Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

A Juventude de Jane ( Becaming Jane) 2007

 

 

 

crédito da imagem: Period Films & C. 

 

 

Tenho muitas vezes visto alguns documentários sobre escritores que já li ou dos quais já ouvi falar. Por curiosidade, gosto de ter alguma noção daquilo que foi a vida de um escritor que admiro. Muitas vezes pode ser simplesmente algo lido na Wikipédia ou em algum blogue, isso serve, para mim, para entender melhor aquilo que determinado escritor escreveu. Muitos escritores são autobiográficos e outros não o sendo tiveram na sua vida acontecimentos marcantes que aparecem naquilo que escrevem. Alguns escritores que viveram em épocas históricas importantes ou tiveram algum papel na história acabam por viver vidas tão ou mais fascinantes do que aquilo que escrevem.

Por tudo isto a vida de muitos escritores daria um bom filme ou série de televisão, contudo não abundam por aí séries de televisão ou filmes que se debrucem sobre a vida de escritores famosos.

 

Jane Austen viveu a vida que seria de esperar de uma mulher que nasceu quase no fim do século XVIII, visitava a família e amigos, estava algumas temporadas com eles, visitava os seus vizinhos, ia a bailes e de resto vivia em casa, ocupando-se das tarefas normais daquela época e claro escrevendo livros maravilhosos.

Jane Austen, por muito que gostássemos não teve uma vida suficientemente rica e preenchida para dar um bom argumento de um filme. Talvez se Jane tivesse sido homem as coisas tivessem sido diferentes. Se pesquisarem a vida de Lord Byron, seu contemporâneo, depressa irão perceber como a sua vida foi rica e cheia de eventos. Não deixa de ser estranho aos nossos olhos pensarmos que eles nunca se conheceram, mas o anonimato que rodeava Jane e a sua obra, mais o exílio de Byron explicam isto facilmente.

 

Muito daquilo que se poderia saber sobre Jane acabou destruído após da sua morte, quando a sua irmã Cassandra, queimou muitas das suas cartas. Teriam estas cartas a história de um grande amor? Ou apenas alguns pensamentos que seriam incómodos para quem os lesse. Imaginem que em confidencia Jane dizia que não gostava do amigo X ou do familiar Y. Ou talvez simplesmente ela temesse ser mal interpretada na forma como pensava. Se repararem Jane Austen escreve de uma forma que muitas vezes temos de ler duas vezes para entender. Não é que ela use palavras difíceis mas por vezes é tão irónica que precisamos de ver bem para entender.

 

Este filme que recebeu no Brasil o nome de Amor e Inocência e por cá de A Juventude de Jane, conta a história de amor de Jane Austen e Thomas Lefroy. A verdade é que a maioria do que existe sobre o assunto é especulação, sabe-se que eles de facto se conheceram, mas até que ponto terá existido um romance como vemos no filme é difícil de saber.

Fontes dizem que Thomas Lefroy esteve presente no funeral de Jane e disse mesmo que tinha gostado dela, dizendo que tinha sido um amor de juventude.

Se foi um amor daqueles que nunca se esquece, que se espera que volte numa curva da vida como acontece em Persuasão, nunca saberemos, a não ser que alguém descubra uma correspondência por aí escondida num sótão qualquer como acontece no filme Possessão, adaptação de um livro de A.S. Byatt.

 

Mas voltando ao filme, eu vejo-o como uma espécie Orgulho e Preconceito, como se fosse uma primeira versão que ainda não foi bem polida e que com algumas correcções e rectificações será uma obra maravilhosa. Mas não pensem que não gosto do filme, gosto muito.

Anne Hathway dá vida a Jane Austen e na minha opinião fá-lo de forma perfeita. É difícil imaginar outra actriz que conseguisse ser uma Jane tão boa que se mostra por um lado uma mulher que se conforma com as suas circunstâncias e por outro a vontade de lutar contra essas mesmas circunstâncias.

 Um dos pontos altos é o encontro em Jane Austen e Ann Radcliff, autora do livro os Mistérios de Udolfo, mencionada na Abadia de Northanger, encontro que nunca aconteceu na vida real.

Este é um filme muito agradável de se ver, mas não deve ser levado como uma biografia séria da vida de Jane Austen.

