Agora, publicamos online a nossa nova ficção amadora, cujo mote foi simplesmente misturar as várias personagens do universo Austeniano... do que falariam uma Lizzie e uma Emma? Teria Marianne criado alguma ilusão por Mr. Wickham? Ou quiçá, uma amizade de infância entre Lady De Bourgh e Mrs. Ferrars!
Seguimos o mesmo método – a cada uma coube uma semana para desenvolver a história. Nenhuma de nós sabia que rumo a história ia tomar, ela foi-se formando simplesmente!
Esperamos que gostem e que nos perdoem alguns possíveis exageros, mas tudo não passa de um exercício de imaginação e de paródia. Gostamos de acreditar que Miss Austen se iria rir muito se porventura tal história lhe fosse um dia parar às mãos!
Todos os casamentos se realizaram na altura prevista, tornando felizes aqueles que os protagonizavam e também os que a eles assistiam, passando a ser cada vez mais frequentes os contactos entre os amigos, alguns deles agora tornados próximos pelos parentescos resultantes dos casamentos.
Emma e Mr. Knightley, que ela agora chamava George, também eles recém-casados, assistiam com surpresa ao casamento que se realizava naquele dia de outono, com ares de pompa, em Mansfield Park.
Estavam ali todos presentes, já o tinham estado no casamento anterior que também ali se realizara, um mês atrás, entre Fanny Price e o seu primo Edmond Bertram.
Mas agora, apenas Georgiana e William não tinham comparecido, tendo já iniciado a sua ansiada viagem para as Índias Ocidentais. Apesar das saudades, Lizzie e Darcy estavam tranquilos e felizes, pois antes da partida, tinham-se encontrado todos com a irmã de Lizzie, Kitty, que também havia casado com um oficial da Marinha, passando desde então, mais tempo no mar do que em terra, não parecendo em nada mais envelhecida nem menos feliz do que se vivesse permanentemente no mesmo local. Pelo contrário, Kitty tornara-se uma mulher cada vez mais bonita e mais interessante, ultrapassados que tinham sido os tempos de futilidade, quando ela e Lydia só tinham pensamentos sobre oficiais!
Numa das visitas à família, Kitty e o marido tinham falado maravilhas do mundo que agora conheciam, estando agora enormemente ampliada a sua visão das coisas e do mundo, dando a Georgiana amplos motivos para sonhar ainda mais.
E assim, Lizzie e Darcy tinham-se conformado com a ausência de Georgiana, conscientes da enorme felicidade que a irmã mais nova estava a sentir. E havia Jane e Charles Bingley, cada vez se visitando mutuamente durante mais tempo, havia o bebé de ambos que recentemente nascera, um menino robusto que herdara o nome do pai, havia os gémeos que estavam cada vez mais crescidos e bonitos, havia também a própria Lizzie que descobrira nos últimos dias que estava outra vez de esperanças… eram tantos os motivos para sorrirem e se sentirem gratos pela vida que tinham!
Anne e Frederik Wentworth sentiam-se esfusiantes, ela ainda mal acreditando que aquele casamento a que agora assistiam em Mansfield Park era mesmo o daqueles noivos que ali se encontravam, ambos tão compenetrados na cerimónia e ao que se dizia, tão apaixonados um pelo outro! Nos seus pensamentos mais íntimos, Anne duvidava que a noiva estivesse realmente apaixonada, pois parecia-lhe que o peso maior da sua decisão estava no título e na fortuna do noivo, mas deixava essas considerações para si própria, esperando que o futuro não confirmasse as suas suspeitas e ambos fossem realmente sempre felizes e apaixonados.
- Nem consigo acreditar que este casamento se está a realizar! – suspirou Anne.
- Não te inquietes, meu amor! – disse Frederik, adivinhando no que estava ela a pensar.
Havia mais de meia hora que a noiva tinha passado de braço dado com o pai, vaidoso e inchado de orgulho, ela muito bela como sempre, de rosto no ar com aquele ar de petulância que lhe era tão característico.
- Viste como o meu pai não nos liga, só tem olhos para sir Thomas Bertram… - comentou Anne.
Wentworth sorriu e abraçou ainda mais a sua querida Anne. Sabia como a família dela sempre a tinha marginalizado e desprezado, sobretudo o pai e a irmã mais velha, Elisabeth, valorizando apenas as aparências, os títulos e as riquezas.
Após o casamento de Anne e Wentworth, sir Walter Elliot tinha-se feito convidado para Mansfield Park, juntamente com a sua filha mais velha, Elisabeth. Apesar de Elisabeth estar ligeiramente diferente, muito mais simpática com as irmãs e supostamente mais humana, este casamento que agora se realizava entre ela e Tom Bertram, o primogénito de sir Thomas Bertram, tinha-a elevado perante o pai, reforçando-lhe o orgulho e acentuando-lhe a vaidade. Elisabeth dizia que estava muito apaixonada por Tom Bertram e que esse amor nascera durante essa estadia em Mansfield Park.
