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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Fanny e suas versões.

Não acredito que uma adaptação para a televisão/cinema tenha de ser totalmente fiel a cada vírgula de um livro no qual o seu argumento se baseie. Tenho a certeza de que já teria deixado aqui esta minha afirmação. Embora goste de ver um filme ou série que segue a narrativa de um livro, não me incomoda que a versão filmada tome alguma liberdade; o oposto seria omitir a criatividade de uma obra.  Contudo, não posso também deixar de dizer que o único factor que me transtorna um pouco é quando uma filme ou série foge à essência da obra literária. Isto já acho um pouco irritante.

Se nunca tivesse lido Mansfield Park, se esta obra não tivesse se tornado uma das minhas preferidas e  se nunca tivesse tido o prazer de conhecer os pensamentos e acções de Fanny Price,  tenho a convicção de que toleraria melhor as versões de 1999 e de 2007.

Sem entrar em outros detalhes das duas versões - e isto levaria muitos parágrafos - gostaria apenas de centrar a atenção na forma como Fanny Price foi representada em ambas a versões.

 

 

MANSFIELD PARK | 1999 | Miramax 

Direcção e argumento: Patricia Rozema

 

Fanny Price -  Frances O'Connor

 

Frances O'Connor cria uma Fanny Price com vitalidade e energia. Por momentos, não sei bem se estou a ver Fanny Price, Elizabeth Bennet ou a própria Jane Austen. Concluo que Fanny Price não é, de certeza… Acho que nesta versão há um pouco esta intenção, de nos mostrar uma Fanny que, no fundo, é uma Elizabeth Bennet e que diz umas frases de Jane Austen. A energia de Fanny está na força do seu carácter e da sua determinação em ser correcta; e, não propriamente em descer escadas a correr e andar a saltitar por Mansfield Park. Há vários momentos, ao longo do filme, em que a vemos a ser exactamente o oposto de Fanny; ou seja, ao contrário de ser silenciosa e obediente, Frances/Fanny responde precipitada, apaixonada e veementemente. Há momentos em que mostra-se muito distante da nossa discreta Fanny.

 



 -MANSFIELD PARK |2007 | ITV  

Direcção:  Iain B. MacDonald | Argumento: Maggie Wadey


Fanny Price - Billie Piper

Com Billie Piper assistimos uma Fanny Price mais infantilizada. Melhor dizendo, uma Fanny mais nova e ainda menina. Também ela, enérgica e vivaz. Surge, também,  a correr e a saltitar por Mansfield Park.  Mostra-se mais frágil, observadora, doce e silenciosa; contudo, não tem a fibra de carácter, o tipo físico e a maneira de estar de Fanny Price que Jane Austen descreve. Billie Piper, mesmo sendo bela, foge ao tipo físico frágil que a Fanny Price deveria apresentar e, arrisco-me a dizer, tem até um ar sensual que em nada condiz com uma personagem de Jane Austen. Outro aspecto físico que me incomodou foi o facto dela ter sido caracterizada em grande parte do filme com o cabelo desgrenhado. Sei que este aspecto foge ao domínio da interpretação da actriz, mas certo é que influencia a forma como a vemos no seu todo.

 

 

 

Há um aspecto de que gostei em Billie Piper: ela conseguiu, algumas vezes, demonstrar a desconfiança que tinha em relação à Mary Crawford; bem como a mágoa de ter sido preterida pelo primo surgia como um sentimento muito evidente. Este é um mérito que não consigo encontrar em Frances O'Connor.

Apesar de liberdade criativa que cada argumento adaptado tem direito, bem como o seu próprio enfoque, desgosta-me profundamente que uma história tão densa e profunda como Mansfield Park e a sua personagem principal tenham sido desenhadas de uma forma tão superficial. Aponto o dedo mais ao argumento de ambos os filmes do que propriamente às actrizes.

Uma certeza é muito viva para mim: Fanny Price merecia ser melhor apresentada. 

 

Fanny Price

 

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Fanny Price é a mais estranha das heroínas criadas por Jane Austen e protagoniza o romance "Mansfield Park.

Austen descreve-a como sendo "extremamente tímida e envergonhada, desejando passar despercebida".


Considero que é uma personagem bastante incompreendida por todos até pelos mais interessados em Jane Austen.

Talvez seja o seu carácter pouco "heróico", a sua subserviência, a sua timidez exagerada, a sua aparente falta de carácter e personalidade.


É uma personagem controversa, sem dúvida, extremamente moralista e com uma enorme capacidade de julgamento das atitudes dos outros que a faz ter sempre razão, e percebemos isso pelos seus devaneios e pensamentos que são o essencial da história para que possamos compreender Fanny que, de entre todas as personagens, é a única que imagino capaz de existir na vida real.


Fanny vai viver com os tios ricos aos nove anos. Em Mansfield encontra Edmund, seu primo, o único que se preocupa com ela.

Fanny vive paralelamente às situações que a rodeiam, não participa activamente, vagueia com as outras personagens e ajuíza-lhes as atitudes, o carácter, os defeitos e qualidades.

Só no último momento, encontra o amor, depois de ter sido negligenciada toda a vida.

 

Fanny foi levada para os ecrãs com as actrizes: