O objectivo fundamental da vida da mulher seria o casamento: arranjar um marido adequado, procriar e, futuramente, auxiliar os filhos e as filhas a arranjarem a noiva adequada. Tudo girava em torno disto. Certo é que nem todas conseguiriam encontrar alguém que correspondesse às expectativas, ou sequer fossem beneficiadas por uma proposta de casamento. Não sei se será exagero meu dizer que a profissão da mulher seria o matrimónio. E, como em qualquer profissão, implica um aprendizado e o desenvolvimento de certas “habilidades”. Não sei, talvez seja um pensamento cruel e triste aos nossos olhos cheios de século XXI.
"It is amazing to me," said Bingley, "how young ladies can have patience to be so very accomplished as they all are."
"All young ladies accomplished! My dear Charles, what do you mean?"
"Yes, all of them, I think. They all paint tables, cover screens, and net purses. I scarcely know any one who cannot do all this, and I am sure I never heard a young lady spoken of for the first time, without being informed that she was very accomplished."
"Your list of the common extent of accomplishments," said Darcy, "has too much truth. The word is applied to many a woman who deserves it no otherwise than by netting a purse or covering a screen. But I am very far from agreeing with you in your estimation of ladies in general. I cannot boast of knowing more than half a dozen, in the whole range of my acquaintance, that are really accomplished."
"Nor I, I am sure," said Miss Bingley. "Then," observed Elizabeth, "you must comprehend a great deal in your idea of an accomplished woman."
"Yes, I do comprehend a great deal in it."
"Oh! certainly," cried his faithful assistant, "no one can be really esteemed accomplished who does not greatly surpass what is usually met with. A woman must have a thorough knowledge of music, singing, drawing, dancing, and the modern languages, to deserve the word; and besides all this, she must possess a certain something in her air and manner of walking, the tone of her voice, her address and expressions, or the word will be but half deserved."
"All this she must possess," added Darcy, "and to all this she must yet add something more substantial, in the improvement of her mind by extensive reading."
"I am no longer surprised at your knowing only six accomplished women. I rather wonder now at your knowing any."
"Are you so severe upon your own sex as to doubt the possibility of all this?"
"I never saw such a woman. I never saw such capacity, and taste, and application, and elegance, as you describe united."
Esta passagem de "Orgulho e Preconceito" é, provavelmente, um dos melhores exemplos desta questão da "mulher prendada".Mr. Bingley levanta a questão ao manifestar a sua admiração pelo facto de moças tão jovens serem habilidosas em tantas actividades como a pintura, bordado, dança, canto. A irmã mostra-se escandalizadacom o comentário dele como se fosse um absurdo pensar o oposto e se isto não fosse exercido com o máximo de excelência. A irmã chega a afirmar que uma mulher para ser realmente prendada tem de ter uma postura com "algo mais" ("she must possess a certain something in her air and manner of walking"). Darcy acha que poucas serão as mulheres realmente prendadas e Elizabeth, diante da concepção deles, acha que não existirá sequer uma.
Todo este diálogo é extremamente interessante. Em primeiro lugar, porque demonstra que a questão das jovens terem habilidades que fossem visível aos olhos de todos seria um factor que a qualificaria como alguém a ser valorizado e ponderado ou não numa presumível união. Para além do bom nome, posses, quiçá de um título, ser "prendada" era fundamental. Principalmente, para conseguir fazer um futuro matrimónio. Principalmente quando Mr. Bingley diz que "I am sure I never heard a young lady spoken of for the first time, without being informed that she was very accomplished" ele está a afirmar que sempre que ao ser apresentado a uma jovem esta informação é logo disponibilizada.
Na geração das nossas mães, uma mulher prendada é aquela que administrava o lar, ou seja, fazia a economia do lar, cozinhava, lavava e passava roupa (no tanque, s.f.f), costurava,limpava a casa, cuidava dos filhos, tinha a comida feita nas horas certas e - se fosse muito moderna - tinha um emprego. Tudo isso, com um sorriso nos lábios. Uma mulher prendada nunca reclamava do seu destino, fosse ele qual fosse. Estava casada, tinha filhos e recebia sustento (na maior parte dos casos) do marido. Esse era o seu papel. Em meios pequenos, buscava-se - antes do casamento - saber se a mulher era de boas famílias e se tinha sido preparada para ser uma boa dona de casa.
Na nossa geração, não tenho certeza se este conceito de "mulher prendada" continua a existir de facto.Pelo menos, não nesta concepção de ter de ser uma mulher sobrenaturalmente dotada de todas as habilidades dentro do lar. Acho que, em concreto, somos todas prendadas: aprendemos com nossas mães a lidar com a casa, mas estudamos, trabalhamos, abraçamos uma profissão e, imaginem, procuramos tempo para nós mesmas.
Esta questão sobre a mulher "prendada" na obra de Austen, faz-me sempre relembrar as teorias que encaram Jane como uma escritora a preconizar o feminismo. Há momentos em que concordo. Principalmente quando leio a reacção de Elizabeth Bennet ao discurso de Darcy e de Caroline Bingley no trecho acima transcrito. Contudo, quando leio outros trechos em que é abordada a questão e o interesse nos rendimentos que ambos pretendentes poderão vir a usufruir com o matrimónio faz-me pensar duas vezes se se tratará de uma crítica social ou se ela encararia esta questão como natural e, por isso, aceitável. A certeza que nutro é que Jane Austen não era como as mulheres de sua época e, parece-me, não tinha as mesmas ambições que as outras teriam. Talvez, por isso, a escrita: onde ridicularizava o que não aceitava, diminuía o que reconhecia valor e exaltava o que achava ser importante. Tudo o que escrevi são ilações mas, talvez, algumas possibilidades.
Fiz o jantar, arrumei a cozinha, tratei da roupa, e sempre a pensar no mesmo: " Mr Darcy ou Cap. Wenthwort??"
Concluindo: Não conclui nada. Não me consigo decidir entre estes dois personagens. Cada um à sua maneira encanta-me de uma forma particular.
No Mr Darcy aprecio a timidez, a elegância, a devoção aos seus, o amor que depois de assumido é firme e gentil. Aprecio ainda a forma como ele disfarça tudo isto com aquele jeito altivo e importante; é um gentleman no verdadeiro sentido da palavra. Demora um bocadinho a alcançar o evidente e até tenta negar os seus próprios sentimentos; só por isso fico com as minhas dúvidas e passo ao Cap. Wenthwort.
Ah! Captain, my captain! Meus Deus, aquela carta!! Que homem escreve uma carta daquelas?! Que homem devota tão grande amor a uma mulher mesmo passados oito anos de separação?? É quase inconcebível. Estou agora aqui a pensar: mas porquê ir embora e voltar passados oito anos? Porque não ficou e lutou por ela?? Tempos diferentes... Era necessária fortuna para desposar uma mulher da sociedade como o era Anne Elliot e insistir seria apenas para a fazer sofrer ou mesmo antagonizar-se com os familiares. Ele preferiu esperar e lutar da forma mais adequada. Conseguiu e voltou, apto a desposar qualquer mulher, e mesmo assim, escolheu-a a ela: uma mulher apagada, não muito bonita, tranquila de maneiras e feitio mas sobretudo ainda apaixonada por ele.
É a tradução de uma carta escrita pelo Mr Darcy a Elizabeth. Retirei do blog brasileiro 'improvement of mind' da Samanta Fernandes que foi quem fez a tradução de um dos textos que constam no livro 'Pemberley Medley' da Abigail Reynolds. Esse texto baseia-se no seguinte:
"E se Elizabeth acreditasse nas suspeitas de Charlotte que Darcy está apaixonado por ela e tomasse medidas para tentar desencorajá-lo? Ao invés de serem atraídos um pelo outro, todas as vezes que ele se encontram, eles acham uma nova maneira de se antagonizarem. Em desespero, Darcy resolve escrever uma carta a Elizabeth para transmitir o que ele não consegue falar-lhe. Esta carta é bem diferente da original do livro, mas incrivelmente romântica!"
