O coronel Brandon é a minha personagem favorita em Sensibilidade e Bom Senso. Sinto uma natural simpatia por este homem sensível, genuíno, tímido e doce. A sua personagem cativou-me desde a primeira leitura. Não consigo gostar menos dele apesar de ser apresentado como velho solteirão por ter passado dos trinta e cinco anos ou por ser calado e sério. Para mim, ele é o oposto de Willoughby no que respeita às mulheres. Mas não só. A sua sensibilidade e as suas qualidades humanas transparecem em várias ocasiões e a sua generosidade é dirigida para aqueles que mais necessitam dela, como é o caso de Mr. Ferrars depois de ser deserdado pela sua mãe. Atrevo-me a dizer que ele é o verdadeiro herói desta trama romântica. Edward Ferrars é um ser apagado quando comparado com a verticalidade e maturidade do coronel. Quanto a Willoughby, muito haveria que limar o seu carácter para ser comparado com o coronel Brandon.
De todos os novos conhecimentos, apenas o Coronel Brandon, segundo Elinor, era uma pessoa que sob algum aspecto poderia merecer respeito pela sua inteligência, criar o interesse da amizade ou dar prazer como companheiro. Willoughby estava fora de questão.
(...) Contudo, a frase que enunciara foi prosseguida imediatamente pelo coronel Brandon, sempre atento aos sentimentos dos outros, e todos falaram muito sobre a chuva (...).
O coronel Brandon é um personagem que mesmo ausente, deixa no ar a sua presença porque quando regressa parece estar a par de tudo ou chega sempre no momento mais indicado, ainda que assim não o pareça a outros. É um verdadeiro amigo do seu amigo e ama incondicionalmente Marianne. É um gentleman apaixonado. Pelo que fica dito, é fácil apreciar este personagem.
Este é um tema que sai fora de todos os que estão a ser tratados agora no blogue, mas tendo lido recentemente a obra, mais uma vez, não pude deixar passar mais tempo sem falar nele, sob pena de o menosprezar, ainda que sem intenção.
Gosto do Coronel Brandon. Sempre gostei. É aquele tipo de homem que me seduz. Maduro, calmo, reservado. Há algo nele, desde o início da história, que nos leva a suspeitar de uma qualquer tragédia na sua vida que o faz sofrer. E, no entanto, é contido e gentil. Dizendo de outra forma: é misterioso. E quem não gosta dessa qualidade num homem ou até numa mulher?
Depois... aquele amor por Marianne... que, tal como ele, é um amor reservado e calmo; o Coronel Brandon é o tipo de homem que dá espaço à sua amada, que lhe dá tempo , como se soubesse que, no fim, ela acabaria por lhe cair nos braços. Ele apenas soube esperar essa oportunidade com calma e paciência.
Amores desses, que não se desfazem com facilidade, são difíceis de encontrar. Sobretudo se a outra parte age como Marianne com o Coronel Brandon, quando estava ainda enredada pelo sentimento que nutria por Willoughby.
Não posso deixar de referir a história existente entre o Coronel Brandon e Marianne de "Sensibilidade e Bom Senso".
Apesar de não ser grande apreciadora da personagem de Marianne, gosto do sentimento que ele nutre por ela desde o primeiro instante e gosto da forma como ele expressa essa paixão por ela: reservado, paciente, dedicado a proporcionar-lhe conforto e bem-estar. O Coronel Brandon soube esperar e foi recompensado com o amor dela. E acredito que tenham sido felizes, apesar do início complicado e apesar da diferença de idades. Confio no carácter do Coronel Brandon, no seu amor por Marianne e confio também no amadurecimento dela, na sua doçura e romantismo para afirmar que foram felizes.
"O Coronel Brandon era agora tão feliz como todos aqueles que mais o amavam achavam que ele merecia; em Marianne encontrou consolação para todos os seus desgostos passados... o seu afecto e a sua companhia restauraram a vivacidade do seu espírito e a alegria da sua alma; todos os amigos que o observavam viam que Marianne encontrara a sua própria felicidade, promovendo a dele. Marianne nunca poderia amar pela metade, e com o tempo o seu coração tornou-se tão devotado ao seu marido como antes fora em relação a Willoughby."
