imparcialidade como condição ética essencial para o exercício da sua actividade; ou, pelo contrário, a parcialidade é benéfica?

 

Estas interrogações e afirmações têm uma natureza intuitiva. Foram ilações que me atravessavam a mente durante o exercício de leitura de ambas as traduções. Não quero ter a pretensão de lançar pressupostos sobre a técnica de tradução ou sobre o trabalho do tradutor e acredito que estas questões poderão parecer “romantização” da profissão. A minha partilha destina-se, apenas, a ser matéria de reflexão de uma actividade que parece ficar um pouco à sombra do anonimato.

 

 

 

 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #37

 Sense and Sensibility em Portugal 200 anos depois – I Parte - #1

 Leitura Comparada de Sense and Sensibility de Jane Austen nas traduções: 

“Sensibilidade e Bom Senso”  (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso) 


 

Introdução. Após a surpresa e a alegria inicias provenientes do convite da Raquel Sallaberry do Jane Austen em Portuguêspara este desafio, veio a fase de planeamento e a concretização de algumas etapas do programa delineado. Sobre a tarefa específica da Leitura Comparada confesso que senti algum pânico: o que posso eu dizer sobre isto? Como posso fazer uma apreciação sobre o resultado do trabalho de um especialista? Eu não sou tradutora. Estou bem longe deste ofício.

Não tenho a pretensão de fazer um estudo aprofundado e/ou académico. Assumi a certeza de que a minha leitura terá de ser a de alguém que ama três coisas: a língua portuguesa, a literatura e Jane Austen. O meu olhar será do ponto de vista do leitor. Uma irremediável leitora.

Ler Jane Austen, nos nossos dias, pode parecer um tanto deslocado. Ler escritores clássicos é, muitas vezes, visto como algo pouco atractivo e antiquado. Acredito que a genialidade ultrapassa a barreira do tempo. Se lapidarmos as circunstâncias e o contexto histórico entendemos que os sentimentos e as atitudes relatados são extremamente semelhantes aos da nossa contemporaneidade.

Gosto deste desafio que, por vezes, designo como um desafio lusófono.

 

Leitura Comparada. Esta primeira etapa da Leitura Comparada entre “Sensibilidade e Bom Senso” (tradução de Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (tradução de Ivo Barroso) foi feita do Capítulo 1 ao 22. Não foi um percurso de um fôlego só. Tem sido uma gradual construção e um exercício de compreensão. É interessante confirmar que a língua portuguesa é multifacetada e que a sua expressão nos dois países (Portugal e Brasil) assume particularidades assinaláveis.

Optei por não demonstrar capítulo a capítulo as diferenças porque seria demasiadamente longo. O que faço é destacar algumas passagens que convidam à reflexão.

 

Uma mesma língua: significantes diferentes, significados iguais. Falamos a mesma língua mas a forma de expressão difere. A escolha e o uso das palavras para traduzirem determinado significado, pelos tradutores, são um exemplo desta diferença. Há expressões que são típicas e que, não sendo literais ao original, traduzem a ideia que o texto quer transmitir.

Coloco alguns exemplos deste tipo de situação:

 

 

 

 

 “uma articulação imperfeita das palavras, um desejo voluntarioso de fazer o que queria, muitas partidas* engraçadas e muito barulho” (Sensibilidade e Bom Senso, Capítulo 1, pg. 6) 

“uma articulação imperfeita, um persistente desejo de afirmar a sua vontade, muitas artimanhas astuciosas e uma barulheira infernal” (Razão e Sentimento, Capítulo 1, pg. 6)

*Dizer “pregar uma partida” em Portugal será o equivalente a “pregar uma peça” no Brasil; ou seja, o sentido é o de uma brincadeira inesperada. 

 

 

 

 

“A sua casa ficará portanto quase completamente recheada* logo que tomar posse dela”. (Sensibilidade e Bom Senso, Capítulo 2 , pg.12)

“Ela estará com a casa quase completamente montada quando se mudarem daqui.” (Razão e Sentimento, Capítulo 2, pg.12)

* A expressão “casa recheada” ou “com recheio” é quando ela está devidamente mobilada. Não é incomum aqui utilizar-se o termo “montada”, mas é mais usual dizer-se “recheada”.

 

Opções e dúvidasDeparo-me com algumas frases em ambas traduções que levantam-me dúvidas quanto ao resultado. 

 

 

“Lembra-te, minha querida, de que ainda não tens dezassete anos.” (Sensibilidade e Bom Senso, Capítulo 3,  pg. 16)

"Lembre-se, minha querida, de que você ainda não tem dezesseis anos.” (Razão e Sentimento, Capítulo 3 , pg. 16)

Questiono-me o porquê da tradução brasileira atribuir à Marianne uma idade diferente do original. Será que “you are not seventeen” possa implicar que Marianne não tenha especificamente 16 anos e que possa ter menos idade? Deirdre La Faye escreve que “they made their debut into society in their late teens” (La Faye, Deirdre; “Jane Austen – The world of her novels”, pg. 113) o que poderia significar que uma jovem debutaria entre os 17 e os 18 anos. Então faria sentido pensar que com esta fala, Jane Austen através de Mrs. Dashwood não está a indicar a idade exacta de Marianne.

 

 

 

 

 Margaret, como acompanhante de Marianne, com maior elegância que precisão, acalmou Willoughby, que viera cedo, na manhã seguinte à casa para saber pessoalmente como ela passava.”(Sensibilidade e Bom Senso, Capítulo 9, pg. 36)

O guardião de Marianne, título que Margaret, com mais elegância que precisão, atribuíra a Willoughby, apareceu na manhã seguinte bem cedo à porta do chalé para saber pessoalmente do estado dela.” (Razão e Sentimento, Capítulo 9, pg. 35)

Este foi o parágrafo que, ao longo destes 22 capítulos, levantou-me mais dúvidas. Não vos parece que o início da frase, em ambas as traduções, transmita um significado totalmente diferente entre si? Quando compara ambas com o original, as minhas dúvidas aumentam.

 

Em traços gerais, através destes breves exemplos pretendi destacar diferenças de expressão e as dúvidas que algumas passagens criaram em mim. Contudo, a aventura ainda está no início. Ainda há um longa caminho a percorrer nesta trilha do desafio do Bicentenário S&S e da Leitura Comparada entre "Sensibilidade e Bom Senso" e "Razão e Sentimento". Guardo a certeza de que as páginas ainda reservam muitos aspectos sobre os quais repousar os olhos, alargar a visão e surpreender-me com alegria pelas novas descobertas. Aproprio-me, com civilidade, de uma frase das cartas de Jane Austen para afirmar...

 

..."No, indeed, I am never too busy to think of S. and S.."