O casamento de Jane Bennet e Mr. Bingley passa para segundo plano no docorrer da história, uma vez que estamos sedentas de saber como termina a relação entre Lizzie e Darcy, todavia, Jane Austen, não deixa de nos dar umas quantas dicas acerca do que poderão ter sido os anos posteriores ao casamento.
É pela voz de Mr. Bennet que conhecemos algumas previsões:
“Não duvido de que se hão-de dar muito bem um com o outro. Os vossos temperamentos são bastante semelhantes. Ambos são tão tolerantes que nunca tomarão resoluções definitivas; tão fáceis de levar que todos os criados vos enganarão; e tão generosos que hão-de sempre gastar mais do que têm.”
Confesso que partilho desta previsão. Tanto um como outro mostraram alguma inação perante os seus sentimentos um pelo outro, deixando-se influenciar demasiado pela opinião de outros, o que demonstra que ambos eram facilmente manobráveis. Ambos demonstram igualmente uma ingénua inocência, vendo até última instância o melhor e mais bondoso nas pessoas, o que revela igualmente, que seriam facilmente ludibriados por carateres menos sérios. Apesar de tudo, acho que este casal foi muito mais feliz do que o casal Darcy, no que toca a uma certa estabilidade na relação. Nenhum exigiu do outro grandes mudanças de caráter, como Mr. Bennet diz, eram igualmente tolerantes e creio que nas questões importantes, sabiam ceder em equilibrio. Já com o casal Darcy, duvido que esse equilibrio de cedências existisse, Lizzie tem um caráter demasiado arrebatado para ceder em questões que considerasse totalmente importantes... acho que na relação Darcy-Elizabeth, houve necessidade de fortes mudanças de caráter para que ambos pudessem conviver diariamente depois do assombro da paixão. Imagino-os (Bingley e Jane) como um casal com poucas desavenças, sem rupturas e com um amor incondicional, e talvez, com uma (demasiada) dependência um do outro.
Sabemos que os Bingley ainda ficaram em Netherfield por mais um ano, depois do casamento, mas a proximidade com Mrs. Bennet e com os mexericos de Meryton era demasiada – mesmo para dois seres tão tolerantes como eles! Acabaram por ir viver para as proximidades de Derbyshire, ou seja, para perto do casal Darcy.
Creio que com o amadurecimento próprio da idade e com a experiência que o tempo nos dá, tanto Bingley como Jane aprenderam a pensar mais por si próprios – um, porque se afastou da dependência das irmãs e Jane, por se libertar da subordinação e influência da mãe. Imagino sempre o casal Bingley com uma enorme prole de crianças, uns seis ou sete e, ao contrário de Mrs. Bennet, só de meninos! Gosto de acreditar que o maior desejo de Bingley era ter uma menina. Mas sei que o amor por aquelas crianças era tão grande ou maior ainda do que aquele que dedicavam um ao outro.
O objectivo fundamental da vida da mulher seria o casamento: arranjar um marido adequado, procriar e, futuramente, auxiliar os filhos e as filhas a arranjarem a noiva adequada. Tudo girava em torno disto. Certo é que nem todas conseguiriam encontrar alguém que correspondesse às expectativas, ou sequer fossem beneficiadas por uma proposta de casamento. Não sei se será exagero meu dizer que a profissão da mulher seria o matrimónio. E, como em qualquer profissão, implica um aprendizado e o desenvolvimento de certas “habilidades”. Não sei, talvez seja um pensamento cruel e triste aos nossos olhos cheios de século XXI.
"It is amazing to me," said Bingley, "how young ladies can have patience to be so very accomplished as they all are."
"All young ladies accomplished! My dear Charles, what do you mean?"
"Yes, all of them, I think. They all paint tables, cover screens, and net purses. I scarcely know any one who cannot do all this, and I am sure I never heard a young lady spoken of for the first time, without being informed that she was very accomplished."
"Your list of the common extent of accomplishments," said Darcy, "has too much truth. The word is applied to many a woman who deserves it no otherwise than by netting a purse or covering a screen. But I am very far from agreeing with you in your estimation of ladies in general. I cannot boast of knowing more than half a dozen, in the whole range of my acquaintance, that are really accomplished."
"Nor I, I am sure," said Miss Bingley. "Then," observed Elizabeth, "you must comprehend a great deal in your idea of an accomplished woman."
"Yes, I do comprehend a great deal in it."
"Oh! certainly," cried his faithful assistant, "no one can be really esteemed accomplished who does not greatly surpass what is usually met with. A woman must have a thorough knowledge of music, singing, drawing, dancing, and the modern languages, to deserve the word; and besides all this, she must possess a certain something in her air and manner of walking, the tone of her voice, her address and expressions, or the word will be but half deserved."
"All this she must possess," added Darcy, "and to all this she must yet add something more substantial, in the improvement of her mind by extensive reading."
"I am no longer surprised at your knowing only six accomplished women. I rather wonder now at your knowing any."
"Are you so severe upon your own sex as to doubt the possibility of all this?"
"I never saw such a woman. I never saw such capacity, and taste, and application, and elegance, as you describe united."
Esta passagem de "Orgulho e Preconceito" é, provavelmente, um dos melhores exemplos desta questão da "mulher prendada".Mr. Bingley levanta a questão ao manifestar a sua admiração pelo facto de moças tão jovens serem habilidosas em tantas actividades como a pintura, bordado, dança, canto. A irmã mostra-se escandalizadacom o comentário dele como se fosse um absurdo pensar o oposto e se isto não fosse exercido com o máximo de excelência. A irmã chega a afirmar que uma mulher para ser realmente prendada tem de ter uma postura com "algo mais" ("she must possess a certain something in her air and manner of walking"). Darcy acha que poucas serão as mulheres realmente prendadas e Elizabeth, diante da concepção deles, acha que não existirá sequer uma.
Todo este diálogo é extremamente interessante. Em primeiro lugar, porque demonstra que a questão das jovens terem habilidades que fossem visível aos olhos de todos seria um factor que a qualificaria como alguém a ser valorizado e ponderado ou não numa presumível união. Para além do bom nome, posses, quiçá de um título, ser "prendada" era fundamental. Principalmente, para conseguir fazer um futuro matrimónio. Principalmente quando Mr. Bingley diz que "I am sure I never heard a young lady spoken of for the first time, without being informed that she was very accomplished" ele está a afirmar que sempre que ao ser apresentado a uma jovem esta informação é logo disponibilizada.
Na geração das nossas mães, uma mulher prendada é aquela que administrava o lar, ou seja, fazia a economia do lar, cozinhava, lavava e passava roupa (no tanque, s.f.f), costurava,limpava a casa, cuidava dos filhos, tinha a comida feita nas horas certas e - se fosse muito moderna - tinha um emprego. Tudo isso, com um sorriso nos lábios. Uma mulher prendada nunca reclamava do seu destino, fosse ele qual fosse. Estava casada, tinha filhos e recebia sustento (na maior parte dos casos) do marido. Esse era o seu papel. Em meios pequenos, buscava-se - antes do casamento - saber se a mulher era de boas famílias e se tinha sido preparada para ser uma boa dona de casa.
Na nossa geração, não tenho certeza se este conceito de "mulher prendada" continua a existir de facto.Pelo menos, não nesta concepção de ter de ser uma mulher sobrenaturalmente dotada de todas as habilidades dentro do lar. Acho que, em concreto, somos todas prendadas: aprendemos com nossas mães a lidar com a casa, mas estudamos, trabalhamos, abraçamos uma profissão e, imaginem, procuramos tempo para nós mesmas.
