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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Guarda Roupa de Julia Bertram I

Raquel do Jane Austen em Português está a fazer um roteiro pelo guarda-roupa de Anne Elliot da versão de 1972. Ao ver os seus posts, lembrei-me que seria interessante fazer o mesmo com a nossa obra em destaque este mês. Contudo, embora o óbvio fosse mostrar o guarda-roupa de Fanny Price, achei que seria mais curioso apresentar o guarda-roupa de uma personagem secundária como Julia Bertram. E por isso, aqui está ele!

 

Hoje mostro-vos a primeira parte do guarda-roupa de Julia Bertram da versão de 2007, interpretada por Catherine Steadman. 

 

 

Despedida de Sir Thomas para a Antigua sozinho

 

 

Passeio com os Crawford em Mansfield

 

 

Julia em Lover's Vows

 

 

Durante o jantar depois do regresso do pai

 

Os Irmãos Bertram

Título Original: The Bertram Children

Retirado do blog Pemberley

Autor do Artigo: Nikki

Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 

 

(...) Tom parece estar pouco tempo em casa, ele era superficialmente agradável mas egoísta e extravagante - neste ponto ele parece encorajado pela sua posição enquanto filho mais velho e herdeiro de Mansfield Park - no entanto, ele também caiu em más companhias, companhias essas de homens igualmente egoístas, e que o pai tentou que ele se "escapasse" levando-o consigo para as Índias do Oeste (América). Ele precisava de um choque para aprender a lição (...).

 

Quanto a Maria e Julia, foram excessivamente mimadas pela indulgência e elogios da sua tia Norris (...) Com todos os seus talentos promisores e uma educação formal, é de estranhar que elas fossem tão deficientes nos conhecimentos básicos como o conhecimento do seu carácter, generosidade e humildade. Elas estavam admiravelmente bem ensinadas em tudo, menos no carácter. Sir Thomas não sabia o que era desejado porque, embora sendo um pai ansioso, não era completamente afectuoso, e as suas maneiras reservadas reprimiram o espírito dos filhos em frente do pai.

 

Depressa começou a compreender como pode ser desfavorável ao carácter dos jovens o contraste entre os dois diversos tratamentos que Maria e Julia haviam recebido em casa: a excessiva indulgência e lisonja da tia em oposição constante à severidade paterna. Viu quão mal ele raciocinara, supondo vencer o que havia de errado no sistema de Mrs. Norris pelo seu sistema oposto; viu claramente que não fizera senão aumentar o mal, ensinando-as a reprimirem-se na sua presença, mantendo-lhe desconhecidas as suas tendências reais, e entregando-as à indulgência de uma criatura que só seria capaz de as prender graças à cegueira de sua afeição e aos excessos de adulação.

 

A fuga de Julia era mais perdoável pois não envolvia adultério.

 

Porque é que Austen não penaliza tão gravemente Julia?

Pois bem! A minha cabeça já não se recordava, mas aqui está a explicação pela mão da própria Jane Austen no último capítulo de O Parque de Mansfield:

 

 

O facto de Julia ter tido melhor sorte que Maria, era devido, em grande parte, a uma favorável diferença de disposição e circunstâncias; porém era também devido a ter sido menos querida da tia, menos adulada e menos estragada. Sua beleza e prendas só lhe tigam valido um segundo lugar. Ela própria já se acostumara a considerar-se um pouco inferior a Maria. Entre as duas, o seu temperamento era naturalmente melhor; seus sentimentos embora vivazes, eram mais controláveis e a educação que recebera não lhe dera uma tão alta ideia de si mesma.

