Personagem masculina secundária menos preferida
John Thorpe.
Abomino o homem. Abomino os seus esquemas, os seus dizeres, as suas ideias.
É decididamente o personagem que menos gosto nas obras de Jane Austen.
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John Thorpe.
Abomino o homem. Abomino os seus esquemas, os seus dizeres, as suas ideias.
É decididamente o personagem que menos gosto nas obras de Jane Austen.
Não gosto, não gosto e não gosto...! Thorpe causa-me uma certa repulsa. A própria Jane Austen deseja provocar-nos sensações negativas relativamente a ele, se repararmos, Austen não tenta sequer "envernizá-lo", apresenta-nos um John Thorpe mau logo à partida, não nos dá hipótese de nos enganarmos em relação a ele.
Não me peguntem porquê, mas quando penso em Thorpe, lembro-me de um "fuinha".
Eu não acredito que John Thorpe tivesse algum tipo de sentimento de enamoramento ou paixão por Catherine Morland que justificasse um assédio tão acentuado. Este assédio é tão intenso e despropositado que chega a ser irritante.
Então, o que terá despertado esta atitude? Apesar da inocência, da beleza e da candura que tornam Catherine encantadora, penso que a resposta reside em argumentos frívolos. A conveniência dela ser irmã do pretendente da irmã de Thorpe e uma suposta herança que os Allen lhe atribuiriam serão as duas respostas para esta questão. O assédio seria resultado desta busca pela conveniência e pelo dinheiro.
Não posso dizer que ele reconhecesse o risco que representava Mr. Tilney. Não o via como "concorrência" ao coração de Catherine. Acho que ele apenas o via como uma distracção a ser extinta, mas não com força suficiente para ofuscar o seu próprio brilho. Isto porque John Thorpe sempre agiu como se Catherine Morland fosse uma presa fácil e uma conquista garantida.
Se eu pudesse oferecer um presente a John Thorpe este presente seria um espelho. Um espelho bem grande. E um par de óculos. Talvez, assim, ele se enxergasse.
Dentre os "canalhas" que Jane Austen desenhou na sua escrita, John Thorpe é o mais medíocre de todos. Os outros, apesar de canalhas, possuem algum encanto - mesmo que ilusório e superficial. Com Thorpe isto não acontece. Desde a primeira linha escrita sobre ele constatamos que ele é medíocre e execrável. Estarei a ser cruel? Talvez. Mas, em nenhum momento, ao longo de Northanger Abbey, consegui sentir outro sentimento que não fosse aversão por John Thorpe.
"John Thorpe,(…) enquanto deu um toque ligeiro e indiferente na mão de Isabella, na direcção de Catherine atirou o pé atrás e fez uma meia vénia. Era um jovem robusto, de estatura média, com um rosto normal e sem qualquer graciosidade, que parecia recear parecer demasiado interessante a não ser que vestisse o fato de lacaio e demasiado cavalheiro se não fosse descontraído quando devia ser educado, e descarado quando lhe era permitido ser descontraído"
Encontro uma grande ironia na voz de Jane Austen nesta descrição de John Thorpe. Neste parágrafo, ela deixa bem claro quem ele é. Deixa-nos de sobreaviso, como quem diz "cuidado, este ainda vai dar mais trabalho do que merece!".
Busquei a palavra ideal para defini-lo. Não encontrei. Lembrei de fazer esta brincadeira com a sonoridade do nome dele: torpe. Contudo, ele é bem mais do que isso. Esgoto toda a adjectivação que encontro e a lista seria infindável, porque John Thorpe possui todas as características que são abomináveis aos meus olhos: mal-educado, pretensioso, arrogante, interesseiro, grosseiro, indiscreto, inconveniente, mentiroso, intriguista, vaidoso, enfadonho e pouco inteligente. Tudo isto não resulta de um espírito que não tenha tido oportunidade de se cultivar. Apesar de não ter muitas posses não seria propriamente destituído. Poderia ser uma pessoa melhor se o quisesse.