"Rosings, five in the morning
Se esta carta não é para ser entregue às chamas, eu preciso considerar por onde começar. Eu contei-lhe tantas vezes, nos meus sonhos e nestas cartas, da minha ardente admiração pela sua pessoa, o extraordinário prazer que eu obtenho simplesmente de estar na mesma divisão que você, como o som do seu riso traz calor para o meu mundo frio, como os seus olhos brilham quando você me provoca, que é fácil esquecer que eu não usei nada mais do que olhares para comunicar aqueles sentimentos para você na realidade. Mas devo começar por algum lugar e fá-lo-ei pela noite do baile de Netherfield. Eu estava determinado a dançar com você naquela noite, a ter o privilégio de sua atenção por uma meia hora inteira, uma possibilidade tão intoxicante quanto um bom vinho. Por semanas permaneci discreto, ouvindo as suas conversas, notando para quem você sorria e de quem você preferia receber as atenções, o que fazia você sorrir, e como intercedia quando sentia alguém em risco de ser ofendido. Eu queria entender a sua magia, que encanto você usava para me manter escravo, que elemento secreto você possuía que não me permitia desviar o olhar; eu, que tinha olhado para as grandes beldades da sociedade e permanecido impassível.
Vim à Netherfield logo depois de instalar a minha irmã numa casa em Londres, depois do terrível caso do qual você está ciente. Eu nunca fui muito inclinado para eventos sociais, preferindo uma noite tranquila com alguns amigos do que um Baile em Almack, mas naquele momento minha aversão pela sociedade estava em sua maior intensidade. O homem que, embora nós tenhamos nos distanciado, era meu amigo mais antigo tinha me traído da pior maneira possível. Eu não estava com humor para fazer novos conhecidos, e qualquer coisa que me lembrasse caçadoras de fortunas me enraivecia. Eu não me importava com o que pensavam de mim, e sentia pouco prazer em qualquer coisa. Então, um dia, alguém numa festa pediu-me minha opinião sobre algo. Eu respondi concisamente, sem dúvida rudemente, e você virou seus belos olhos para mim e disse: “E enfim o Sr. Darcy deslumbrou o salão com seu conhecimento! Nós todos devemos estar devidamente gratos.” A sua voz risonha pareceu fazer as velas queimarem mais brilhantes, e eu me tornei seu prisioneiro. Mas toda vez que eu tentava aproximar-me de você, você parecia voar para longe. Você se recusou a dançar comigo em Lucas Lodge e depois em Netherfield durante a doença da sua irmã. Depois disso meu único prazer era olhar para você, ouvir você falar, pensar em você, sonhar com você todas as noites.
Minha querida Elizabeth – eu devo ter esperanças que você me irá perdoar pela minha ousadia em chamá-la dessa maneira; mas já que eu escrevi para você tantas cartas que nunca eram para serem lidas, e é de pouca importância para o fogo quão ousadas são as palavras que ele queima, eu tomei essa liberdade muitas vezes para renunciá-la agora, porque o som do seu nome, a aparência dele vindo da minha pena, é um prazer viciante – você não pode imaginar o tormento que eu senti ao deixar Hertfordshire, sabendo que era improvável que eu algum dia fosse vê-la novamente. Eu duvido que eu poderia ter encontrado a determinação para fazer isso por minha própria causa; foi apenas por um senso de dever para com Bingley que eu me forcei a deixar a teia de encanto que você tinha lançado sobre mim. Eu queria poder dizer que a esqueci rapidamente, mas isso seria uma mentira; você era o meu primeiro pensamento na manhã e meu último à noite, e você dançava através dos meus sonhos como uma ninfa da qual eu não podia ter esperanças de escapar, nem eu mesmo desejava. Por um tempo eu achei que isso me levaria a loucura, e eu tinha recém recobrado algum senso de mim mesmo quando deixei Londres para Rosings, apenas para encontrar a própria ninfa no final da minha jornada.
Mesmo um breve tempo na sua companhia foi o suficiente para me colocar mais uma vez no mais grave dos perigos, talvez ainda mais do que eu tinha estado em Hertfordshire, porque eu agora tinha a certeza de que eu não podia escapar de você. Eu tentei com todo meu ser me manter distante, mas um provocador Cupido continuava me jogando no seu caminho – na igreja, onde eu não podia prestar atenção no sermão, já que todas as minhas preces eram para você; quando você jantava em Rosings, e eu sabia que toda as expectativas familiares do mundo não podiam compensar pela alegria que eu recebia sempre que um sorriso tocava os seus lábios. Eu estava perdido antes mesmo de eu começar.
