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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

The Last Weekend with Captain Wentworth

Estreia hoje no canal ITV1 pelas 21h a série The Last Weekend, uma versão televisiva da obra com o mesmo nome do escritor Blake Morrison. Trata-se de um thriller de suspense, realizado por Mick Ford, que conta a história de dois casais que vão passar um fim-de-semana prolongado na zona rural de Suffolk, sendo que os dois elementos masculinos do grupo partilham uma antiga e acesa rivalidade. 

 Foto retirada daqui

 

A novidade, como já devem ter percebido pela foto, é que esta produção conta com a presença de Rupert Penry-Jones num dos principais papéis. E este senhor, como devem saber, é o nosso querido Capitão Frederick Wentworth da adaptação de 2007 da obra Persuasão de Jane Austen. Por isso, seguramente entre muitas outras coisas, vale a pena ver esta série e apreciar o que anda a fazer nestes dias aquele que um dia nos fez acompanhar Anne Elliot numa sucessão de suspiros.

 

Para saber mais sobre este chocante estudo psicológico sobre o ciúme masculino, visitar http://www.carnivalfilms.co.uk/production/productions.asp?id=78

 

To Miss Anne Elliot... From Captain Frederick Wentworth

Não sei decifrar exactamente quando Frederick Wentworth descobriu que ainda amava Anne Elliot. Penso que o mais certo é que nunca tenha deixado de a amar e evidencie apenas um misto de revolta e ressentimento perante o facto de por ela ter sido recusado e abandonado, tendo sido persuadida pela amiga Lady Russell e ainda pela dedicação e respeito que ela achava dever à sua família.

 

Esta revolta e ressentimento que Wentworth mostra (in)conscientemente perante Anne vai diminuindo gradualmente à medida que ele convive novamente com ela, apesar de pouco falarem mutuamente, e descobre uma Anne também magoada e interiormente revoltada perante as suas decisões passadas. Penso que o facto de ter sabido que Anne recusara a proposta de casamento de Charles Musgrove e se dedicara apenas e unicamente a Kellynch Hall e à sua família, ajuda Wentworth a alimentar novamente o carinho e estima que tivera pela jovem Anne Elliot. Vê-la desenvolta, ver a sua perspicácia e delicadeza perante situações e decisões difíceis, ajudam-no a a compreender que Anne é muito mais do que a jovem mulher que o recusara. Ela é agora, aos vinte e sete anos, uma mulher madura e diferente mas também um ser extremamente generoso, delicado, consciente e justo.

 

A carta que Frederick dirige a Anne em Camden Place é de uma beleza e sensibilidade extremas (You pierce my soul). Sentindo-se encurralado e inseguro (I am half agony, half hope) relativamente aos sentimentos de Anne por ele (isto depois de saber da possibilidade de Anne vir a casar com Mr Elliot e depois de ela ter negado esse compromisso), Frederick decide jogar a sua última e definitiva cartada. E, incentivado pela conversa que vai ouvindo entre Anne e o Capitão Harville (I can listen no longer in silence), discretamente dirige-lhe uma missiva tocante e aberta (I must speak to you by such means as are within my reach).

 

Tell me not that I am not to late, that such precious feelings are gone for ever. I offer myself to you again with a heart even more your own than when you almost broke it, eight years and a half... ago.

 

Enquanto escreve, Frederick vai ouvindo a conversa de Anne com o Capitão Harville. E vai adequando a sua escrita a determinadas citações da sua amada. Quando ela afirma que esquecer facilmente um amor "não está na natureza de qualquer mulher que amasse verdadeiramente" e que as mulheres não esquecem tão rapidamente quanto os homens.  Frederick replica escrevendo "Dare not say that man forgets sooner than woman, that his love has an earlier death. I have loved none but you".

 

Anne diz ainda que a mudança se deve a circunstâncias interiores e que só a natureza do homem o faz esquecer tão facilmente, denotando acreditar na inconstância do sexo oposto. Frederick responde: "Unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant."

 

"You alone have brought me to Bath. For you alone, I think and plan. Have you not seen this?"

