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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

A Grande Família Morland

 

Jane Austen apresenta-nos uma enorme família em Northanger Abbey. Mr. e Mrs. Morland parecem respirar de uma imensa felicidade, que também passam aos filhos. Fullerton parece ser um autêntico paraíso na terra, e enquanto leitores somos imbuídos dessa alegria, harmonia e paz - em Fullerton não há problemas, não há manhas nem artimanhas, tudo é genuíno e puro.

 

Mr. e Mrs. Morland são apresentados ao leitor da seguinte maneira:

 

O pai era padre; mas como nunca se mostrara desmazelado ou pobre, todos o respeitavam, embora se chamasse Richard e nunca tivesse sido bonito. Possuía considerável independência que lhe vinha de duas boas freguesias. Nunca tivera por costume cercear a liberdade das filhas. A mãe era uma mulher de senso prático, de bom génio, e, o mais importante, de boa constituição física. Quando Catherine nasceu já ela tinha três filhos; em vez de morrer ao dar à luz o último, como qualquer pessoa esperaria, continuou a viver. Viveu para ter mais seis filhos, para os ver crescer à sua volta e gozar de excelente saúde.

 

A senhora Morland era uma excelente senhora e queria que os seus filhos obtivessem os maiores êxitos, mas tinha o tempo tão ocupado com os partos e com o ensino dos mais pequenos, que as filhas mais velhas ficaram inevitavelmente abandonadas a si próprias. (1º Capítulo)

 

Não é um início muito auspicioso, mas também não é um início inteiramente censurável - Mrs. Morland sofria daquilo que muitos pais sofrem hoje em dia - falta de tempo. O que seria de esperar com dez crianças a cargo.

Também não estavam totalmente informados, viviam circunscritos a Fullerton e por isso, afastados do "mal" do mundo. A partida de Catherine com os Allen era, por um lado, triste, por implicar a ausência da filha; mas por outro, um alívio, por ficarem com menos um filho para se preocuparem, Catherine estava, aos seus olhos, inteiramente segura na companhia dos vizinhos e amigos Allen.

 

Era de supor que, à medida que se aproximava a hora da partida, aumentassem as preocupações da senhora Morland, e que mil pressentimentos alarmantes, motivados pela separação da sua querida Catherine, lhe enchessem o coração de tristeza, e a fizessem chorar nos últimos dois dias que estiveram juntas; e que na hora da separação, quando estivessem no seu quarto, ela prudentemente lhe desse os melhores conselhos, para a precaver dos fidalgos e barões que se divertem a forçar as raparigas a ir para alguma quinta afastada. Era assim que, nesse momento, deveria aliviar o coração. Quem é que não pensaria deste modo? Mas a senhora Morland sabia tão pouco de lordes e barões que não tinha a mínima ideia da sua maldade, nem suspeitava do perigo que daí pudesse advir para a sua filha.

 

As suas advertências limitaram-se a isto: - Catarina, vê lá se agasalhas bem a garganta quando fores à noite aos salões. Gostava que apontasses todas as tuas despesas. Para isso toma lá este livrito.

 

Mas os Morland não eram tão obtusos como posso estar a fazer passar. Podiam não estar conscientes dos perigos da sociedade citadina, mas souberam refrear a chegada solitária da filha depois de ser expulsa de Northanger:

 

Não eram pessoas que se irritassem de ânimo leve ou que julgassem com azedume as afrontas com que os melindravam. Mas, neste caso, quando tudo foi conhecido, consideraram-no como um insulto que se não devia pôr de parte, nem ser facilmente perdoado. Sem sofrerem nenhum susto romântico por pensarem na longa e solitária viagem da filha, os pais sabiam que devia ter sido muito desagradável para ela, e isso é que eles nunca quereriam que lhe tivesse acontecido.


Nós somos o espelho da educação que recebemos e a nossa base constrói-se a partir do berço, Catherine é o claro exemplo disso.