“(…)deixo que seja decidido por quem o pretender fazer se a tendência deste livro é a de fazer a apologia da tirania parental ou premiar a desobediência filial”
Jane Austen termina a Abadia de Northanger com esta frase. Dá a entender que o motor desta história prende-se à esta dinâmica entre “tirania parental” e “desobediência filial”. Ao longo de todas as obras de Jane Austen podemos ver que esta dinâmica relacional é uma marca presente e constante. Mas, em nenhuma de suas obras, encontramos um pai tão sem coração. Terá a vida tornado o General Tilney frio e insensível? Terá sido a perda da sua mulher? A única desobediência filial que podemos apontar é a de Mr. Tilney, de ter ido ao encontro de Catherine após ela ter sido banida da Abadia. Nem a tirania do pai nem a desobediência do filho parecem-me ser o motor deste livro.
A alma deste livro se divide em duas partes. Por um lado, é o coração puro e a imaginação infindável de Catherine. Por outro lado, somos todos nós, leitores do romance que vivemos e criamos as nossas próprias expectativas e conclusões. Vejo a Abadia de Northanger como uma grande interrogação sobre o papel do leitor e a sua interacção com a obra.
Gosto muito desta personagem e é das personagem masculinas que mais gosto nas obras de Jane Austen. É uma personagem simpactica e acessível. Eu penso que Tinley é até muitas vezes uma versão em upgrade de Darcy, pois Darcy tinha o charme e o bom coração, mas não tinha a aptidão comunicativa que Henry Tilney tem. Podemos afirmar que é o homem perfeito. Se é que isso existe e se é que as mulheres estão verdadeiramente interessadas no homem "perfeito". Uma das coisas que mais adoro em Henry é o seu sentido de humor. Se há coisas que nós mulheres apreciamos num homem é o seu sentido de humor, e nisso Henry ganha muito pontos. Catherine que o diga, pois não lhe resisitiu. Trata-se de um homem decidido e que sabe aquilo que diz e aquilo que sente. Uma das personagem que mais expõe as suas opiniões em relação aos seu pontos de vista (na sua grande maioria inteligentemente expostos) torna-o uma personagem forte não só de Northanger Abbey como de toda a obra de Jane Austen. Uma das grande diferenças entre Henry e o restantes heróis de Austen é que ele não é descrito como um homem particularmente belo, mas não é por isso menos interessante, muito pelo contrário. Em relação aos seus sentimentos por Catherine sabemos que foi Catherine quem primeiro se apaixonou e que Henry só mais tarde se aproximou dela romanticamente. No entanto, foi das primeiras pessoas a entender e aprender a gostar de Catherine apesar da sua personalidade que tanto ou quando "especial" e até ingénua. Foi fantástico poder falar de Henry Tilney de quem eu tanto gosto e que tanto tem " a ver comigo".
Título Original: The Real Henry Tilney? Retirado do site: The Cult of Da Man
Autor do Artigo: High Priestess
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
(...)
Em 1797 Bath era ainda um local muito "na moda" e atraía muitas multidões nos meses de Inverno. Mas nesse Inverno em particular um cavalheiro estava na cidade, um jovem pároco que era tutor do filho mais velho de uma família de Salisbury. O seu nome era Sydney Smith. Viria a tornar-se numa das "mentes" do seu tempo.
Mas no Inverno de 1797, Sydney Smith era tutor de Michael Hicks Beach. A família Hicks Beach mantinha relações com os Bramstons de Oakley Hall em Hampshire, muito perto de Steventon, e os Austens foram apresentados aos Hicks Beach através dessa relação comum. E como Irene Collins diz, "Mesmo sem essa informação, o Mestre de Cerimónia, teria em conta que um pároco-tutor era a pessoa indicada pra apresentar à filha de um pároco, caso as suas visitas aos Lower Rooms coincidissem, tal como sucedeu com Mr. King a apresentar Henry Tilney a Catherine Morland, que era, tal como a sua criadora, a filha de um pároco".
