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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Leitura Comparada e um Lançamento #2

Já notaram que o blogue Jane Austen em Português da Raquel Sallaberry Brião tem uma nova imagem?


 

 

 

 

 

Esta nova imagem surge a propósito do aniversário do seu blogue (que será dia 21 de Junho) e do lançamento da edição de luxo ilustrada de Razão e Sentimento, tradução de Ivo Barroso (Editora Nova Fronteira). Como podem constatar o Jane Austen em Português ganhou um ar minimalista, clean e elegante. Eu adorei!

 

A Raquel está em clima de comemoração e tem todos os motivos para isso! O trabalho que desenvolve no Jane Austen em Português, no Lendo Jane Austen e no Bibllioteca Jane Austen é uma referência para todos que amam a escritora Jane Austen. O lançamento de Razão e Sentimento ilustrado é um resultado concreto desta dedicação em prol da paixão por Jane Austen e pelos livros.

Por estas e por muitas mais razões, minha querida Raquel, quero dizer-te publicamente: Parabéns!!

Leitura Comparada e um Lançamento

 

 

Os mais atentos terão notado que no Desafio do Bicentenário da Leitura Comparada de "Sense and Sensibility" de Jane Austen nas traduções: “Sensibilidade e Bom Senso”  (Maria Luísa Ferreira da Costa) e “Razão e Sentimento” (Ivo Barroso) - feita pela Raquel Sallaberry e por mim - ainda falta uma terceira parte para a sua conclusão. 

 

A Leitura Comparada passou por uma pausa. A vida está submetida a um imperativo de imprevisibilidade e levou-nos a caminhar por outras paragens.  Durante algum tempo, nós duas - cada uma no seu respectivo lado do oceano -  envolvemo-nos em outras actividades e ocupações; mas, agora retomamos o rumo.

 

A nossa querida Raquel Salaberry, do Jane Austen em Português, abraçou um projecto que fará a felicidade de todas a Janeites: uma edição de luxo, de capa dura, ilustrada de Razão e Sentimento, tradução de Ivo Barroso (Editora Nova Fronteira). A própria Raquel escreve no livro "a história da composição do livro" - refere o poeta e tradutor Ivo Barroso no seu blogue.

 

Diante da importância deste lançamento, decidimos esperar pela sua concretização para publicarmos a terceira parte da Leitura Comparada. Temos esperança que seja em breve; por isso, estejam atentos!

 

Deixo-vos a imagem da capa do livro. Linda e delicada. 

 

Ilustrações

 

 

Quem serão estes dois? Foi através do Jane Austen Today que descobri esta ilustração maravilhosa que partilho aqui. Uma pista é do meu vilão preferido....Para quem não sabe é o Willoughby, o único que nunca consegui odiar apesar de todas as infâmias que comete.

A autoria pertence a Liz Monahan e podem ver os seus trabalhos e eventualmente comprá-los aqui

As Figuras Maternas em Sensibilidade e Bom Senso - Mrs Dashwood

Mrs Dashwood é uma figura muito materna, no sentido em que apoia as suas filhas e quer vê-las, acima de tudo, felizes, não obstante na época as mulheres dependerem essencialmente de um casamento financeiramente estável quando afastadas da linha de sucessão, como era o caso. Trata-se de uma figura excessivamente romântica. Para ela, a felicidade é um estado e quando encontrava razões para ser feliz, obstáculo algum parecia fazer sentido; já quando a tristeza dominava o seu ser, a angústia tomava conta de tudo. O exagero romântico é, por assim dizer, o seu selo que encontra eco em Marianne.

 

Por isso, a falha de Mrs Dashwood está exactamente no facto de ser pouco racional e de não conseguir esconder os seus sentimentos o suficiente para não causar preocupações às suas filhas, sendo que, no caso de Marianne, a compreensão é desmedida; mas, no caso de Elinor, é a preocupação que constitui e marca o seu dia-a-dia. Assim, se por um lado, Mrs Dashwood, é uma boa mãe; por outro, é negligente, porquanto deixa para a sua filha de dezanove anos a responsabilidade de uma casa de um orçamento que lhe caberia a si gerir. É certo que acaba de perder o seu marido e a sua casa, mas as suas filhas acabam de perder o pai e também o seu lar. A única referência que lhes resta é a mãe que, para mim, e em concreto neste ponto, não esteve inteiramente à altura das exigências da situação.