Fosse como fosse, pareciam estar todos muito felizes e satisfeitos com aquele casamento que agora aproximava as duas famílias. Apesar de não achar muita graça ao pai da noiva, cuja cabeça de vento estava constantemente a magicar em futilidades, ligando apenas às aparências, sir Thomas Bertram não desgostava da noiva e achava que com o passar do tempo e alguma polidez, Elisabeth se poderia tornar sem problemas a futura lady Bertram.
A irmã mais nova de Anne e Elisabeth, Mary Musgrove, de braço dado com o seu marido Charles, também estava razoavelmente satisfeita, embora os achaques que sempre a ocupavam, não lhe dessem descanso.
Tinham agora cinco filhos, todos rapazes, inquietos e travessos que corriam pelo jardim e não lhes davam descanso. Mary queixava-se constantemente que ninguém se preocupava com a sua pessoa, sequer Charles, embora o próprio sentisse que não era assim.
Quanto a sir Walter, estava nas nuvens! A sua filha preferida, sem sombra de dúvidas, a mais bela das três, era também aquela que casava em último lugar, mas fazia o melhor casamento de todas!
Mansfield Park era realmente uma beleza e o sonho de qualquer pai, embora houvesse uma nódoa, mal esclarecida sobre uma filha de sir Thomas Bertram de quem ninguém falava, e que havia anos abandonara o marido, fugindo com outro indivíduo com quem afinal acabara por não ficar. Mas essa era uma mancha familiar que estava oculta, todos se fechando cuidadosamente a dar pormenores sobre esses distantes acontecimentos, sequer já se sabendo se essa filha de sir Thomas Bertram, Mary de seu nome, estava viva ou se já morrera.
A outra filha de sir Thomas Bertram, Julia Yates, era casada com um ator de teatro em Londres e dizia-se que ela própria também representava, o que sir Walter não achava grande coisa, pois suscitava falatórios, mas pelo menos apresentavam-se ambos muito elegantes e belos, provocando admiração nos rostos daqueles que os contemplavam.
Poucas vezes Julia Yates e o marido visitavam Mansfield Park e a sua vinda para os casamentos dos irmãos, com um mês de diferença entre ambos, suscitara tanta curiosidade e admiração por parte de todos, pois dizia-se que eram ambos muito excêntricos e que sir Thomas Bertram não gostava de os ter por perto.
Tanto melhor para Elisabeth, pensou ufanamente sir Walter, pois assim poderá ter Mansfield Park só para si no futuro!
E assim decorreram os casamentos, envoltos em felicidade e conversas, aproximando os amigos e tornando para todos eles a vida social bastante mais agitada e movimentada.
Emma apercebia-se agora que quanto mais próxima estava de Mr. Knightley, mais desejava estar. Após o êxito dos casamentos de Anne com Wentworth, General Tilney e Lady Russell e Henry Tilney e Catherine e perante a perspetiva breve dos próximos, a vida de Emma era agora uma roda viva de atividade e engenhos, sempre ternamente acompanhada por Mr. Knightley.
Apesar dos receios iniciais, Mr. Woodhouse aceitou bem a quantidade de afazeres da sua filha, mesmo quando a própria sequer julgava que ele o fizesse. Ainda assim, tendo permanecido no seu recato em Hartfield, o doce idoso queria saber todos os passos que havia sido presenciados e com todos os pormenores, pelo que Emma e Mr. Knightley passavam tardes e serões inteiros a contar-lhos, por vezes repetindo o que haviam dito anteriormente, pois Mr. Woodhouse pedia vezes sem conta que lhe dissessem o que já havia sido dito no dia anterior. Após os relatos e as respostas às suas questões, Mr. Woodhouse inquietava-se por todos na mesma medida em que se revelava curioso com os acontecimentos que não havia presenciado.
- Pobre Miss Elliot – ainda ele se lamentava quanto ao casamento de Anne – passou por tantas coisas há tão pouco tempo e já teve de casar!
- Mas querido papá – repetia pela décima vez Emma com ternura – A Anne casou com o seu amor de sempre, estão muito felizes os dois, não é pobre coisa nenhuma!
Mr. Knightley também estava presente e riu-se muito. Nos últimos tempos, Mr. Knightley estava sempre presente em todos os momentos, o que era ótimo, pensou Emma. Os queridos amigos, Mr e Mrs Weston tinham-se ausentado por alguns meses, levando a sua pequena Susan que já fazia seis anos, de visita a Frank e Jane Churchill, que também os haviam brindado com um neto. As cartas que chegavam eram sempre lidas com enorme felicidade, embora com saudade dos ausentes, todos sabendo que os meses passariam num ápice e em breve todos estariam novamente juntos.
- E o próximo casamento é já o de Georgiana com William Price em Pemberley… - contou Emma, também pela décima vez.