Nada comprova que Jane Austen e Sydney Smith alguma vez se encontraram ou que dançaram juntos numa festa. Mas tal como David Cecil afirma, Sydney Smith em 1797 era "alto, bonito e muito divertido graças ao seu sentido de humor peculiar". Tal como Henry Tilney.
(...)
Contudo, se aceitarmos a possibilidade de Jane Austen ter conhecido e ter sido inspirada por Sydney Smith, uma comparação entre os dois pode explicar muito sobre Henry. Por exemplo, Sydney Smith "gostava de falar a brincar sobre matéria sérias, produzindo linhas de imagens ridículas para provar o seu ponto de vista; a comparação de Henry Tilney entre a dança e o casamento entra, claramente, nesta linha". W. H. Auden concorda, dizendo que Smith gostava de criar imagens que poderiam ser chamadas de estilo barroco ridículo".
É certo que Jane Austen sempre disse que não baseava os seus personagens em pessoas reais. (...)
Título Original: Criteria for Rating Heroes Retirado do site: Pemberley
Autor do Artigo: Ellen Moody
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
Vou aproveitar a pergunta sobre "porquê que gostamos mais de alguns heróis de Jane Austen do que de outros?". Eu penso que não é apenas uma questão de não ter nada para os perdoar, porque algumas coisas são mais fáceis de perdoar que outras, e quando decidimos o que achamos mais fácil de perdoar estamos a dizer mais sobre a nossa própria moralidade do que à de Austen.
Os heróis que têm normalmente menos fãs, são aqueles que são profundamente morais; deixem-me chamá-los de tipo Ashley Wilkes (de "E Tudo o Vento Levou"): sensíveis, bons, leais, com um comportamento impecável, tacto, gentis e altruístas e muito convencionais no que toca ao sentido que têm sobre como deve ser um "gentleman"; Austen, claro, engana-nos e adiciona a estas características a reserva, utilizada para proteger o próprio (como vemos em Knightley no seu comportamento com Emma), também o ser acanhado, muito pouco alegre numa festa - características/defeitos muitas vezes apontados e aos quais os leitores não perdoam a Edmund Bertram, Edward Ferrars, Coronel Brandon e George Knightley. Tal como Rhett Butler diz, eles são cavalheiros apanhados num mundo que idolatra a beleza, suavidade e a liderança. Edward Ferrars e Coronel Brandon são fracos nessa batalha de domínio entre pessoas, o que talvez seja a essência da vida. Heróis deste género são patetas, pedantes e empertigados, epítetos comuns atirados contra alguns tipos de heróis em Jane Austen, não? Mas Austen crê que estes homens quando são também inteligentes, queridos e constantes (com devido rendimento), fazem as mulheres felizes, especialmente quando a natureza e gostos de ambos são similares, exemplo disso são Elinor Dashwood e Edward Ferrars ou Fanny Price e Edmund Bertram. Diria que Knightley não assenta bem aqui, uma vez que não é fraco na batalha da liderança, ela apenas partilha de algumas qualidades de Edward Ferrars, Edmund Bertram e Coronel Brandon, pelas quais alguns leitores tiveram muito tempo até lhes perdoar. Eu sou fã de Edward Ferrars e Edmund Bertram, embora não me quisesse casar com eles, eles aborrecem-me até às lágrimas; e para ser sincera, eu não acredito totalmente no Coronel Brandon. Ele é um evadido de uma ficção gótica, fantástica, teatral, afectiva mas não totalmente persuasiva; nem o casaco de flanela consegue esconder a origem.
