De todos os actores, talvez seja este o mais conhecido de todos pelo grande público. Quem nunca ouviu falar de Hugh Grant? Eu já muitos filmes onde ele participou. Quatro Casamentos e Um Funeral, Notting Hill, O Diário de Bridget Jones, O Amor Acontece, Letra e Música, são alguns dos filmes de uma longa lista de filmes que ele protagonizou. Há três filmes dele que eu gosto muito: Quatro Casamentos e um Funeral, O Amor Acontece e About a Boy.
Mas o que dizer de Hugh Grant em Sensibilidade e Bom Senso (1995)? Ele interpretou Edward Ferrars e fez par romântico com Emma Thompson (Elinor Dashwood). Em poucas palavras: eu não gosto dele a fazer de Edward Ferrars. Durante muito tempo eu não sabia dizer se eu não tinha gostado da actuação dele por a achar má ou se eu não tinha gostado por não gostar do personagem de Jane Austen. Actualmente, tenho a minha conclusão: não é nenhuma das duas alternativas anteriores apresentadas. É uma terceira via.
É verdade que já fazem muitos anos que li “Sensibilidade e Bom Senso” e de, na altura, não ter ficado com uma boa impressão de Edward. Pareceu-me muito passivo. Para quem tem como livro de entrada no mundo de Jane Austen o “Orgulho e Preconceito” é quase impossível não comparar Edward com Darcy e pensar “como assim?”. Não consegui compreender como Elinor, uma mulher desenhada por Jane Austen com tanta grandeza, racionalidade e inteligência pôde se interessar por uma pessoa tão sem sal e passiva. Algum tempo depois, assisti o filme ( e isso foi no século passado, nos anos 90… ) e vejo um Hugh Grant ainda mais sem sal, passivo e – a acrescentar - desengonçado. Foi decepcionante.
Hoje compreendo melhor o que não funciona nesta junção de Edward e Hugh. Tenho feito uma interpretação pessoal de Edward que se distancia um pouco da imagem inicial. Edward Ferrars não foi passivo, frio ou distante. Edward foi honrado. Estava preso a uma promessa e foi fiel à promessa até ao fim, até ter sido libertado da mesma. Ao mesmo tempo, foi fiel ao seu sentimento por Elinor e não foi capaz de arrastá-la para um compromisso que não seria capaz de cumprir. Não a quis iludir e enganar. O que faz toda a diferença e o distancia, por exemplo, de um Willoughby (que fez exactamente o oposto).
Hugh Grant parece-me demasiado atrapalhado e desengonçado e não me faz lembrar de todo Edward Ferrars. Por vezes, chega a ser irritante vê-lo a actuar no filme. Já cheguei a dizer que o detestava neste papel, o que chega a ser talvez um exagero da minha parte. Tenho concluído que um dos problemas é não haver química entre ele e Emma Thompson. Há duas cenas em que isto é extremamente evidente: quando Elinor o chama para dizer-lhe que o Col. Brandon lhe concedeu uma paróquia e na cena final em que ele se declara para Elinor. Neste aspecto, a série de 2008 é extremamente superior. Aliás, nesta cena final nem Hugh Grant nem Emma Thompson me convencem.
Acho que Hugh Grant não é “austeniano”. Não sei se estou a inventar um conceito, se ele existirá, mas penso que alguns actores – por muito bons que sejam – não tem o carisma suficiente para transmitir toda a dimensão de um homem idealizado por Jane Austen. Neste sentido, não sei se será correcto dizer que Hugh Grant não concebeu um Edward Ferrars à altura do personagem; ou se, por muito que tentasse, nunca seria capaz de fazê-lo.
As parecenças entre O Diário de Bridget Jones e Jane Austen são mais que muitas, no mínimo, temos um Mr. Darcy, um Hugh Grant e um Colin Firth!
Nunca tinha visto este filme por inteiro. Confesso que foi um serão bem passado. É um filme divertido com momentos cómicos hilariantes, devidos sobretudo, a Bridget, que consegue ser muito trapalhona e indiscreta ao mesmo tempo!
Deixo aqui os trailers dos dois filmes.
Aqui ficam mais algumas dicas deixadas pelas leitoras (muito mais sábias que eu neste assunto!).
"Helen Fielding , a autora dos livros que estão na origem dos filmes, inspirou-se no Orgulho e Preconceito para escrever o primeiro livro e de certa forma em Persuasão para o segundo. Numa entrevista ela dizia mesmo que esteve para começar o primeiro livro com a mesma abertura mas adaptada aos nossos dias."
"A personagem de Mr Darcy em Bridget Jones foi criada (no guião para cinema) tendo como base o Mr. Darcy de Orgulho e Preconceito"
É um artigo longo, mas peço-vos que o leiam. Para muitas não será uma surpresa o que aqui está escrito, mas garanto que, para outras, ajudará a compreender melhor Edward Ferrars - como aconteceu comigo. E talvez Willoughby perca um pouco do encanto que deixou em nós.
Título Original: In Defense of Edward Ferrars Retirado do site: JASA Autor do Artigo: Bertha McKenzie, 21 Junho 2001 Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
Robin Ellis - 1971; Bosco Hogan - 1981
Hugh Grant - 1995; Dan Stevens - 2008
Edward é-nos apresentado pela autora como "ele não aparentava imediata simpatia por nenhuma graça peculiar da sua pessoa ou presença." Ele "não era bonito", e era desconfiado e tímido, embora a "sua compreensão fosse boa". Para Mrs. Dashwood, uma romântica, "a sua forma de estar tranquila... ia contra todas as suas ideias de como as maneiras de um jovem devem ser", embore tivesse a maior opinião sobre o seu bom carácter. Na linguagem da sensibilidade, isso significa que ele tinha benevolência e preocupação pelo outro e o bom julgamento que deve saltar do coração. Richardson utilizou adjectivos como amigável, inocente, digno e sensivel para descrever o bom coração de uma pessoa. Mas isto dificilmente é a descrição de um herói romântico, assim, é preciso perguntar porque é que Edward é descrito de forma tão sóbria e maçadora.
Rousseau, em "Confessions", desenvolveu uma doutrina a que se chamou "A Fantasia da Idade", que explica o seguinte, que uma sensibilidade delicada era acompanhada por uma superiodade de moral ou excelência. Esta ideia surge frequentemente em personagens de romances sentimentais da época, e foi profunda e brulescamente utilizada pela Jane Austen de 14 anos em Amor e Amizade de 1790, caracterizado por Brissenden como:
"um trabalho surpreendentemente bem conseguido, e apesar de ser breve, o melhor e mais aprofundado de todos o burlescos de ficção sentimental. Os heróis e as heroínas... são todos criaturas possuidoras da mais requintada sensibilidade e do egoísmo mais rude e sem escrúpulos... Uma indulgência excessiva na sensibilidade, ou uma fé cega na capacidade do homem seguir os dictâmes do seu coração, para agir de acordo com os seus melhores sentimentos, é insensato e digno de ser ridicularizado."
Por volta de 1810, quando Austen terminou Sensibilidade e Bom Senso, ela desenvolveu um subtil e convincente argumento contra esta doutrina, nas personagens de Edward e Willoughby. Para o leitor moderno, Edward, é um herói maçador. Porque é que ele, perguntamos nós, não diz, simplesmente, a Lucy, que mudou de opinião e que já não quer casar com ela. A resposta é a de que, na sociedade de Jane Austen, um cavalheiro de honra nunca falha à sua palavra.
Em Sir Charles Grandison de Samuel Richardson, um livro que Jane Austen conhecia bem, o herói tem um compromisso anterior com uma Senhora italiana. Quando, mais tarde, Grandison se apaixona por Harriet Byron, quem ele salvou de ser raptada, ela não pode, na sua honra de cavalheiro, quebrar o seu compromisso com Signorina Clementina. Jane Austen aproveitou a ideia de anterior compromisso de Richardson para Edward, de forma a demonstrar a sua superioridade moral. Este dilema seria bem apreciado pelos leitores e ambos, Grandison e Edward seriam, imediatamente reconhecidos como cavalheiros de honra.
Marianne "embora tendo a mais alta opinião quando à sua capacidade de julgamento e bom senso" decide que Edward não tem sensibilidade. (...) Ele não possui gosto verdadeiro porque não se sente atraido pela música e parece entender muito pouco de pintura. Ele lê frase de Cowper "que muitas vezes me deixaram sem fôlego" num tom sem qualquer emoção. Este julgamento diz muito mais sobre Marianne, e a permanência do conceito de sensibilidade, como era suposto, do que diz sobre Edward.
É por Elinor que temos uma verdadeira imagem do carácter de Edward. Ele tem "bom senso e bondade", uma excelente compreensão, bons princípios e valores sólidos. Possui uma mente bem informada, disfruta dos livros, tem uma imaginação viva e um gosto "delicado e puro". É um homem de honra que se comporta com reserva e circunspecção para com Elinor enquanto se encontra limitado pelo compromisso com Lucy Steele que só ela pode, honoravelmente, romper.
O comportamento de Edward e Willoughby é continuamente contrastante durante o decorrer do romance. A visita de Edward a Barton ocorre pouco depois da partida de Willoughby, para que possamos comparar o comportamento de Willoughby para com Marianne com o comportamento de Edward para com Elinor, depois de ela descobrir do compromisso com Lucy Steele (...).
As circuntâncias dos dois homens, no que toca ao pensamento sobre casamento, são igualmente contrastantes. Willoughby é independente, com uma propriedade em Somersetshire avaliada em £600-£700 ao ano, uma soma adequada para um casal se poder casar naquele tempo, embora, caso Mrs. Smith cortasse a sua renda, isso não teria impedido Willoughby de continuar a viver de forma gastadora. Ele teria de desistir da caça e criação de cavalos, e provavelmente, não poderia manter nem uma carruagem. Embora Willoughby diga, mais tarde, que tinha intenção de pedir Marianne em casamento, ele prefere, ainda assim, despodar uma herdeira com £50,000.