Eu te contaria do meu desejo por você, mas aquelas palavras não são adequadas para os olhos de uma donzela; aquela carta deve ser alimento para o fogo faminto, que não queima tão ferozmente quanto meu amor por você. Eu poderia escrever para você da profundidade da minha irremediável admiração por você e como ela superou todos os meus escrúpulos, mas palavras desse tipo provavelmente seriam tão imperdoáveis
quanto são inesquecíveis. Eu posso apenas te contar da lições que eu aprendi com você, minha querida, amada, Elizabeth; lições do coração, do erro dos meus modos e meu intolerável egoísmo em não considerar as sensibilidades daqueles que eu amo, lições que me fizeram um homem melhor. Elas também me transformaram em um homem que nunca irá esquecer o brilho dos seus belos olhos, a encantadora mudança do seu semblante quando você encontra uma vítima para as suas provocações, a extraordinária luz que você traz ao mais escuro dos cômodos; e eu vou sempre sentir a falta da sua presença quando eu estiver distante de você, mesmo que anos e décadas se passem. Você é uma mulher em um milhão, tanto pela sua honestidade e doçura quanto pela sua beleza e inteligência, e tem sido um privilégio ser um adorador aos seus pés. Á essas memórias eu não iria renunciar por nada, mesmo se elas forem as únicas que eu jamais terei de você.
Agora você vê o que apenas as chamas tinham visto até agora. Eu irei entender completamente se você me tratar como se essa carta nunca tivesse existido; de fato, eu não mereço nada mais, e você não precisa se preocupar que eu irei importuná-la mais. O seu amor é um prêmio que eu não ouso sonhar em obter, um precioso demais para um mero mortal como eu, mas se você encontrar alguma pequena parte de você que está disposta a considerar meu pedido, ou melhor, até mesmo tolerar minha presença ocasional, eu peço que você encontre alguma maneira de tomar piedade de mim e me mostrar o seu perdão por estas palavras. Eu estarei no bosque a cada manhã, meus pensamentos ocupados com você.
Estive a ver a adaptação de Orgulho e Preconceito de 1995 e quando chegou à cena do Mr. Darcy entrar na estalagem, logo após Elizabeth ter lido a carta de Jane, perguntei-me o que foi ele lá fazer.
Fui ler no livro como era essa cena, embora saiba que esta adaptação é muito fiel à obra. Mr. Darcy tinha dito a Elizabeth, quando eles se encontram em Pemberly, que deseja que ela conheça a irmã dele, que chegará no dia seguinte. Eles combinam então que Darcy levará Georgiana à estalagem no dia seguinte à sua chegada. Só que Darcy acaba por fazê-lo no própria dia em que a irmã chega. Nesta visita são ainda acompanhados por Bingley. Antes de ir embora Darcy convida Elizabeth e os tios para um jantar em Pemberly, o mesmo é marcado para daí a dois dias.
No dia seguinte, o Mr. Gardiner vai pescar para Pemberley e Elizabeth e a tia vão com ele, já que acham que a cortesia de Georgiana de vir conhecê-las no próprio dia em que chegou merece uma visita de retribuição.
No dia seguinte, quando Darcy aparece na estalagem é o dia do jantar. Afinal que veio ele lá fazer? Teria ele tido algum assunto para tratar em Lambton e por isso passou na estalagem para cumprimentar Elizabeth e os tios? Podia ser também uma visita de mera cortesia, mas esta hipótese é pouco provável, digo isto pelo seguinte: se estivessem à espera de visitas os Gardiner nunca teriam saído, lembrem-se que Elizabeth não vai com eles porque quer ler a carta de Jane. Se era uma visita, ainda que inesperada, porque não trouxe ele o Bingley ou a irmã? A minha teoria, talvez um pouco fruto do meu lado romântico, é que ele teria lá ido para mais uma vez declarar que os seus sentimentos ainda eram os mesmos. O que acham desta teoria?
How to Find a Modern Day Mr. Darcy este é o título de um artigo bastante interessante que podem ler aqui em inglês. Basicamente explicam-nos os dez passos para irmos de encontro a um Mr. Darcy nos dias de hoje... pode ser pouco verosímel mas serve como entretém!
The Chaser é um Talk Show australiano, um jornal dizia que num inquérito feito a mulheres a grande maioria dizia preferir o Mr. Darcy ao Brad Pitt. Assim o um dos apresentadores decide ir para a rua vestido como o Darcy e começa a usar as frases deste para tentar atrair as mulheres. O resultado pode ser visto neste video:
Para as leitoras que ainda não encontraram o seu Mr. Darcy, aqui fica um poema de Ronnie Taheny, dito por ela; se ouvirem com atenção vão perceber porque é tão é dificil encontrar o Mr. Darcy. :)