Elinor Dashwood possui uma enorme condescendência e paciência. Ela atura e suporta com a maior das naturalidades qualquer carácter. Não possui a impertinência de Emma ou a ousadia de uma Lizzie ou mesmo o atrevimento da própria irmã, Marianne... Não, em sociedade Elinor trata todos de forma plácida, suportanto os comentários mais atrozes e injustos e nunca se subjugando, mantendo sempre uma "irritante" dignidade que deixa cair por terra toda e qualquer observação menos própria vinda de uma Mrs. Jennings ou um comentário a roçar o insulto vindo de Mrs. Ferrars ou de Fanny Dashwood.
Ao contrário de muitas das outras heroínas de Austen, Elinor sabe agir em sociedade sem provocar tumultos, sem gerar atritos; a Elinor é impossível apontar uma falha, todas as intrigas que se geram em torno dela são provocadas pela simples e odiosa inveja, não há um defeito nela aos olhos dos outros e por isso, servem-se da sua falta de dinheiro para a diminuir porque só por aí conseguem justificação - claro exemplo disso são Mrs. Ferrars e Fanny Dashwood que coitadas, a única coisa que têm em seu abono é, de facto, a fortuna, tudo o resto é mau e sem valor, daí que se agarrem tanto à sua fortuna, a única coisa que lhes pode trazer alguma importância ainda que falsa e descartável. A importância de Elinor está, em contraponto, no seu carácter forte, inabalável, determinado, na sua humildade e na sua bondade.
Elinor não é totalmente indiferente aos comentários malévolos da futura sogra e cunhada, sabemos que a magoam, mas ela sabe como ultrapassá-los, dar a volta por cima e por isso as trata com uma indiferença superior e educada que me fazem regozijar enquanto leio certas passagens. Elinor é, tanto em carácter como em inteligência, superior a qualquer uma delas e por isso é ela quem se ri no fim. Nela não há contradições, a sua conduta é regular e constante e é isso que a torna tão sublime aos meus olhos, tomando conta do lugar cimeiro nas minhas preferências em relação às heroínas de Jane Austen. Elinor é fiel a si própria, não age com subterfúgios, não se serve do cinismo para conquistar amizades, ela age em sociedade com naturalidade, sem impulsos, porque sabe avaliar, à partida, os bons e os menos bons caracteres, respondendo a todos à altura das circunstâncias. É de certa forma a sua estoicidade (aparente) que me cativa e é pela profundidade dos seus sentimentos que eu me apaixono.
Elinor Dashwood, geralmente associada ao lado de "Bom Senso" do título da obra, é a irmã mais velha de Sensibilidade e Bom Senso. Com apenas 19 anos, Elinor é detentora de uma personalidade terrivelmente sensata, realista e razoável. Por tudo isso, sinto uma forte empatia e admração pelo seu carácter.
"Elinor, this eldest daughter whose advice was so effectual, possessed a strength of understanding, and coolness of judgment, which qualified her, though only nineteen, to be the counsellor of her mother, and enabled her frequently to counteract, to the advantage of them all, that eagerness of mind in Mrs. Dashwood which must generally have led to imprudence. She had an excellent heart; her disposition was affectionate, and her feelings were strong: but she knew how to govern them: it was a knowledge which her mother had yet to learn, and which one of her sisters had resolved never to be taught."
Ao longo da história habituamo-nos à aparente crueza com que lida com tudo. Personagem com pés mais assentes na terra, creio que não existe, pelo menos no universo de Jane Austen. Elinor julga correctamente as acções e atitudes das restantes personagens, possui uma maturidade tremenda e uma consciência abismal. Menospreza-se demasiado. Considera que os seus sentimentos apenas servem para afligir os outros e por isso, cala-os e envolve-os numa redoma de vidro colocando sobre si uma máscara de bem-estar ou de "tudo vai correr bem". Nada parece deitá-la abaixo, nada faz com que fraqueje, Elinor permanece firme contra todas as tormentas e é nela, que todos os outros se abrigam, qual porto seguro. Elinor é sinónimo de segurança, sobre ela parece que nada perfura, tudo se desintegra antes de poder atingi-la. No entanto, sabemos, que não é bem assim...
