Recebo com alguma frequência, newsletters de livrarias online. Uma dessas últimas trazia a noticia da publicação do livro o Mistério de Charles Dickens, título que roubei para este post, já que para mim é um mistério a publicação deste livro.
Quando li a sinopse, que podem ler aqui fiquei a pensar que já tinha visto isto em qualquer lado e verificando a minha wishlist de uma outra livraria, vi que de facto já tinha visto algo bastante parecido, o livro inacabado de Charles Dickens, cuja sinopse, podem ler aqui. Lendo fiquei com a ligeira sensação que tinha lido a sinopse do Código de Vinci, mas versão para Charles Dickens...
Não sei se os livros em questão são bons, nem me cabe a mim fazer tal apreciação baseada apenas em sinopses. Faz-me um bocado de comichão este género de livros, primeiro porque os acho um pouco especulativos em relação à vida dos escritores em questão e depois oferecem muitas vezes visões distorcidas do visado, neste caso Charles Dickens.
Faz-me confusão que se publiquem tais livros por cá, pois o escritor não está devidamente publicado, não como ele certamente merece. Se quiserem ler o famoso conto de natal, a única dúvida será qual a edição a escolher, à parte disso não há quase nada. Quem quer ler o Dickens não tem sorte quase nenhuma. Por isso, caros editores, se algum eventualmente lê este blogue em vez de se lançarem a publicar livros mirabolantes sobre escritores de renome, façam o favor de publicar a sua obra e aí sim publiquem estes livros que os leitores que gostam deste tipo de livros agradece. Até porque o sucesso de livros deste tipo depende, muitas vezes do conhecimento que se tem da obra do escritor, julgo que fazem referencias à sua obra e onde podem as pessoas ler tais livros se não estão editados?!
Um exemplo simples e prático, o livro de Emily Brontë, O Monte dos Vendavais, tornou-se mais conhecido entre os jovens depois de ser citado na Saga Twilight como o preferido dos protagonistas...
A todos os que já votaram o nosso sincero obrigado! E peço desculpa por alguma ausência de posts sobre este projecto, mas tenho andado um pouco ocupada com outras actividades do blogue. Durante os próximos dias podem contar com mais e isto pode eventualmente decidir algum indeciso que ainda não tenha votado por não conhecer bem as obras sugeridas.
Com a excepção de José de Alencar todos os autores sugeridos para a votação são de origem anglo-saxónica. E todos os livros que sugerimos podem ser adquiridos a custo zero na internet, já são livros sem direitos de autor e por isso mesmo estão em bases de dados como o Gutemberg Project. à distância de um click podemos ter e consequentemente ler estes livros. Para aqueles que já têm um Kindle ou semelhante podem usá-lo para ler.
Tudo isto seria perfeito se não fossem por dois motivos, o primeiro é que nem todos dominam o inglês para lerem, há quem entenda muito bem e há quem se desenrasque caso necessário. Para aqueles que dominam e querem ler podem fazê-lo, mas o inglês e todas as línguas do mundo, atrevo-me a dizer, não são estáticas e vão mudando. O inglês que Dickens e Gaskell falavam será certamente diferente daquele que falou a Lucy Maud Montegomery que era canadiana.
Já li North and South de Elizabeth Gaskell e não foi exactamente fácil, porque embora domine o idioma em questão, não vivi no seculo XIX e não vivi em Manchester. Há todo um vocabulário da zona e próprio das classes sociais operárias que me escapa. Li um livro que tinha um glossário, mas é chato estar sempre a consultá-lo e ver que afinal hoo significa o tão usado She???
O tradutor deve ter das profissões mais ingratas do mundo, por um lado, o seu nome quase nunca é destacado e por outro vê muitas vezes o seu trabalho discutido e atacado. Mas são a estes homens e mulheres que devemos a leitura de livros que não dominamos o idioma. Uma forma de honrá-los é ler a versão da nossa própria língua. Eu até hoje só li em inglês os livros que não tinham tradução e todos os que estão a votos, com excepção de North and South, ainda não li pelos motivos que aponto, não há tradução e o inglês falado faz-me pensar duas vezes. Fico-me pelas adaptações onde sempre se fala every day english ( inglês de todos os dias) como diria o Gilbert Blythe numa das adaptações da Ana dos Cabelos Ruivos.
Tenho a certeza que quem já votou neste nosso projecto, não deve ter reconhecido este título. Mas se tiverem sido crianças nos anos 80, de certeza que se lembram da Ana dos Cabelos Ruivos. Para quem não sabe estes desenhos animados fizeram furor nos anos 80 e ainda hoje muita gente os cita como os seus desenhos animados preferidos. Naquela altura a RTP passava imensos desenhos animados feitos no Japão.
A Ana tem a sua origem numa colecção de livros ( oito ao todo) escritos pela canadiana Lucy Maud Montgomery. Todos nós que vimos a série de desenhos animados recordamos uma miúda que falava pelos cotovelos, detestava matemática e que se meteu em alguns sarilhos memoráveis como embebedar a melhor amiga Diana e pintar o cabelo de verde!
Contudo a Ana é muito mais que isso, é uma história de luta e coragem de uma menina órfã ( os órfãos não eram nada bem vistos naquela altura) que ao ser adoptada por dois irmãos, Marília e Vicente, acaba por triunfar sobre a adversidade. Os desenhos animados apenas adaptam o primeiro livro, mas os outros seguem Ana pela idade adulta com todos os sucessos e fracassos que tem de enfrentar.