Agora os heróis que são também vilões aos quais podemos chamar de tipo Rhett Butler. Para ser menos anacronista e estar mais próxima do arquétipo fundamental temos os nossos subtis libertinos: Willoughby, Wickham, Henry Crawford, Frank Churchill e talvez William Walter Elliot. Estes são homens sedutores, sedutores precisamente porque são perigosos, engraçados de estar, divertidos, bonitos. O que +e que temos para perdoar aqui? Deslealdade, ter tido sexo com outra mulher, indiferente, despreocupado, egoísmo, a habilidade de estar infinitamente inactivo e mais importante, a incapacidade de olhar para eles próprios e ver o que está mal e mudar, porque eles não podem sentir o tipo de alegria que surge com o amor intenso e tudo o que vem com ele. Parece que Austen sugere que, enquanto grupo, estes homens são pouco profundos nas suas emoções, porque a estes "libertinos" dos romances é dada uma intensidade de emoção em demasiada escala. Austen não permite isso; isso é o delicioso veneno que bebemos para a nossa própria destruição. Eu diria que muitas pessoas não teria assim tão grandes problemas em perdoar as falhas acima citadas, mas Austen considera esse tipo de homem um mau material para maridos; e eu sugiro que a única qualidade que ela seria incapaz de perdoar a estes homens é a sua insensibilidade e inconstância. No entanto, sejamos justos, são géneros divertidos, nunca um momento aborrecido com Willoughby - embora lendo com cuidado, podemos afirmar que ele pode ser visto como pouco profundo e egoísta. É o tipo de rapaz que não se arrepende de ter passado um bom bocado, mas terrivelmente arrependido de não ter conseguido o seu doce no fim. E a Henry Crawford são dadas possibilidades, somos levados a achar que ele pode ter-se transformado no 3º tipo, embora eu duvide.
Temos agora o 3º tipo, no qual eu sugiro que Henry Tilney entra. De certa maneira, Jane Austen foi a inventora deste tipo e por isso lhe chamarei o tipo de Frederick Wentworth. O que temos para lhes perdoar é aquilo que temos de perdoar a qualquer ser humano que é fundamentalmente decente e querido e inteligente e também capaz de ter uma conversa interessante - o tempo e as circunstâncias é que não estiveram sempre do seu lado. Isso acontece com Darcy - Darcy tem sido objecto de sincopacia continuada, demasiada indulgência e possuidor de um coração frio e repleto do orgulho materialístico de todas as Ladies De Bourgh deste mundo. Ele precisa de olhar para o seu coração para poder mudar. E fá-lo. Temos de lhe desculpar as reprimendas, a arrogância, o pessimismo em relação à natureza humana, uma certa frieza (...). Este grupo inclui Wentworth o meu herói favorito (...). Henry Tilney também não tem tudo do seu lado - tenhamos como exemplo o seu pai tirano; mas a sua mãe parece ter sido muito boa pessoa (tal como a mãe de Anne Elliot) e o rapaz tem a felicidade de possuir rendimento e garantir a sua independência. Na verdade, não havendo nada para perdoar, talvez por ser ainda tão jovem e alegre e tão humano, e por isso o coloco neste 3º tipo inventado por Jane Austen, os cavalheiros que têm tudo, tudo o que encanta uma mulher e que fazem deles um partido. Deixem-me terminar com George Knightley, porque ele sofre da falha que tem Tilney - não há nada a perdoar - mas neste caso, pobre homem, não podemos perdoar-lhe a perfeição, porque ao contrário do tipo 1, ele não é fraco nem pedante, nem acanhado (embora, tal como ele diz, não saiba muito bem expressar-se no que toca aos sentimentos do coração). Mas, lembremo-nos, conhecemos Knightley apenas pelo ponto de vista de Emma e talvez seja por isso que ele nos pareça tão perfeito. Mas eu amo Knightley, de verdade. Adoro o seu tacto, a cortesia, o cavalheirismo, o seu pensamento sempre acertado, nem me importa o seu pensamento moral por vezes exagerado. (...)
Peço desculpa ao Mr. Darcy e às suas calorosas fãs. Dexei de o achar encantador, como na altura em que li Orgulho e Preconceito, no momento em que me apresentaram Mr. Knightley e recentemente, os olhos com que tenho visto Henry Tilney.
Tentei discurtinar a razão para esta recente decepção por Mr. Darcy, e descobri... Mr. Darcy tem pouco sentido de humor, quase nenhuma ironia (Lizzie abarca tudo isso, é certo).
Para mim, Mr. Darcy perdeu a piada... será temporário, pelo menos até rever e reler Orgulho e Preconceito? Não sei, mas a verdade, é que sempre preferi Knightley a Darcy, e de há uns tempos para cá, prefiro Knightley, Tilney e Wentworth a Darcy.