Qual Catherine Morland, embarquei nesta aventura e li um dos primeiros romances góticos da história da literatura.
Li esta obra apenas e só por causa de Abadia de Northanger de Jane Austen.
Adorei a obra do principio ao fim, fiquei presa e agarrada às páginas do livro como uma lunática, quem me visse durante a viagem de autocarro para casa ao longo desta última semana, julgar-me-ia demente tal era a minha abstração da realidade que quase me fez esquecer de mandar parar o autocarro para ir para casa! Ainda um pouco de ressaca de tamanha história, vou tentar ser o mais lúcida possível.
Não gosto de Isabella Thorpe, tanto quanto não gosto do seu irmão, John. Isabella é manipuladora, intriguista, infiel, egoísta e imprevisível; comporta-se de forma escandalosa e descontrolada e demonstra divertir-se a fazê-lo.
Pode considerar-se Isabella como sendo uma mulher de moral duvidosa (quase como Lydia Bennet de "O&P") que só traz problemas à sua amiga Catherine Morland.
A madura e racional Eleanor representa o tipo de pessoa adulta que Catherine Morland precisa para fazer progressos no seu amadurecimento como pessoa e como mulher. Eleanor é gentil, elegante, reservada, bem-educada, culta e tão sagaz quanto o seu irmão Henry. Não tem a personalidade entusiasmante e selvagem de Izabella Thorpe, a outra amiga de Catherine, mas isso é provavelmente uma das suas melhores qualidades.
Além disso, é Eleanor quem persuade o seu pai, General Tilney, a permitir o casamento do seu irmão Henry com a sua amiga Catherine Morland.
Northanger Abbey refere-se ao nome do castelo pertencente a uma das famílias envolvidas nesta obra de Jane Austen, os Tilneys. Contudo, com este título parece que toda a acção do livro teria lugar na abadia quando, na verdade, a acção só aí começa a desenrolar-se a partir do vigésimo capítulo. Então, porquê este título?
Primeiro, é importante ressaltar que não foi Jane Austen que o escolheu. O livro só foi publicado após a sua morte e foi o seu irmão quem escolheu este título. A autora havia-o intitulado de ‘Catherine’, nome da protagonista. Isto levanta a questão de saber porque é que o irmão de Jane Austen achou que ‘Northanger Abbey’ seria um título mais adequado.
Uma possível explicação reside no conteúdo da obra. A Abadia de Northanger satiriza os populares romances góticos do século XIX e neles, os antigos castelos e abadias são retratados como lugares assustadores e arrepiantes e os seus títulos apontavam quase sempre para os lugares onde decorria a acção. Da mesma forma, Northanger Abbey ajuda os leitores a adivinhar a intenção satirizante da obra.
Outra explicação possível para o título reflecte uma das principais preocupações temáticas do romance. Catherine Morland, a protagonista do livro é obcecada com romances góticos e, consequentemente com Northanger Abbey a partir do momento em que ouve falar dela. Todavia, ao longo da história aprende que a vida não é um romance gótico e que a Abadia de Northanger é apenas a residência da família Tilney e não um lugar que possa satisfazer os seus desejos de aventuras góticas.
“(…)deixo que seja decidido por quem o pretender fazer se a tendência deste livro é a de fazer a apologia da tirania parental ou premiar a desobediência filial”
Jane Austen termina a Abadia de Northanger com esta frase. Dá a entender que o motor desta história prende-se à esta dinâmica entre “tirania parental” e “desobediência filial”. Ao longo de todas as obras de Jane Austen podemos ver que esta dinâmica relacional é uma marca presente e constante. Mas, em nenhuma de suas obras, encontramos um pai tão sem coração. Terá a vida tornado o General Tilney frio e insensível? Terá sido a perda da sua mulher? A única desobediência filial que podemos apontar é a de Mr. Tilney, de ter ido ao encontro de Catherine após ela ter sido banida da Abadia. Nem a tirania do pai nem a desobediência do filho parecem-me ser o motor deste livro.