Elinor, arrisco afirmar, sente muito mais que a irmã Marianne, dou um passo ainda mais em falso e digo que Elinor tem igual porção de Sensibilidade quanto de Bom Senso. Ninguém sofre mais ao longo da história do que ela, ninguém suporta mais tristeza. Tal como diz, ela ama com todas as desvantagens que isso traz sem nunca ter conhecido os benefícios - mais palavra menos palavra, esta é a ideia. De facto, ela não chora feita desalmada como Marianne, ela não caí numa apatia doentia como Marianne, ela não grita aos sete mundos a sua dor como Marianne... não, ela não faz nada disso, ela faz pior... guarda tudo dentro de si na expectativa de que o tempo tudo cure, mas ilude o próprio coração (que julga ser mais forte do que é na realidade) e esquece-se que se a dor não for falada e partilhada consome cada pedaço da alma. E o choro desalmado com que recebe a notícia do não casamento de Edward Ferrars é precisamente a consequência de toda essa reserva, Elinor rebenta, mas ainda bem que é de alívio de alegria... !
Elinor parece-me, apesar da família adorável que tem e que a ama muito, uma personagem incrivelmente solitária, demasiado...
Ter em mãos o projecto de interpretar alguém tão forte e tão inteligente como Elinor Dashwood não é um empreendimento fácil. O projecto adensa-se se considerarmos a referência de Emma Thompson na versão de 1995 de Ang Lee.
Hattie Morahan fez uma escolha consciente: não reviu a versão de 1995 e tentou ao máximo se abstrair da interpretação de Emma Thompson:
"I deliberately didn't watch the film again and decided not to think about Emma Thompson. Because you would go mad. It would distort your work. I thought, it'll be original by virtue of the fact that it's me doing it and there is only one me."
Esta decisão poderia ser arriscada mas tornou-se frutífera. Permitiu-lhe trabalhar com mais liberdade e independência. O resultado foi óbvio: uma Elinor bem diferente da versão anterior. A meu ver, um excelente resultado.
Quando Jane Austen caracterizou Elinor ela a descreveu, no primeiro capítulo da seguinte forma:
“Elinor, this eldest daughter, whose advice was so effectual, possessed a strength of understanding, and coolness of judgment, which qualified her, though only nineteen, to the counsellor of her mother, and enabled her frequently to counteract, to the advantage of them all, that eagerness of mind in Mrs. Dashwood which must generally have led to imprudence. She had an excellent heart;—her disposition was affectionate, and her feelings were strong; but she knew how to govern them: it was a knowledge which her mother had yet to learn; and which one of her sisters had resolved never to be taught.”
Este parágrafo é importantíssimo na definição da personalidade de Elinor e averiguamos a sua veracidade no concretizar de acções, gestos e palavras da mesma. De igual forma, Hattie Morahan conseguiu transmitir o espírito prático, a capacidade de decisão e o auto-controle existentes em Elinor. Desde o início, vemos a forma como ela se mostra prática e objectiva em meio à adversidade. Perda do pai, fase de luto, declínio financeiro, início do seu primeiro amor, afastamento do seu lar; em todo este processo, Hattie/Elinor mostra a abnegação, a coragem, a determinação e a capacidade de liderança.
O factor idade é, nesta série, bem aproximada do que teria concebido Jane Austen. É certo que Hattie não teria os 19 anos de Elinor quando filmou a série, mas aparenta ter essa idade; o que gera identificação com o livro.
Devo afirmar que (quase) todas as cenas que considero marcantes na série tem a ver com a actuação de Hattie Morahan. Ela transmite uma contenção de sentimentos mas que estão sempre visíveis no seu olhar. Isto impressiona-me: a capacidade de transmitir sofrimento e angústia através da repressão das mesmas. Uma Elinor com sentimentos intensos mas sem ser piegas. A cada visionamento de Sensibilidade e Bom Senso 2008 encontro novas nuances na Elinor de Hattie Morahan que inspira em mim o desejo de que ela venha a participar de mais produções televisivas e cinematográficas.