É certo e sabido que, antes das nossas heroínas casarem com o amor das suas vidas, são sempre sujeitas a pedidos de casamento indesejados, aqui fica a lista dos rejeitados.
Em Sensibilidade e Bom Senso, ninguém é rejeitado oficialmente, no entanto, eu arriscaria atribuir este título ao Coronel Brandon, visivelmente rejeitado por Marianne até aos últimos capítulos - mas quem ri por último, ri melhor, já diz o ditado.
O grande rejeitado deste romance é Mr. Collins, essa personagem ridícula; mas o nosso Mr. Darcy também passa pelo crivo da rejeição antes de conquistar Elizabeth Bennet.
Mr. Elton é o eleito, cuja proposta feita no interior da carruagem, não deixa de ter um tom cómico!
Pois é... Henry Crawford conquista todas, menos Fanny Price, e embora não ouça da sua boca a rejeição, sente-a igualmente.
O falso do Mr. Eliot é rejeitado, graças a deus!
Mal seria se a nossa Catherine preferisse o odioso do Mr. Thorpe ao adorável Mr. Tilney.
Continuando a ideia do post anterior, artigo que gostei muito de ler, gostava de realçar alguns pormenores.
Em S&S a grande vítima é Marianne Dashwood, embora ele também tenha iludido Mrs. Dashwood. Contudo, Elinor teve sempre "uma pulga atrás da orelha" em relação a ele. E ela, é a única das heroínas de Jane Austen que não caí das artimanhas de nenhum galã (se não estou enganada).
Em O&P toda a família Bennet se apaixona por Wickham, diria ainda toda a Meryton. Mas as grandes vítimas são Lizzie e Lydia, por razões diferentes, é certo.
Em Emma, a nossa Miss Woodhouse nunca se sente genuinamente apaixonada por Frank Churchill. Contudo, foi errado da parte dela receber algumas das atenções que ele lhe concedia, e viu-se envolvida em dois circulos amorosos do qual não fazia sentido estar metida mas onde ela prórpia caiu e contribui para - falo de Churchiil-Emma-Fairfax; e Elton-Emma-Miss Smith.
Em O Parque de Mansfield, Fanny é como Elinor, teve sempre alguma coisa contra Crawford, mas ainda assim, deixa-se levar durante uns tempos, cai inconscientemente na artimanha.
Em Abadia de Northanger, creio que a nossa adorada Catherine nunca gostou genuinamente de Thorpe, o menino dos seus olhos foi sempre Henry Tilney. Frederick entra em cena para corromper a já de si corrupta Isabella.
Em Persuasão, Anne guardou sempre reservas quanto a Mr. Eliot e não se deixou persuadir, embora saibamos que ela própria se imaginou como Mrs. Eliot a ocupar o lugar da mãe, no entanto, o seu coração nunca deixou de bater por Wentworth e não houve Lady Russel que lhe valesse, ela agora sabia o que fazer.
Título original: The Bad Boys of Austen
Qualquer heroína de Jane Austen, antes de trazer para casa o marido certo para a Mãe ou Pai, traz sempre o errado! Os libertinos, aqueles que seduzem todas as mulheres da família até um certo ponto. Será que Austen tinha alguma obsessão por libertinos? É que, de facto, eles são muito mais interessantes que os seus heróis "bons rapazes" clérigos. Isto sou eu apenas a falar. Estes homens não são bons para o resto da vida, mas eu acho que ela sentia o seu charme. E claro, qual o melhor vilão do que aquele que pode destruir a nossa vida?
Por isso, apresento aqui a lista dos galãs de Jane Austen. (...)
