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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

As Pessoas na Vida de Jane Austen: Os Tios Leigh-Perrots

Título Original: The People in Jane Austen's Life - The Aunt and Uncle: The Leigh-Perrots
Retirado do site: Jasa

Autor do Artigo: Catherine Barker

Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 

 

James Leigh viveu de 1735 a 1817, era o irmão mais velho da mãe de Jane. Irmão e irmã gostavam um do outro e James foi testemunha do casamento dos Austen em Bath (1764). James era simpático, hospitaleiro, inteligente e com uma mente curiosa, bondoso e afectuoso, fácil de lidar, bem disposto e, tal como a sua irmã Cassandra, um grande falador. Diferente dela, contudo, teve a sorte de herdar uma boa fortuna ainda jovem.

 

James e Cassandra tiveram uma tia-avó Ann Leigh, uma solteirona. Quando o seu irmão Thomas (sem descendentes) anunciou a sua intenção de lhe legar o a sua propriedade em Northleigh em Oxfordshire, ela pediu-lhe antes que o deixasse ao sobrinho James Leigh, e que lhe (a ela) deixasse apenas uma anuidade de 100 libras. Ele aceitou fazê-lo desde que o seu sobrinho aceitasse o nome Perrot. James, na altura com apenas 14 anos, cresceu sabendo que iria herdar a propriedade de Northleigh quando atingisse a maioridade aos 21 anos.

 

Às suas irmãs foram apenas deixadas 200 libras para cada. Contudo, quando James tomou pocessão de Northleigh, descobriu que aquela propriedade não lhe agradava, por isso, demoliu-a e vendeu a terra ao Duque de Marlborough. Depois construiu para ele uma nova casa, Scarlets em Hare Hatch na paróquia de Wargrave, na estrada de Bath entre Maidenhead e Reading no condado de Berkshire. Todavia adiciounou o apelido Perrot ao seu nome, tornando-se James Leigh-Perrot.

 

No mesmo ano em que a sua irmã Cassandra Leigh casou com George Austen, 1764, ele casou com uma herdeira da antiga família de Lincolnshire, os Cholmeleys. Jane Cholmeley, que viveu de 1744 a 1836, era a filha de um advogado que passara grande parte da sua vida na América. Jane foi enviada para um Colégio em Inglaterra aos seis anos, de Barbados, onde tinha nascido. Foi enviada para ficar com o seu tio Sir Montague Cholmeley de Lincolnshire durante as férias. Ela soube sobreviver a este estranho início de vida e na idade de 21 anos cativou o novo rico James Leigh-Perrot, tornando-se na Senhora de Scarlets, onde ela e James tiveram uma vida de ócio e independência.

 

Enquanto grande socializadora, Jane vangloriou-se de jantar com mais de 30 famílias na área. Os Leigh-Perrot (sem descendentes) dividiam o seu tempo entre a casa de Berkshire, Scarlets e o Nº 1 The Paragon em Bath, uma imponente casa térrea com vistas para todo o campo, que eles alugavam todos os invernos. Foram para Bath para James tomar as águas, pois ele começava a dar sinais da gota.

 

Em 1799, a tia Jane foi envolvida num escandâlo quando foi presa por roubar em lojas e levada para a prisão, acusada por um vendedor de Bath de ter roubado uma peça de 1 libra. O crime de que foi acusada podia levar à pena de morte porque a peça valia mais de 1 shilling. Na prática, contudo, se ela fosse dada como culpada, o mais provável era ser enviada para a baía de Botany por 14 anos, que era o equivalente a uma pena capital para uma mulher da sua idade e classe. Sendo recusado o pagamento de uma multa, Jane Leigh-Perrot foi mandada para a prisão pela acusação feita polo vendedor. Devido à sua riqueza, estatuto social e idade ela foi enviada não para a prisão propriamente dita, mas para a casa do Director da prisão, Mr Scadding no condado de Somerset em Ilchester, onde Mrs Leigh-Perrot escreveu que eles sofriam de "vulgaridade, sujidade, ruído desde manhã até à noite".

 

O tio James apoiou a mulher durante todo o seu calvário, insistindo em permanecer com ela na "prisão". A tia Jane comportou-se com dignidade e compostura no seu julgamente, falando por ela mesma antes de vários testemunhos em favor do seu carácter serem lidos ao tribunal e o juri demorou apenas 10 minutos a declará-la inocente. Nunca saberemos ao certo de Jane Leigh-Perrot era culpada ou não.