Esta questão sobre a mulher "prendada" na obra de Austen, faz-me sempre relembrar as teorias que encaram Jane como uma escritora a preconizar o feminismo. Há momentos em que concordo. Principalmente quando leio a reacção de Elizabeth Bennet ao discurso de Darcy e de Caroline Bingley no trecho acima transcrito. Contudo, quando leio outros trechos em que é abordada a questão e o interesse nos rendimentos que ambos pretendentes poderão vir a usufruir com o matrimónio faz-me pensar duas vezes se se tratará de uma crítica social ou se ela encararia esta questão como natural e, por isso, aceitável. A certeza que nutro é que Jane Austen não era como as mulheres de sua época e, parece-me, não tinha as mesmas ambições que as outras teriam. Talvez, por isso, a escrita: onde ridicularizava o que não aceitava, diminuía o que reconhecia valor e exaltava o que achava ser importante. Tudo o que escrevi são ilações mas, talvez, algumas possibilidades.
Antes devo dizer que são a encarnação do que cada pessoa deve ser para o seu género…
Mr. Bingley é convenientemente rico, atraente e deve ser considerado um Bom partido. A primeira frase do livro centra-se nesta personagem, dando-nos a ideia que talvez seja o elemento central do livro… Contudo não é!
Jane encarna exactamente o papel que uma mulher deve (ou devia ter naquela época), é linda, inteligente apesar de ingénua, e tem um grande coração. Conseguimos prever que estes dois farão uma família equilibrada, apresentam-se como um par feito no céu!
Um daqueles casais que se inveja, porque nunca discutirão e mesmo quando fazem sofrer um ao outro é apenas devido à intervenção de elementos externos…
Então porque não são eles as personagens principais, já que concentram toda a virtude moral e humana que as obras de Jane tão bem enfatizam?
Eles são, na minha opinião, pouco carismáticos. Cansam pela perfeição!
São demasiado bons para serem admirados, demasiado perfeitos para aproximarem o leitor real para o livro… Lizzy e Darcy precisam deste apoio porque são um pouco menos polidos, mais humanos… com falhas!
É impossível não simpatizar com Jane e com Mr. Bingley… É impossível apaixonarmo-nos por eles!
Não que seja o "meu casal" mas é um casal com "peso significativo" no decorrer da história. Jane e Bingley demonstram claramente como o preconceito não interfere quando alguém não se julga superior, como nem sequer existe na mente de duas pessoas a não ser quando os outros o fazem notar. Eles são o reflexo da falta de orgulho e preconceito: ele porque o poderia ter por ser de social e financeiramente superior; ela porque o "amou" sem nunca se tentar impor a uma riqueza que não era coincidente com o seu estado de vida.
Bingley, a meu ver, poderia ter um papel muito mais activo em toda a história, principalmente pela sua ligação como amigo de Darcy (à semelhança de Jane e Lizzy). Percebemos que Darcy o aprecia como amigo e que confia nele e essa situação poderia ter-lhe dado um outro estatuto na história. Mesmo na sua situação com Jane, como por exemplo quando parte para Londres, o seu papel passivo nem merece descrição no livro. Ele poderia pelo menos ter colocado entraves à partida para Londres, mesmo que no final acabasse por se submeter "à vontade" das suas irmãs e do amigo.
Acho que Bingley e Jane acabam por ser demasiado "passivos" em relação a tudo o que lhes acontece. Não lutam pelo que sentem e apenas se deixam levar até à vitória final "do amor" que afinal é uma vitoria para eles mas que não é deles... é a vitória do amor sobre o preconceito de Darcy e Lizzy que acaba por os beneficiar e permitir que o amor que sentem se manifeste e se traduza em palavras e acções. Eles limitam-se a manter o amor que sentem nos seus corações "quieto" e fechado (excepção çpara a viagem de Jane a Londres) estando, também eles, quietos...
E vocês o que acham? Será que me engano e este casal conseguiu despertar emoções?