 

No entanto, e corroborando o que no início ficou dito, Mrs Dashwood é uma mãe preocupada com o bem-estar e a felicidade das suas filhas, demonstrando-o através da preocupação em saber quem era Mr. Willoughby ou quando Marianne adoece. Com tal, pode dizer-se que o "pecado" do romantismo que domina a sua personalidade é aceitável.

Figuras maternas em Sensibilidade e Bom Senso - Mrs Jennings

Mrs Jennings é uma personagem controversa porquanto é capaz de produzir no leitor sentimentos opostos: tanto gostamos das suas iniciativas e bondade com as meninas Dashwwod, como dificilmente lhe perdoamos as confusões que arranja pela sua falta de cuidado com o que ouve e o que diz.

 

No entanto, ninguém poderá colocar em questão os seus bons esforços no sentido de ser boa mãe, sendo que, naquele tempo, isso passaria, entre outras coisas, por arranjar um bom casamento para as filhas. Tendo isto em conta, sabemos que não se saiu mal, mesmo no caso de Mrs Palmer em que boa parte da falta de virtude naquele casamento se deve a ambos. No que respeita ao amparo das filhas quando estas dão à luz, nota-se, por parte de Mrs Jennings, que a sua presença e apoio são os de uma verdadeira mãe que pretende estar ao lado das filhas nesses momentos. 

 

Mrs Jennings é uma mulher bondosa que acolhe as meninas Dashwood como suas filhas, fazendo por elas tanto quanto faria pelas suas filhas. A sua preocupação genuína pelo bem estar das irmãs Dashwood suplanta a sua, por vezes grande, inconveniência. A sua falta de perspicácia é, assim, desculpada pela sua vontade de alegrar e fazer bem às duas irmãs. Isso é notório ao longo do romance, desde o convite que faz a Elinor para a acompanhar a Londres, incluindo Marianne para que a primeira não se sinta só; desde todas as atenções e cuidados que dispensa a Marianne em Londres e aquando a sua doença. É incansável em tudo o que está ao seu alcance cognitivo e material.

 

As Miss Dashwood não tinham razões para estarem descontentes com o tipo de vida e conhecimentos de Mrs Jennings, nem com o seu comportamento para com elas, que era sempre simpático. Todos os seus convidados eram escolhidos segundo um plano mais liberal  possível, e com excepção de alguns velhos amigos da cidade, que para desgosto de Lady Middleton ela jamais abandonaria, nunca visitava ninguém cuja apresentação pudesse de algum modo perturbar os sentimentos das suas jovens companheiras.

(...)

 

Elinor fez justiça à bondade de Mrs Jennings, apesar de as suas efusões serem frequentemente perturbadoras e às vezes muito ridículas; reconheceu-lhe e agradeceu-lhe todas as suas amabilidades, que a sua irmã não poderia reconhecer pessoalmente. A sua boa amiga viu que Marianne estava infeliz e sentiu que tudo o que a pudesse pôr melhor deveria  ser feito. Portanto, tratou-a com toda a indulgência de uma mãe para com o seu filho preferido no último dia de férias. (...) Se soubesse de alguma coisa que ela gostasse, procurá-la-ia por toda a cidade.

 

Em suma, Mrs Jennings é uma verdadeira figura materna para as duas irmãs na ausência da sua verdadeira mãe.