 

 

Jane Austen na Literatura Inglesa # 1

 

O livro História da Literatura Inglesa, da autoria de Andrew Sanders, faz oenquadramento da obra de Jane Austen na história da literatura inglesa, como o próprio nome indica. Esta aparece referenciada no período literário relativo ao Romantismo (1780-1830). Trata-se de uma época claramente moldada pelo impacte da convulsão revolucionária em França, mas se era difícil manter a neutralidade na altura, o não querer tomar partido, ou o silêncio, ou a demissão, não devem ser entendidos como incapacidade de interpretação do que nós julgamos mais ou menos serem os sinais dos tempos, ou como falta de resposta apropriada a um alinhamento político ou cultural predeterminado. Aquela era uma época de Romantismo, mas a definição complexa de Romantismo, ou de Romantismos, podia ser ignorada, contestada, subsumida, debatida ou simplesmente questionada de diversas formas por escritores que não remavam necessariamente contra a maré dos tempos. Uma variedade de modos de escrever, pensar, criticar e definir a literatura coexiste em qualquer época, mas neste período específico a variedade é especialmente diversa e as distinções particularmente vincadas. Tais distinções não eram, como seria de esperar, as que foram inevitavelmente traçadas por contemporâneos. No entanto, podemos dizer que a literatura Romântica se caracteriza por dar importância à imaginação sobre o espírito critico, à natureza do sentimento religioso, aos efeitos da expansão da alma provocados pelas viagens e à originalidade subejtiva sobre as regras estabelecidas pelo Classicismo. 

 

Jane Austen irá passar um pouco ao lado das influências e das convulsões trazidas pela Revolução Francesa e pela guerra. Contudo, este período está repleto de autores que, de uma forma ou de outra, influenciaram a escrita de Jane Austen. A Abadia de Northanger, por exemplo, tece criticas e de certa forma ridiculariza a literatura fantástica de Ann Radcliffe.

 

Ao longo das páginas dedicadas ao Romanstismo, Sanders faz comparações entre alguns escritores e Jane Austen, tecendo sempre elogios à escrita e à inteligência de Miss Austen. Assim, ficamos a saber que, tal como Jane Austen, Elizabeth Inchbald (1753-1821) no seu romance A Simple Story, chama a atenção para a necessidade da educação das mulheres como forma de resposta à ausência de realização pessoal, ao contrário de alguma corrente que se fazia ouvir em Inglaterra e que apelava à liberdade viril, ética e regulada (Burke). Esta autora, também teve algum destaque na obra de Jane Austen, nomeadamente em Mansfield Park. É de sua autoria a obra Lovers' Vows (1798), a peça ensaiada naquela história, que é criticada por Austen através dos olhos da nossa Fanny Price. Sanders refere-se à obra de Inchbald como sendo uma ficção modesta, reconhecendo-lhe falta de rigor, e caracterizando-a mesmo como descuidada, lacónica, prosaica e uma tragédia sem verdadeira substância,  não obstante as suas evidentes preocupações com as inconsistências e falhas da sociedade contemporânea.

 

Quase Uma Outra Irmã

 

Retrato de Fanny Knight por Cassandra Austen

 

Fanny Knight foi a primeira sobrinha de Jane Austen. Nascida em 1793, quando a tia tinha apenas dezassete anos. Fanny Knight foi a primeira filha de Edward (Austen) Knight, irmão de Jane Austen. A tia descreveu-a uma vez como sendo uma “quase-irmã”, podemos presumir daí uma forte amizade, cumplicidade e intimidade. Ésabido que Jane tinha uma forte preferência por esta sobrinha, assim como tinha por Anna, filha de um seu outro irmão. Isto revela-se pois algumas peças da Juvenilia dela foram dedicadas à sobrinha.

 

A relação entre tia e sobrinha é retratada no filme “Miss Austen Regrets” de 2008, baseado nas cartas trocadas entre ambas no período 1814-1817, além de outras fontes, claro.

 

Todavia, esta aparente excelente relação vem, mais tarde, pelas próprias mãos de Fanny, mostrar-se menos sólida, quando Fanny descreve a tia, numa carta de 1869 para a sua irmã Marianne: “Jane não era tão refinada quanto poderia ter sido ou como seria de esperar pelo seu talento... Os Austen não eram ricos e as suas relações não eram de elevado estatuto social, eram mediocres e eles, embora intelectual e culturalmente superiores, estavam ao mesmo nível no que a sofisticação e elegância diz respeito... A tia Jane era inteligente e colocava de parte todos os possíveis sinais de vulgaridade e impunha a si própria mais refinamento... Ambas as tias foram educadas na maior ignorância sobre o que era o mundo e as suas maneiras (refiro-me à moda, etc), e não fosse o casamento do papá, que as trouxe para Kent, elas estariam muito longe de representar socialmente uma boa companhia, embora inteligentes e agradáveis por si.”


A mãe de Fanny morreu quando esta tinha apenas 15 anos, deixando a seu cargo (como filha mais velha) dez irmãos mais novos e uma casa para administrar.