Com certeza, uma interpretação à altura de Elinor Dashwood.
Hattie Morahan foi a escolhida para encarnar a personagem de Elinor nesta versão de 2008 de “Sensibilidade e Bom Senso”.
Há muitos rostos conhecidos nesta mini-série mas Hattie Morahan representava, para mim, uma novidade. Por curiosidade, fui ver o seu currículo e somente reconheci (de ouvir falar, já que ainda não assisti) duas produções: A Bússula Dourada (2007) e “Lark Rise to Candleford” (2010). Na realidade, no que diz respeito ao cinema e à televisão, o seu currículo não é muito extenso. Isto acontece por uma razão muito simples, ela é basicamente uma actriz de teatro. Melhor será dizer que a carreira dela iniciou-se e focaliza-se mais no teatro.
O seu lar sempre esteve direccionado para a dramaturgia. A sua mãe, Anna Carteret, é actriz; e o seu pai, Christopher Morahan, é director de teatro e tv. Ela privou de todo o ambiente de letras e artes no seu contexto familiar. [ Uma curiosidade, é que uma das presenças na sua casa era a de Lawrence Olivier que, inclusive, a terá ajudado a fazer os deveres de casa. ]
Mas não foram os pais, os conhecidos ou os amigos que a terão influenciado no momento de decisão final em seguir a carreira de actriz:
“It was not her parents, but a 1994 Hamlet in the West End, with Stephen Dillane as the prince, that really inspired the teenager to act. “It was acting of such truthfulness, as if he wasn’t on stage but in the same room, just talking to you.” When she told her parents of her decision, it was as if she had sensibly decided to join the family firm. You could never say about Morahan that she has had it hard, and maybe that’s why she chases difficulty the way her peers pursue the big money.”
Aos 16 anos ela começou a representar. O percurso natural de frequentar uma escola de arte dramática não foi a opção que tomou. Antes, cursou Literatura Inglesa em Cambridge. Em 2001, ela foi contratada pela Royal Shakespeare Company. Desde então, a sua carreira tem sido discreta, constante e progressiva.
De todos os actores, talvez seja este o mais conhecido de todos pelo grande público. Quem nunca ouviu falar de Hugh Grant? Eu já muitos filmes onde ele participou. Quatro Casamentos e Um Funeral, Notting Hill, O Diário de Bridget Jones, O Amor Acontece, Letra e Música, são alguns dos filmes de uma longa lista de filmes que ele protagonizou. Há três filmes dele que eu gosto muito: Quatro Casamentos e um Funeral, O Amor Acontece e About a Boy.
Mas o que dizer de Hugh Grant em Sensibilidade e Bom Senso (1995)? Ele interpretou Edward Ferrars e fez par romântico com Emma Thompson (Elinor Dashwood). Em poucas palavras: eu não gosto dele a fazer de Edward Ferrars. Durante muito tempo eu não sabia dizer se eu não tinha gostado da actuação dele por a achar má ou se eu não tinha gostado por não gostar do personagem de Jane Austen. Actualmente, tenho a minha conclusão: não é nenhuma das duas alternativas anteriores apresentadas. É uma terceira via.
É verdade que já fazem muitos anos que li “Sensibilidade e Bom Senso” e de, na altura, não ter ficado com uma boa impressão de Edward. Pareceu-me muito passivo. Para quem tem como livro de entrada no mundo de Jane Austen o “Orgulho e Preconceito” é quase impossível não comparar Edward com Darcy e pensar “como assim?”. Não consegui compreender como Elinor, uma mulher desenhada por Jane Austen com tanta grandeza, racionalidade e inteligência pôde se interessar por uma pessoa tão sem sal e passiva. Algum tempo depois, assisti o filme ( e isso foi no século passado, nos anos 90… ) e vejo um Hugh Grant ainda mais sem sal, passivo e – a acrescentar - desengonçado. Foi decepcionante.
