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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Mais frustrante relação familiar

 "nobody hears Anne, nobody sees her, but it is she who is ever at the center"

 

A futilidade e a vaidade do pai de Anne, Sir Walter Elliot, só se iguala à da sua irmã mais velha, Elisabeth. Anne Elliot é a única das três irmãs que não herdou algo do feitio do seu pai, mas antes da sua mãe, e é uma mulher justa, amorosa e extremamente caridosa, mas que o "desgosto amoroso que teve aos 19 lhe fizera perder, precocemente, o viço, permanecendo, ainda que não tanto como o fora, bela".

 

Essa vaidade de Sir Walter influencia a forma como ele trata as suas próprias filhas; favorece Elizabeth fortemente porque ela herdou a boa aparência da mãe e o seu orgulho e vaidade. Ele vê-se a si próprio nela e apresenta-a orgulhosamente como uma Elliot, considerando que o mesmo não se pode dizer de Anne e Mary.

 

Mary, por seu lado, ao fazer um casamento rico com um homem das melhores famílias da região, satisfez um pouco o seu pai, enquanto que Anne continuou, por ele, a ser tratada quase como uma criada, uma pessoa que não parece pertencer aquela família. Nem Sir Thomas Bertram tratou assim Fanny Price, com este desprezo, indiferença e depreciação.

 

Melhor personagem cómico

  • Sir Elliot

 

Pensei, pensei e Mr Collins e Sir Elliot não me saiam da cabeça. Todavia, tentei medir o meu grau de diversão com estas duas personagens e vi-me forçada a escolher Sir Elliot. São ambos ridículos, mas a posição de aristocrata decadente que Sir Elliot interpreta ganharam força em relação a Mr. Collins. 

 

Espelho, espelho meu...

 

 

 

 

 

Antes de ir para Bath,  Anne Elliot acompanhou Lady Russel numa visita ao casal Croft em Kellynch-Hall. Enquanto conversavam, o Almirante Croft faz este comentário sobre a casa e sobre Sir Walter Elliot à Anne.

Não preciso dizer que ri com vontade ao reler este trecho, até porque me lembrei do comentário da Vera sobre o Sir Walter da versão de 1995.

 

Espelho, espelho... o que revelarias sobre Sir Walter Elliot se pudesses falar?

 

 

 

 

Sir Walter Elliot #2

Se o único defeito de Sir Walter Elliot fosse a vaidade talvez eu não o recriminasse tanto.

Nos livros de Jane Auten podemos encontrar uma variedade de tipos de figuras paternais. Todos eles com maneiras específicas de ser e com diferentes formas de ser relacionar com os seus filhos e filhas.  Em Persuasão, a meu ver, encontro o tipo paternal execrável. Sei que, dito assim, esta minha afirmação pode soar exagerada. Mas explicarei as minha razões.

 

Toda a pompa, circunstância e reverência das quais Sir Elliot se julga merecedor; toda a vaidade e presunção de seus gestos, palavras e atitudes seriam desculpáveis se ele se mostrasse ser efectivamente um pai carinhoso, presente e cuidadoso das suas três filhas. A única filha a quem ele dedica real afeição é Miss Elizabeth Elliot. Permitam-me dizer:  tenho certeza de que isto acontece apenas porque ela é a versão feminina dele. Herdou-lhe a beleza, a vaidade e a presunção. O que constitui uma prova mais do que palpável da dimensão do seu egocentrismo.

 

"como era muito bonita, e muito semelhante a ele, a sua influência fora sempre grande e tinham-se dado os dois muito bem juntos. O valor das suas duas outras filhas era muito inferior"

 

Somente à Miss Elliot ele dedicava as suas conversas, "preocupações", passeios e decisões. Vemos, ao longo do livro, o desprezo com o qual ele olha para Mary - por se ter casado com alguém que ele julga inferior aos Elliot - e a total indiferença relativamente à Anne. Ela simplesmente não existe. Excepto, talvez, quando é necessário que alguém cumpra alguma tarefa desagradável. Mesmo na situação da possível união entre Anne e Frederick, Sir Walter nem sequer se dá ao trabalho de manifestar discordância.

 

"Sir Walter, quando foi solicitado nesse sentido, sem recusar, de facto, o seu consentimento, ou dizer que tal coisa jamais poderia acontecer, reagiu com todo o negativismo do grande espanto, da grande frieza, do grande silêncio e de uma resolução manifesta de não fazer nada pela filha"

 

A impressão que eu tenho sempre que leio "Persuasão" é a de que Sir Walter Elliot é um pai indiferente, frio e distante.  Por vezes, sobressai mais o lado frio. Outras vezes, sobressai a indiferença. Mas o que me perturba mais é a sua indiferença. Não há nada pior que a indiferença. Tudo isto, estou convicta está na raiz dos defeitos e frustrações das filhas.

 

Sei que as filhas, cada uma da sua maneira, amavam o pai. É o que Jane transmite-nos. Mas eu, enquanto leitora, devo manifestar a minha repulsa por Sir Walter. Nunca lhe perdoarei a indiferença.

Sir Walter Elliot #1

[descrição]

 

"A vaidade era o princípio e o fim da personalidade de Sir Walter Elliot: vaidade pessoal e de situação."

 

Ele é possuidor de um título, propriedades,  bens, educação, classe e beleza. Sir Walter Elliot tem a convicção de que o mundo existe e respira unicamente por causa da sua existência. O nome Elliot seria sempre um nome a ser reverenciado. Nada poderá ser mais importante do que satisfazer o seu bem-estar e as suas exigências. Menos do que isso seria demasiadamente, nas suas próprias palavras, "degradante". O seu quotidiano resumia-se à satisfação das suas próprias conveniências e a constatação da extensão da sua imagem.

 

" Sir Walter Elliot, de Kellynch-Hall, no Sommersetshire, era um homem que, para se distrair, nunca pegava noutro livro que não fosse o Baronetage: nele encontrava ocupação para uma hora de lazer e consolo"