Durante a sua infância e juventude, Fanny foi muito próxima da tia, de quem fez confidente. Órfã de mãe, recorria muito à tia para pedir conselhos sobre a sua vida amorosa, perguntando-lhe sobre se devia ou não aceitar ou recusar uma corte. A 18 de Julho de 1817, escreveu no seu diário “a morte da minha querida Tia Jane”. Marianne Knight, uma das irmãs mais novas de Fanny, lembra “que quando a tia Jane nos visitava, trazia sempre consigo o manuscrito do romance que estava a escrever na altura e ela e a minha irmã, fechavam-se num dos quartos e liam alto”. Outro parente comenta que “embora esta sobrinha (Fanny) nunca tenha demonstrado qualquer habilidade literária, a tia sempre teve em conta a sua opinião para cada novo livro”.

 

Depois da morte de Cassandra em 1845, todas as cartas de Jane Austen, passaram para Fanny, assim como o manuscrito do ainda não publicado Lady Susan. Isto reflete a esperança que Jane depositava na sobrinha que, nesta altura, pareceu isensível ao legado. Fanny planeava passar o legado para a filha Louisa (que acabou por morrer antes dela), precavendo-a para que não os mostrasse indiscriminadamente e para que destruisse os que achasse melhor. Acabou por ser um dos seus filhos a publicar a primeira edição da colectânea de Cartas de Jane Austen.

 

Fanny viria, já depois da morte da tia, a casar-se com o Baronete Sir Edward Knatchbull (para ele, um casamento de segundas núpcias), tornando-se na Lady Knatchbull, tornando-se mãe de cinco afilhados e mãe biológica de nove crianças – uma grande família, portanto! Grande parte dos afilhados e cinco dos seus filhos morreram antes dela. Viveu até aos 89 anos com uma boa situação.

Cassandra, a Confidente

 

Cassandra Elizabeth era a única irmã de Jane Austen e a quinta criança do casal Austen. Cassandra era dois anos mais velha que Jane, nasceu em Steventon no Hampshire, a 9 de Janeiro de 1773. Foi a grande amiga e confidente de Jane Austen, e entre elas trocaram-se incontáveis cartas, das quais poucas chegaram ao nosso conhecimento, uma vez que Cassandra, após a morte da irmã, destruiu grande parte delas, o que se compreende, pois representavam algo de muito íntimo .

 

A história de Cassandra não é muito conhecida, e os detalhes que surgem à superficie vêm em consequência da história da personagem principal – Jane Austen. Quando tinha 10 anos e Jane cerca de sete, foram mandadas Oxford, para casa de Mrs. Crawley, da família de um dos seus tios, para aí serem educadas, porém, devido a uma febre contagiosa, foram enviadas de volta para casa. Dois anos mais tarde, foram mandadas para uma escola feminina em Reading para serem educadas.

 

A forte amizade que ligava as duas irmãs, de cedo se começou a mostrar, isso mostra-se, desde logo, pela sua contribuição em providenciar ilustrações para o primeiro “livro” de Jane Austen – The History of England – aproveitando o seu talento para pintar e ilustrar o livro da irmã com os retratos dos reis e rainhas de Inglaterra, embora se considere que os monarcas foram inspirados em membros da família Austen. Cassandra ficou também famosa pelos dois retratos que fez da irmã. O primeiro, que data de 1804, onde pinta Jane Austen de costas, sentada junto a uma árvore; o segundo, que data de 1810, e que é o retrato de Jane Austen que pode ser visto no Museu Nacional de Londres.

 

Sabemos que Cassandra, aos 21 anos, esteve noiva, durante cerca de três anos, de Thomas Fowle que, em busca de sustento e meios para se casar, acabou por falecer de febre amarela nas Caraíbas em 1797, para onde tinha partindo como capelão militar. Cassandra, por via do compromisso que ambos tinham, herdou uma renda de £1000. Thomas Fowle, tinha sido um antigo aluno do Reverendo Austen. Nunca se voltou a casar e dela, como da irmã, mais nenhuma história de amor é conhecida.

 

Os biógrafos de Jane afirmam que, durante toda a sua vida, Jane e Cassandra partilharam o quarto e poucas vezes se separaram. E quando tal acontecia, a correspondência entre ambas era tal que nem a distância as separava de facto.

 

"Their affection for each other was extreme; it passed the common love of sisters; and it had been so from childhood. My Grandmother talking to me once [of] by gone times, & of that particular time when my Aunts were placed at the Reading Abbey School, said that Jane was too young to make her going to school at all necessary, but it was her own doing; she would go with Cassandra; 'if Cassandra's head had been going to be cut off Jane would have her's cut off too' - " (Memoir of Jane Austen).

 

Jane morreu no colo da irmã em 1817 em Winchester. Numa carta para Fanny (sobrinha), Cassandra escreve: “I have lost a treasure, such a Sister, such a friend as never can be surpassed, - She was the sun of my life….I had not a thought concealed from her, and it is as if I had lost a part of myself” (Letter, July 20th 1817).

