Guarda Roupa de Julia Bertram II
Guarda-roupa de Julia Bertram da versão de 1999, interpretada por Justine Wadell.
Quando conhecem os Crawford
Passeio com os Crawford
Julia em Lover's Vows
No casamento de Maria Bertram
Última cena
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Guarda-roupa de Julia Bertram da versão de 1999, interpretada por Justine Wadell.
Quando conhecem os Crawford
Passeio com os Crawford
Julia em Lover's Vows
No casamento de Maria Bertram
Última cena
Raquel do Jane Austen em Português está a fazer um roteiro pelo guarda-roupa de Anne Elliot da versão de 1972. Ao ver os seus posts, lembrei-me que seria interessante fazer o mesmo com a nossa obra em destaque este mês. Contudo, embora o óbvio fosse mostrar o guarda-roupa de Fanny Price, achei que seria mais curioso apresentar o guarda-roupa de uma personagem secundária como Julia Bertram. E por isso, aqui está ele!
Hoje mostro-vos a primeira parte do guarda-roupa de Julia Bertram da versão de 2007, interpretada por Catherine Steadman.
Despedida de Sir Thomas para a Antigua sozinho
Passeio com os Crawford em Mansfield
Julia em Lover's Vows
Durante o jantar depois do regresso do pai
Título Original: The Bertram Children
Retirado do blog Pemberley
Autor do Artigo: Nikki
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
(...) Tom parece estar pouco tempo em casa, ele era superficialmente agradável mas egoísta e extravagante - neste ponto ele parece encorajado pela sua posição enquanto filho mais velho e herdeiro de Mansfield Park - no entanto, ele também caiu em más companhias, companhias essas de homens igualmente egoístas, e que o pai tentou que ele se "escapasse" levando-o consigo para as Índias do Oeste (América). Ele precisava de um choque para aprender a lição (...).
Quanto a Maria e Julia, foram excessivamente mimadas pela indulgência e elogios da sua tia Norris (...) Com todos os seus talentos promisores e uma educação formal, é de estranhar que elas fossem tão deficientes nos conhecimentos básicos como o conhecimento do seu carácter, generosidade e humildade. Elas estavam admiravelmente bem ensinadas em tudo, menos no carácter. Sir Thomas não sabia o que era desejado porque, embora sendo um pai ansioso, não era completamente afectuoso, e as suas maneiras reservadas reprimiram o espírito dos filhos em frente do pai.
Depressa começou a compreender como pode ser desfavorável ao carácter dos jovens o contraste entre os dois diversos tratamentos que Maria e Julia haviam recebido em casa: a excessiva indulgência e lisonja da tia em oposição constante à severidade paterna. Viu quão mal ele raciocinara, supondo vencer o que havia de errado no sistema de Mrs. Norris pelo seu sistema oposto; viu claramente que não fizera senão aumentar o mal, ensinando-as a reprimirem-se na sua presença, mantendo-lhe desconhecidas as suas tendências reais, e entregando-as à indulgência de uma criatura que só seria capaz de as prender graças à cegueira de sua afeição e aos excessos de adulação.
A fuga de Julia era mais perdoável pois não envolvia adultério.
Pois bem! A minha cabeça já não se recordava, mas aqui está a explicação pela mão da própria Jane Austen no último capítulo de O Parque de Mansfield:
O facto de Julia ter tido melhor sorte que Maria, era devido, em grande parte, a uma favorável diferença de disposição e circunstâncias; porém era também devido a ter sido menos querida da tia, menos adulada e menos estragada. Sua beleza e prendas só lhe tigam valido um segundo lugar. Ela própria já se acostumara a considerar-se um pouco inferior a Maria. Entre as duas, o seu temperamento era naturalmente melhor; seus sentimentos embora vivazes, eram mais controláveis e a educação que recebera não lhe dera uma tão alta ideia de si mesma.