Esta escolha vai no sentido do post anterior sobre a heroína menos preferida. É-me impossível imaginar a impulsiva Marianne Dashwood feliz e realizada junto de um homem tão sereno e amargurado como Coronel Brandon.
Este casal não me preenche de maneira alguma... acho que o mal está mais em mim, pois nunca entendi muito bem nem Marianne nem Brandon, mas a verdade é que o final destes dois parece-me uma alternativa a um final feliz. Não O final feliz, mas o final possível...
Um dos aspectos que mais me agrada nesta versão é o retratar daquilo que não é dito no livro. As entrelinhas. E, algumas vozes breves, ganham volume. Este é o caso do Coronel Brandon.
“Era calado e sério. Contudo, o seu aspecto não era desagradável, apesar de ser, na opinião de Marianne e Margaret, um velho solteirão, pois já passara os trinta e cinco; mas apesar da sua cara não ser bonita, parecida sensato e os seus modos eram particularmente educados.”
No livro, Coronel Brandon surge-nos como um homem educado, distinto, inteligente e uma pessoa reservada. Nesta versão de Sensibilidade e Bom Senso, Coronel Brandon é interpretado por David Morrissey e ele imprime muito bem o tom de classe, distinção e passa-nos a imagem do verdadeiro gentleman. Mas ele dá também um traço de vigor que – a meu ver – não captamos no livro.
David Morrissey é um Coronel Brandon que admira e observa Marianne em silêncio, mas é igualmente capaz de resgatá-la, de cobrar de Willoughby as intenções dele em relação à Marianne e, ainda, de se bater em duelo. Lembro-me de dar por mim a pensar, enquanto via a mini-série, o porquê da Marianne olhar para um Willoughby tão fraquinho quando tinha um Coronel com aquela categoria. A comparação entre ambos chega a ser desigual.
A minha cena preferida do Coronel Brandon é a do baile em Londres, quando Marianne chama por Willoughby e este quase que finge que não a conhece e mostra-se frio e distante. Em resultado, Marianne desfalece e é o Coronel Brandon quem a auxilia juntamente com Elinor. Confesso, que gosto da maneira como ele a segura e a resgata da situação embaraçosa que se gerou ali. Eu sei que esta cena não existe no livro mas é de todo exequível.
Imagino este Coronel/Morrissey quase como um cavalheiro andante. O que não consigo imaginar, o que não consigo conceber, é vê-lo a usar os famosos coletes de flanela.
Na mesma medida em que admiro Emma Thompson, tenho também de declarar a minha admiração por Alan Rickman. É ele quem dá vida ao Coronel Brandon e este é um dos meus personagens predilectos. Revejo e imagino Coronel Brandon em Alan Rickman em toda a sua classe, integridade e honradez. Ele faz transparecer todo o encantamento e admiração por Marianne Dashwood que adivinhamos na leitura do livro.
Este é daqueles actores que quer interprete o vilão quer interprete o herói fá-lo com excelência. Devo dizer, grande parte do meu amor por esta versão de 1995 deve-se a ele. Gostaria de destacar dois momentos na actuação de Alan Rickman enquanto Coronel Brandon:
Col. Brandon: Your sister seems very happy. Elinor Dashwood: Yes. Marianne does not approve of hiding her emotions. In fact, her romantic prejudices have the unfortunate tendency to set propriety at naught. Col. Brandon: She is wholly unspoilt. Elinor Dashwood: Rather too unspoilt, in my view. The sooner she becomes acquainted with the ways of the world, the better. Col. Brandon: I knew a lady very like your sister - the same impulsive sweetness of temper - who was forced into, as you put it, a better acquaintance with the world. The result was only ruination and despair. Do not desire it, Miss Dashwood.
Neste diálogo, Alan Rickman deixa entrever, sem o dizer claramente, o sofrimento que o Cor. Brandon já passou e viu Eliza passar. Há um misto de tristeza e angústia na forma como expressa esta afirmação que sempre me impressionou.
Col. Brandon: What can I do? Elinor Dashwood: Colonel Brandon, you have done so much already... Col. Brandon: Give me an occupation, Miss Dashwood, or I shall run mad.
Esta é a cena em que Marianne está gravemente doente, Col. Brandon mostra-se desesperado com a situação e apela a Elinor que lhe dê algo para fazer. Lemos no seu tom de voz, na sua postura corporal, na sua expressão facial o desespero de, no fundo, ver uma situação a se repetir. De ver a pessoa que ama a morrer e a impotência diante da situação.
Col. Brandon tem uma presença discreta. No filme, Alan Rickman dá-lhe forma e, no meu caso, deixa-me somente a lamentar que ele não tenha ainda mais momentos marcantes.
Título Original: Criteria for Rating Heroes Retirado do site: Pemberley
Autor do Artigo: Ellen Moody
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira
Vou aproveitar a pergunta sobre "porquê que gostamos mais de alguns heróis de Jane Austen do que de outros?". Eu penso que não é apenas uma questão de não ter nada para os perdoar, porque algumas coisas são mais fáceis de perdoar que outras, e quando decidimos o que achamos mais fácil de perdoar estamos a dizer mais sobre a nossa própria moralidade do que à de Austen.
Os heróis que têm normalmente menos fãs, são aqueles que são profundamente morais; deixem-me chamá-los de tipo Ashley Wilkes (de "E Tudo o Vento Levou"): sensíveis, bons, leais, com um comportamento impecável, tacto, gentis e altruístas e muito convencionais no que toca ao sentido que têm sobre como deve ser um "gentleman"; Austen, claro, engana-nos e adiciona a estas características a reserva, utilizada para proteger o próprio (como vemos em Knightley no seu comportamento com Emma), também o ser acanhado, muito pouco alegre numa festa - características/defeitos muitas vezes apontados e aos quais os leitores não perdoam a Edmund Bertram, Edward Ferrars, Coronel Brandon e George Knightley. Tal como Rhett Butler diz, eles são cavalheiros apanhados num mundo que idolatra a beleza, suavidade e a liderança. Edward Ferrars e Coronel Brandon são fracos nessa batalha de domínio entre pessoas, o que talvez seja a essência da vida. Heróis deste género são patetas, pedantes e empertigados, epítetos comuns atirados contra alguns tipos de heróis em Jane Austen, não? Mas Austen crê que estes homens quando são também inteligentes, queridos e constantes (com devido rendimento), fazem as mulheres felizes, especialmente quando a natureza e gostos de ambos são similares, exemplo disso são Elinor Dashwood e Edward Ferrars ou Fanny Price e Edmund Bertram. Diria que Knightley não assenta bem aqui, uma vez que não é fraco na batalha da liderança, ela apenas partilha de algumas qualidades de Edward Ferrars, Edmund Bertram e Coronel Brandon, pelas quais alguns leitores tiveram muito tempo até lhes perdoar. Eu sou fã de Edward Ferrars e Edmund Bertram, embora não me quisesse casar com eles, eles aborrecem-me até às lágrimas; e para ser sincera, eu não acredito totalmente no Coronel Brandon. Ele é um evadido de uma ficção gótica, fantástica, teatral, afectiva mas não totalmente persuasiva; nem o casaco de flanela consegue esconder a origem.
Agora os heróis que são também vilões aos quais podemos chamar de tipo Rhett Butler. Para ser menos anacronista e estar mais próxima do arquétipo fundamental temos os nossos subtis libertinos: Willoughby, Wickham, Henry Crawford, Frank Churchill e talvez William Walter Elliot. Estes são homens sedutores, sedutores precisamente porque são perigosos, engraçados de estar, divertidos, bonitos. O que +e que temos para perdoar aqui? Deslealdade, ter tido sexo com outra mulher, indiferente, despreocupado, egoísmo, a habilidade de estar infinitamente inactivo e mais importante, a incapacidade de olhar para eles próprios e ver o que está mal e mudar, porque eles não podem sentir o tipo de alegria que surge com o amor intenso e tudo o que vem com ele. Parece que Austen sugere que, enquanto grupo, estes homens são pouco profundos nas suas emoções, porque a estes "libertinos" dos romances é dada uma intensidade de emoção em demasiada escala. Austen não permite isso; isso é o delicioso veneno que bebemos para a nossa própria destruição. Eu diria que muitas pessoas não teria assim tão grandes problemas em perdoar as falhas acima citadas, mas Austen considera esse tipo de homem um mau material para maridos; e eu sugiro que a única qualidade que ela seria incapaz de perdoar a estes homens é a sua insensibilidade e inconstância. No entanto, sejamos justos, são géneros divertidos, nunca um momento aborrecido com Willoughby - embora lendo com cuidado, podemos afirmar que ele pode ser visto como pouco profundo e egoísta. É o tipo de rapaz que não se arrepende de ter passado um bom bocado, mas terrivelmente arrependido de não ter conseguido o seu doce no fim. E a Henry Crawford são dadas possibilidades, somos levados a achar que ele pode ter-se transformado no 3º tipo, embora eu duvide.
