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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #BR

 

A Raquel Sallaberry Brião do Jane Austen em Português já publicou a terceira parte da Leitura Comparada. Poderão encontrar o seu post no Lendo Jane Austen.

Ao longo dos meses, constatei que um dos momentos emocionantes é ver o resultado da leitura efectuada pela Raquel. O mais curioso, para mim, é averiguar que duas facetas opostas tornaram-se viciantes: ver as dúvidas que tivemos em comum e, por outro lado, ver os trechos que ela destacou e que eu não me dei conta na minha leitura. O primeiro aspecto, porque as dúvidas em comum criam de certa um elo de pensamento. O segundo aspecto, faz-me pensar de imediato: "como eu não vi isto?"; e, este segundo aspecto em específico, faz-me voltar aos dois livros e acompanhar a Raquel nesta viagem das duas traduções. Esta é uma das partes construtivas de todo este processo.

 

Por isso, sigam o link e confiram o resultado da leitura da Raquel através dos textos:

 

*** 

 

Para quem não acompanhou este percurso desde o início, poderá fazê-lo. Deixo-vos a lista completa da programação de leitura da Raquel e os respectivos textos:


Capítulos 1 a 23 

Lendo Sense and Sensibility no Brasil 200 anos depois – I”
“A idade de Marianne Dashwood”

 

Capítulos 23 a 36 

Lendo Sense and Sensibility no Brasil 200 anos depois – II
O duelo de Razão e sentimento
O bom e velho Constância

 

Capítulos 37 a 50 

“Lendo Sense and Sensibility no Brasil 200 anos depois – III”
Huswife ou estojo de costura no tempo de Jane Austen
Gatos melancólicos, sonolentos e entediados
Willoughby, viúvo

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #49

Sense and Sensibility em Portugal 200 anos depois

III Parte - Capítulo 37 ao 50

 Leitura Comparada de Sense and Sensibility de Jane Austen nas traduções: 

“Sensibilidade e Bom Senso”  (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso)

 

 

1 |  Uma mesma língua: significantes diferentes, significados iguais

Seleccionei dois exemplos em conformidade com esta ideia. No primeiro exemplo, constatamos que as opções das duas traduções estão adequadas e revelam o uso de cada país.

 

"Edward made no answer; but when she had turned away her head, gave her a look so serious, so earnest, so uncheerful, as seemed to say, that he might hereafter wish the distance between the parsonage and the mansion-house much greater."  |  Sense and Sensibility, Chapter 40, page 369

 

“Edward não respondeu; mas quando ela voltou a cabeça, lançou-lhe um olhar tão sério, tão fervoroso, tão triste, que parecia dizer que desejaria que a distância entre a paróquia e a mansão fosse muito maior,”   |   Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 40, pg 215

“Edward não respondeu; mas quando ela voltou a cabeça, ele lançou-lhe um olhar tão sério, tão fervoroso, tão triste, que parecia desejar que a distância entre o padroado e a mansão fosse muito maior.”  |  Razão e Sentimento, Cap. 40, pg 196

 

Já neste segundo exemplo a seguir, temos duas situações:

“I am monstrous glad of it. Good gracious! I have had such a time of it! I never saw Lucy in such a rage in my life. She vowed at first she would never trim me up a new bonnet, nor do any thing else for me again, so long as she lived;(…)”  |  Sense and Sensibility, Chapter 38, page 344

 

“Fico muitíssimo contente com isso. Santo Deus! Passei uns tempos! Nunca na minha vida vi Lucy com tal fúria. Declarou solenemente a princípio que nunca me cortaria o meu chapéu novo e nunca mais faria nada por mim enquanto vivesse (…).”  |  Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 38, pg 201

 “Estou terrivelmente satisfeita com isso. Santo Deus! Passei maus pedaços! Nunca vi Lucy tão furiosa em minha vida. Ela jurou a princípio que nunca mais adornaria os meus chapéus nem faria mais nada para mim enquanto vivesse; (…).”  |  Razão e Sentimento, Cap. 38, pg 190

 

A primeira situação deriva da expressão "I have had such a time of it!". Confesso que nunca ouvi a expressão "Passei uns tempos!"; embora admita que possa existir, surge como uma tradução literal. Na tradução brasileira, "passei maus pedaços!" também não me soa como uma frase comum. É mais correntemente utilizada a expressão "passei um mau bocado". 

A segunda parte da frase chamou-me mais a atenção: "she would never trim me up a new bonnet". A tradução portuguesa continuou numa linha literal enquanto a versão brasileira incindiu mais sobre o significado da expressão. Parece-me que a opção de Ivo Barroso está melhor conseguida e transmitiu a ideia da frase. 

 

 

2 | Opções e Dúvidas

 

“Lucy does not want sense, and that is the foundation on which every thing good may be built.”  |  Sense and Sensibility, Chapter 37, page 333

 

“Lucy não tem falta de senso, e isto é a base na qual todas as qualidades se devem apoiar… “  |  Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 37, pg 194

“Lucy não é destituída de bom senso, e isso é fundamental para a construção de alguma coisa permanente...”  |  Razão e Sentimento, Cap. 37, pg 183

 

Tenho de admitir que sou um pouco exigente no uso dos termos "senso" e "bom senso". Não sendo distintas, também não são totalmente semelhantes. Porque "Senso" é a capacidade de sentir, pensar e perceber; mas "Bom senso" implica um uso equilibrado "nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta". O bom senso apresenta-se como algo activo, que se concretiza de facto e que tem uma forte carga positiva. E Lucy Steele não é propriamente uma figura que seja conhecida pelo seu bom senso. Encontrei-me numa situação em que se tornou necessária a pesquisa da própria palavra em inglês. A palavra "Sense" é abrangente e implica "senso, sentido, sensação, acepção, percepção, consciência, juízo, compreensão, sensibilidade, inteligência, apreensão". Será que Jane Austen queria significar que Lucy Steele tinha "sense" no sentido da percepção e da compreensão?

Por outro lado, os meus pensamentos ficam mais confusos quando dou conta de que o que Jane Austen escreveu foi que Lucy Steele "does not want" que significa "não quer", ao invés do "não tem falta" (versão portuguesa) ou do "não é destituída". 

Já na segunda parte da frase quando Jane Austen escreve "foundation" e "may be built" está a recorrer a um sentido figurativo em que usa a imagem de que a fundação sobre a qual uma casa é construída é o garante da solidez e da longevidade da mesma.  Neste caso, a tradução brasileira transmite melhor a ideia expressa.

 

 

"(…) and how forlorn we shall be, when I come back!—Lord! we shall sit and gape at one another as dull as two cats."  |  Sense and Sensibility, Chapter 39, page 356

 

“Como nos sentiremos tristes, quando eu voltar para casa!... Meu Deus! Sentar-nos-emos e bocejaremos, olhando um para o outro, tão aborrecidos como dois patos ”  |  Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 39, pg 208

“Como ficaremos desolados, quando eu voltar! Meu Deus! Vamos sentar-nos aqui e bocejar como dois gatos melancólicos. ”  |  Razão e Sentimento, Cap. 39, pg 196

 

Mrs. Jennings, personagem tão querida ao meu coração, proporciona-nos momentos de grande hilaridade. A frase acima transcrita é um comentário, meio em forma de desgosto, que ela dirige ao Cor. Brandon. Sempre que leio as suas exclamações, mesmo num momento de uma certa tristeza para ela, não consigo deixar de esboçar um sorriso.

Quando li os dois textos e os comparei com a versão original qual não foi o meu espanto de ver que na versão portuguesa "as dull as two cats" foi traduzido para "tão aborrecidos como dois patos".

Não encontrei explicação possível para isto.

 

 

 

 

 “In such moments of precious, invaluable misery, she rejoiced in tears of agony to be at Cleveland;” | Sense and Sensibility, Chapter 42, page 385

 

“Em tais momentos de desgosto precioso e incalculável, confortavam-na as lágrimas de agonia que vertia por estar em Cleveland (…)"  |  Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 42, pg 224

“Tais momentos preciosos e inestimáveis confortavam-na das lágrimas da angústia por estar em Cleveland (… )”  |  Razão e Sentimento, Cap. 42, pg 212

 

Esta é uma das minhas frases preferidas em "Sense and Sensibility". Insere-se num momento marcante do livro. Marianne parte de Londres com o coração destroçado e, no regresso a casa, terá de fazer uma estadia em Cleveland,  residência dos Palmer. Cleveland é próxima de Combe Magna, propriedade de Willoughby. Esta coincidência cria toda uma amálgama de emoções em Marianne.

Esta frase ( e todo o texto deste capítulo 42) no seu original tem uma carga emocional tão grande e tão profunda que é comovente. Podemos sentir toda a paixão com a qual Marianne vive os seus sentimentos, seja felicidade seja infelicidade. 

O termo "rejoice" (usada pela autora nesta frase) ultrapassa a comum alegria. "Rejoice" é júbilo, é alegria em êxtase. Jane Austen diz que ela "rejubilou em lágrimas de agonia". A intensidade das suas emoções são transmitidas por contradição: ela estava destroçada e deprimida, mas a proximidade de Combe Magna e, consequentemente, a lembrança de Willoughby, gerou uma diferente forma de alegria.  As frases de ambas traduções destacam a força e a intensidade do momento? 

Para além disso, eu não compreendi porque os tradutores optaram por afirmar que as lágrimas "confortaram". Seria "conforto" no sentido de "consolo"? Um "consolo" no sentido de prémio de consolação?

Admitindo que a estranha alegria e a sensação de liberdade que Marianne estava a sentir, que Jane Austen descreve, fossem uma forma de consolação; ainda assim, há discrepância entre ambas frases. Na versão portuguesa, o conforto era proveniente "das lágrimas de agonia"; enquanto que na tradução brasileira, o conforto resultava de "tais momentos preciosos e inestimáveis". 

Estreito mais o olhar e vejo que, em Sensibilidade e Bom Senso, as lágrimas são de "agonia"; enquanto que, em Razão e Sentimento, as lágrimas são de "angústia". Ambos substantivos têm significados aproximados, mas é interessante ver a diferença:

Agonia: s. f. - 1. Última luta contra a morte; 2. [Figurado]  Ânsia, aflição; 3. Desfecho próximo (precedido de grande perturbação).

Angústia(latim angustia, -ae, estreiteza, contrariedade, aflição) - s. f. - 1. Estreiteza;2. Grande aflição acompanhada de opressão e tristeza.

Inclino-me para a utilização do substântivo "agonia" e, por isso, para a opção feita pela tradução portuguesa.

Agonia ou angústia, qual parece ser a mais adequada? 

 

 

“Marianne gave a violent start, fixed her eyes upon Elinor, saw her turning pale, and fell back in her chair in hysterics.”  |  Sense and Sensibility, Chapter 47, page 450

 

“Marianne endireitou-se abruptamente, fixou os seus olhos em Elinor, viu-a tornar-se pálida e caiu da sua cadeira, histérica.”  |  Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 47, pg 263

“Marianne estremeceu violentamente. Voltando os olhos para Elinor, viu que ela empalidecia, e se reclinava na cadeira como se estivesse se sentindo mal. ”  |  Razão e Sentimento, Cap. 47, pg 248

 

 A questão, nesta frase, é muito simples: quem é que se sentou na cadeira, numa crise nervosa, Marianne ou Elinor? Diria que Maria Luísa Ferreira da Costa traduziu a ideia de forma adequada, porque parece-me que é Marianne quem tem um episódio nervoso e é ela quem volta a a endireitar-se na cadeira . Embora, dizer "histérica" parece-me ser um termo demasiado forte; e, "sentindo mal" parece-me demasiado leve para o episódio em causa.

 

 

3. Uma espécie de colete de flanela.

Janeites e caríssimos leitores/as, não resisto terminar a minha selecção de trechos desta leitura comparada sem referir o meu querido Cor. Brandon e o seu famoso colete de flanela. A dita peça de vestuário associada, por Marianne, à velhice.  Quer me parecer que este seria mais um exagero pretensioso de uma adolescente inexperiente. Contudo, ele existiu no contexto da história. 

 

 

 

 

“a man who had suffered no less than herself under the event of a former attachment, whom, two years before, she had considered too old to be married,—and who still sought the constitutional safeguard of a flannel waistcoat!”  |  Sense and Sensibility, Chapter 50, page 484

 

“E esse outro era um homem que não sofrera menos que ela por causa de uma afeição anterior , que dois anos antes ela considerara velho de mais para casar… e que ainda procurava a tradicional protecção num colete de flanela.”  |  Sensibilidade e Bom Senso, Cap. 50, pg 283

“(…) e este outro era um homem que havia sofrido não menos que ela por causa de uma afeição anterior, e a quem, dois anos antes, ela havia considerado velho demais para casar-se...”  |  Razão e Sentimento, Cap. 50, pg 266

 

 

O que não consigo perceber é porque o colete de flanela foi retirado, em Razão e Sentimento, neste final. Terá sido uma forma de o assumir como um símbolo/sinónimo de velhice e somente reforçar o factor idade, suprimindo o símbolo em si? Faz-me lembrar o episódio do duelo, também suprimido, só que na versão portuguesa. Pequenos detalhes e episódios fazem-nos perceber melhor a história, os sentimentos, pensamentos e personalidades dos personagens. Eles fazem a diferença. 

 

Comparar as duas traduções fez-me ver que a  partilha de uma mesma língua não invalida um uso e uma significação diversificada e distinta em ambos países. Do meu ponto de vista, isto constitui uma grande riqueza. Temos particularidades, tanto no Brasil como em Portugal, e isto evidencia-se na tradução. O meu amor por Jane Austen saiu reforçado e, porque não dizê-lo, por "Sensibilidade e Bom Senso". 

 

Ter vivido, com a Raquel Sallaberry Brião, esta parceria e desafio foi uma honra e uma grande alegria. Quero manifestar aqui a gratidão pelo convite e pela confiança que ela me dedicou. 

 

 

 

 

Leitura Comparada e um Lançamento #3

Ainda dentro do clima de comemoração, toda a próxima semana será dedicada a Sense and Sensibility no Jane Austen em Português.

 

A Raquel irá focar toda a atenção no lançamento da edição ilustrada de Razão e Sentimento da Editora Nova Fronteira. E, dentro deste contexto, iremos proceder a partilha da terceira e última parte da Leitura Comparada que desenvolvemos no âmbito do Bicentenário de Sensibilidade e Bom Senso.

 

Será uma semana marcada pela sensatez de Elinor e pela paixão de Marianne em tons de delicadeza e emoção.

 

 

(fotografia: cortesia da Raquel Sallaberry Brião)

Leitura Comparada e um Lançamento #2

Já notaram que o blogue Jane Austen em Português da Raquel Sallaberry Brião tem uma nova imagem?


 

 

 

 

 

Esta nova imagem surge a propósito do aniversário do seu blogue (que será dia 21 de Junho) e do lançamento da edição de luxo ilustrada de Razão e Sentimento, tradução de Ivo Barroso (Editora Nova Fronteira). Como podem constatar o Jane Austen em Português ganhou um ar minimalista, clean e elegante. Eu adorei!

 

A Raquel está em clima de comemoração e tem todos os motivos para isso! O trabalho que desenvolve no Jane Austen em Português, no Lendo Jane Austen e no Bibllioteca Jane Austen é uma referência para todos que amam a escritora Jane Austen. O lançamento de Razão e Sentimento ilustrado é um resultado concreto desta dedicação em prol da paixão por Jane Austen e pelos livros.

Por estas e por muitas mais razões, minha querida Raquel, quero dizer-te publicamente: Parabéns!!

Leitura Comparada e um Lançamento

 

 

Os mais atentos terão notado que no Desafio do Bicentenário da Leitura Comparada de "Sense and Sensibility" de Jane Austen nas traduções: “Sensibilidade e Bom Senso”  (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso) - feita pela Raquel Sallaberry e por mim - ainda falta uma terceira parte para a sua conclusão. 

 

A Leitura Comparada passou por uma pausa. A vida está submetida a um imperativo de imprevisibilidade e levou-nos a caminhar por outras paragens.  Durante algum tempo, nós duas - cada uma no seu respectivo lado do oceano -  envolvemo-nos em outras actividades e ocupações; mas, agora retomamos o rumo.

 

A nossa querida Raquel Salaberry, do Jane Austen em Português, abraçou um projecto que fará a felicidade de todas a Janeites: uma edição de luxo, de capa dura, ilustrada de Razão e Sentimento, tradução de Ivo Barroso (Editora Nova Fronteira). A própria Raquel escreve no livro "a história da composição do livro" - refere o poeta e tradutor Ivo Barroso no seu blogue.

 

Diante da importância deste lançamento, decidimos esperar pela sua concretização para publicarmos a terceira parte da Leitura Comparada. Temos esperança que seja em breve; por isso, estejam atentos!

 

Deixo-vos a imagem da capa do livro. Linda e delicada. 

 

Diálogo com Sensibilidade e Bom Senso

A Editora HarperCollins está a desenvolver um projecto de abordagem contemporânea sobre a obra de Jane Austen. A ideia consiste em convidar uma série de escritores consagrados - um para cada obra de Austen - que criariam uma espécie de diálogo contemporâneo com a obra de Jane Austen.  

 

A primeira escritora a ser desafiada foi  Joanna Trollope. O desafio proposto foi o de escrever um livro inspirado em Sensibilidade e Bom Senso, com publicação prevista para o outono de 2013. Diante deste desafio e convite, ela declara que será "not an emulation, but a tribute". O que deixa entrever a vontade de render uma homenagem à Jane Austen.

 

Joanna Trollope é uma escritora muito conhecida no Reino Unido por se dedicar à escrita de romances históricos e também contemporâneos. No site da Porto Editora, que tem um livro dela editado, encontra-se uma breve biografia de Joanna Trollope: "Autora de catorze romances que abordam sobretudo aspetos da vida na Inglaterra contemporânea, Joanna Trollope escreveu também uma série de novelas históricas e Britannia's Daughters, um estudo sobre as mulheres no Império Britânico. Os seus livros venderam mais de oito milhões de exemplares e encontram-se traduzidos em vinte e nove idiomas.".

 

Pelo que refere a Editora HaperCollins, eles têm em vista Stephen King (que trabalharia sobre "Northanger Abbey") e  Ian Rankin (para abordar "Emma"); mas ainda sobre estes nomes ainda não há confirmações.

 

Fonte: Guardian Books


DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #48

Sense and Sensibility em Portugal 200 anos depois 

II Parte - Capítulo 23 ao 36 - #3

 Leitura Comparada de Sense and Sensibility de Jane Austen nas traduções: 

“Sensibilidade e Bom Senso”  (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso)

 

 

 

S&BS| Viu - depois de um curto silêncio, continuou - mais alguma vez Mr. Willoughby desde que deixou Barton? 

- Sim, vi - replicou gravemente - uma vez. Um encontro era inevitável.

Elinor, espantada pelos seus modos, olho-o ansiosamente, dizendo:

- O quê? Encontrou-o para...

- Não podia encontrá-lo para outro fim. Eliza confessou-me com muita relutância o nome do seu amante; e quando ele regressou para a cidade, o que aconteceu quinze dias depois da minha vinda, marcámos um encontro, para ele se defender e para eu provar a sua conduta. Separámo-nos sem ressentimentos e portanto o encontro nunca se espalhou.

Elinor suspirou e duvidou da necessidade daquilo, mas ele era um homem e um soldado, e não se atreveu a censurá-lo.

Capítulo 31, pg. 157

 

R&S| O senhor voltou a ver - perguntou ela a Brandon, após um breve silêncio - o sr. Willoughby, depois que deixou Barton?

- Voltei - replicou o Coronel gravemente - Uma única vez. Um encontro era inevitável.

Elinor, espantada  pelos seus modos, olhou para ele ansiosa, perguntando:

- Como? Bateram-se em duelo?

- Não havia outra solução. Eliza, embora com relutância, confessou-me o nome de seu amante; e, quando ele regressou a Londres, uns quinze dias depois de minha chegada, marcamos um encontro, ele para defender sua conduta, eu para castigá-la. Nenhum de nós saiu ferido, e o duelo nunca chegou a ter repercussão.

Elinor suspirou e duvidou da necessidade daquilo; mas presumiu que a um homem e soldado nada devia censurar.

Capítulo 31, Pg. 149

 

 

Para mim foi uma grande surpresa descobrir que existiu um duelo em Sense and Sensibility. Terei sido a única a ficar espantada com tal informação? Eu li Sensibilidade e Bom Senso nos anos 90 e só quando eu assisti - uma década depois - a série da BBC "Sensibilidade e Bom Senso | 2008" é que dei-me conta desta questão do duelo. Alías, quando eu ví a série pensei que teria sido uma liberdade de argumento e tive curiosidade de pesquisar na internet sobre isto. O meu espanto foi grande. 

 

Na tradução portuguesa, não é identificado o encontro que Coronel Brandon relata como um duelo. Confesso, nunca chegaria a esta conclusão. A ideia que eu fiquei é que teria sido um encontro em que falaram, quando muito, discutiram. Em Razão e Sentimento, vem traduzido como tendo acontecido um duelo.  Devo dizer que, eu gosto da opção da versão brasileira. Ao ser identificado o "meeting" como um duelo, a imagem do Coronel Brandon ganha outra nuance. Acho que confere-lhe um ar mais participativo e, porque não dizer, másculo. Imaginá-lo a defender a honra de Eliza, colocando  Willoughby no seu devido lugar (que é o de canalha) torna-o ainda mais elevado do que ele é. 

Devemos admitir que a tradução brasileira foi ousada porque, no original, Jane Austen não utiliza o termo "duel". Naquele tempo os duelos seriam um tipo de ajuste de contas ilegal. Aliás, bater-se em duelo, fazia com que muitos homens partissem do país com medo das represálias judiciais. Então, Jane Austen toca ao de leve na questão, deixa subentendido. Através da reacção de Elinor, de entender que seria algo que um homem faria, mas que ela particularmente não aprovaria, demonstra que esta prática além de ser ilegal seria também socialmente pouco aprovada. E os duelos não durariam para além do tempo da Regência.

 

Esta questão ultrapassa o aspecto das traduções, mas não vos impressiona que ambos tenham saído ilesos do duelo. Como, sendo o coronel um homem de armas e experiente, não tenha feito dano a Willoughby? Terá sido um acto de misericórdia do Coronel Brandon que, após ter vencido Willoughby, preferiu poupar-lhe a vida?  Eu gosto de pensar nesta possibilidade: Coronel Brandon - um verdadeiro cavalheiro.

 

 

 

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Fonte:

Cara King's Web Page

Imagens:

The Other Austen 

 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #45

Capa Comemorativa do Bicentenário

 

 

Encontrei agora mesmo esta capa de "Sense and Sensibility" e não resisti em partilhar convosco. Sou uma grande fã de ilustração e achei esta muito interessante. A capa é da autoria de Audrey Niffenegger e estará disponível para venda a partir de 25 de Outubro.