- Pobre Georgiana, essa é que é mesmo pobre… - comentou pesaroso Mr. Woodhouse – já que vai passar a vida nos navios a viajar por águas tumultuosas e revoltas, enfrentando perigos, piratas e doenças, e tudo isso para quê? Se tinha a felicidade em Pemberley, um conforto tão bom, rodeada daqueles que a amam, que necessidade tem agora de ir pelo mundo, exposta sabe-se lá a quê…
Emma e Mr. Knightley entreolharam-se divertidos. E foi quando se despediram até ao dia seguinte, que Emma acompanhou Mr. Knightley à porta e ele lhe disse de súbito:
- Emma, tenho tanto para lhe dizer que já não sei como contar…
Emma estremeceu mas manteve a sua serenidade aparente e respondeu rindo-se:
- Então diga, Mr. Knightley, diga…
Mr. Knightley olhou-a nos olhos e segurou-lhe na mão:
- A verdade é que a amo, Emma, e desejo muito casar-me consigo… não a levarei para longe, na verdade, estou a pensar mudar-me para Hartfield para podermos estar todos juntos, eu, a Emma e o seu pai… o que me diz?
Emma tinha de alguma forma sido apanhada de surpresa. Mas as perspetivas eram tão boas e o futuro tão alegremente sugestivo que não conseguiu dizer outra coisa que não fosse que sim.
E a primavera chegou finalmente naquele ano e com ela, os casamentos que se esperavam com tanta ansiedade. Como havia sido acordado entre todos, as cerimónias realizaram-se todas no Solar de Kellynch, ainda alugado pelo Almirante Croft a sir Walter Elliot.
Anne estava radiante e muito bela, tão feliz, finalmente casando com o seu amado Frederik Wentworth, que tudo o que ocorrera antes já parecia um sonho mau, cada vez mais afastado e apagado, desfazendo-se no tempo e tornando-se já coisa nenhuma.
Quanto ao próprio Frederik Wentworth, a sua felicidade era tão completa e a comunhão entre ambos tão plena, que já nem se incomodava com os disparates do sogro, que só falava em gente da nobreza, na beleza de algumas pessoas e na fealdade de muitas outras.
Wentworth pensou com algum humor, que quando falava dos outros, sir Walter Elliot não devia ter a noção da sua própria figura, agora um pouco atarracada, a barriga saliente, o rosto muito pálido devido à sua fobia pelo sol e os olhos meio afundados. Claro que não, sir Walter Elliot não se dava conta da sua aparência e da forma como parecia mesquinho e hipócrita, pouco ligando à filha, apossando-se de sir Thomas Bertram em todos os momentos, correndo atrás dele quando o via a conversar com outras pessoas.
Quanto a General Tilney e Lady Russell, ambos se encontravam muito conscientes dos seus papéis, mais humanos e sensíveis para com os outros e os seus problemas, deixando de ligar tanto às aparências e passando a estar mais atentos aos sentimentos.
Algum tempo atrás, após o rapto de Anne e a morte do louco Elliot, General Tilney descobrira que o seu caseiro em BlackThunder havia sido assassinado, supostamente pelo mesmo indivíduo que raptara Anne. Tinham sido maus momentos, pensou General Tilney, que se apressara a vender a propriedade por bom dinheiro.
Depois disso, aceitara que se fizesse o casamento da sua filha Eleanor Tilney com o seu amado de sempre, facto a que em tempos ele próprio se havia oposto com tanta veemência e que agora via com novos olhos. Os felizes recém-casados haviam viajado para a Irlanda, onde o noivo possuía propriedades vastas e um castelo.
Por isso, naquele dia, General Tilney e Lady Russell estavam acompanhados por Henry Tilney e Catherine que já fora Morland e Thorpe e agora era Tilney, sentindo-se uma heroína em pleno, ao casar-se no mesmo dia do sogro, subitamente tornado bom, e de Lady Russell, que sempre tomara por senhora distante e importante, agora transformada numa madrasta muito sensível e afetiva.
Georgiana sentia-se tranquila e feliz ao lado do seu amado William Price. Uma semana antes, tinham finalmente conversado sobre os seus planos com o irmão dela, Fitzwilliam Darcy. A ideia de ambos casarem e viajarem juntos pelo mundo era agora conhecida de Darcy e Lizzie que, aos poucos se estavam a acostumar a ela.
E assim, o casamento de Georgiana e William Price estava já marcado para o próximo mês em Pemberley, quando os primeiros sinais do verão já se estivessem timidamente a anunciar. Por isso, aquele era um momento de enorme felicidade para Georgiana, que desde que William lhe manifestara os seus sentimentos e partilhara com ela os seus projetos, já não pensava noutra coisa que não fosse o mundo tão grande que a rodeava e que ela agora iria conhecer, logo ela que nunca ia a lado nenhum! Desde então que Georgiana era assídua observadora de mapas, recebendo com assiduidade de uma livraria em Londres, as cartas náuticas e a literatura de viagens que eram agora os seus mais recentes interesses. Nem a possibilidade infeliz de enfrentar um mar tumultuoso ou tempestades ameaçadoras, sequer o que ouvia contar sobre as atividades dos corsários eram factos suficientes para a demover dos seus sonhos, agora cada vez mais próximos de serem reais. A própria Georgiana se espantava com a sua intrepidez e ousadia, pois nunca imaginara desejar tanto ausentar-se da sua querida Pemberley e querer tanto conhecer o mundo!
