Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Espelho, espelho meu...

 

 

 

 

 

Antes de ir para Bath,  Anne Elliot acompanhou Lady Russel numa visita ao casal Croft em Kellynch-Hall. Enquanto conversavam, o Almirante Croft faz este comentário sobre a casa e sobre Sir Walter Elliot à Anne.

Não preciso dizer que ri com vontade ao reler este trecho, até porque me lembrei do comentário da Vera sobre o Sir Walter da versão de 1995.

 

Espelho, espelho... o que revelarias sobre Sir Walter Elliot se pudesses falar?

 

 

 

 

Remar contra a maré #2

 

 

Adoro esta sequência em que Anne afirma ao Capitão Wentworth que não tem qualquer compromisso com Mr. Elliot, em que ela lê a carta de Frederick e quando o reencontra na rua. Confesso que chego a sentir a tontura e o quase desespero com que Anne percorre as ruas da Bath a tentar encontrar o Capitão Wentworth antes que ele desapareça. Como se fosse uma segunda oportunidade que ela não podia permitir que lhe escapasse entre os dedos. Confirmo que, afinal, Anne não é tão submissa e de tão fácil persuasão, porque contra todas as expectativas ela foi em busca da sua felicidade. 

 

 

 

Quando Anne o encontra, as vozes à sua volta desaparecem e tudo parece parar no tempo. Parece que só existem eles dois no mundo. Parece que o tempo e a espera dissiparam todo o sofrimento e fez surgir a esperança do sentimento afirmado.

 

Ela remou contra a maré.

 

 

Remar contra a maré

 

 

Até hoje ainda só consegui assistir a versão de 1995 e a de 2007 de Persuasão. Apesar de saber que a preferência geral vai para a versão de 1995, eu remo contra a maré: gosto mais da versão de 2007.

 

Do meu ponto de vista,  Sally Hawkins consegue criar uma Anne Elliot completa. Ela consegue transmitir a resignação, a tristeza, a solidão da personagem num só olhar. Para além disso, ela  personifica a doçura e a suavidade de carácter de Anne.  De igual forma, Sir Walter Elliot e Miss Elizabeth Elliot parecem-me ser melhor retratados nesta versão, principalmente no que diz respeito à frieza e ao egocentrismo que os caracterizam.

 

Eu sei que neste filme de 2007 algumas cenas afastam-se da obra literária em si mas, confesso, que esta versão fala mais ao meu coração. O desenho dos personagens, a fotografia, o guarda-roupa e a banda sonora criam na minha mente todo o cenário e percurso da nossa heroína. Se repararem, o filme tem uma tonalidade sombria e cinzenta; aspecto que é muito criticado sobre este filme. Mas esta subtileza ressalta e reforça como era a vida de Anne e de Frederick separados: fria, cinzenta e triste. Um detalhe acrescentado à história que a enriquece são os momentos em que Anne Elliot aparece a escrever numa espécie de diário. Se, por um lado, permite que se conheça os pensamentos e sentimentos de Anne; por outro lado, leva-nos a identificar Anne Elliot como a própria Jane Austen. Entenda-se que a minha afirmação resulta da minha opinião e interpretação pessoal.

 

 

 

Anne Elliot #2

 

"Anne , possuidora de uma elegância de espírito e uma doçura de carácter que deveriam tê-la colocado num elevado lugar na consideração de qualquer pessoa dotada de verdadeira compreensão, não era ninguém, nem para o pai nem para a irmã: a sua voz não tinha qualquer peso; a sua voz não tinha qualquer peso; a sua conveniência residia em transigir, ceder sempre - era apenas Anne."

 

Quantos sentimentos guardará o coração de Anne Elliot? Quanta paixão existe por detrás de seus gestos? É quase um lugar comum considerá-la lenta, sossegada, conformada  e "boazinha".  Afasto-me totalmente desta caracterização. Para mim, Anne Elliot foi e sempre será uma mulher com classe, com rectidão, com bom senso e corajosa. O grande problema na vida dela é que ninguém lhe reconhece isto. O seu pai e irmã a ignoram e a tratam quase como uma criada, Mary (sua irmã) trata-a como se ela tivesse a obrigação de a consolar, Lady Russel (que apesar de a amar sinceramente) trata-a como se ela não tivesse qualquer tipo de capacidade de discernimento e até Wentworth acredita na sua falta de firmeza de carácter. O cunhado e a família dele, que até demonstram afecto por ela, não lhe dedicam atenção. Apenas usufruem do bem-estar que a companhia dela proporciona. Anne é profundamente incompreendida por todos. A meu ver, para além de um amor frustrado, é deste aspecto - da incompreensão - que advém toda a sua tristeza. Deixem-me ser bastante franca, a forma como ela é tratada pela família mais próxima cria em mim um sentimento de revolta.

Vemos ao longo da história o descaso e a forma humilhante como ela é tratada pela família e a tudo isto ela nunca responde na mesma moeda. Nunca lhe vemos uma palavra amarga. Nunca lhe adivinhamos um gesto brusco. Nunca lhe escapa sequer uma queixa. Acompanhamos o seu sofrimento de ter aberto mão do seu grande amor e de vê-lo a cortejar outra pessoa.

Eu não faço segredo de que amo este livro - Persuasão - e de que me identifico com Anne Elliot. Ler o seu percurso é, muitas vezes para mim, como olhar-me ao espelho. Identifico-me com o que é dito e descrito; abraço o que fica por dizer.

Para mim, era muito importante falar sobre Anne Elliot neste dia em que completo 35 anos. Mas ainda muito mais terei a dizer.

 

 

Anne Elliot #1

[descrição]

 

Jane Austen nos apresenta Anne Elliot de duas formas no início do livro: o que ela era quando conheceu Frederick e o que ela se tornou após o afastamento entre ambos. Então, quando eles se conheceram Anne era "uma rapariga extremamente bonita, dotada de delicadeza, modéstia, bom gosto e sensibilidade". Depois "o seu viço dissipara-se cedo", causado essencialmente pelo afastamento de Wentworth. Fisicamente sabemos que Anne teria "traços delicados e doces olhos escuros" e que seria "magra e sem viço".

 

Portanto, pela descrição feita no livro fico sempre com a convicção de que Anne Elliot seria bonita, mas de uma maneira discreta. Ela não teria uma beleza chamativa e exuberante. E, este aspecto físico, quase que é transportado para a sua própria personalidade.

 

Imagino Anne Elliot possuidora de uma beleza silenciosa.