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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Dentro de um "bad boy" também bate um coração | PARTE 3

Willoughby surge como um dia de sol no meio da tempestade. Num momento de dificuldade e de infortúnio, ele aparece na vida de Marianne e a resgata não somente da queda que sofreu como também da solidão dos dias de luto. E todos, até mesmo a prudente Elinor, encantam-se com ele. Exceptuando Coronel Brandon, talvez mais movido pelo desgosto de ter um rival do que pelo real conhecimento do seu carácter. Ele é jovem, alegre e encantador. Aos olhos de Marianne, a personificação da perfeição. O sentimento entre ambos parecia verdadeiro e puro. Daquele tipo de sentimento que duraria a vida toda.


A dado momento, tudo muda. 


Willoughby enreda-se numa espiral que o conduz ao declínio. Dependente da herança que iria receber de sua tia, foi colocado contra a espada e a parede: ou largas a menina Marianne Dashwood e procuras um partido apropriado ou perdes herança e sustento. Todos conhecemos a escolha dele.


Tantas coisas são questionáveis nesta situação. Mesmo que se goste ou não deste personagem, há tantas argumentos contra e a favor dele que as fãs de Willoughby debatem-se sobre a sua conduta.


Aos olhos dos dias de hoje, a escolha de Willoughby parece descabida. Renunciar um sentimento tão puro em favor do dinheiro! Isto demonstrou que ele era um verdadeiro "bad boy"? Do meu ponto de vista, não. É natural que ele dependesse do dinheiro proveniente da tia e que não quisesse abdicar de uma herança avultada. No contexto daquela época, o que ele faria se perdesse esta garantia? 


Se colocarmos de parte os seus defeitos e as suas virtudes, identificamos duas características que parecem explicar o seu lado sombrio e "bad boy": fraqueza e egoísmo. Ele foi fraco em não resistir à própria tia, em procurar maneira de persuadi-la. Não era ele próprio um grande mestre da lisonja e de palavras encantadoras? A verdade, a mais pura verdade, é que - apesar de ser um facto não poder arriscar a sua herança - ele não moveu palha para lutar por Marianne. Ele rendeu-se, fugiu sem grande explicações e deixou em aberto um possível regresso. Ao fazer isso, para além de destroçar o coração de Marianne, ele prolongou o sofrimento ao lhe deixar uma réstia de esperança.


A fraqueza é daquele tipo de característica que torno o seu possuidor apenas em alguém baixo e pequeno. O pior terá sido o seu egoísmo e falta de generosidade ao  conduzir a situação com Marianne. A forma fria e indiferente como a tratou no Baile em Londres e a ausência de resposta nos dias anteriores foram desrespeitosas. Em pouco tempo, mostrou-se mais do que fraco. Mostrou-se implacável e cruel. Não teve qualquer delicadeza e generosidade ao tratar com uma pessoa a quem ele dizia ter dedicado o seu coração.


Poderão dizer que ele não estaria preparado para lidar com a situação. Talvez. Admito que talvez isso seja verdade. Mas ele teve tempo para avaliar como haveria de lidar com tudo isto de forma a minimizar o sofrimento dela.


A machadada final ocorre aquando da revelação dele ter sido a pessoa que seduziu, engravidou e abandonou Eliza. Acho que este facto arruma de vez com o seu carácter.


Terá sido Marianne uma oportunidade de Willoughby se redimir e de se elevar da condição de "bad boy"?


Não tenho dúvidas de que Willoughby amou Marianne, mas o seu egoísmo e fraqueza suplantou o seu sentimento. O mais frustrante é que vemos no fim que ele terá lamentado o seu destino mas não terá sofrido tanto assim... Como se ele soubesse que não teria sido capaz de fazer Marianne feliz. E ela, por seu lado, entendeu que dentro de um "bad boy" pode bater um coração mas talvez ele pudesse desacelerar as batidas do seu.

Ilustrações

 

 

Quem serão estes dois? Foi através do Jane Austen Today que descobri esta ilustração maravilhosa que partilho aqui. Uma pista é do meu vilão preferido....Para quem não sabe é o Willoughby, o único que nunca consegui odiar apesar de todas as infâmias que comete.

A autoria pertence a Liz Monahan e podem ver os seus trabalhos e eventualmente comprá-los aqui

Melhor história de amor secundária

Não posso deixar de referir a história existente entre o Coronel Brandon e Marianne de "Sensibilidade e Bom Senso".