Quanto a Darcy e Elisabeth, após a revelação surpreendente de Georgiana e Willliam, que os haviam abalado no imediato, por não estarem a contar com uma mudança tão súbita, estavam agora a habituar-se à ideia da ausência de Georgiana, já que isso inexplicavelmente a parecia fazer tão feliz! E ali estavam Darcy e Elisabeth, acompanhados por Jane e Charles Bingley, todos felizes mas já com saudades dos gémeos que tinham ficado com as amas em segurança em Pemberley, afastados daquele bulício do convívio das pessoas e dos casamentos.
Emma, muito bela e luminosa, circulava por entre todos, sentindo-se muito feliz, agradecendo ao seu sexto sentido que sempre lhe indicara a possibilidade de união entre Anne e Wentworth. Tinha deixado o pai em casa em Hartfield, acompanhado pela filha mais velha, Isabella, pelo marido e pelos agora seis filhos, tendo todos vindo de Londres propositadamente para ficar com ele e libertar a querida Emma.
Mr. Woodhouse não se sentia bem em ambientes tão cheios de gente e continuava a afirmar que também Emma não gostava de se rodear de tantas pessoas nem de estar em tantas festas. Mas Emma estava encantada e sentia-se como peixe na água. Mr. Knightley seguia-a e tentava por vezes provocá-la com a conversa dos casamentos.
- Neste lugar está bem colocada para fazer mais casamentos, Emma… - disse ele – qual acha que será o próximo?
Emma sorriu daquela forma tão encantadora e superior que era a dela.
- O próximo casamento como sabe, Mr. Knightley, será o de Georgiana e William Price… mas esse é fácil, porque já está combinado! O outro casamento que se realizará de seguida e do qual os próprios ainda não tomaram conhecimento, é o de Fanny e Edmond Bertram… não vê como estão tão apaixonados e se entendem tão completamente?
Ambos olharam para Fanny e Edmond, tão embrenhados e mergulhados na conversa, que quase se esqueciam de falar com os outros. Perto deles encontrava-se sir Thomas Bertram e ao lado deste, inevitavelmente estava sir Walter Elliot a tentar meter conversa.
- Emma… - atreveu-se a dizer George Knightley – e a Emma, não casa?
Emma riu, sentindo-se ligeiramente perturbada.
- Ora essa, Mr. Knightley, agora está sempre a perguntar-me isso! Não se recorda que eu tenho dito sempre que não tenciono casar. Ser a senhora da casa de meu pai está muito bem…
Mr. Knightley ia para lhe responder, mas foram interrompidos por Elinor Ferrars e Marianne Brandon que anunciavam outra feliz notícia.
- Sabem que a nossa irmã, Margaret, está noiva de James Morland, o irmão de Catherine? Já falaram com a nossa mãe e é já uma coisa oficial… por isso teremos em breve ainda outro casamento! – anunciou Elinor.
E Marianne, com a impetuosidade de que nunca se libertara, perguntou:
Nas semanas que se seguiram ao nascimento dos gémeos de Lizzie e Darcy, Pemberley encheu-se de visitas, de cor de luz e de alegria. Já não fazia tanto frio e as flores apareciam já timidamente antecipando a chegada de uma primavera que se adivinhava muito movimentada.
Jane e Charles Bingley chegaram na sua carruagem cheios de presentes para os gémeos e, para espanto de Lizzie que de nada soubera até à chegada da carta da irmã, algumas semanas antes, a barriga de Jane era já visível. Os recém-nascidos cresciam e alimentavam-se de forma saudável, sob a vigilância cerrada de duas amas, das criadas de quarto e da própria Lizzie, que passava grande parte dos dias junto dos filhos.
Darcy realizara uma promessa que a si próprio se impusera tempos atrás e que consistia na secagem de alguns dos lagos de Pemberley e na cuidadosa construção de muros e de sistemas de segurança para os restantes que não secara, de forma a que jamais se voltassem a dar acidentes. Quer Fitzwilliam quer Lizzie sabiam que estes filhos haveriam de viver rodeados de cuidados e de vigilância, mesmo que fosse preciso contratar mais criados. Ainda assim, tinham consciência que por mais cuidados e fortuna que tivessem, a fragilidade dos fios que prendiam os seres humanos à vida era de natureza tão volátil que de nada adiantavam os cuidados quando as coisas tinham mesmo de ocorrer.
Fosse como fosse, as crianças tinham de ter liberdade e de crescer sem sentir a todo o momento que eram prisioneiras de um acidente que ocorrera muito antes dos seus nascimentos. Por isso eram tão importantes os momentos presentes e a felicidade de cada dia que passava.
Por agora, estavam todos juntos e até Mr. e Mrs. Bennet tinham vindo conhecer os netos e alegrarem-se com a alegria de ambos estarem vivos e de boa saúde. Mrs Benet não era grande companhia mas com a casa cheia de gente mal se notavam as suas observações extemporâneas.
