Maria Bertram é uma das personagens de Jane Austen que menos gosto. Se o seu marido Rushworth é uma pessoa em qualquer conteúdo, Maria é uma pessoa com conteúdo a mais... Fútil e interesseira. Faz-me lembrar assim como a sua irmã, as irmãs da gata borralheira. Trata mal Fanny porque sempre se sentiu superior a essa. No entanto e como é possível avaliarmos Fanny não é em nenhum aspecto inferior a Maria, muito pelo contrário. Maria é uma mulher bela que acha que consegue tudo apenas pelos poderes do seu belo "palmo de cara". O que fez a Mr Rusworth é imperdoável mas no fim ela teve o que mereçe. Divorciada, ela espera pelo pedido de casamento que sempre quis ouvir de Mr Crawford. Esse nunca veio. No final e apesar da vergonha pelo qual Rusworth passou, compensa saber que a menina Maria não acabou nada bem. Se não fosse a compaixão da sua tia, Maria estaria verdadeiramente condenada. Eu penso no entanto que esta personagem, tal como outros membros da família Bertram são muito apagados e a reacção do pai da Maria quando soube o que a sua filha fez faz-nos pensar isso mesmo. Ela fazia-se passar extremamente bem, por alguém que não era. Mesmo dentro da sua própria familia, ela era uma actriz, uma personagem.
(...) Tom parece estar pouco tempo em casa, ele era superficialmente agradável mas egoísta e extravagante - neste ponto ele parece encorajado pela sua posição enquanto filho mais velho e herdeiro de Mansfield Park - no entanto, ele também caiu em más companhias, companhias essas de homens igualmente egoístas, e que o pai tentou que ele se "escapasse" levando-o consigo para as Índias do Oeste (América). Ele precisava de um choque para aprender a lição (...).
Quanto a Maria e Julia, foram excessivamente mimadas pela indulgência e elogios da sua tia Norris (...) Com todos os seus talentos promisores e uma educação formal, é de estranhar que elas fossem tão deficientes nos conhecimentos básicos como o conhecimento do seu carácter, generosidade e humildade. Elas estavam admiravelmente bem ensinadas em tudo, menos no carácter. Sir Thomas não sabia o que era desejado porque, embora sendo um pai ansioso, não era completamente afectuoso, e as suas maneiras reservadas reprimiram o espírito dos filhos em frente do pai.
Depressa começou a compreender como pode ser desfavorável ao carácter dos jovens o contraste entre os dois diversos tratamentos que Maria e Julia haviam recebido em casa: a excessiva indulgência e lisonja da tia em oposição constante à severidade paterna. Viu quão mal ele raciocinara, supondo vencer o que havia de errado no sistema de Mrs. Norris pelo seu sistema oposto; viu claramente que não fizera senão aumentar o mal, ensinando-as a reprimirem-se na sua presença, mantendo-lhe desconhecidas as suas tendências reais, e entregando-as à indulgência de uma criatura que só seria capaz de as prender graças à cegueira de sua afeição e aos excessos de adulação.
A fuga de Julia era mais perdoável pois não envolvia adultério.
Em O Parque de Mansfield, Jane Austen apresenta-nos três tipos diferentes de educação formal feminina. Dois desses tipos têm como objectivo o casamento, enquanto que o terceiro é, possivelmente, o mais próximo da educação masculina (com as devidas ressalvas). (...) Falamos dos tipos de educação de Maria/Julia Bertram, Mary Crawford e Fanny Price (...). Infelizmente, a educação das irmãs Bertram ensina-lhes praticamente nada, a de Mary não têm verdadeira subsistência debaixo da superfície. Contudo, a tímida Fanny Price, tem uma educação progressiva para a felicidade que alcança no final do romance.
No mundo de Jane Austen, a educação feminina é praticamente inseparável da sua casa. Aquilo que ela aprendia, e por conseguinte, a sua conduta, era um reflexo da vivência familiar, e isto é uma verdade no caso de Maria e Julia.
Maria, criada por um pai distante, uma mãe indolente e uma tia indulgente, só muito tarde (tarde de mais) aprende que as acções egoístas podem trazer consequências desastrosas. (O que se diz sobre Maria no que toca à educação, vale o mesmo para Julia (...). Sir Thomas arrepende-se da sua negligência no que toca à educação moral das suas filhas depois do sucedido irremediável com Maria (...).
Mary, criada sobretudo em Londres, tem dificuldade em ambientar-se ao conservadorismo do campo. A indulgência que recebeu da sua tia é de uma permissa mais aberta do que a das irmãs Bertram, o que se concluí pelo seu discurso sem reservas.
Como Fanny não considera Mansfield Park a sua verdadeira casa, ela não cresce egoísta como Maria (...) Além disso, a sua separação da família em Portsmouth permite que ela os idealize e por isso também não se apercebe do nível social inferior em que se encontram (...). Graças à sua mente, que é teimosa e ingénua, ela está livre das más influências de ambos os lares. (...)
Para Maria, a educação é um requisito que uma jovem mulher deve possuir por razões sociais, e não como apoio para a vida diária (...). Não lhe ocorre (...) encarar a educação como autodesenvolvimento ou como expansão da sua visão do mundo. (...) Podemos dizer que o único uso prático que ela faz da sua educação é para (ela e a irmã) se distinguirem da sua prima. (...)
(...) Estes pares de irmãs secundários servem, nos romances de Austen, para enfatizar a moralidade da heroína, ou para servirem de espelho dos seus defeitos. Em O Parque de Mansfield, contudo, o par hostil de irmãs surge como frente principal da história, a sua rivalidade, a sua inveja quase apagam a proeminência de Fanny e certamente, determinam e interrompem muita da sua história. (...) O potencial desconfortável acerca de como a relação entre irmãs pode existir na sociedade de Austen surge proeminente neste romance. Enquanto que noutros romances de Jane , o par pouco atractivo de irmãs contrasta com a heroína, em O Parque de Mansfield, as irmãs Bertram subordinam Fanny e a sua moralidade em contraste com os perigos que elas revelam inerentes à sua relação como irmãs. (...)
Desde a infância, Maria e Julia demonstraram através da sua rejeição de Fanny como potencial "irmã", que valorizam menos a relação entre irmãs do que aquilo que fazem crer. Fanny serve apenas para mostrarem à Mãe e à Tia Norris quão diferente ela é - "tão estranha e estúpida" - delas próprias (...) O valor do seu afecto mútuo enquanto irmãs está imediatamente subordinado ao valor promoverem as suas boas qualidades; mantêm Fanny num nível abaixo para poderem sobressair. Mas isto não se compara à escandolosa traição da relação das irmãs, que Maria e Julia exibem uma contra a outra quando se trata de romance e matrimónio. Cada uma delas não se preocupa minimamente em poder magoar os sentimentos da outra, desde que seja ela a preferida de Henry Crawford. (...)
As irmãs Bertram desenham uma triste e negra imagem neste romance de Austen. A sua história de traição e tragédia, dá relevo à história de Fanny, sempre paciente e com uma lealdade sempre testada e experimentada. (...) Fanny pode ser vistas como o contraste daquelas duas irmãs, revelando que Maria e Julia poderiam ter escolhido outro caminho se não fosse a sua rivalidade, pela qual optaram na busca de casamento. Através de Fanny vemos que a escolha das irmãs foi uma escolha de falha moral (...).