Apesar de não ser grande apreciadora da personagem de Marianne, gosto do sentimento que ele nutre por ela desde o primeiro instante e gosto da forma como ele expressa essa paixão por ela: reservado, paciente, dedicado a proporcionar-lhe conforto e bem-estar. O Coronel Brandon soube esperar e foi recompensado com o amor dela. E acredito que tenham sido felizes, apesar do início complicado e apesar da diferença de idades. Confio no carácter do Coronel Brandon, no seu amor por Marianne e confio também no amadurecimento dela, na sua doçura e romantismo para afirmar que foram felizes.

 

  

"O Coronel Brandon era agora tão feliz como todos aqueles que mais o amavam achavam que ele merecia; em Marianne encontrou consolação para todos os seus desgostos passados... o seu afecto e a sua companhia restauraram a vivacidade do seu espírito e a alegria da sua alma; todos os amigos que o observavam viam que Marianne encontrara a sua própria felicidade, promovendo a dele. Marianne nunca poderia amar pela metade, e com o tempo o seu coração tornou-se tão devotado ao seu marido como antes fora em relação a Willoughby."

 

Casal Menos Favorito

  • Marianne Dashwood/Coronel Brandon

 

Esta escolha vai no sentido do post anterior sobre a heroína menos preferida. É-me impossível imaginar a impulsiva Marianne Dashwood feliz e realizada junto de um homem tão sereno e amargurado como Coronel Brandon.

 

Este casal não me preenche de maneira alguma... acho que o mal está mais em mim, pois nunca entendi muito bem nem Marianne nem Brandon, mas a verdade é que o final destes dois parece-me uma alternativa a um final feliz. Não O final feliz, mas o final possível...

 

Heroína Menos Preferida

  • Marianne Dashwood

 

Isto é mesmo muito complicado!

Não é que não goste de Marianne... aliás, admiro muitas das suas atitudes. Todavia, há algo que me separa dela e me provoca um certo distanciamento, a sua enorme intolerância.

 

Não sei explicar isto muito bem, mas a forma como ela tem tanta certeza de tudo deixam-me deveras enfastiada. E uma certa tendência que tem para achar que todo o mal do mundo apenas cai sobre ela, criam dentro de mim alguma revolta. É certo que ela recupera e cresce bastante - o final de Sensibilidade e Bom Senso mostra-nos isso. 

 

Mas é também esse final que me deixa insatisfeita... Marianne Dashwood cria uma série de sensações contraditórias dentro de mim (!?). Não compreendo como seria ela feliz junto de alguém como Coronel Brandon (e olhem que tenho imensa estima por ele), mas não sei... parece-me sempre uma conformação e não um final feliz igual aos que Jane nos habituou.

 

Marianne Dashwood

Há quem não hesite em apelidar Marianne de tola romântica, mas quem aos dezassete anos, nunca o foi que atire a primeira pedra. Dizia, o Camilo Castelo Branco que o primeiro amor sentido por uma mulher é ainda uma manifestação do amor às bonecas, contudo ele acredita que Teresa, a sua heroína em Amor de Perdição, amou Simão com mais seriedade e sinceridade do que outras da mesma idade o teriam feito.

Eu também eu acredito que o amor de Marianne por Willoughby está longe de ser uma manifestação do amor às bonecas, mas sim uma verdadeira afeição. Olhando a estória dos dois de uma forma impessoal, é quase impossível que ela não se apaixonasse, conhecem-se de uma forma muito romântica, haverá algo mais romântico que um homem que surge do meio de nevoeiro e salva a donzela em perigo?? Depois, os seus modos, maneira de ser e gostos comuns aos dela, acabam por vencer qualquer resistência caso ela ainda existisse.

 

Infelizmente, Willoughby engana Marianne e todos os leitores quando mais tarde revela ser o bom sacana que é.

 

Mas se Marianne tem uma natureza romântica, ela é também das poucas personagens que não disfarça aquilo que sente, seja o amor por Willoughby, seja a indiferença pelo Coronel Brandon e é aqui que a personagem se torna digna de ser amada, por ser absolutamente sincera, outro tanto não se pode dizer de outras personagens e corajosa, muito corajosa, acho que ninguém se atreveria a dizer a Mrs. Ferrars aquilo que ela disse.

Marianne cresce ao longo do livro e no fim já não será tão romântica e terá percebido que afinal pode-se amar mais que uma vez, entre outras lições igualmente importantes.

