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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Do "Parque de Mansfield" para "Sensibilidade e Bom Senso": amor e fortuna

Fonte: Internet

Um dos temas que mais me chamou a atenção nesta obra foi a história de amor e fortuna de Edmund Bertram e Mary Crawford. Um casal jovem que despertou interesse mútuo em ambas as partes, com um evidente entusiasmo pela outra pessoa. Porém, nesta história de amor há uma contingência: a fortuna. Mary age como uma autêntica agiota, desprezando a profissão de Edmund – clérigo – não tanto por uma questão religiosa, mas antes pelo “desprestígio” de status perante a mais alta sociedade e, sobretudo, e pelos (relativos) parcos rendimentos anuais.

Podemos pensar que se tratam das reflexões de uma tola e inexperiente rapariga. Mas será que, pelo facto de ter assistido à trágica história de Mary Bertram, só por si não devia ter aprendido que a busca de fortuna sem amor é o caminho para a infelicidade? É numa das cenas finais, em que ela assume que aprovaria uma traição relacional, em prol da manutenção das aparências maritais (e da fortuna!), que se conhece de facto o carácter desta jovem. Edmund fica devastado, tal como Marianne, de “Sensibilidade e Bom Senso”, onde esta história se repete. Também Willoughby troca o amor e a felicidade pela fortuna e se desgraça.

Num paralelo entre Willoughby e Mary Crawford, perguntamos: será que eles realmente amaram, ou se amam só e apenas a si próprios?

Marianne responde, citando o poeta “Amor não é amor se esmorece perante a distância, se verga perante a tempestade…”

uma quase redenção

Para quem leu ou viu algum filme sobre Mansfield Park conhece o final. Fanny não cede a Henry, este por sua vez enfraquece e cai na tentação chamada Maria. A “desgraça” abate-se sobre a família Bertram à sombra do escândalo da infidelidade. Mas, no fim, como em todas as histórias de Jane Austen, tudo se resolve, tudo se acalma e tudo se compõe.

 

Fanny acaba por casar com Edmund. Mas, permitam-me expressar a minha opinião, que proposta tão sem sal, tão sem propósito e tão com sabor a prémio de consolação. A mim, sempre me pareceu que Edmund não teve coragem de assumir o seu sentimento por Mary Crawford nem antes nem depois do escândalo. E, por ter de se conformar de que não poderia tê-la lá se lembrou das qualidades da prima e lá constatou de que até vinha a calhar pedi-la em casamento. Tenho de confessar-vos de que não gosto deste final.

 

Eu acreditei em Henry. Tenho pena que nem Fanny nem Jane Austen tenham acreditado. Penso que ele reconheceu e identificou todas as qualidades de Fanny: ele olhava-a e via uma mulher, uma grande mulher; enquanto o primo só sabia ver a prima que tinha paciência para lhe ouvir. Henry lutou, persistiu, pediu-a em casamento, declarou-se, procurava realmente ouvi-la, entendê-la e, sobretudo, por causa dela, procurou mudar de atitudes. Ele procurou a redenção. Ele falhou, é verdade. A dada altura, ele desistiu. Mas para um espírito inconstante e cônscio das suas falhas, Henry procurou ser merecedor e mostrou que poderia ser. Fanny foi impiedosa. A dada altura, pareceu-me que ela quase que acreditava, quase que se deixava levar, quase que correspondia… Um pouco mais e talvez Henry alcançasse o coração de Fanny. A persistência abandonou-o pelo caminho.

 

E sobre o desenlace, todos sabemos.

 

Assumo que, nesta obra de Jane Austen, o meu coração foi capturado pelo “canalha”. Prefiro Henry - um pecador assumido, que se mostra disponível para a redenção - do que Edmund - um virtuoso superficial, que diante da provação cai com demasiada facilidade e cujos actos contradizem as palavras. Talvez ambos tenham sido reféns dos seus próprios sentimentos e constataram que é o viver a vida que comprova a validade das nossas convicções.

 

Fanny ganha a pessoa com quem sempre sonhou. A meu ver, sai perdedora.

Guarda-Roupa Mary Crawford Comparado

Como percebem, estou numa fase do "armário"... mais propriamente do guarda-roupa! Isto tudo porque não tenho grande coisa para fazer, as minhas mini-férias estão a ser passadas na companhia de uma constipação com alguns picos de febre, o meu único consolo são as adaptações de Jane Austen. Embora Mary Crawford não seja personagem que goste particularmente, sempre adorei a forma como a caracterizaram. Decidi fazer uma comparação entre o guarda-roupa de 2007 (Hayley Atwell) com o de 1999 (Embeth Davidtz) em cenas equivalentes.

 

 

Quando conhecemos os Crawford

 

 

Passeio a cavalo com Edmund

 

 

Mary Crawford em Lover's Vows

 

 

Aniversário de Fanny

 

 

Durante a doença de Tom Bertram

 

Educação Feminina em O Parque de Mansfield

Título Original: Concepts of Women’s Education in Mansfield Park

Retirado do site Jasna

Autor do Artigo: Alexandra M. Baird

Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 


 

Em O Parque de Mansfield, Jane Austen apresenta-nos três tipos diferentes de educação formal feminina. Dois desses tipos têm como objectivo o casamento, enquanto que o terceiro é, possivelmente, o mais próximo da educação masculina (com as devidas ressalvas). (...) Falamos dos tipos de educação de Maria/Julia Bertram, Mary Crawford e Fanny Price (...). Infelizmente, a educação das irmãs Bertram ensina-lhes praticamente nada, a de Mary não têm verdadeira subsistência debaixo da superfície. Contudo, a tímida Fanny Price, tem uma educação progressiva para a felicidade que alcança no final do romance.

 

No mundo de Jane Austen, a educação feminina é praticamente inseparável da sua casa. Aquilo que ela aprendia, e por conseguinte, a sua conduta, era um reflexo da vivência familiar, e isto é uma verdade no caso de Maria e Julia.

 

Maria, criada  por um pai distante, uma mãe indolente e uma tia indulgente, só muito tarde (tarde de mais) aprende que as acções egoístas podem trazer consequências desastrosas. (O que se diz sobre Maria no que toca à educação, vale o mesmo para Julia (...). Sir Thomas arrepende-se da sua negligência no que toca à educação moral das suas filhas depois do sucedido irremediável com Maria (...).

 

Mary, criada sobretudo em Londres, tem dificuldade em ambientar-se ao conservadorismo do campo. A indulgência que recebeu da sua tia é de uma permissa mais aberta do que a das irmãs Bertram, o que se concluí pelo seu discurso sem reservas.

 

Como Fanny não considera Mansfield Park a sua verdadeira casa, ela não cresce egoísta como Maria (...) Além disso, a sua separação da família em Portsmouth permite que ela os idealize e por isso também não se apercebe do nível social inferior em que se encontram (...). Graças à sua mente, que é teimosa e ingénua, ela está livre das más influências de ambos os lares. (...)

 

Para Maria, a educação é um requisito que uma jovem mulher deve possuir por razões sociais, e não como apoio para a vida diária (...). Não lhe ocorre (...) encarar a educação como autodesenvolvimento ou como expansão da sua visão do mundo. (...) Podemos dizer que o único uso prático que ela faz da sua educação é para (ela e a irmã) se distinguirem da sua prima. (...)