Georgiana andava nas nuvens, feliz com a presença de William Price, Fanny e Edmond. Fanny e Edmond já não disfarçavam a comunhão de pensamentos e de ideias que os uniam e a própria Georgiana estranhava que não falassem ainda em casamento – mais um! Quanto a William Price, trouxera a novidade da sua promoção inusitada, pois era agora comandante de uma fragata. O sucesso da carreira de William Price devia-se sem dúvida ao seu carácter laborioso e combativo mas também tinha muito a ver com os cordelinhos que o tio, Sir Thomas Bertram, movera a seu favor. E assim, recém- promovido e muito apaixonado, William Price fez a sua proposta a uma Georgiana também apaixonada, naquela visita a Pemberley.
Georgiana ficou muito feliz com a proposta de casamento, pois desde que o conhecera que se sentia muito atraída por aquele jovem tão responsável e diligente. Atormentava-a a perspetiva da vida que ele levaria no mar e o facto de terem de ficar separados, já que ele em breve teria de embarcar. Mas surpreendentemente, a proposta de William também a contemplava a ela, já que, a par do sucedido com o Almirante e Mrs Croft, que sempre haviam viajado juntos pelo mundo, também William pretendia fazer-se acompanhar da sua amada, isto na caso de ela também estar de acordo, claro está.
A cabeça de Georgiana então começou a andar à roda e ela, sempre tão pacífica e caseira, que mal se ausentava de Pemberley e poucas temporadas passava em Londres ou em Bath, deu por si a sonhar com o mundo exótico e distante, aquele universo de que falava Mrs Croft e que tão interessantes tornavam as suas conversas. A Georgiana não desagradava de todo tal ideia em que jamais pensara até então e que agora, diante dos olhos apaixonados e da firmeza de carácter de William Price, sentia como uma possibilidade bem interessante e bem viável para a sua vida. E assim, após o primeiro embate da surpresa, deu por si a imaginar-se em alto mar, a observar as ondas bamboleantes de todos os tons de azuis e verdes, a sonhar com as terras quentes e as frutas doces de que tanto falava Mrs Croft e a aperceber-se com surpresa, como afinal, essa era a vida que desejava para si.
Havia no entanto um obstáculo a ultrapassar.
- Meu querido William – murmurou ela – receio que meu irmão não dê o seu consentimento! Ver-me viajar para tão longe dele e de minha irmã Lizzie e agora das crianças, como vai ser…
William ficou pensativo. Receava que Georgiana tivesse razão e a felicidade que ambos já anteviam em viagens a lugares distantes não fosse possível.
- Temos de falar com eles quanto antes – disse ele – Deixa-me ser eu a comunicar as nossas intenções, Georgiana…
Naquela tarde de chuva, em Pemberley, Elisabeth Darcy passara o dia a ansiar pela correspondência, até que recebeu notícias de sua irmã, Jane Bingley, dizendo que em breve a visitaria. Como as cartas tinham sido ao longo daquele inverno a forma mais agradável e partilhada de saberem uns dos outros, Georgiana e Darcy prontificaram-se a sentar-se ao seu lado para ouvirem conjuntamente as notícias. Lizzie sentia-se já muito volumosa e com pouca mobilidade. Não se recordava de se sentir assim quando esperava Edward, o doce e inquieto Edward. Como estavam distantes esses dias de felicidade! Lizzie sentiu uma ferroada de saudade e as lágrimas assomaram-lhe aos olhos.
- O que diz Jane? Vamos ler? – perguntou Darcy, adivinhando a dor que enchia os olhos e a alma da sua amada.
- Sim, vamos ler… - disse Georgiana, também conhecedora da origem das lágrimas da cunhada, agarrando na carta que Lizzie lhe estendeu.
Os três mergulharam os olhos nas folhas recheadas com a letra elegante de Jane.
- Humm… Jane diz que tem grandes notícias – comentou Elisabeth – mas temos de ler a carta até ao fim para perceber quais são…
- Uma boa notícia para já é o anúncio da chegada de Jane e Charles a Pemberley já daqui a uma semana – salientou Darcy, feliz com o facto de estarem de novo todos juntos.
- Esperemos que o tempo melhore… - suspirou Georgiana preocupada, pois também ela teria visitas em breve, já que Fanny e William Price, juntamente com Edmond tinham prometido que os visitariam daí por duas semanas.
- Mas que bom, afinal a grande notícia é que Jane e Charles poderão ficar mais tempo connosco do que é costume… poderão ficar até depois do nascimento da criança… - disse Lizzie.
- Espera, há aqui uma nota final de Jane em letra mais pequena… - disse Darcy – o que diz?
- Jane… oh, meu Deus… - murmurou Lizzie emocionada, com lágrimas nos olhos, mas agora de felicidade – Jane diz que está de esperanças há já algum tempo e que não resiste a contar-nos a novidade já aqui nesta carta…
- Que bom, mas que bom! – salientou Georgiana, com os olhos brilhantes de felicidade.
