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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

E Charlotte? Que foi feito dela?

Nas minhas vagueações pelo site da amazon (um dos meus 'passeios' favoritos) deparei-me com um livro que me despertou a atenção: "Charlotte" de Karen Aminadra, uma obra que pretende ser uma continuação de Orgulho e Preconceito, mas visando o destino de Charlotte Lucas/Collins.

Já aqui divagamos sobre quais seriam os possíveis futuros das irmãs Bennet mas nunca falámos, penso eu, sobre o de Charlotte. E isso, confesso, é um assunto em que penso muitas vezes. Sempre considerei Charlotte como uma mulher inteligente, prática, sensata e forte. E, talvez por isso, sempre me espantei com a decisão que ela tomou em casar com Mr Collins. Isto apesar de ela fundamentar muito bem a sua opção:

 

"I am not romantic you know. I never was. I ask only a comfortable home; and considering Mr Collins's character, connections, and situation in life, I am convinced that my chance of happiness with him is as fair, as most people can boast on entering the marriage state."

 

O que nos leva a concluir que Charlotte era realmente uma mulher prática e com os pés bem assentes na terra. Nos dias de hoje, Charlotte teria muito mais por onde escapar, ou dedicando-se a uma profissão que gostasse ou simplesmente levando uma vida a seu gosto. Já não é imperativo casar e ter filhos; já não necessitámos de ter um suporte masculino que nos sustente e faça de nós mulheres "honradas". Todavia, como sabemos, no século XVIII, isto era inconcebível para a sociedade em geral. E Charlotte que nunca foi considerada nenhuma beldade ou abençoada com qualquer outro atributo importante, e estando já com uma idade avançada, teve mesmo de casar com aquele que julgou mais adequado e que lhe ofereceu a possibilidade de um futuro decente.

 

Neste livro, no entanto, podemos ver descrito como foi a vida de Charlotte em Rosings depois do seu casamento com Mr Collins. A história conta como ela se tornou numa mulher amarga e como detesta a sua vida. Um dia, depois de ter feito compras num local não aprovado por Lady Catherine De Bourgh, vê-se subitamente ostracizada por ela e é então que se descobre livre para apreciar a vida e outras pessoas. Faz então novas amizades, incluindo nestas o Coronel Fitzwilliam que parece que lhe vai trazer alguns dissabores, e ainda com uma Miss Thomas que tem direito, nesta obra, à sua própria história com um tal de Mr Simmons. Este casal tem a sua dose de queixas relativamente a Lady Catherine pelo que a empatia deles com Charlotte é partilhada. Tem-se ainda a oportunidade de ver Elizabeth e Darcy, casados penso eu, de visita a Rosings, o que deixa lady Catherine furiosa.

 

Mas agora vem o melhor!

 

Mr Collins! Acham possível vir a gostar-se dele?! Não? Eu também não. Mas de acordo com a maioria das críticas e resenhas que li deste livro, parece que se acaba mesmo por amar tal criatura. Ele, que subitamente conhece uma nova Charlotte, começa a dar-lhe mais valor e o seu amor pela esposa cresce (ou nasce). Simultaneamente, apercebe-se do ridículo das suas acções especialmente para com a sua patrona (aleluia!) e torna-se um homem diferente.

 

Parece uma história que promete, realmente. E estou a considerar seriamente comprar a versão kindle na amazon. Mas um medo imenso domina-me!... Será que acabo a achar Mr Collins digno de admiração? Será que ele vai passar a substituir Mr Darcy nos meus sonhos como o protótipo do homem ideal?!...

                                                                           Medo!... Muito medo!...

Crédito da foto principal: amazon

Crédito foto Mr Collins: daqui

Charlotte Lucas

É um choque para Lizzie e para nós leitores quando Charlotte Lucas anuncia o seu casamento com o Mr. Collins. Como é que alguém que se apresenta como inteligente e sensível pode casar com um tolo como o Collins? Charlotte justifica-se dizendo que não é romântica.

Pessoalmente penso que Charlotte representa um certo tipo de mulher que ainda existe actualmente, daí ter pedido para falar sobre ela.

Nos tempos de Jane Austen ter 27 anos e ser solteira, é olhar para o futuro e ver-se a si mesma como um fardo para a família, as hipóteses de casar já não serão muitas, para não dizer nenhumas, eis que surge Collins e Charlotte agarra aquilo que a vida lhe oferece, como consegue ela a proposta não nos é revelado...

Ainda hoje apesar de os tempos serem outros, há muitas mulheres que casam para não morrerem solteiras, daí eu achar a Charlotte uma mulher moderna. Até que ponto uma união assim poderá mais tarde revelar-se em amor nunca saberemos, mas sabemos que pouco tempo depois quando Lizzie a visita, Charlotte fala de como encoraja o marido a tratar do jardim e parece ser feliz por haver dias em que raramente se vêem.

O papel de Charlotte Lucas, não é meramente o de melhor amiga de Elizabeth. Há um claro objectivo de criticar as mulheres que casam por motivos financeiros e fazer a oposição a Lizzie que certamente prefere não casar a ter de fazê-lo por interesse.