 

Continuando a conversa sobre a natureza dos afectos, Anne afirma acreditar que um homem não sobreviveria a todas as dificuldades, privações e perigos a que é exposto se ainda tivesse de lidar com sentimentos femininos "Can you fail to have understood my wishes? I had not waited even these ten days, could I have read your feelings, as I think you must have penetrated mine."

 

É aqui que o Capitão Wentworth deixa cair a pena com que escreve, sobressaltando Anne que o descobre mais perto do que imaginara e a faz desconfiar que o objecto apenas caíra porque ele estivera ocupado a ouvi-los.

 

I can hardly write. I am every instant hearing something which overpowers me. You sink your voice, but I can distinguish the tones of that voice when they would be lost on others. Too good, too excellent creature!"

 

Anne termina a discussão fazendo, apesar de tudo, alguma justiça aos homens. Afirma que o verdadeiro afecto e constância também podem ser sentidos pelos homens, seres que considera capazes de todas as coisas magnifícas e boas nas suas vidas de casados. "You do us justice, indeed. You do believe that there is true attachment and constancy among men. Believe it to be most fervent, most undeviating, in F. W.

  

Contudo, isto acontece apenas quando o homem tem uma finalidade que é a de saber que a mulher que amam vive apenas para ele. As mulheres, por seu lado, apresentam nesse aspecto uma ligeira diferença: amam mais longamente, quando a existência ou a esperança partiu.

"I must go, uncertain of my fate; but I shall return hither, or follow your party, as soon as possible. A word, a look, will be enough to decide whether I enter your father's house this evening or never."

Melhor escolha masculina nas adaptações

Rupert Penry-Jones em "Persuasão" (2007)

 

Sou suspeita pois sou grande fã deste actor. No entanto, acho que o Capitão Frederick Wentworth por ele interpretado é muito bom. E a química com Sally Hawkins é muito bem conseguida.

Por outro lado, acho que ele expressa muito bem os sentimentos (reprimidos) que ainda tem por Anne Elliot e, quando na presença dela, sente-se que as coisas são mesmo como ele diz: "...você baixa a voz, mas eu consigo ouvir os seus tons, mesmo que eles escapem aos outros..." Tudo nele indica que está sempre atento às reacções e movimentos de Anne, sempre muito discretamente.

Gosto muito desta escolha e dificilmente outro actor conseguirá suplantar esta actuação como protagonista de Persuasão.

Momento de Livro Favorito

 

Em vão lutei, mas de nada serviu. Os meus sentimentos não podem ser reprimidos e permitam-me dizer-lhes que....

 

.... não posso mudar aquilo que sinto. Tentei pensar em muitos outros momentos que aprecio bastante nos livros da Jane Austen mas nenhum deles consegue suplantar o momento em que a carta do Cap. Wenthwort nos é dada a ler. Sei que não sou muito original mas realmente não posso ir contra a minha grande paixão por essa parte do livro 'Persuasão'.

Caío até na mimice de transcrever a dita carta, em inglês, porque nada como o original; soa melhor e mais romântica:

 

"I can listen no longer in silence. I must speak to you by such means as are within my reach. You pierce my soul. I am half agony, half hope. Tell me not that I am too late, that such precious feelings are gone for ever. I offer myself to you again with a heart even more your own than when you almost broke it, eight years and a half...ago. Dare not say that man forgets sooner than woman, that his love has an earlier death. I have loved none but you. Unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant. You alone have brought me to Bath. For you alone, I think and plan. Have you not seen this? Can you fail to have understood my wishes? I had not waited even these ten days, could I have read your feelings, as I think you must have penetrated mine. I can hardly write. I am every instant hearing something which overpowers me. You sink your voice, but I can distinguish the tones of that voice when they would be lost on others. Too good, too excellent creature! You do us justice, indeed. You do believe that there is true attachment and constancy among men. Believe it to be most fervent, most undeviating, in

F. W.

"I must go, uncertain of my fate; but I shall return hither, or follow your party, as soon as possible. A word, a look, will be enough to decide whether I enter your father's house this evening or never."

 

 

Quem pode resistir à melhor carta de amor jamais escrita?!


 

O meu Herói Favorito

 

Pois...

 

Fiz o jantar, arrumei a cozinha, tratei da roupa, e sempre a pensar no mesmo: " Mr Darcy ou Cap. Wenthwort??"