E foi subitamente nesse quadro de felicidade e empatia em que os três sentiam tão animados, antevendo os tempos próximos de convívio e alegria com os familiares e amigos, que Lizzie se começou a sentir mal, empalidecendo de repente. Darcy ergueu-se de um salto, mandando chamar o médico, Mr. Brown, que habitava a poucas milhas de distância e a parteira, Mrs. Smith, que também não habitava muito longe.
Georgiana chamou as criadas para que acomodassem Lizzie o melhor possível. Tinha chegado a hora do nascimento da criança. Darcy sentia-se apreensivo pois receava que algo de errado pudesse suceder com a sua querida Lizzie e o seu filho ainda por nascer.
Muitas horas após a azáfama do parto se ter iniciado e o médico de confiança de Pemberley, Mr. Brown e uma parteira, Mrs. Smith, terem distribuído as tarefas, Pemberley emergia agora já feliz e com renovada alegria. Faltava que Lizzie despertasse, pois com o esforço do parto, tinha perdido os sentidos. Quando finalmente voltou a si, sossegando todos à sua volta, já que o seu estado não inspirava preocupações de maior, como salientou o médico, e abriu os olhos ainda pálida, Georgiana e Darcy estavam junto dela.
Georgiana sorria de felicidade, enquanto Darcy lhe beijava as mãos, embevecido.
- Meu amor, sinto-me tão feliz! – disse ele.
Lizzie sentia-se exausta, mas estava ainda preocupada. Tinha perdido os sentidos depois do nascimento do filho e não se recordava de grande coisa.
- Como está a criança? – perguntou, ainda a medo, levando as mãos à barriga, agora sem volume – O que aconteceu?
Georgiana sorriu docemente.
- Está tudo bem, minha irmã. Descansa e recupera as forças! As crianças estão bem!
- Crianças?... - Lizzie estremeceu em sobressalto.
Darcy riu-se. Georgiana tapou a cara com as mãos, dizendo:
- Era para ser surpresa, não era, meu irmão! Mas não consegui conter-me!
Lizzie estava lívida. Darcy receou que ela desmaiasse outra vez e apressou-se a contar-lhe tudo quanto se havia passado.
- Estavas muito fraca, minha querida, nem sei como sobreviveste! Tive tanto receio durante estas horas que não voltasses a despertar, foi um milagre do Dr. Brown e de Mrs. Smith, que sempre me garantiram que estava tudo a correr bem! Os gémeos nasceram praticamente um a seguir ao outro! E foi assim que após o nascimento da nossa querida Anne, Edward apressou-se para nos surpreender, já tu estavas inconsciente! É um milagre, um milagre que todos estejam agora vivos! – e Darcy beijou Lizzie, deixando cair algumas lágrimas de emoção na sua face.
Também Georgiana estava muito comovida. Levantou-se e abriu a porta, dispondo-se a trazer as crianças, acompanhada por Mrs. Smith que as estivera a preparar. Os gémeos eram perfeitamente saudáveis e tinham nascido com peso razoável, ambos tinham chorado com energia.
- Desculpa minha querida – disse Darcy – enquanto estavas adormecida, Georgiana e eu pensamos nos nomes a dar aos nossos filhos. Não sei se concordas, mas achamos que o rapaz se deve chamar Edward…
- Sim, certamente… não poderia ser de outra maneira! - concordou Elisabeth, beijando ao de leve as frontes dos filhos.
- E o nome da menina podia ser Anne, para homenagear a nossa nova amiga… - completou Georgiana.
Lizzie riu-se, ainda se sentindo muito enfraquecida.
- Parece-me tudo muito bem… - disse ela, adormecendo de novo, mal conseguindo conter-se de tanta felicidade.
Se as pessoas que se interessavam verdadeiramente pela felicidade dos seus entes queridos se sentiam felizes com os preparativos de tantos noivados e a antevisão das bodas que se realizariam já na próxima primavera, Emma era sem sombra de dúvidas, a pessoa que se sentia mais feliz e mais realizada com tantos alegres acontecimentos.
Nesse inverno em Hartfield, acompanhada pelo pai que passava os dias à lareira a preocupar-se com as correntes de ar, com as visitas frequentes de Mr. Knightley, por vezes visitando o Capitão e Mrs Weston, acompanhando o saudável crescimento da pequena Susan, recebendo e escrevendo inúmeras cartas para as suas amigas mais recentes, Emma ia passando os dias, esperando a chegada da primavera e com ela a realização de todas as bodas esperadas.
Como quase todos os dias, Emma dava por si a esperar com ansiedade pelas visitas de Mr. Knightley que ultimamente a dispunham tão bem a pontos de não se imaginar já sem a presença constante do seu querido amigo e das suas conversas tão inteligentes e interessantes.
Por vezes, Mr. Woodhouse manifestava o seu desagrado pelas saídas frequentes de Mr. Knightley para os visitar devido ao frio inclemente, às condições atmosféricas tão desagradáveis e à possibilidade de este adoecer, o que seria sem sombra de dúvidas, uma grande infelicidade e um transtorno enorme.