Se a Ana ao ser publicada teria sucesso? Eu não tenho dúvidas que sim. Há toda uma geração de crianças dos anos 80 que hoje são adultas e sentem uma certa nostalgia por estes desenhos animados e que iriam com certeza adorar ler esta colecção de livros. Muitas delas são mães e pais, tios e tias, padrinhos e madrinhas que de certeza que iriam partilhar com as suas crianças as aventuras da menina órfã de imaginação fértil.
Não resisto a terminar com um vídeo de quando Ana conhece Diana, para os mais saudosistas!
Alguns comentários feitos até agora pelos leitores brasileiros questionam se vale a pena votarem. Esta ideia tem como objectivo o mercado editorial português e não o brasileiro, contudo na minha perspectiva não acho que isso deva ser motivo para não votarem.
Na minha opinião tudo depende se querem ou não um dia ler o livro, caso nunca venha a ser editado no Brasil. Há algumas dificuldades, primeiro os custos inerentes ao envio de Portugal para o Brasil, já tentei ver nas livrarias mais conhecidas mas não encontrei, por isso não sei dizer quanto custa. Há também a questão de ao ser enviado de outro país ficar retido na alfandega. Aqui em Portugal e julgo que em todos os países as compras feitas fora do país pagam na alfandega se atingirem um certo valor e muitas vezes custa a desalfandegar.
Contudo, há sempre alguém que tem um amigo que viaja para aqui ou alguém a viver aqui que facilmente pode comprar o livro e enviar, aí sendo particular, a alfandega já não pode implicar.
Há ainda a questão da língua, embora iguais, o português falado aqui e no Brasil, ao longo dos tempos foi-se distanciando. De outra forma não podia ser, pois a língua não é estática e todos os dias se transforma e é preciso inventar palavras para novos objectos que surgem.
Eu sei que os livros publicados aqui de autores brasileiros sofrem uma adaptação ao nosso português e julgo que o contrário também acontece. Eu já li o Budapeste do Chico Buarque, sem qualquer adaptação e não senti muitas dificuldades, algumas palavras não entendi, mas isso não foi impedimento para não continuar a ler. Este foi um dos livros que mais gostei de ler e que recomendo a todos.Eu até acho que estas transformações não deviam de acontecer porque tiram a beleza da língua. De resto, até dentro de Portugal há palavras diferentes para a mesma coisa!
A todos os que já votaram o nosso obrigado e não se esqueçam de ir divulgando!
Eu sei que VIP, significa Very Important Person ( Pessoa Muito Importante) mas não resisti a fazer este pequeno trocadilho e trocar a pessoa pelo projecto.
Qual é a importância deste projecto? Poderia apontar muitas coisas mas a mais importante é a divulgação de livros. Se acham isto estranho, eu digo-vos que há umas semanas li num blogue alguém a dizer só tinha conhecido " O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë porque o livro é mencionado na saga Twilight como o favorito dos protagonistas. Eu achava que o livro era suficientemente conhecido para que toda a gente soubesse da sua existência, afinal enganei-me.
Não é difícil entender o porquê. A edição explodiu nos últimos anos, aqui em Portugal e os livros começaram a ter um período de vida mais curto nas livrarias. Logo estes livros que já foram editados há muitos anos e já não se encontram nas livrarias começam a ficar ainda mais esquecidos. A divulgação que se podia fazer através de séries e filmes de época também não acontece. Quando foi a última série que passou na nossa televisão que adaptava um clássico? Se a memória não me falha foi Emma nos inícios de 2010. Depois disso muito pouco ou nada deu de adaptações de clássicos da literatura e quase nada veio para cinema e o que veio apareceu e desapareceu à velocidade da luz como o caso de Jane Eyre, o ano passado.
Por isso, o mérito disto que estamos a fazer se não chegar a surtir o efeito desejado, terá pelo menos o efeito de fazer alguém conhecer um livro que até aí não conhecia e só por isso terá valido a pena. Eu própria já conheci alguns que não conhecia.
Já sabem contamos com todos os leitores para votarem e divulgarem esta iniciativa!
Para além da paixão por Jane Austen, partilhamos ainda a paixão por livros que são considerados clássicos da Literatura. Conhecemos muitos através das adaptações feitas pela BBC ou para cinema. O nosso problema é que quando os queremos ler, dificilmente os encontramos. Uns nunca foram editados outros foram nos anos 60, 70, 80 e dificilmente se conseguem encontrar, a não ser em alfarrabistas e quando os encontramos outros problemas se colocam. Alguns livros traduzidos foram cortados ou alterados tudo cortesia do Estado Novo. Os que não tiveram esse azar estão já num estado bastante lastimoso muito para além do aceitável. Há ainda alguns que se encontram apenas em edições dirigidas a crianças e estão naturalmente cortados ou alterados.
Há umas semanas numa conversa com uma funcionária de uma livraria, ela sugeriu que o Jane Austen Portugal pedisse às editoras para publicarem mais estes livros. A ideia foi crescendo e tomando forma. São muitos os títulos que nós consideramos que merecerem uma edição em português, mas nós também sabemos que é utópico pedir que todos os livros sejam publicados. Assim, escolhemos vários títulos entre nós.
Pedimos aos nossos leitores para tomarem parte nesta iniciativa votando no livro que mais gostariam de ver eleito para publicação.
No fim, quando a votação terminar o Jane Austen Portugal irá contactar as editoras mostrando os resultados, na esperança que os bons resultados que esperamos obter sejam tidos em conta na decisão de publicação.
Ao longo da votação iremos publicar posts sobre os livros a votos. Pedimos ainda que divulguem esta iniciativa caso tenham blogues ou nos murais do facebook.