Concluindo: Não conclui nada. Não me consigo decidir entre estes dois personagens. Cada um à sua maneira encanta-me de uma forma particular.

 

No Mr Darcy aprecio a timidez, a elegância, a devoção aos seus, o amor que depois de assumido é firme e gentil. Aprecio ainda a forma como ele disfarça tudo isto com aquele jeito altivo e importante; é um gentleman no verdadeiro sentido da palavra. Demora um bocadinho a alcançar o evidente e até tenta negar os seus próprios sentimentos; só por isso fico com as minhas dúvidas e passo ao Cap. Wenthwort.

 

Ah! Captain, my captain! Meus Deus, aquela carta!! Que homem escreve uma carta daquelas?! Que homem devota tão grande amor a uma mulher mesmo passados oito anos de separação?? É quase inconcebível. Estou agora aqui a pensar: mas porquê ir embora e voltar passados oito anos? Porque não ficou e lutou por ela?? Tempos diferentes... Era necessária fortuna para desposar uma mulher da sociedade como o era Anne Elliot e insistir seria apenas para a fazer sofrer ou mesmo antagonizar-se com os familiares. Ele preferiu esperar e lutar da forma mais adequada. Conseguiu e voltou, apto a desposar qualquer mulher, e mesmo assim, escolheu-a a ela: uma mulher apagada, não muito bonita, tranquila de maneiras e feitio mas sobretudo ainda apaixonada por ele.

 

 

 

 

Capitão Wentworth

 

Persuasion_283

 

 

 

 

Os homens fardados atraem as atenções do sexo oposto, é uma atracção inexplicável, e no tempo de Jane Austen, também era assim, basta ver as atenções prestadas aos homens fardados das estórias de Jane.

Dizia-me uma vez uma colega que um homem estando fardado significa emprego, logo dinheiro, logo a possibilidade de casar. Mas eu não concordo eu acho que a atracção quase irresistível vem do facto de os homens fardados virem sempre rodeados de uma certa aura de heróis. Afinal enfrentam perigo no seu trabalho, mas ainda mais numa altura como a da Jane que existiam as guerras napoleónicas, o interesse e a excitação por estes homens aumentava consideravelmente.  

Se Frederick Wentworth fosse apenas mais um homem fardado num livro, com certeza que não valeria a pena escrever sobre ele. Mas ele é o herói do livro e ao contrário de outros não é o anti-herói que assume um duplo papel de herói e anti-herói, mas somente e apenas o herói. Desde o momento em que se fala dele, somos logo levados a vê-lo como alguém com bom carácter, integro, sendo o seu único problema a falta de dinheiro e de conhecimentos.

 

"... um jovem extraordinariamente simpático, dotado de grande inteligência, denodo e talento.."

".... um jovem que não tinha nada a recomendá-lo, além de ele próprio..."

".... O Capitão Wentworth não possuía fortuna...."

 

Contudo, Wentworth, apesar de todas as suas qualidades não é isento de defeitos, quando aparece em cena, trata de uma forma bastante fria Anne, mostra-se disponível para as irmãs Musgrove, levando quem os rodeia a supor um sentimento que não existe, afinal ele nunca esqueceu Anne. Estas pequenas faltas, não o tornam um monstro e acabam por lhe dar uma humanidade que poucos personagens de ficção conseguem ter. Wentworth é apenas um homem que amou e não esqueceu, ficou ferido por ser rejeitado, isso fê-lo criar ressentimentos, mas felizmente percebeu tudo isso e acabou por arriscar e conseguir ficar com a sua amada.

O melhor de Wentworth para uma mulher que leia o livro é mesmo isto: amou Anne e continou amá-la durante oito anos, provando uma constância que poucos homens reais são capazes.

 

 

 

"Oh Captain my Captain!"

 

 

A minha atenção, neste mês, está mais focada na querida Anne Elliot, no seu egocêntrico pai e na sua fria irmã. Contudo, não resisti ao impulso de colocar aqui este vídeo do actor Rupert Penry-Jones (vulgo Capitão Wentworth) a recitar um poema de John Keats.

 

Eu quando eu vi este vídeo só consegui me lembrar daquela frase de W. Whitman "Oh Captain my Captain"...