Temos agora o 3º tipo, no qual eu sugiro que Henry Tilney entra. De certa maneira, Jane Austen foi a inventora deste tipo e por isso lhe chamarei o tipo de Frederick Wentworth. O que temos para lhes perdoar é aquilo que temos de perdoar a qualquer ser humano que é fundamentalmente decente e querido e inteligente e também capaz de ter uma conversa interessante - o tempo e as circunstâncias é que não estiveram sempre do seu lado. Isso acontece com Darcy - Darcy tem sido objecto de sincopacia continuada, demasiada indulgência e possuidor de um coração frio e repleto do orgulho materialístico de todas as Ladies De Bourgh deste mundo. Ele precisa de olhar para o seu coração para poder mudar. E fá-lo. Temos de lhe desculpar as reprimendas, a arrogância, o pessimismo em relação à natureza humana, uma certa frieza (...). Este grupo inclui Wentworth o meu herói favorito (...). Henry Tilney também não tem tudo do seu lado - tenhamos como exemplo o seu pai tirano; mas a sua mãe parece ter sido muito boa pessoa (tal como a mãe de Anne Elliot) e o rapaz tem a felicidade de possuir rendimento e garantir a sua independência. Na verdade, não havendo nada para perdoar, talvez por ser ainda tão jovem e alegre e tão humano, e por isso o coloco neste 3º tipo inventado por Jane Austen, os cavalheiros que têm tudo, tudo o que encanta uma mulher e que fazem deles um partido. Deixem-me terminar com George Knightley, porque ele sofre da falha que tem Tilney - não há nada a perdoar - mas neste caso, pobre homem, não podemos perdoar-lhe a perfeição, porque ao contrário do tipo 1, ele não é fraco nem pedante, nem acanhado (embora, tal como ele diz, não saiba muito bem expressar-se no que toca aos sentimentos do coração). Mas, lembremo-nos, conhecemos Knightley apenas pelo ponto de vista de Emma e talvez seja por isso que ele nos pareça tão perfeito. Mas eu amo Knightley, de verdade. Adoro o seu tacto, a cortesia, o cavalheirismo, o seu pensamento sempre acertado, nem me importa o seu pensamento moral por vezes exagerado. (...)
Estava hoje a pensar... a minha grande personagem masculina é Mr. Knightley, acima de tudo pela capacidade de argumentação, pelo tom irónico e sarcástico, pela dedicação e amizade a Emma. No entanto, nunca relevei o facto de ele ter mais 15 anos que Emma e por isso, ter praticamente a mesma diferença de idades que tem Brandon e Marianne (creio), diferença essa que sempre considerei muito abismal. Até porque sempre encarei Brandon como um personagem velho, acima de tudo por viver tão preso ao seu passado e toda a história dramática de amor que viveu.
Mas quanto a Knightley nunca me apercebi desta diferença de idades tão semelhante, porque também nunca o encarei como "velho", a sua inteligência, o seu charme e a capacidade de nos fazer rir, e também o facto de acreditar no verdadeiro amor que ele sente por Emma, que para mim é diferente do amor de Brandon por Marianne, que vê nela o amor do seu passado, quem ele amou verdadeiramente (e aqui quase que caio no erro de "um amor só" de Marianne), mas sempre achei que Brandon só amava Marianne porque ela se parecia com a sua Eliza.
Impressões das leitoras, agradeço, para melhor compreender esta minha posição.