Este casal é uma tremenda incógnita... saber como Jane Fairfax se apaixonou por Frank Churchill tira-me noites de sono (certo, certo, é só uma forma de expressão), mas a verdade, é que dava tudo e mais alguma coisa para que Jane Austen nos tivesse explicado um pouco melhor a estranha relação deste casal.
Não tive dificuldades nesta categoria porque desde de sempre, Jane e Frank, suscitaram-me imensa curiosidade, acima de tudo Jane... quem não gostaria de saber o que vai naquele coração...?!
Este é o caso em que eu não tenho a menor dúvida: a minha preferida é Olívia Williams da versão 1997. Ela detém todo o ar de mistério e de graciosidade de Jane Fairfax.
Uma questão: não consigo entender a Jane da versão 1996, parece quase estática; o que acham?
Jane é a única self-made woman neste romance de Jane Austen. Ficou orfã muito jovem e por isso rapidamente descobriu que tinha de cuidar de si mesma. Rapariga prendada, canta, toca piano, costura e está prestes a iniciar-se no ensino como perceptora/governanta; ou seja, faz tudo (e muito bem…)o que uma mulher de bem deve fazer no seu tempo. Pode mesmo afirmar-se que Emma não gosta de Jane exactamente por tudo isto, pela sua perfeição feminina, e especialmente quando Mr Knightley expressa o seu agrado perante a postura de Jane.
Jane está quase a tornar-se numa perceptora num mundo onde cuidar de crianças pode parecer algo muito altruísta mas também desagradável (crianças mal-cheirosas, chorosas, mimadas). No mundo de Highbury, as mulheres assumem esta posição apenas porque não são ricas ou não encontraram marido (veja-se o caso da Miss Taylor que quando passa a Mrs Weston deixa de ser governanta dos Woodhouse). E, apesar de poderem ainda ser consideradas mulheres de respeito não deixam de pertencer a um estrato social mais baixo. Talvez seja por isso que Mrs Elton se sinta na responsabilidade (irritante…) de apadrinhar Jane.
Quando chega a Highbury, Jane Fairfax está secretamente envolvida com Frank Churchill apesar de Emma parecer querer roubá-lo mesmo à frente dos seus olhos. Emma só muito tarde compreende que Jane não está envolvida com Mr Dixon como Frank a quer fazer acreditar. E essa é a razão pela qual ambos se divertem às custas da secreta amada dele. Jane não quer confessar ainda o seu envolvimento com Frank e, por isso, ele alinha na brincadeira (o que não me parece muito cavalheiresco, mas enfim… também nunca fui grande fã dele).
Jane Fairfax é uma rapariga resoluta mas calma, cujo comportamento indica que transporta consigo uma tristeza secreta. A sua beleza destaca-a mas a sua reserva torna-a desinteressante. Tal como Emma observa:
“there was no getting at her real opinion. Wrapt up in a cloak of politeness, she seemed determined to hazard nothing. She was disgustingly, was suspiciously reserved.”
Não será talvez uma avaliação muito justa mas é bastante correcta no que diz respeito à reserva de Jane.
O contraste entre a delicada decência e moralidade de Jane e a natureza apaixonada dos seus sentimentos é muito mais dramático que qualquer um dos conflitos que Emma experiencia na história. A sua situação é bem mais complicada que a da outra personagem uma vez que, não possuindo riqueza, o seu futuro será como governanta, enquanto que Emma sempre será rica e parte de um elevado estrato social.
O narrador dá pouco mais importância a Jane do que aquela que dá a Isabella Knightley, mas este facto parece acontecer por razões diferentes. Isabella não lhe ocupa muito tempo apenas porque não há muito a dizer sobre ela. Jane, por seu lado, não recebe muita atenção porque ela mesma assim o deseja. Afinal, um segredo para ocultar e um narrador curioso podiam interferir nos seus planos. Por outro lado, talvez não nos seja dada a oportunidade de saber mais sobre Jane Fairfax porque Emma não quer saber das qualidades dela e o nosso narrador tende a seguir a perspectiva de Emma. Apenas quando o segredo de Jane e Frank é revelado, só aí nos é dada a oportunidade de aprender mais sobre Jane como pessoa.
A revelação do envolvimento secreto de Jane com Frank torna-a numa pessoa mais humana, assim como a humanidade de Mr. Knightley é influenciada pelo seu amor por Emma. Na verdade, assim que o seu segredo é revelado, Jane torna-se numa nova mulher. Ri e faz amizade com Emma e Mrs Weston (a sua sogra). E se conseguir fazer de Frank Churchill um homem decente, será uma Mrs Churchill muito feliz!
Elinor Dashwood, Jane Fairfax, Fanny Price, Jane Bennet, Eleanor Tilney
Fanny Price sempre me pareceu uma Elinor Dashwood numa versão mais ingénua e tímida; já Jane Fairfax, uma irmã gémea de Elinor (tirando a parte em que se apaixona por Frank Churchill, coisa que jamais Elinor faria, creio) e é aí que acho que ela se assemelha a Fanny, tal como Fanny se sente atraída por Henry Crawford, Jane sente-se atraída por Frank Churchill, e concretiza esse sentimento num compromisso que consegue chegar a vias de facto, caso contrário, seria uma espécie de Jane Eyre em versão austeniana!
Mas acima de tudo é o bom senso, a razoabilidade, o saber estar e o não falar mais do que se deve que une estas personagens, para mim elas são as melhores amigas e andam a saltar de romance em romance para falarem umas com as outras!
Peço desculpa pela quantidade de personagens que comparei, mas acho este trio perfeito, conhecem alguém para juntar ao grupo?
(editado)
A Gilreu, sugeriu Jane Bennet, e não sei como me esqueci dela!? Mais tarde lembrei-me de Eleanor Tilney e achei que ficaria aqui perfeita.
Laura Pyper (2009); Olivia Williams (1997); Polly Walker (1996)
Confesso que sou uma grande fã de Jane Fairfax e que adorava poder ler a sequela que nos mostra o ponto de vista da história desta heroína (Jane Fairfax, Joan Aiken). Nunca compreendi como é que ela conseguiu suportar toda a insensibilidade e falta de carácter de Frank Churchill. Ela faz-me lembrar muito Elinor Dashwood, uma vez num comentário no Jane Austen em Português disse que Jane e Elinor teriam sido grandes amigas, coisa que nunca sucedeu com Emma (nem podia!).
A interpretação de Jane nesta última versão é muito fraca, Jane Fairfax apresenta-se-nos muito afectada. Na versão de 1996, Polly Walker mostra-nos uma Jane demasiado vaidosa, com muito pouco a ver com a tentativa de passar despercebida que lhe é inerente. A grande interpretação, no meu ponto de vista, é a de Olivia Williams, que nos oferece uma Jane reservada mas muito coerente e com um ar muito inteligente e acima de tudo, extremamente bela.