 

A primeira vez que vi a adaptação de 1995 pensei que Marianne não iria resistir e acabaria por morrer, esse seria o grande momento romântico que ela própria gostaria de ter, morrer por amor, porque aquela morte seria vista por ela como isso. Mas não é um balde de água fria, pelo menos para mim, que ela se recupere. Jane Austen já demonstrou por diversas vezes que acredita em novas oportunidades e Marianne ao viver percebe como as suas ideias eram erradas e depois como diz o Mr. Bennet, toda a rapariga precisa de um desgosto amoroso, o homem na sua sabedoria, faz-nos ver que são esses dissabores, o bater com a cabeça na parede que nos fazem crescer.

Há quem questione o amor pelo Brandon, afinal ela não era TÃo apaixonada por Willoughby? Pessoalmente acredito que ela ame o Coronel e que o seu amor seja sincero, afinal já não tenho dezassete anos, já não sou uma tola romântica e já descobri que se pode voltar amar, basta darmos uma oportunidade ao amor....

 

Do "Parque de Mansfield" para "Sensibilidade e Bom Senso": amor e fortuna

Fonte: Internet

Um dos temas que mais me chamou a atenção nesta obra foi a história de amor e fortuna de Edmund Bertram e Mary Crawford. Um casal jovem que despertou interesse mútuo em ambas as partes, com um evidente entusiasmo pela outra pessoa. Porém, nesta história de amor há uma contingência: a fortuna. Mary age como uma autêntica agiota, desprezando a profissão de Edmund – clérigo – não tanto por uma questão religiosa, mas antes pelo “desprestígio” de status perante a mais alta sociedade e, sobretudo, e pelos (relativos) parcos rendimentos anuais.

Podemos pensar que se tratam das reflexões de uma tola e inexperiente rapariga. Mas será que, pelo facto de ter assistido à trágica história de Mary Bertram, só por si não devia ter aprendido que a busca de fortuna sem amor é o caminho para a infelicidade? É numa das cenas finais, em que ela assume que aprovaria uma traição relacional, em prol da manutenção das aparências maritais (e da fortuna!), que se conhece de facto o carácter desta jovem. Edmund fica devastado, tal como Marianne, de “Sensibilidade e Bom Senso”, onde esta história se repete. Também Willoughby troca o amor e a felicidade pela fortuna e se desgraça.

Num paralelo entre Willoughby e Mary Crawford, perguntamos: será que eles realmente amaram, ou se amam só e apenas a si próprios?

Marianne responde, citando o poeta “Amor não é amor se esmorece perante a distância, se verga perante a tempestade…”

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #31

- Sensibilidade e Bom Senso (2008) | 8 -

-  Charity Wakefield – 

 

 

 

Charity Wakefield tem os elementos essenciais para ser a imagem de Marianne Dashwood: aparenta ter 16 anos e tem beleza. Ela confere à personagem alguma frescura, vivacidade e impertinência típica de uma adolescente. Não podemos esquecer isto: quando Jane Austen escreveu sobre Marianne expressões como she was everything but prudent. (…) the excess of (…) sensibility. ela, no fundo, definiu uma típica adolescente. Alguém que sente e que defende as suas ideias preconcebidas como verdades absolutas. Charity Wakefield incorpora este aspecto, da adolescente cheia de certezas, com alguma precisão. A meu ver, este é o melhor aspecto da sua prestação.

 

Pessoalmente, eu decifro Marianne Dashwood como uma jovem cheia de paixão. Tudo o que ela diz, pensa, sente e faz é imbuído de paixão; seja pela positiva, seja pela negativa. Se ela ama, é com intensidade. Se ela despreza, o é também na mesma medida de intensidade. Não lhe encontramos meio termo nem sentimentos mornos. Seguindo esta linha de raciocínio, Charity Wakefield não é uma Marianne plena de paixão e de intensidade. Não consigo lhe captar a faísca que tem a Marianne que eu leio. De igual forma, não a vejo com o ar embevecido para Willoughby como a imagino. Não a vejo desesperada. Por vezes, os sentimentos parecem-lhe soar em palavras pouco convincentes. Acho que este é o termo ideal: pouco convincente. A sua interpretação não me convenceu na totalidade. Eu diria que é razoável.

 

Ao longo do percurso da história, permanecia em mim uma pequena esperança de que essa classificação se modificasse. A realidade é que isso não aconteceu.

 

Não chego a ficar decepcionada com a sua interpretação. Apenas acho que ela ficou aquém do que o seu potencial anuncia.