Recebera muito melhor o desapontamento que lhe causara Henry Crawford. Depois da primeira amargura e ao convencer-se de que fora tratada levianamente, conseguira pensar noutras coisas e esquecê-lo; e quando o convívio se reatou e a casa de Mr. Rushworth passou a ser frequentada constantemente por Crawford, ela teve o mérito de se afastar dele (...) Por essa razão fora para casa dos primos. O entendimento com Mr. Yates não tivera nada em comum com isso; ela vinha, há já algum tempo, a receber atenções vindas dele, porém, com pouca ideia de o aceitar, a conduta da irmã precipitara os factos e o seu crescente terror pelo pai e pelo regresso a casa, em tais circunstâncias, fê-la imaginar que as imediatas consequências do acontecido seriam um aumento da severidade e das restrições; por isso, procurou de qualquer modo e a qualquer risco evitar tais terrores que a ameaçavam; se não fosse isso, provavelmente Mr, Yates nunca teria obtido nada. Ela não fugira senão alarmada pelo próprio egoísmo: a fuga parecera-lhe a única solução. O crime de Maria provocara a loucura de Julia.

 

Educação Feminina em O Parque de Mansfield

Título Original: Concepts of Women’s Education in Mansfield Park

Retirado do site Jasna

Autor do Artigo: Alexandra M. Baird

Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 


 

Em O Parque de Mansfield, Jane Austen apresenta-nos três tipos diferentes de educação formal feminina. Dois desses tipos têm como objectivo o casamento, enquanto que o terceiro é, possivelmente, o mais próximo da educação masculina (com as devidas ressalvas). (...) Falamos dos tipos de educação de Maria/Julia Bertram, Mary Crawford e Fanny Price (...). Infelizmente, a educação das irmãs Bertram ensina-lhes praticamente nada, a de Mary não têm verdadeira subsistência debaixo da superfície. Contudo, a tímida Fanny Price, tem uma educação progressiva para a felicidade que alcança no final do romance.

 

No mundo de Jane Austen, a educação feminina é praticamente inseparável da sua casa. Aquilo que ela aprendia, e por conseguinte, a sua conduta, era um reflexo da vivência familiar, e isto é uma verdade no caso de Maria e Julia.

 

Maria, criada  por um pai distante, uma mãe indolente e uma tia indulgente, só muito tarde (tarde de mais) aprende que as acções egoístas podem trazer consequências desastrosas. (O que se diz sobre Maria no que toca à educação, vale o mesmo para Julia (...). Sir Thomas arrepende-se da sua negligência no que toca à educação moral das suas filhas depois do sucedido irremediável com Maria (...).

 

Mary, criada sobretudo em Londres, tem dificuldade em ambientar-se ao conservadorismo do campo. A indulgência que recebeu da sua tia é de uma permissa mais aberta do que a das irmãs Bertram, o que se concluí pelo seu discurso sem reservas.

 

Como Fanny não considera Mansfield Park a sua verdadeira casa, ela não cresce egoísta como Maria (...) Além disso, a sua separação da família em Portsmouth permite que ela os idealize e por isso também não se apercebe do nível social inferior em que se encontram (...). Graças à sua mente, que é teimosa e ingénua, ela está livre das más influências de ambos os lares. (...)

 

Para Maria, a educação é um requisito que uma jovem mulher deve possuir por razões sociais, e não como apoio para a vida diária (...). Não lhe ocorre (...) encarar a educação como autodesenvolvimento ou como expansão da sua visão do mundo. (...) Podemos dizer que o único uso prático que ela faz da sua educação é para (ela e a irmã) se distinguirem da sua prima. (...)

 


Quando Irmãs Se Tornam Rivais

Título Original: Troubled Sisterhood: When Sisters Become Rivals in Mansfield Park

Retirado do site Jasna

Autor do Artigo: Katherine E. Curtis

Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 


 

(...) Estes pares de irmãs secundários servem, nos romances de Austen, para enfatizar a moralidade da heroína, ou para servirem de espelho dos seus defeitos. Em O Parque de Mansfield, contudo, o par hostil de irmãs surge como frente principal da história, a sua rivalidade, a sua inveja quase apagam a proeminência de Fanny e certamente, determinam e interrompem muita da sua história. (...) O potencial desconfortável acerca de como a relação entre irmãs pode existir na sociedade de Austen surge proeminente neste romance. Enquanto que noutros romances de Jane , o par pouco atractivo de irmãs contrasta com a heroína, em O Parque de Mansfield, as irmãs Bertram subordinam Fanny e a sua moralidade em contraste com os perigos que elas revelam inerentes à sua relação como irmãs. (...)