A alma deste livro se divide em duas partes. Por um lado, é o coração puro e a imaginação infindável de Catherine. Por outro lado, somos todos nós, leitores do romance que vivemos e criamos as nossas próprias expectativas e conclusões. Vejo a Abadia de Northanger como uma grande interrogação sobre o papel do leitor e a sua interacção com a obra.
General Tilney é o patriarca da família Tilney. É um senhor de posses e de posição social. É uma pessoa obscura, antipática e perfeccionista. Exigente na pontualidade. Exigente também na aplicação de regras e leis por ele impostas no seio do seu lar. É evidente, aos olhos dos leitores, que os seus filhos dedicam-lhe mais receio do que respeito. E ele, cultiva a solidão e os dias sombrios em cada passo que dá.
A impressão geral que eu tive sobre o General Tilney, ao longo do livro, era de que ele seria um libertino reprimido. Mais concretamente, eu passei quase toda a leitura do livro a pensar que o General Tilney estaria interessado em conquistar Catherine. Eu não conseguia perceber o porquê da sua imprevista simpatia para com ela, já que ele era absolutamente amargo no pouco que dizia às outras pessoas. Não pude deixar de rir de mim própria quando descobri que afinal o seu interesse centrava-se numa pretensa herança de que Catherine viria a herdar dos Allen. Nunca passou pela minha mente que pudesse ser esta a razão do interesse dele simplesmente porque Catherine nunca deu esta impressão a ninguém. Este enredo de enganos criado por John Thorpe, que terá dito isto ao General Tilney, criou uma dinâmica à história muito interessante. E, gerou também a cena fulcral na Abadia de Northanger, que acontece quando Eleanor diz à Catherine que o pai dela exigia que ela partisse de imediato a meio da noite. Que tipo de pessoa é que põe um convidado para fora de casa a meio da madrugada? Ainda por cima, uma pessoa tão adorável e tão frágil quanto Catherine? Atitude vil e cobarde, a meu ver. E, é de destacar, ela não tinha qualquer culpa do engano criado.
Se eu ainda tinha alguma solidariedade pelo facto dele ter perdido a mulher perdia-a totalmente com esta atitude cruel. Preferia que ele fosse realmente um libertino reprimido, sempre seria mais interessante do que um homem desprovido de sentimentos.
Gosto muito desta personagem e é das personagem masculinas que mais gosto nas obras de Jane Austen. É uma personagem simpactica e acessível. Eu penso que Tinley é até muitas vezes uma versão em upgrade de Darcy, pois Darcy tinha o charme e o bom coração, mas não tinha a aptidão comunicativa que Henry Tilney tem. Podemos afirmar que é o homem perfeito. Se é que isso existe e se é que as mulheres estão verdadeiramente interessadas no homem "perfeito". Uma das coisas que mais adoro em Henry é o seu sentido de humor. Se há coisas que nós mulheres apreciamos num homem é o seu sentido de humor, e nisso Henry ganha muito pontos. Catherine que o diga, pois não lhe resisitiu. Trata-se de um homem decidido e que sabe aquilo que diz e aquilo que sente. Uma das personagem que mais expõe as suas opiniões em relação aos seu pontos de vista (na sua grande maioria inteligentemente expostos) torna-o uma personagem forte não só de Northanger Abbey como de toda a obra de Jane Austen. Uma das grande diferenças entre Henry e o restantes heróis de Austen é que ele não é descrito como um homem particularmente belo, mas não é por isso menos interessante, muito pelo contrário. Em relação aos seus sentimentos por Catherine sabemos que foi Catherine quem primeiro se apaixonou e que Henry só mais tarde se aproximou dela romanticamente. No entanto, foi das primeiras pessoas a entender e aprender a gostar de Catherine apesar da sua personalidade que tanto ou quando "especial" e até ingénua. Foi fantástico poder falar de Henry Tilney de quem eu tanto gosto e que tanto tem " a ver comigo".