Recebera muito melhor o desapontamento que lhe causara Henry Crawford. Depois da primeira amargura e ao convencer-se de que fora tratada levianamente, conseguira pensar noutras coisas e esquecê-lo; e quando o convívio se reatou e a casa de Mr. Rushworth passou a ser frequentada constantemente por Crawford, ela teve o mérito de se afastar dele (...) Por essa razão fora para casa dos primos. O entendimento com Mr. Yates não tivera nada em comum com isso; ela vinha, há já algum tempo, a receber atenções vindas dele, porém, com pouca ideia de o aceitar, a conduta da irmã precipitara os factos e o seu crescente terror pelo pai e pelo regresso a casa, em tais circunstâncias, fê-la imaginar que as imediatas consequências do acontecido seriam um aumento da severidade e das restrições; por isso, procurou de qualquer modo e a qualquer risco evitar tais terrores que a ameaçavam; se não fosse isso, provavelmente Mr, Yates nunca teria obtido nada. Ela não fugira senão alarmada pelo próprio egoísmo: a fuga parecera-lhe a única solução. O crime de Maria provocara a loucura de Julia.
Título Original: Concepts of Women’s Education in Mansfield Park
Retirado do site Jasna
Autor do Artigo: Alexandra M. Baird
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
Em O Parque de Mansfield, Jane Austen apresenta-nos três tipos diferentes de educação formal feminina. Dois desses tipos têm como objectivo o casamento, enquanto que o terceiro é, possivelmente, o mais próximo da educação masculina (com as devidas ressalvas). (...) Falamos dos tipos de educação de Maria/Julia Bertram, Mary Crawford e Fanny Price (...). Infelizmente, a educação das irmãs Bertram ensina-lhes praticamente nada, a de Mary não têm verdadeira subsistência debaixo da superfície. Contudo, a tímida Fanny Price, tem uma educação progressiva para a felicidade que alcança no final do romance.
No mundo de Jane Austen, a educação feminina é praticamente inseparável da sua casa. Aquilo que ela aprendia, e por conseguinte, a sua conduta, era um reflexo da vivência familiar, e isto é uma verdade no caso de Maria e Julia.
Maria, criada por um pai distante, uma mãe indolente e uma tia indulgente, só muito tarde (tarde de mais) aprende que as acções egoístas podem trazer consequências desastrosas. (O que se diz sobre Maria no que toca à educação, vale o mesmo para Julia (...). Sir Thomas arrepende-se da sua negligência no que toca à educação moral das suas filhas depois do sucedido irremediável com Maria (...).
Mary, criada sobretudo em Londres, tem dificuldade em ambientar-se ao conservadorismo do campo. A indulgência que recebeu da sua tia é de uma permissa mais aberta do que a das irmãs Bertram, o que se concluí pelo seu discurso sem reservas.
Como Fanny não considera Mansfield Park a sua verdadeira casa, ela não cresce egoísta como Maria (...) Além disso, a sua separação da família em Portsmouth permite que ela os idealize e por isso também não se apercebe do nível social inferior em que se encontram (...). Graças à sua mente, que é teimosa e ingénua, ela está livre das más influências de ambos os lares. (...)
Para Maria, a educação é um requisito que uma jovem mulher deve possuir por razões sociais, e não como apoio para a vida diária (...). Não lhe ocorre (...) encarar a educação como autodesenvolvimento ou como expansão da sua visão do mundo. (...) Podemos dizer que o único uso prático que ela faz da sua educação é para (ela e a irmã) se distinguirem da sua prima. (...)