Edward, por sua vez, está totalmente dependente da sua mãe. Quando ela o deserda, ele tem uma renda de apenas £100 ao ano, escasso o suficente para o manter a ele mesmo, e para mais, a sua mãe ameaça-o de que fará os possíveis para que ele não consiga um adiantamento seja qual for a profissão que escolha. Jane Austen mostra claramente o comportamento de Edward como completamente honorável nas suas circunstâncias, em contraste com o de Willoughby, que está adequadamente fornecido para fazer livre escolhas.
o resgate de Marianne é deliberadamente romântico, embora num romance romântico da época o resgate seria, provavelmente, consequência de uma tentativa de rapto. Ele é primeiramente apresentado como "incomumente bonito", com "maneiras graciosas e francas" e com "uma juventude e elegância". Para Marianne "a sua pessoa e ar eram iguais aos heróis que ela imaginara na sua história preferida". Tudo o que Marianne ouve de Willoughby, que é, de facto, muito pouco, alimenta a sua imaginação romântica enquanto o seu comportamento dele faz o resto. A linguagem cuidadosa de Jane Austen deixa claro que Willoughby se adapta rapidamente a todos os românticos amores e estusiasmos de Marianne, e serve-se do seu charme natural e vivacidade para conquistar o seu amor sem ter sérias intenções de se casar com ela.
O autor diz-nos que "nada poderia ser mais expresso do que a existência de um compromisso entre eles do que o comportamento de Willoughby. Para Marianne tinha toda a ternura e distinção que um coração apaixonado poderia dar, e para com o resto da família, ela a atenção afectuosa de um filho e de um irmão". Mrs. Dashwood diz a Elinor "Não tem o seu comportamento para com Marianne e todas nós, nos últimos quinze dias, declarado de que ele a ama e a considera como sua futura mulher?". Marianne, ela própria diz, depois da carta de rejeição de Willoughby, "Eu senti-me solenemente comprometida com ele, como se uma convenção legal nos tivesse ligado". O mesmo sucede com o Capitão Wentworth, com muito menos razão, quando se encontra numa situação parecida com Louisa, ele sentiu-se obrigado, por via da honra, a pedir-lhe a mão se ela assim o desejasse.
Willoughby é o herói romântico da imaginação de Marianne, bonito, prestável, e com uma aparente sensibilidade. Pelo menos ele tem, ou finge que tem, os atributos que servem para indicar sensibilidade: fogo, ânsia, vivacidade, entusiasmo, amor pela música e poesia romântica, rapidez de pensamento...e por aí em diante. Mas ele não tem sentido de honra ou de obrigação perante os outros pelo seu comportamento egoísta. A opinião de Elinor sobre ele é a de que ela não poderia acreditar que ele era capaz "de estar tão afastado da aparência de todo o sentimento honorável e delicado - pelo menos tão afastado do comum decoro de um cavalheiro. (...)
Edward não tem nada da aparência ou charme romântico de Willoughby, para mais, é tímido e estranho quando vai a Barton para pedir a mão de Elinor. Mas ainda assim, ele tem gosto e imaginação, possui bom senso e compreensão. Ele é um homem da maior integridade e um cavalheiro de honra. (...)
Sensibilidade e Bom Senso não é apenas sobre o bom senso de Elinor e a sensibilidade de Marianne, é também sobre a absurda associação da moral com sensibilidade ou a falta dela, e enquanto o leitor moderno, estando longe da sociedade de Jane Austen, pode não conseguir ver Edward como um herói romântico, temos de admitir que ele é um homem íntegro e honorável e que está em contraste directo com Willoughby, que não possui uma coisa nem outra.
Edward Ferrars é um dos heróis de Sensibilidade e Bom Senso. É o filho mais velho da família Ferrars, tem um irmão - Robert Ferrars e uma irmã - Fanny Dashwood, casada com o meio-irmão das irmãs Dashwood.
É descrito no livro como não sendo particularmente bonito, cujas maneiras precisavam de intimidade para poderem ser chamadas de "agradáveis". Mas depois de ultrapassar a sua timidez natural, o seu comportamento dava sinais de um coração aberto e cheio de afecto.
Edward Ferrars, é uma personagem capaz de pôr em causa a sua felicidade com Elinor por causa de uma promessa feita anteriormente, mas cujos laços são frágeis. Mas até que ponto isto é uma prova de amor?
Nunca compreendi muito bem esta atitude, e isso sempre me deixou de pé atrás com Edward Ferrars, ser fiel à palavra é uma coisa, ligar-se a uma pessoa sem ter qualquer laço que as unisse, simplesmente por uma promessa feita ingenuamente na juventude, parece-me estupidez e uma lacuna no seu carácter.
É um personagem complicado, com um carácter muito introspectivo e demasiado tímido. Semelhante à aparente frieza de atitude de Elinor embora se torne adorável nas partes em que o vemos mais íntimo com a família Dashwood.
Não encontrei nenhum livro que nos contasse a versão da história de Edward Ferrars, seria interesante.
No grande ecrã, Edward Ferrars foi interpretado por: