Jane & Julia: As Rainhas do Romance separadas por dois séculos
Like most authors writing in my time period, I worship at the altar of Jane Austen, and while I do not credit her with the birth of the modern romance novel (what she did and what I do are far too dissimilar for that), she must be acknowledged as the genre's most vital and influential ancestor.
Julia Quinn, Comentário na nova edição da Signet Classics de Mansfield Park
Jill Barnett, autora de romances históricos, disse em certa ocasião (que infelizmente não consegui averiguar qual) que “Julia Quinn é a Jane Austen da actualidade”. Ora, esta é uma daquelas citações de peso que ficam bem em qualquer capa de um livro. Contudo, ao contrário de muitas que fazem comparações infundadas, esta é uma daquelas que reflecte a realidade - MAS de que maneira?
Apesar da própria Julia constatar o quão diferentes são os seus livros dos de Austen no seu comentário introdutório a Mansfield Park, a verdade é que a autora da série Bridgerton é a que mais se aproxima do espírito da amada autora inglesa, aquela cujo sarcasmo e crítica, juntamente com o romantismo de fazer suspirar os corações mais duros, permitiu às leitoras da actualidade encontrar histórias que se pudessem comparar ou que se aproximassem das incomparáveis obras de Jane. Tal como várias autoras suas contemporâneas, Julia foi influenciada por Austen em vários aspectos, sendo aquela que mais semelhanças acaba por ter com ela, semelhanças essas que vão desde coisas gerais como a época dos seus romances ao próprio estilo da autora. Será então a comparação justificável? Pode-se dizer que Quinn é a Austen do nosso tempo?
A Época e a Crítica que lhe é feita
Uma das grandes influências que a autora de Orgulho e Preconceito teve nas autoras de romances históricos de hoje, incluindo em Julia Quinn, foi o retrato da época em que viveu. Não é por acaso que a maioria dos livros do género se passa na Era da Regência, nome dado ao período de 1811 a 1820, quando o futuro George IV governou como Príncipe Regente, e que ficou marcada por múltiplas mudanças políticas, sociais e económicas, pelos excessos dos aristocratas, pelas Guerras Napoleónicas e pelo medo de que a Revolução Francesa tivesse repercussões no povo britânico. Foi também conhecida como uma época em que as artes e a arquitectura foram refinadas e a cultura alcançou grandes conquistas, tendo existido grandes mudanças na estrutura social britânica. Fazendo parte do Período Georgiano, a Regência é conhecida como a época que antecedeu o Vitorianismo.
Ora Jane, nascida em 1775, morreu em plena Regência, e os seus romances são quadros reais e vívidos da sua época, bem como críticas sociais a um determinado grupo social da hierarquia britânica. Onde é que isto se nota nos romances de Quinn? Tendo como exemplo a série Bridgerton, que se passa entre 1813 e 1827, abarcando assim o período da Regência e já o reinado de George IV, pode-se dizer que a autora americana, para lá de apresentar histórias românticas, apresenta também uma certa crítica social, como se pode ver pelas crónicas de Lady Whistledown que se apresentam no início de cada capítulo dos livros desta série. Estas crónicas, cheias de sarcasmo e que relembram algumas tiradas mais irónicas de Jane, servem para nos apresentar a sociedade em que as personagens se movem, os excessos, as relações entre si, os meios como os aristocratas se evidenciam - que também podem ser notadas através de algumas personagens, que pelos seus defeitos ou qualidades, representam o pior e o melhor da sociedade da Regência.
Enquanto a autora inglesa evidenciava nos seus romances a burguesia (comerciantes, maioritariamente párocos) e, por vezes, uma pequena aristocracia, a autora americana, muito ao contrário da maioria das autoras de romance histórico, escreve sobre a pequena aristocracia, sendo a família principal da série Bridgerton uma família importante no meio da sociedade londrina e com alguma influência; no entanto, em termos de hierarquia social, pertence à pequena aristocracia pois o título visconde, utilizado pelo chefe de família, é de pouca importância e bastante banal. Apesar de cada uma preferir um estrato diferente, Jane porque era aquele em que vivia e que melhor conhecia, Julia porque é mais fácil e menos propício a dar erros ou grandes asneiras, a verdade é que ambos se aproximam de alguma forma e essa é uma das parecenças que Julia partilha com Jane que a maioria das autoras não.
A crítica social é de facto mais acutilante em Austen do que em Quinn, no entanto, pode-se dizer que mais nenhuma autora da actualidade demonstrou conhecer ou importar-se tanto com os defeitos da sociedade da Regência como Quinn, já que não só na série Bridgerton isto acontece. Também no romance The Secret Diaries of Miss Miranda Cheever, por exemplo, é feitaessa demonstração dos defeitos da sociedade dessa época, prova que, propositadamente ou não, Julia Quinn não esquece os defeitos desta sociedade, bem presentes na obra de Austen.
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Estilos de Escrita e Enredos
Como a ironia está presente em ambas as autoras; o que torna os romances de ambas tão especiais para as leitoras; como as personagens de mais elevada moral são beneficiadas e os vilões sempre castigados de alguma forma; a superação e aceitação dos defeitos das partes do casal protagonista; a dinâmica entre eles; como o romance apesar dos obstáculos acaba sempre por chegar a um final feliz; as relações familiares
Texto escrito pela Patricia do blogue Chaise Longue
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