Título Original: Troubled Sisterhood: When Sisters Become Rivals in Mansfield Park
Retirado do site Jasna
Autor do Artigo: Katherine E. Curtis
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
(...) Estes pares de irmãs secundários servem, nos romances de Austen, para enfatizar a moralidade da heroína, ou para servirem de espelho dos seus defeitos. Em O Parque de Mansfield, contudo, o par hostil de irmãs surge como frente principal da história, a sua rivalidade, a sua inveja quase apagam a proeminência de Fanny e certamente, determinam e interrompem muita da sua história. (...) O potencial desconfortável acerca de como a relação entre irmãs pode existir na sociedade de Austen surge proeminente neste romance. Enquanto que noutros romances de Jane , o par pouco atractivo de irmãs contrasta com a heroína, em O Parque de Mansfield, as irmãs Bertram subordinam Fanny e a sua moralidade em contraste com os perigos que elas revelam inerentes à sua relação como irmãs. (...)
Desde a infância, Maria e Julia demonstraram através da sua rejeição de Fanny como potencial "irmã", que valorizam menos a relação entre irmãs do que aquilo que fazem crer. Fanny serve apenas para mostrarem à Mãe e à Tia Norris quão diferente ela é - "tão estranha e estúpida" - delas próprias (...) O valor do seu afecto mútuo enquanto irmãs está imediatamente subordinado ao valor promoverem as suas boas qualidades; mantêm Fanny num nível abaixo para poderem sobressair. Mas isto não se compara à escandolosa traição da relação das irmãs, que Maria e Julia exibem uma contra a outra quando se trata de romance e matrimónio. Cada uma delas não se preocupa minimamente em poder magoar os sentimentos da outra, desde que seja ela a preferida de Henry Crawford. (...)
As irmãs Bertram desenham uma triste e negra imagem neste romance de Austen. A sua história de traição e tragédia, dá relevo à história de Fanny, sempre paciente e com uma lealdade sempre testada e experimentada. (...) Fanny pode ser vistas como o contraste daquelas duas irmãs, revelando que Maria e Julia poderiam ter escolhido outro caminho se não fosse a sua rivalidade, pela qual optaram na busca de casamento. Através de Fanny vemos que a escolha das irmãs foi uma escolha de falha moral (...).
Julia Bertram é a segunda filha e a mais nova das quatro crianças Bertram. Julia tem melhor temperamento que a irmã, o seu carácter é mais controlável e não tem tanto falso orgulho como a irmã.
Jane Austen não é tão severa com ela como é com a irmã Maria, embora ambas sigam caminhos semelhantes, no entanto, à última da hora, Jane Austen está disposta a resgatar Julia, depois da sua louca escapadela com Mr. Yates (o que não faz com Maria, que vai viver retirada com a sua tia Norris, uma condenação insuportável, diria eu!).
Tom, Maria, Edmund e Julia, sofreram da grande ausência do seu pai e da presença indiferente da mãe. Em relação a Maria e Julia, elas não têm nenhum modelo, nenhum exemplo de valores e principios vindos de uma figura feminina - a mãe é indiferente à sua educação, a única presença que têm é a de uma tia (Mrs. Norris) que, na minha opinião, as influencia negativamente, atribuindo-lhes uma importância exagerada e desproporcionada. O pai, Sir Thomas, é um homem íntegro, uma personagem que respeito muito e que desculpo pela negligência com que tratou a educação das filhas, acima de tudo, pelo não acompanhamento e total desconhecimento de "quem são, realmente, as suas filhas", ele depositou toda essa tarefa nas mãos da instrução formal. Maria e Julia tiveram professores - no início de O Parque de Mansfield, elas gabam-se e gozam com a prima Fanny por ela não saber localizar determinado país no mapa, pois nunca teve Geografia - mas faltou-lhes algo essencial: uma base de principios, valore, no fundo, uma educação moral e de consciência.
Julia vive na sombra da irmã, igualmente mimada, tem várias alturas de amuos e birras - lembro-me da cena do Lovers Vows onde ela não consegue o papel desejado e por isso desiste. Maria e Julia estão, durante um período do enredo, em permanente disputa, tudo por causa de Mr. Crawford. Julia acaba por desistir - talvez por isso Jane Austen não seja tão dura com ela e lhe dê uma segunda oportunidade no fim do romance. Porque é que vocês acham que Austen não penaliza tão gravemente Julia?