- Preocupo-me e com razão, porque não quero ficar privado da companhia do querido Mr. Knightley – dizia o pai de Emma, arrepiado de terror perante tal possibilidade – tenho de lhe pedir que seja mais cauteloso com as saídas neste tempo tão invernoso!
Emma e Mr. Knightley riam-se, tentando explicar-lhe que a distância era curta e que quando o tempo estava mesmo adverso se utilizava a carruagem com todos os confortos em vez do simples cavalo ou se as condições fossem mesmo muito desagradáveis, não se visitavam sequer.
- O meu querido pai recorda-se da última semana, quando nevou mais, e Mr. Knightley esteve três dias sem nos poder visitar! – salientou Emma.
- E como sentimos deveras a falta dele! – suspirou Mr. Woodhouse – É verdade que sentimos a sua falta… mas preocupamo-nos com os males que a exposição a temperaturas tão baixas lhe possa causar!
Emma riu-se e começaram a conversar animadamente. Era a hora do lanche e rapidamente Mr. Knightley se sentiu aquecido com o conforto das lareiras acesas e da chávena de chá quente. Naquele dia, havia um bolo de maçãs com aspeto muito sugestivo a acompanhar o chá que tentou Mr. Knightley a comer uma fatia.
- Não me parece muito boa ideia comer bolos… - comentou Mr. Woodhouse – não sei o que deu hoje em Emma para permitir que a cozinheira o fizesse…
- Paizinho, já lhe tinha dito que estamos a fazer experiências para decidir como serão os bolos dos casamentos, o de Anne com o capitão Wentworth e o de Catherine com Henry Tilney… combinámos fazer isso durante o inverno. Em Parque Mansfield também Fanny está a fazer experiências e vamos comunicando através das cartas…
- O que é um excelente pretexto para provar um doce tão delicioso! – comentou Mr. Knightley, já a iniciar a sua fatia de bolo.
- Mau pretexto, mau pretexto… - disse Mr. Woodhouse – com esta tendência que Emma tem para desejar casamentos, parece que não vão sobrar pessoas solteiras à nossa volta…
Mr. Knightley tossiu ligeiramente porque se lembrou de si próprio e dos sentimentos que diariamente amiúde já reconhecia, não tendo ainda a coragem necessária para os verbalizar, e perguntou:
- E quanto ao casamento de General Tilney e Lady Russell, também haverá provas de bolos?
Emma sorriu e respondeu:
- Não, não temos falado sobre isso. Apesar de ambos estarem muito mais comunicativos, ainda não dispomos de confiança suficiente para abordar o assunto dos bolos! O casamento está a ser preparado, General Tilney está muito simpático e humano com os filhos, Lady Russell já não se sente tão acima dos comuns mortais e tornou-se mais próxima das pessoas, mas não dispomos de suficiente à vontade para falar desses assuntos com eles! Com as nossas amigas já é completamente diferente…
E assim se passou a tarde em conversas animadas. Quando chegou a hora de Mr. Knightley sair, Emma acompanhou-o à porta.
- Nem sabe como nos fez falta na semana passada com a neve, Mr. Knightley! Nem nos soube bem a hora do lanche sem a sua presença!
Mr. Knightley tossicou ligeiramente e voltou a sentir aquela estranha impressão de querer estar mais tempo ali do que era habitual.
- Em breve, quando o tempo levantar mais, terei de ir a Londres tratar dos negócios…. – disse ele – e trazer notícias dos nossos familiares.
- Oh, Isabella está sempre tão ocupada que não escreve com a regularidade das minhas amigas… é sempre bom saber como estão todos eles! O meu pai preocupa-se imenso com as crianças por causa das correntes de ar…
- As crianças são felizmente todas muito saudáveis – riu Mr. Knightley com gosto, não lhe apetecendo partir.
- A Emma ainda está a pensar planear mais casamentos? - Mr. Knightley não resistiu a perguntar-lhe.
Emma ficou pensativa durante um instante e depois respondeu:
- Bem, ainda há Georgiana e a Fanny, e até a irmã de Marianne e Elinor, a jovem Margaret, mas eu penso que brevemente tudo se resolverá… os noivos que julgo que elas terão não precisam dos meus préstimos porque já se devem ter declarado ou estarão quase a fazê-lo…
Mr. Knightley não conseguiu ficar calado.
- E o seu próprio casamento, Emma? Já pensou como poderia ser?
Emma ficou sem fala. Os olhares que ambos trocaram eram já inquestionáveis. Agora era certo que tinham os dois consciência dos sentimentos que nutriam um pelo outro.
E assim o inverno chegou naquele ano mais tarde do que era habitual, mas com muito frio e neve. Após tantos acontecimentos imprevistos e surpreendentes, todos puderam descansar um pouco com a chegada do frio, em tardes compridas de conversas longas, muito aquecidos nas lareiras, em chás intermináveis e alegres.
Em Pemberley, Georgiana passava longas horas ao piano enquanto Lizzie descansava, pois a sua barriga estava enorme e ela não se sentia com energia para mais do que arrastar cada dia, esperando que o seu filho nascesse, ajudando-a a mitigar aquele nó que sentia de cada vez que pensava no seu adorado Edward.
