O amor exemplar de Mr. e Mrs Weston
Quando li "Emma" pela primeira vez, não reparei em Mrs Weston ou Ms Taylor, nome de solteira. Não sei porquê. Mais tarde, vi o filme realizado por Douglas McGrath e fiquei encantada com Mrs. Weston. Para quem não se recorda, o filme começa com a voz de Mrs Weston e a apresentação da sua prenda de casamento, um globo pintado por Emma que revela os locais e as personagens mais importantes do círculo de amigos de ambas. E diz Mrs Weston: in a time when one's town was one's world and tha actions at a dance excited greater interest than the movement of army's, there lived a young woman who knew how this world should be runned. Esta apresentação é seguida da sua boda de casamento. E, logo ali, se percebe que aquele casamento é um casamento de amor. Mas não um amor qualquer. Um amor sedimentado no tempo, maduro, sincero, assente na amizade, no respeito, na tolerância e no afecto puro e sincero entre dois seres que souberam respeitar-se até à altura de casarem. O meu encanto e admiração por este casal.
No filme, não nos é dado a perceber a natureza deste amor. Julgamos que Emma terá efectivamente tido alguma influência. Mas não. É no livro que encontramos a fonte e o percurso longo e lindo deste casal. Mr. Weston, pai de Frank Churchill, casa, inicialmente, com Ms Churchill que pertencia a uma importante família de Yorkshire. Embora Mr. Weston pertencesse a uma família de respeito que, ao longo de três gerações, conseguira fortuna e respeito, o enlace não foi bem aceite. Ms Churchill veio a revelar-se uma mulher que não sabia apreciar as imensas qualidades do seu marido e o casamento ficou marcado pela distância dela para com ele. Na vã tentativa de agradar à perdulária mulher, Mr. Weston gastou mais do que lhe era permitido para manter a sua fortuna. Com a morte de Ms Churchill, viu-se obrigado a deixar o seu único filho com os cunhados para poder dedicar-se à recuperação da sua fortuna e à aquisição de património através do comércio, em detrimento da carreira militar.
Nesta batalha conhece a preceptora de Emma, Ms Taylor, uma mulher sem dote, como pretendia, e, acima de tudo, uma mulher doce, meiga, sensata e madura, por quem se apaixona. Todavia, a experiência anterior leva-o a ser prudente e a casar apenas quando alcançar a fortuna suficiente para se estabelecer em Randals. Os mais sensíveis poderão chocar-se com o facto de Mr. Weston procurar propositadamente uma mulher sem dote que ficasse agradecida por ser escolhida e não uma que pudesse escolher o seu marido. Mas, atendendo ao seu anterior casamento, não será desculpável? Mr. Weston era um homem afável, carinhoso, generoso que apenas queria ser feliz ao lado de uma mulher afável e sociável. E esta será uma união feliz para ambos. Nela se incluirá também Frank Churchill, como o próprio confidenciará numa carta que envia a Mrs Weston para explicar o seu segredo com Miss Fairfax e para se desculpar.
Mrs Weston foi sempre complacente com Emma. Mais do que sua preceptora, foi, durante dezassete anos sua amiga. E assim continuará depois do casamento. Nas suas (poucas) aflições, é a Mrs Weston que Emma recorre para se consolar e para se aconselhar. A preocupação do casal com Emma é genuína. assim como com todos os seus amigos. Mrs Weston preocupa-se com todos aqueles que recebe em sua casa. Chega a verificar se existem correntes de ar em atenção a Mr. Woodhouse.
Eu atrevo-me a dizer que Mr. e Mrs. Weston são o casal perfeito na obra de Jane Austen e nos dias de hoje. Sou suspeita, já que aprecio este tipo de amor, ao invés da tresloucada paixão juvenil. Este casal modelo é constante ao longo de toda a estória e é maravilhoso verificar como se protegem, se completam e se apoiam. Creio que neste aspecto, Mrs Weston era um verdadeiro exemplo para Emma.