 

Depois da morte da irmã, Cassandra organizou os dois últimos romances e fez todos os esforços para que fossem publicados.Cassandra viveu em Chawton até aos seus últimos dias. Morreu a 22 de Março de 1845 com 72 anos. Foi enterrada na Igreja de S. Nicolas em Chawton junto da sua mãe.

 

Influências Literárias

 

Ao “período literário” durante o qual Jane escreveu as suas obras, apelidamos de Romantismo, em pleno auge no séc. XIX, todavia, pelo que li, penso que Jane Austen não se encaixa nos exatos cânones deste movimento literário.

 

Jane Austen é considerada pelos seus estudiosos como pioneira na literatura, uma vez que não escrevia meros romances, repletos de drama e com histórias de amor arrebatadoras. Jane Austen, escrevia sobre o ser humano nas suas diversas facetas, e talvez seja por isso que nas suas obras não há verdadeiros vilões e vilãs, quero com isto dizer que, mesmo os “maus da fita” são detentores de qualidades e defeitos – não são poços de pura maldade. Assim como os “bons da fita” não são santos incólumes de defeitos. Além disso, Jane Austen inovou pelo seu singular sentido de humor e por uma sagaz crítica à sociedade, muitas vezes subreptícia. 

 

Jane Austen começou a escrever em pequena, escrevia pequenos textos que recitava em voz alta para a família – exemplo disso são “The History of England” e “Love and Friendship”.

 

Jane Austen, nascida ainda no séc. XVIII, recebe, obviamente, influências dos escritores de então. Nomes como Fanny Burney, Edgeworth, Walpole, Cowper, Defoe, Samuel Johnson, John Milton, Alexander Pope, Samuel Richardson e Ann Radcliffe, tão em voga naquele período, foram certamente fontes de aprendizagem para Jane. Aliás, segundo li num artigo, Orgulho e Preconceito, inicialmente entitulado de “First Impressions”, teve o título que conhecemos hoje em virtude da última frase do livro “Cecilia” de Fanny Burney – não fui confirmar, mas se alguém tiver acesso ao livro em inglês, faça o favor de deixar aqui um comentário a assegurar a veracidade desta afirmação.

 

Contudo, citando Alváro Pina, “os romancistas, homens e mulheres, do séc. XVIII valem apenas em Jane Austen, que com eles aprendeu a contar melhor do que eles jamais souberam”. E é neste sentido que estudiosos e adeptos de Jane Austen, lhe atribuem o desenvolvimento do chamado romance moderno inglês, tendo em conta as inovações por ela trazidas, como “a complexidade da personagem principal, a actuação irónica da narradora e o enredo dramatizado”.

 

Por exemplo, posso aqui falar de vários nomes que têm como referência Jane Austen, George Elliot, é sem dúvida, o exemplo mais proeminente e, através dela, Henry James; alguns estudiosos consideram também que Oscar Wilde foi buscar as influências humorísticas a Jane Austen.

 

Jane Austen é uma forte referência para alguns escritores hoje em dia, aliás, o cinema tem grande importância, sucedem-se adaptações às suas obras, dando a conhecer, constantemente, às novas gerações os seus romances e mostrando o quão atual Jane Austen consegue ser, mesmo passamos mais de 200 anos. Nomes mais recentes como J.K. Rowling ou Stephanie Meyer, foram também buscar inspiração a Jane Austen.

 

Novo Retrato de Jane Austen

Porque o JAPT tem leitoras sempre atentas e dispostas a partilhar dicas e sugestões, recebi um email de uma das mais antigas fãs do JAPT, a Susana, que me trouxe uma notícia fantástica.

 

Dizia a Susana: "Paula Byrne, uma investigadora que está a fazer uma biografia sobre a Jane Austen descobriu um retrato da autora até agora desconhecido. É fascinante a forma como reinterpretou algumas características da Jane a partir da forma como está representada na imagem - uma mulher confiante, assumidamente uma escritora."

 

O retrato de que a Susana fala é este que aqui coloco em baixo. Segundo parece, o retrato traz escrito atrás "Miss Jane Austin" e durante alguns anos o detentor do retrato julgou tratar-se de um retrato "imaginário" da esritora Jane Austen. A história em torno do retrato deu origem a um documentário da BBC que irá passar dia 26 de Dezembro na BBC2, não sei se haverá alguma possibilidade de assistir em direto através da internet, ou pelo menos poder assistir ao documentário depois, também pela internet através do site da BBC, vou tentar descobrir se haverá alguma possibilidade desse género. Podem ler o artigo completo aqui.