Mr. Willoughby: Um clássico, a sério, Mr. Willoughby recita poesia, cavalga para salvar uma donzela, e seduz inocentes e jovens raparigas. É divertido, irreverente e, para mais, acabamos por descobrir que ele amou verdadeiramente Marianne. Sem este toque de sentimento, não acredito que as audiências modernas pensassem nele mais do que uma vez, mas lembrem-se, no livro Colonel Brandon é verdadeiramente enfadonho. Foi preciso que Alan Rickman desse tudo de sim para o transformar numa figura romântica misteriosa e satisfazer-nos com o facto de ele ser a alma gémea para Marianne. Com o arrependimento de Willoughby, fico sempre com a sensação irrequieta de que Marianne nunca será feliz sem Willoughby.
Mr. Wickham: Conversador, lisonjeador, esquivo. Ele chega a Lizzie fazendo-a entrar no seu segredo e fazendo-a sentir inteligente e especial. Todas nós podemos cair nisso de tempo a tempo. Depois de ser desmascarado, ele torna-se tão irritante que acho inacreditável como é que pude gostar dele no início! (Lydia, claro, fugiria com quem quer que fosse!).
Henry Crawford: Eu apaixono-me sempre por Henry Crawfor, e lamento o seu destino. Ele é o oposto de Wickham - ele começa como mau, obviamente e orgulhosamente mau, e gradualmente torna-se bom. Eu acho que a própria Jane Austen gostava dele, e coseguiu transformá-lo de tal forma que ela própria não soube o que fazer dele no fim para além da fuga com Mrs. Rushworth. Eu acredito que ele faria uma coisa dessas? Nunca terei a certeza, esse é o problema.
Mr. Eliot: Ele é um "bad boy" como deve ser, mas Anne nunca está em perigo eminente. O seu Capitão Wentworth é fogoso o suficiente para satisfazer tudo isso. Mais do que nos outros casos, com Mr. Eliot, Jane Austen parece apontar e alertar para como uma pessoa pode dizer todas as coisas acertadas e parecer decente e não sentir uma única das palavras que diz. Mr. ELiot é suave e elogia a inteligência e aparência de Anne, mas ele nunca me convenceu. Tal como Jane, eu gosto de homens que à vezes, agem sem pensar. Mr. Eliot mede tudo e todos - e é o mais vilão de todos eles.
Iniciados: Não incluí John Thorpe, Mr. Elton ou Frank Churchill.
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A autora não incluiu este últimos, mas eu incluo!
John Thorpe: Deplorável, triste e de mau carácter... confesso que desde início nunca fui com ele. Já com a irmã, iludi-me. Mas a gota de água foi a grande mentira que disse a Catherine para ela ir andar de carroça com ele. Não, acho que Catherine também nunca foi muito na conversa dele, apesar de toda a sua ingenuidade. E creio que também nunca fez sombra a Tilney, esse esteve sempre bem mais alto!
Mr. Elton: Não é propriamente um vilão. Não o considero como tal... talvez mais um interesseiro e um vaidoso do que outra coisa.
Frank Churchill: Nunca percebi muito bem qual a sua ideia. Mas tal como os Westons, perdoei-o. Ele brincou muito e em demasia com o fogo. Ele faz lembrar Willoughby, também ele dependente de uma tia rica, no entanto, Churchill tem a virtude de, mesmo assim, permanecer comprometido com a mulher que ama (ainda que em segredo), embora pareça estar constantemente a magoá-la com as atitudes que toma e que, ao mesmo tempo, achamos imperdoáveis. Ele é muito confuso e a sua relação com Jane Fairfax é estranhíssima. Mas no fundo no fundo, não acho que seja um "mau rapaz".
Frederick Tilney: Acrescento ainda este, mesmo que não se tenha "metido" com nenhuma das nossas heroínas. Tal como Mr. Eliot, considero-o um verdadeiro "vilão", um libertino de primeiro grau. Mesmo não gostando de Isabella Thorpe (no fim) senti pena dela, embora ela também tenha culpas no cartório.