Hoje compreendo melhor o que não funciona nesta junção de Edward e Hugh. Tenho feito uma interpretação pessoal de Edward que se distancia um pouco da imagem inicial. Edward Ferrars não foi passivo, frio ou distante. Edward foi honrado. Estava preso a uma promessa e foi fiel à promessa até ao fim, até ter sido libertado da mesma. Ao mesmo tempo, foi fiel ao seu sentimento por Elinor e não foi capaz de arrastá-la para um compromisso que não seria capaz de cumprir. Não a quis iludir e enganar. O que faz toda a diferença e o distancia, por exemplo, de um Willoughby (que fez exactamente o oposto).
Hugh Grant parece-me demasiado atrapalhado e desengonçado e não me faz lembrar de todo Edward Ferrars. Por vezes, chega a ser irritante vê-lo a actuar no filme. Já cheguei a dizer que o detestava neste papel, o que chega a ser talvez um exagero da minha parte. Tenho concluído que um dos problemas é não haver química entre ele e Emma Thompson. Há duas cenas em que isto é extremamente evidente: quando Elinor o chama para dizer-lhe que o Col. Brandon lhe concedeu uma paróquia e na cena final em que ele se declara para Elinor. Neste aspecto, a série de 2008 é extremamente superior. Aliás, nesta cena final nem Hugh Grant nem Emma Thompson me convencem.
Acho que Hugh Grant não é “austeniano”. Não sei se estou a inventar um conceito, se ele existirá, mas penso que alguns actores – por muito bons que sejam – não tem o carisma suficiente para transmitir toda a dimensão de um homem idealizado por Jane Austen. Neste sentido, não sei se será correcto dizer que Hugh Grant não concebeu um Edward Ferrars à altura do personagem; ou se, por muito que tentasse, nunca seria capaz de fazê-lo.
Emma Thompson é daquelas actrizes que pode representar qualquer papel que eu irei sempre pensar o melhor dela. À semelhança do que aconteceu com Patrick Doyle, foi "Much ado about nothing" o primeiro filme em que eu a vi representar. Achei-a maravilhosa. Lembro da abertura do filme em que ela recita a música "Sigh no more ladies" e da impressão marcante que ela fez em mim. Desde aí, sempre estive atenta ao seu percurso no cinema.
O seu talento é inegável. Ela é uma actriz que nos faz viver os seus personagens. Em "Sensibilidade e Bom Senso" (1995) é ela quem interpreta Elinor Dashwood. Ela nos guia e nós seguimos os seus passos ao longo da história: a forma como lidera a família na tomada de decisões práticas, a maneira como ama e sofre em silêncio, a honra da sua palavra e a forte ligação que tem com a sua irmã Marianne. A sua Elinor não é somente constituída de racionalidade e rectidão, é também plena de força, perseverança e integridade. Emma Thompson conseguiu atribuir quase que um traço de sabedoria à Elinor.
Há várias cenas marcantes de Emma Thompson neste filme. Gostaria de destacar a cena em que ela cuida de Marianne quando ela fica doente. Acho a angústia tão latente que sofremos com ela e ansiámos pela recuperação da irmã.
Elinor Dashwood, Jane Fairfax, Fanny Price, Jane Bennet, Eleanor Tilney
Fanny Price sempre me pareceu uma Elinor Dashwood numa versão mais ingénua e tímida; já Jane Fairfax, uma irmã gémea de Elinor (tirando a parte em que se apaixona por Frank Churchill, coisa que jamais Elinor faria, creio) e é aí que acho que ela se assemelha a Fanny, tal como Fanny se sente atraída por Henry Crawford, Jane sente-se atraída por Frank Churchill, e concretiza esse sentimento num compromisso que consegue chegar a vias de facto, caso contrário, seria uma espécie de Jane Eyre em versão austeniana!
Mas acima de tudo é o bom senso, a razoabilidade, o saber estar e o não falar mais do que se deve que une estas personagens, para mim elas são as melhores amigas e andam a saltar de romance em romance para falarem umas com as outras!
Peço desculpa pela quantidade de personagens que comparei, mas acho este trio perfeito, conhecem alguém para juntar ao grupo?
(editado)
A Gilreu, sugeriu Jane Bennet, e não sei como me esqueci dela!? Mais tarde lembrei-me de Eleanor Tilney e achei que ficaria aqui perfeita.