 

Claire Tomalin, que descreve a tia Jane como "um pássaro velho com um marido incrivelemente leal", diz-nos que depois deste episódio os Leigh-Perrots "recuperaram totalmente a sua dignidade". As infelizes circunstâncias do julgamento não alteraram a sua rotina de passar metade do ano em Bath. Em 1801, no ano seguinte a este dramático episódio, os Austen vieram viver para Bath e os Leigh-Perrot estavam satisfeitíssimos. Os Austens estiveram com eles nas primeiras semanas em que chegaram a Bath, enquanto procuravam uma casa para alugar. Eles foram descritos como simpáticos e muito receptivos (...).

 

Em 1806 James Leigh-Perrot tornou-se num dos possíveis beneficiários, assim como o seu primo Thomas Leigh e outros, do grande estado de Stoneleigh Abbey em Warwickshire. Contudo ele estava tão ligado aos Scarlets que decidiu abandonar o seu lugar na sucessão disputada e após muitas negociações em Londres, ele recebeu 20,000 libras e 4.000 libras anuais (...) A tia Jane viveu para lá dos 90 anos por isso, foi um negócio muito bem conseguido (...).

 

A 28 de Março de 1817, James morreu pacificamente contando 82 anos. Jane Austen, ela própria já doente, insistiu que estava bem o suficiente para que Cassabdra, que cuidava dela, viajasse até Berkshire para apoiar a tia Jane no seu luto, e assim, a sua irmã chegou no dia seguinte a Scarlets. James, Mary e Francis tabém vieram a Berkshire para assistir ao funeral do seu tio que foi sepultado em Wargrave.

 

O facto do seu irmão e cunhada não terem descendentes encorajou Mrs. Austen a achar que eles variam dos seus filhos os seus herdeiros, mas apesar de vários presentes generosos de James Leigh-Perrot, no seu testamento deixou tudo à mulher, estipulando apenas 1000 libras para cada um dos filhos da irmã, Cassandra Austen depois da morte da sua mulher, altura em que James Austen, o filho mais velho de Cassandra Austen, receberia ainda 24.000 libras. A sua irmã, Mrs. Austen, não era sequer referida no testamento! O testamento do tio James era a última luz ao fundo do túnel para os problemas financeiros dos Austen, e por isso mesmo, ficaram muito desapontados (...).

 

Poucos meses depois da morte do tio, Jane Austen morre também, mas a sua tia Jane viveu por mais 20 anos, morrendo no início da Época Victoriana. O seu sobrinho, James Austen, o herdeiro expectável, morreu também em 1819, muito antes da tia. Altura em que ela mostrou a sua generosidade inconsistente oferecendo à sua mãe, a sua cunhada, uma anuidade de 100 libras como compensação da perda de renda que ela sabia que Mrs Austen ia sofrer pela morte do filho. Esta oferta foi gratificantemente aceite.

 

Foi o filho de James Austen, Edward (sobrinho de Jane Austen) quem finalmente beneficiou da relação Leigh-Perrot. Quando Edward obteu o seu diploma em Oxford, a tia Jane fez-lhe uma generosa atribuição de 300 libras por ano e a partir dessa altura tomou-o como seu herdeiro. Edawrd queria tomar Ordens, ma a tia Jane (ao estilo Mary Crawford) desaprovou a sua escolha de profissão e desejou que a sua atribuição fosse insuficiente para ele viver como um gentleman não indo para a Igreja. Contudo, Edwar tomou Ordens, e mais tarde caiu nas boas graças da tia por ter feito um bom casamento. A sua escolha incidiu sobre Emma Smith da família de Chute que era proprietária da Vyne, a casa de Hampshire muitas vezes visitada por Jane Austen.

 

Na sua morte, em Novembro de 1836, Edward herdou capital suficiente para produzir uma renda anual de 500-600 libras, assim como também o dinheiro devido do seu pai testamentado por James Leigh-Perrot, 24.000 libras. A sua família assentou em Scarlets e tomou as armas e nome de Leigh em adição ao seu apelido. Tornando-se James Edward Austen-Leigh, como o conhecemos hoje, quem produziu mais tarde, "The Memoir of Jane Austen" a sua primeira biografia.