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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Em Defesa de Edward Ferrars

É um artigo longo, mas peço-vos que o leiam. Para muitas não será uma surpresa o que aqui está escrito, mas garanto que, para outras, ajudará a compreender melhor Edward Ferrars - como aconteceu comigo. E talvez Willoughby perca um pouco do encanto que deixou em nós.

 

Título Original: In Defense of Edward Ferrars
Retirado do site: JASA
Autor do Artigo: Bertha McKenzie, 21 Junho 2001
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 

 

Robin Ellis - 1971; Bosco Hogan - 1981

Hugh Grant - 1995; Dan Stevens - 2008



Edward é-nos apresentado pela autora como "ele não aparentava imediata simpatia por nenhuma graça peculiar da sua pessoa ou presença." Ele "não era bonito", e era desconfiado e tímido, embora a "sua compreensão fosse boa". Para Mrs. Dashwood, uma romântica, "a sua forma de estar tranquila... ia contra todas as suas ideias de como as maneiras de um jovem devem ser", embore tivesse a maior opinião sobre o seu bom carácter. Na linguagem da sensibilidade, isso significa que ele tinha benevolência e preocupação pelo outro e o bom julgamento que deve saltar do coração. Richardson utilizou adjectivos como amigável, inocente, digno e sensivel para descrever o bom coração de uma pessoa. Mas isto dificilmente é a descrição de um herói romântico, assim, é preciso perguntar porque é que Edward é descrito de forma tão sóbria e maçadora.

Rousseau, em "Confessions", desenvolveu uma doutrina a que se chamou "A Fantasia da Idade", que explica o seguinte, que uma sensibilidade delicada era acompanhada por uma superiodade de moral ou excelência. Esta ideia surge frequentemente em personagens de romances sentimentais da época, e foi profunda e brulescamente utilizada pela Jane Austen de 14 anos em Amor e Amizade de 1790, caracterizado por Brissenden como:

"um trabalho surpreendentemente bem conseguido, e apesar de ser breve, o melhor e mais aprofundado de todos o burlescos de ficção sentimental. Os heróis e as heroínas... são todos criaturas possuidoras da mais requintada sensibilidade e do egoísmo mais rude e sem escrúpulos... Uma indulgência excessiva na sensibilidade, ou uma fé cega na capacidade do homem seguir os dictâmes do seu coração, para agir de acordo com os seus melhores sentimentos, é insensato e digno de ser ridicularizado."

Por volta de 1810, quando Austen terminou Sensibilidade e Bom Senso, ela desenvolveu um subtil e convincente argumento contra esta doutrina, nas personagens de Edward e Willoughby. Para o leitor moderno, Edward, é um herói maçador. Porque é que ele, perguntamos nós, não diz, simplesmente, a Lucy, que mudou de opinião e que já não quer casar com ela. A resposta é a de que, na sociedade de Jane Austen, um cavalheiro de honra nunca falha à sua palavra.

Em Sir Charles Grandison de Samuel Richardson, um livro que Jane Austen conhecia bem, o herói tem um compromisso anterior com uma Senhora italiana. Quando, mais tarde, Grandison se apaixona por Harriet Byron, quem ele salvou de ser raptada, ela não pode, na sua honra de cavalheiro, quebrar o seu compromisso com Signorina Clementina. Jane Austen aproveitou a ideia de anterior compromisso de Richardson para Edward, de forma a demonstrar a sua superioridade moral. Este dilema seria bem apreciado pelos leitores e ambos, Grandison e Edward seriam, imediatamente reconhecidos como cavalheiros de honra.

Marianne "embora tendo a mais alta opinião quando à sua capacidade de julgamento e bom senso" decide que Edward não tem sensibilidade. (...) Ele não possui gosto verdadeiro porque não se sente atraido pela música e parece entender muito pouco de pintura. Ele lê frase de Cowper "que muitas vezes me deixaram sem fôlego" num tom sem qualquer emoção. Este julgamento diz muito mais sobre Marianne, e a permanência do conceito de sensibilidade, como era suposto, do que diz sobre Edward.

É por Elinor que temos uma verdadeira imagem do carácter de Edward. Ele tem "bom senso e bondade", uma excelente compreensão, bons princípios e valores sólidos. Possui uma mente bem informada, disfruta dos livros, tem uma imaginação viva e um gosto "delicado e puro". É um homem de honra que se comporta com reserva e circunspecção para com Elinor enquanto se encontra limitado pelo compromisso com Lucy Steele que só ela pode, honoravelmente, romper.

O comportamento de Edward e Willoughby é continuamente contrastante durante o decorrer do romance. A visita de Edward a Barton ocorre pouco depois da partida de Willoughby, para que possamos comparar o comportamento de Willoughby para com Marianne com o comportamento de Edward para com Elinor, depois de ela descobrir do compromisso com Lucy Steele (...).

As circuntâncias dos dois homens, no que toca ao pensamento sobre casamento, são igualmente contrastantes. Willoughby é independente, com uma propriedade em Somersetshire avaliada em £600-£700 ao ano, uma soma adequada para um casal se poder casar naquele tempo, embora, caso Mrs. Smith cortasse a sua renda, isso não teria impedido Willoughby de continuar a viver de forma gastadora. Ele teria de desistir da caça e criação de cavalos, e provavelmente, não poderia manter nem uma carruagem. Embora Willoughby diga, mais tarde, que tinha intenção de pedir Marianne em casamento, ele prefere, ainda assim, despodar uma herdeira com £50,000.

Edward, por sua vez, está totalmente dependente da sua mãe. Quando ela o deserda, ele tem uma renda de apenas £100 ao ano, escasso o suficente para o manter a ele mesmo, e para mais, a sua mãe ameaça-o de que fará os possíveis para que ele não consiga um adiantamento seja qual for a profissão que escolha. Jane Austen mostra claramente o comportamento de Edward como completamente honorável nas suas circunstâncias, em contraste com o de Willoughby, que está adequadamente fornecido para fazer livre escolhas.

o resgate de Marianne é deliberadamente romântico, embora num romance romântico da época o resgate seria, provavelmente, consequência de uma tentativa de rapto. Ele é primeiramente apresentado como "incomumente bonito", com "maneiras graciosas e francas" e com "uma juventude e elegância". Para Marianne "a sua pessoa e ar eram iguais aos heróis que ela imaginara na sua história preferida". Tudo o que Marianne ouve de Willoughby, que é, de facto, muito pouco, alimenta a sua imaginação romântica enquanto o seu comportamento dele faz o resto. A linguagem cuidadosa de Jane Austen deixa claro que Willoughby se adapta rapidamente a todos os românticos amores e estusiasmos de Marianne, e serve-se do seu charme natural e vivacidade para conquistar o seu amor sem ter sérias intenções de se casar com ela.

O autor diz-nos que "nada poderia ser mais expresso do que a existência de um compromisso entre eles do que o comportamento de Willoughby. Para Marianne tinha toda a ternura e distinção que um coração apaixonado poderia dar, e para com o resto da família, ela a atenção afectuosa de um filho e de um irmão". Mrs. Dashwood diz a Elinor "Não tem o seu comportamento para com Marianne e todas nós, nos últimos quinze dias, declarado de que ele a ama e a considera como sua futura mulher?". Marianne, ela própria diz, depois da carta de rejeição de Willoughby, "Eu senti-me solenemente comprometida com ele, como se uma convenção legal nos tivesse ligado". O mesmo sucede com o Capitão Wentworth, com muito menos razão, quando se encontra numa situação parecida com Louisa, ele sentiu-se obrigado, por via da honra, a pedir-lhe a mão se ela assim o desejasse.

Willoughby é o herói romântico da imaginação de Marianne, bonito, prestável, e com uma aparente sensibilidade. Pelo menos ele tem, ou finge que tem, os atributos que servem para indicar sensibilidade: fogo, ânsia, vivacidade, entusiasmo, amor pela música e poesia romântica, rapidez de pensamento...e por aí em diante. Mas ele não tem sentido de honra ou de obrigação perante os outros pelo seu comportamento egoísta. A opinião de Elinor sobre ele é a de que ela não poderia acreditar que ele era capaz "de estar tão afastado da aparência de todo o sentimento honorável e delicado - pelo menos tão afastado do comum decoro de um cavalheiro. (...)

Edward não tem nada da aparência ou charme romântico de Willoughby, para mais, é tímido e estranho quando vai a Barton para pedir a mão de Elinor. Mas ainda assim, ele tem gosto e imaginação, possui bom senso e compreensão. Ele é um homem da maior integridade e um cavalheiro de honra. (...)

Sensibilidade e Bom Senso não é apenas sobre o bom senso de Elinor e a sensibilidade de Marianne, é também sobre a absurda associação da moral com sensibilidade ou a falta dela, e enquanto o leitor moderno, estando longe da sociedade de Jane Austen, pode não conseguir ver Edward como um herói romântico, temos de admitir que ele é um homem íntegro e honorável e que está em contraste directo com Willoughby, que não possui uma coisa nem outra.

Jane Austen e Uma Outra Educação

Vi recentemente o filme "Uma Outra Educação" que valeu a Carey Mulligan a nomeação para Oscar de Melhor Actriz. Gostei muitíssimo do filme e foi um prazer encontrar uma série de caras conhecidas das adaptações das obras de Jane Austen neste filme.

 

 

  • Emma Thompson que interpretou Elinor Dashwood em Sensibilidade e Bom Senso (1995)
  • Rosamund Pike que interpretou Jane Bennet em Orgulho e Preconceito (2005)
  • Dominic Cooper que interpretou john Willoughby em Sensibilidade e Bom Senso (2008)
  • Carey Mulligan que interpretou Kitty Bennet em Orgulho e Preconceito (2005) e Isabella Thorpe em Abadia de Northanger (2007)

Destinados a Jane Austen

Há uma série de actrizes e actores que já interpretaram várias personagens nas diversas adaptações das obras de Jane Austen. Aqui deixo uma pequena lista.

 

Sylvestra Le Touzel

  • Fanny Price - O Parque de Mansfield 1983
  • Mrs. Allen - Abadia de Northanger 2007

 

Diana Fairfax

  • Emma Woodhouse - Emma 1972
  • Mrs. Dashwood - Sensibilidade e Bom Senso 1981

 
 

Carey Mulligan

  • Kitty Bennet - Orgulho e Preconceito 2005
  • Isabella Thorpe - Abadia de Northanger 2007

 

 

Irene Richard

  • Elinor Dashwood - Sensibilidade e Bom Senso 1981
  • Charlotte Lucas - Orgulho e Preconceito 1980

 

Jonny Lee Miller

  • William Price Criança - O Parque de Mansfield 1983
  • Edmund Bertram - O Parque de Mansfield 1999
  • George Knightley - Emma 2009

   

 

Blake Ritson

  • Edmund Bertram - O Parque de Mansfield 2007
  • Mr. Elton - Emma 2009

 

Os Pais em Jane Austen (I)

General Tilney

 

General Tilney é o pai de Eleanor, Frederick e Henry Tilney no romance "Abadia de Northanger". É o protótipo do "pai tirano" presente neste romance para enfatizar a paródia ao gótico que Austen pretende fazer - todo o romance gótico precisa de um bom vilão.

Dentro dos romances de Jane Austen, em que a autora faz, maioritariamente dos pais bons carácteres, este é a excepção.

 

 

General Tilney (Robert Hardy) 1986

 

Li no blogue Jane Austen's Today que a personagem do General Tilney foi baseado num familiar de Jane Austen na realidade - o General Edward Mathew, o sogro do irmão mais velho de Jane Austen, James Austen.

 

 

General Tilney (Robert Hardy) 1986

 

Este General (verdadeiro) serviu no Exército com a Guarda Coldstream na Europa, na Guerra da Independência Americana e foi Governador de Grenada nos seus últimos dez anos de serviço. Reformou-se e foi viver para o campo onde residiu numa Mansão em Laverstoke, perto de Steventon onde a família Austen residiu. As semelhanças com o General Tilney levam-nos a acreditar que ele foi a inspiração para a criação desta personagem.

 

 

General Tilney (Liam Cunningham) 2007

 

No romance, Catherine Morland, faz de General Tilney um assassino. E por momentos, leva-nos a acreditar nisso também. Vemos nele tudo o que um bom vilão deve ser: despótico, arrogante, irrascível e tirano!

 

 

General Tilney (Liam Cunningham) 2007

 

A última passagem do livro aponta-nos para General Tilney: "Eu deixo ao critério, para aqueles que desejarem, se a tendência deste romance é, no seu todo, para recomendar tirania parental ou para recompensar desobediência filial".

Mr. Palmer e Mr. Bennet

Thomas Palmer (personagem de Sensibilidade e Bom Senso), marido de Charlotte Palmer é deputado e caracteriza-se por ser antipático e rude e bastante cínico. Vejo-o como uma versão mais nova de Mr. Bennet, porque tal como o último, está casado com uma mulher que fala pelos cotovelos e que revela muita superficialidade.

 

E a vocês, faz algum sentido a minha conexão entre Mr. Bennet e Mr. Palmer?

 

 

Hugh Laurie (Mr. Palmer - Sensibilidade e Bom Senso 95) Benjamin Whitrow (Mr. Bennet - Orgulho e Preconceito 95)

John Willoughby

John Willoughby é o protótipo do Herói. Mas em Sensibilidade e Bom Senso, transforma-se num Não-Herói.

 

John Willoughby é a eterna paixão de Marianne Dashwood. Apenas conhecemos uma parente sua Mrs. Smith, uma tia muito rica. Mais tarde, acaba por casar com Miss Grey uma mulher com bastante riqueza.

 

John Willoughby tem a oportunidade de se tornar num verdadeiro herói, como Henry Tilney, abdicando de toda a seua herança e fortuna para casar com o seu verdadeiro amor - Marianne Dashwood. Mas escolhe a herança, o dinheiro.

 

Tem semelhanças com Mr. Wickham, embora acrescente mais valor ao seu carácter que o último, uma vez que demonstra arrependimento. E é por isso que lhe dou relevo, porque não sendo o grande herói de Sensibilidade e Bom Senso consegue fazer parte do nosso rol de heróis.

 

Existe um livro que conta a sua história: "Willoughby's Return" de Jane Odiwe.

 

 

No grande ecrã, foram estes actores que lhe deram corpo:

 

  • Clive Francis (1971)

  • Peter Woodward (1980)

  • Greg Wise (1995)

  • Dominic Cooper (2008)

Edward Ferrars

 

Edward Ferrars é um dos heróis de Sensibilidade e Bom Senso. É o filho mais velho da família Ferrars, tem um irmão - Robert Ferrars e uma irmã - Fanny Dashwood, casada com o meio-irmão das irmãs Dashwood.


É descrito no livro como não sendo particularmente bonito, cujas maneiras precisavam de intimidade para poderem ser chamadas de "agradáveis". Mas depois de ultrapassar a sua timidez natural, o seu comportamento dava sinais de um coração aberto e cheio de afecto.


Edward Ferrars, é uma personagem capaz de pôr em causa a sua felicidade com Elinor por causa de uma promessa feita anteriormente, mas cujos laços são frágeis. Mas até que ponto isto é uma prova de amor?


Nunca compreendi muito bem esta atitude, e isso sempre me deixou de pé atrás com Edward Ferrars, ser fiel à palavra é uma coisa, ligar-se a uma pessoa sem ter qualquer laço que as unisse, simplesmente por uma promessa feita ingenuamente na juventude, parece-me estupidez e uma lacuna no seu carácter.


É um personagem complicado, com um carácter muito introspectivo e demasiado tímido. Semelhante à aparente frieza de atitude de Elinor embora se torne adorável nas partes em que o vemos mais íntimo com a família Dashwood.

 

Não encontrei nenhum livro que nos contasse a versão da história de Edward Ferrars, seria interesante.


No grande ecrã, Edward Ferrars foi interpretado por:

 

  • Robin Ellis (1971)

  • Bosco Hogan (1980)

  • Hugh Grant (1995)

  • Dan Stevens (2008)

George Knightley

George Knightley é o herói no livro "Emma".

Confesso que é o meu personagem masculino preferido de todas as obras de Jane Austen. Alia na sua personalidade, uma grande capacidade de avalição de carácter, uma justeza monumental e um humor muito irónico.


Mr. Knightley é um grande amigo de Emma, embora a sua diferença de idades seja de dezassete anos. Para além de grande amigo faz parte da família uma vez que o seu irmão é casado com a irmã de Emma, Isabella.

A troca de argumentos entre ele e Emma, são dos momentos mais altos da obra e por isso, os mais interessantes. Knightley parece ser o único capaz de confrontar Emma das suas falhas, de a persuadir a melhorar, o que demonstra grande estima.


Mr. Knightley é um solitário na sua mansão de Donwell. É um verdadeiro "gentleman", faz lembrar Darcy, mas sem a quantidade exacerbada de orgulho.


A relação entre ele e Emma parace ser uma grande amizade mas não mais do que isso. Só descobre a sua grande paixão por Emma quando supõe que existe uma relação entre ela e Frank Churchill. Só quando sente ciúmes é que descobre os seus próprios sentimentos. E o mesmo acontece com Emma, o que não deixa de ser curioso.

 

Existem três livros que contam a história de Mr. Knightley: "Mr. Knightley's Diary" de Amanda Grange; "Emma e Knightley: Perfect Hapiness in Highbury" de Rachel Billington e "George Knightley Esquire" de Barbara Cornthwaite.

 

 

George Knightley foi levado para os ecrãs com os actores:

 

  • John Carson (1972)

  • Jeremy Northam (1996)

  • Mark Strong (1996)

  • Jonny Lee Miller (2009)