 

Coronel Brandon em Sensibilidade e Bom Senso

O coronel Brandon é a minha personagem favorita em Sensibilidade e Bom Senso. Sinto uma natural simpatia por este homem sensível, genuíno, tímido e doce. A sua personagem cativou-me desde a primeira leitura. Não consigo gostar menos dele apesar de ser apresentado como velho solteirão por ter passado dos trinta e cinco anos ou por ser calado e sério. Para mim, ele é o oposto de Willoughby no que respeita às mulheres. Mas não só. A sua sensibilidade e as suas qualidades humanas transparecem em várias ocasiões e a sua generosidade é dirigida para aqueles que mais necessitam dela, como é o caso de Mr. Ferrars depois de ser deserdado pela sua mãe. Atrevo-me a dizer que ele é o verdadeiro herói desta trama romântica. Edward Ferrars é um ser apagado quando comparado com a verticalidade e maturidade do coronel. Quanto a Willoughby, muito haveria que limar o seu carácter para ser comparado com o coronel Brandon.

 

De todos os novos conhecimentos, apenas o Coronel Brandon, segundo Elinor, era uma pessoa que sob algum aspecto poderia merecer respeito pela sua inteligência, criar o interesse da amizade ou dar prazer como companheiro. Willoughby estava fora de questão.

 

(...) Contudo, a frase que enunciara foi prosseguida imediatamente pelo coronel Brandon, sempre atento aos sentimentos dos outros, e todos falaram muito sobre a chuva (...).

 

O coronel Brandon é um personagem que mesmo ausente, deixa no ar a sua presença porque quando regressa parece estar a par de tudo ou chega sempre no momento mais indicado, ainda que assim não o pareça a outros. É um verdadeiro amigo do seu amigo e ama incondicionalmente Marianne. É um gentleman apaixonado. Pelo que fica dito, é fácil apreciar este personagem.

 

Este é um tema que sai fora de todos os que estão a ser tratados agora no blogue, mas tendo lido recentemente a obra, mais uma vez, não pude deixar passar mais tempo sem falar nele, sob pena de o menosprezar, ainda que sem intenção.

 

 

1º Sessão do Clube de Leitura no Porto

 

 

 

 

Ontem tivemos a primeira sessão do clube de leitura Jane Austen, aqui no Porto.

A sessão começou com uma breve apresentação do nosso blogue e breve referência à vida e obra de Jane Austen. Após a apresentação das moderadoras e dos participantes do clube, a sessão teve inicio verdadeiramente.

 

Este mês o livro em discussão foi Sensibilidade e Bom Senso, o primeiro que Jane Austen publicou, embora não o primeiro que escreveu. A sessão teve a moderação da Cátia e da Marina.

A conversa fluiu de forma bastante agradável e ao longo da mesma foram levantados pontos interessantes e pertinentes. Como seria de esperar também acabamos por mencionar outras obras de Jane Austen, bem como as adaptações de Sensibilidade e Bom Senso.

Elinor, como não podia deixar de ser, foi muito elogiada pela sua forma de ser e pela forma como aguenta tudo de uma forma bastante heróica.

Marianne suscitou o mesmo consenso que parece persegui-la sempre: não passa de uma rapariga romântica e que exagera tudo, embora possa ser admirada pela sua frontalidade.

Uma das participantes considerou que Elinor era a verdadeira protagonista e a força motora do livro e que Marianne apenas servia para realça-la ainda mais.

 

Uma coisa em que concordamos, ainda antes da sessão começar e enquanto conversávamos, foi que Edward era um verdadeiro morcão como se diz aqui no Porto. Em termos mais literários, diríamos que a sua personagem é um tanto ou quanto insossa; se repararem ele apenas fala quando as Dashwood dizem que vão mudar para Barton, toda a sua caracterização é feita de forma indirecta. A verdade é que Edward apenas se decide a fazer alguma coisa por si mesmo, no fim, quando é destituído pela sua mãe da sua fortuna.

 

Lucy e a sua conversa com Elinor, onde revela um segredo tão grande a uma pessoa desconhecida, foi visto como uma forma de marcar território. A Lucy, é uma personagem que tem como o objectivo fazer carreira pelo casamento. Um bom pretexto para falarmos o quanto a mulher dependia do casamento e como este era quase a única carreira disponível. Lembramo-nos de Miss Bates, de Emma e do quanto a sua posição social era delicada e dependia dos outros, por ser solteira.