 

Desde a infância, Maria e Julia demonstraram através da sua rejeição de Fanny como potencial "irmã", que valorizam menos a relação entre irmãs do que aquilo que fazem crer. Fanny serve apenas para mostrarem à Mãe e à Tia Norris quão diferente ela é - "tão estranha e estúpida" - delas próprias (...) O valor do seu afecto mútuo enquanto irmãs está imediatamente subordinado ao valor promoverem as suas boas qualidades; mantêm Fanny num nível abaixo para poderem sobressair. Mas isto não se compara à escandolosa traição da relação das irmãs, que Maria e Julia exibem uma contra a outra quando se trata de romance e matrimónio. Cada uma delas não se preocupa minimamente em poder magoar os sentimentos da outra, desde que seja ela a preferida de Henry Crawford. (...)

 

As irmãs Bertram desenham uma triste e negra imagem neste romance de Austen. A sua história de traição e tragédia, dá relevo à história de Fanny, sempre paciente e com uma lealdade sempre testada e experimentada. (...) Fanny pode ser vistas como o contraste daquelas duas irmãs, revelando que Maria e Julia poderiam ter escolhido outro caminho se não fosse a sua rivalidade, pela qual optaram na busca de casamento. Através de Fanny vemos que a escolha das irmãs foi uma escolha de falha moral (...).

 

Julia Bertram

 

Julia Bertram é a segunda filha e a mais nova das quatro crianças Bertram. Julia tem melhor temperamento que a irmã, o seu carácter é mais controlável e não tem tanto falso orgulho como a irmã.

Jane Austen não é tão severa com ela como é com a irmã Maria, embora ambas sigam caminhos semelhantes, no entanto, à última da hora, Jane Austen está disposta a resgatar Julia, depois da sua louca escapadela com Mr. Yates (o que não faz com Maria, que vai viver retirada com a sua tia Norris, uma condenação insuportável, diria eu!).

 

Tom, Maria, Edmund e Julia, sofreram da grande ausência do seu pai e da presença indiferente da mãe. Em relação a Maria e Julia, elas não têm nenhum modelo, nenhum exemplo de valores e principios vindos de uma figura feminina - a mãe é indiferente à sua educação, a única presença que têm é a de uma tia (Mrs. Norris) que, na minha opinião, as influencia negativamente, atribuindo-lhes uma importância exagerada e desproporcionada. O pai, Sir Thomas, é um homem íntegro, uma personagem que respeito muito e que desculpo pela negligência com que tratou a educação das filhas, acima de tudo, pelo não acompanhamento e total desconhecimento de "quem são, realmente, as suas filhas", ele depositou toda essa tarefa nas mãos da instrução formal. Maria e Julia tiveram professores - no início de O Parque de Mansfield, elas gabam-se e gozam com a prima Fanny por ela não saber localizar determinado país no mapa, pois nunca teve Geografia - mas faltou-lhes algo essencial: uma base de principios, valore, no fundo, uma educação moral e de consciência.

 

Julia vive na sombra da irmã, igualmente mimada, tem várias alturas de amuos e birras - lembro-me da cena do Lovers Vows onde ela não consegue o papel desejado e por isso desiste. Maria e Julia estão, durante um período do enredo, em permanente disputa, tudo por causa de Mr. Crawford. Julia acaba por desistir - talvez por isso Jane Austen não seja tão dura com ela e lhe dê uma segunda oportunidade no fim do romance. Porque é que vocês acham que Austen não penaliza tão gravemente Julia?