Georgiana sentia-se calma e sonhadora, aguardando com alegria a chegada da correspondência que estabelecera com William Price, escrevendo e recebendo longas cartas, nas quais ambos descobriam afinidades, perceções e sensibilidades semelhantes. Também se correspondia com a irmã dele, Fanny, a qual de regresso à pacatez de Mansfield Park, onde agora a irmã de ambos, Susan Price, também vivia, se sentia mais descansada e sem necessidade de fazer tanta companhia à tia, já que Susan se adequara perfeitamente a esse papel. Assim, Fanny correspondia-se com todas as suas novas amigas, revelando-se muito menos tímida e mais sociável, descobrindo as alegrias das amizades partilhadas e da vida social interessante.
Nas cartas que enviava a Georgiana, Fanny partilhava a admiração cada vez maior pelo primo, Edmund e a enorme alegria que sentia quando o tinha por perto. De resto, a vida de Fanny prosseguia com tranquilidade e alegria, amada pelos tios e admirada pelo primo. Fanny também referia com frequência o outro primo, o mais velho, Tom Bertram que Georgiana nunca vira, mas de quem ouvira falar, pois fora em tempos muito gastador e boémio. No entanto, parecia estar mais ajuizado, pois após uma longa doença que o mantivera preso ao leito durante muito tempo, melhorara e tornara-se muito mais consciente e preocupado com todos os que o rodeavam. Com tantas conjeturas e pensamentos, Georgiana mal ouviu Lizzie que a chamava. Apressou-se a largar as cartas e correu para o local junto à lareira, onde a cunhada se encontrava também com uma carta nas mãos.
- Georgiana! – chamou ela – Recebi uma carta de Anne! Os preparativos para o noivado estão a decorrer bem. Espero que quando chegar o casamento, eu já me sinta capaz de caminhar normalmente… - Lizzie levou uma mão à barriga, cada dia mais volumosa e com a outra, estendeu-lhe a carta que recebera de Anne.
Georgiana leu apressadamente, ansiosa pelas novidades. Após um período de convívio tão intenso, o regresso de todos a suas casas tornava a distância quase insuportável, apenas amenizada pelas cartas que se iam enviando e recebendo. Não que Anne estivesse verdadeiramente em casa, junto com Sir Walter em Bath. Não, Anne tinha-se mudado para casa da sua irmã mais nova, Mary Musgrove, cuja proximidade com KellynchHall lhe permitia falar com o seu querido Wentworth quase todos os dias, combinando e organizando todos os pormenores do casamento que se realizaria ali quando a primavera chegasse.
Era assim uma Anne feliz e muito calma quem escrevia, relatando pormenores dos preparativos e da alegria que era estar na companhia de todos, naturalmente de Wentworth, dos Musgrove, do Almirante e de Mrs Croft. A irmã, Mary, continuava a queixar-se sempre de estar doente, de não lhe darem suficiente atenção, de ser relegada para segundo plano, embora agora, que esperava outra criança, estivesse um pouco menos centrada em si própria do que lhe era habitual. Quanto à outra irmã, Elisabeth, Anne contava que permanecia em Bath com Sir Walter, embora agora se escrevessem amiúde e tivesse havido uma melhoria nos relacionamentos entre as irmãs. A grande novidade que Anne tinha para contar, havia-a reservado para o final da carta e Lizzie observou com gosto a expressão de espanto que a cunhada fez ao chegar a essa parte.
- Não acredito! – disse Georgiana com vontade de rir – O Coronel Tilney vai-se casar!
Lizzie riu com gosto e comentou:
- E foi precisamente aqui na nossa propriedade que ele reencontrou a sua amada no final de tantos anos de afastamento!
- E logo com Lady Russell, que era tão distante e cheia de preconceitos! – suspirou Georgiana – Ainda me lembro de Anne contar como ela a tinha influenciado para se afastar de Wentworth, encontrando-lhe sempre defeitos!
- Tudo isso já lá vai… - disse Lizzie – agora Coronel Tilney é outro homem e Lady Russell outra mulher. Ainda bem que aprenderam com os erros e se arrependeram de certas atitudes menos próprias que tiveram. O próprio Coronel Tilney está muito diferente com os filhos, aceitou sem hesitar os noivados e deixou de se importar com os dotes e as riquezas de cada um…
- O mesmo não se pode dizer de Sir Walter Elliot, que continua a mesma cabeça vazia e pretensiosa! – suspirou Georgiana – Fanny contou-me numa das cartas que ele continua a querer ser convidado para Mansfield Park e parece que já não está longe de o conseguir! Perante tanta insistência, sir Thomas convidou-o a passar lá uma temporada com a filha Elisabeth, após o casamento de Anne…
Ambas se riram. Quando Darcy chegou, arrepiado de frio, pois estivera nos estábulos e ver uns cavalos novos que havia comprado e que tinham chegado, sentou-se ao lado delas, enquanto ambas lhe iam contando as surpreendentes novidades.