 

Willoughby apontado como o vilão de Sensibilidade e Bom Senso, acabou por merecer uma leitura de um pequeno trecho do livro, onde se explica todo o seu caracter. Willoughby não pode ser perdoado por aquilo que faz a Eliza, e aqui percebemos como socialmente a mulher parece ser sempre a vítima da sociedade. A perda da honra era algo muito grave naquela altura e este livro parece reflectir isso mesmo, Jane foi ousada ao escrever sobre tal assunto.

Apesar de terem sido apontados como vilões, Lucy e Willoughby são apenas interesseiros e se quisermos um vilão ou melhor uma vilã para este livro, a escolha iria para Fanny Dashwood, que realmente tenta prejudicar as suas cunhadas, o seu marido bem que podia ser melhor se não tivesse casado com ela.

 

O livro não estaria completo sem Mrs. Dashowod, Mrs Jennings, os Middletons, o Coronel Brandon, os Palmers e Margaret.

Mrs. Jennings foi apontada como uma quase segunda mãe para Elinor e Marianne. Mrs Dashwood uma mulher que sofre com a perda do marido e de estatuto e é um pouco negligente com as filhas.

O Coronel um personagem melancólico que sofre com o passado. Mr. Palmer um homem sarcástico, mas que até trata bem as Dashwood e a sua esposa sempre a dizer que ele é muito divertido. Margaret a irmã que parece não ter muita serventia na obra.

Por fim os Middletons, que acolhem a família dando-lhes uma casa para viver e lhe proporcionam muitos divertimentos.

Uma discussão sobre uma obra de Jane Austen nunca estaria completa sem a referência à actualidade da sua obra, ao seu sentido de humor, à ironia que utiliza e a forma como retrata a sociedade e as questões do casamento da importância do dinheiro.

 

Mais que estórias de amor, mais do que uma família que perde o seu estatuto, Sensibilidade e Bom Senso é sobretudo uma estória sobre mulheres. A mulher que busca a estabilidade através do casamento, Lucy Steele; a mulher que casou há pouco tempo e foi mãe recentemente, Mrs. Palmer; a mulher já casada e estabelecida, Lady Middleton; a mulher que já casou as suas filhas e tenta arranjar casamentos para as outras raparigas solteiras, Mrs. Jennings, a mulher que casou, mais ainda é dependente da mãe e não gosta da família do seu marido, Fanny Dashwood; a mulher que ainda não é mulher mas também não é criança, Margaret, a mulher viúva e as adversidades que enfrenta por causa dessa condição, Mrs Dashwood, e por fim as mulheres que procuram o amor e não apenas o casamento de conveniência, Elinor e Marianne.

 

Em meu nome e das minhas colegas do Porto, agradecemos a simpatia e disponibilidade dos funcionários da Betrand do Dolce Vita.

Versões de Mrs. Dashwood

 Mrs. Dashwood (versão 1995 e 2008)

 

  

Gemma Jones (Sensibilidade e Bom Senso 1995) e Janet McTeer (Sensibilidade e Bom Senso 2008) 

 

Ambas são excelentes actrizes, não restam dúvidas. Durante muito tempo tive dificuldades de entender qual delas teria feito uma melhor abordagem de Mrs. Dashwood. Quando olho para Janet McTeer, a sua Mrs. Dashwood convence-me mais no sentido de transmitir a imagem de uma grande senhora, dona de Norland e a estranheza de ser despojada da mesma. Neste aspecto convence-me mais do Gemma Jones. Na interpretação destaa não sentimos tanto esta queda de estatuto, nem ela própria parece ser a grande senhora de Norland. Contudo, Gemma Jones transmite mais a tristeza e alheamento do luto do que Janet McTeer. Aliás, a dada altura Janet McTeer não parece sequer uma viúva. 

No papel de mãe, ambas fazem um papel bom mas acho que Gemma Jones tem aquele ar mais alheado que imagino em Mrs. Dashwood.