Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #15

 

 - Sensibilidade e Bom Senso 1995 |  13 –

did you hear about Hugh Grant?

 

De todos os actores, talvez seja este o mais conhecido de todos pelo grande público. Quem nunca ouviu falar de Hugh Grant? Eu já muitos filmes onde ele participou. Quatro Casamentos e Um Funeral, Notting Hill, O Diário de Bridget Jones, O Amor Acontece, Letra e Música, são alguns dos filmes de uma longa lista de filmes que ele protagonizou. Há três filmes dele que eu gosto muito: Quatro Casamentos e um Funeral, O Amor Acontece e About a Boy.

Mas o que dizer de Hugh Grant em Sensibilidade e Bom Senso (1995)? Ele interpretou Edward Ferrars e fez par romântico com Emma Thompson (Elinor Dashwood). Em poucas palavras: eu não gosto dele a fazer de Edward Ferrars. Durante muito tempo eu não sabia dizer se eu não tinha gostado da actuação dele por a achar má ou se eu não tinha gostado por não gostar do personagem de Jane Austen. Actualmente, tenho a minha conclusão: não é nenhuma das duas alternativas anteriores apresentadas. É uma terceira via.

É verdade que já fazem muitos anos que li “Sensibilidade e Bom Senso” e de, na altura, não ter ficado com uma boa impressão de Edward. Pareceu-me muito passivo. Para quem tem como livro de entrada no mundo de Jane Austen o “Orgulho e Preconceito” é quase impossível não comparar Edward com Darcy e pensar “como assim?”. Não consegui compreender como Elinor, uma mulher desenhada por Jane Austen com tanta grandeza, racionalidade e inteligência pôde se interessar por uma pessoa tão sem sal e passiva. Algum tempo depois, assisti o filme ( e isso foi no século passado, nos anos 90… ) e vejo um Hugh Grant ainda mais sem sal, passivo e – a acrescentar - desengonçado. Foi decepcionante.

Hoje compreendo melhor o que não funciona nesta junção de Edward e Hugh. Tenho feito uma interpretação pessoal de Edward que se distancia um pouco da imagem inicial. Edward Ferrars não foi passivo, frio ou distante. Edward foi honrado. Estava preso a uma promessa e foi fiel à promessa até ao fim, até ter sido libertado da mesma. Ao mesmo tempo, foi fiel ao seu sentimento por Elinor e não foi capaz de arrastá-la para um compromisso que não seria capaz de cumprir. Não a quis iludir e enganar. O que faz toda a diferença e o distancia, por exemplo, de um Willoughby (que fez exactamente o oposto).

Hugh Grant parece-me demasiado atrapalhado e desengonçado e não me faz lembrar de todo Edward Ferrars. Por vezes, chega a ser irritante vê-lo a actuar no filme. Já cheguei a dizer que o detestava neste papel, o que chega a ser talvez um exagero da minha parte. Tenho concluído que um dos problemas é não haver química entre ele e Emma Thompson. Há duas cenas em que isto é extremamente evidente: quando Elinor o chama para dizer-lhe que o Col. Brandon lhe concedeu uma paróquia e na cena final em que ele se declara para Elinor. Neste aspecto, a série de 2008 é extremamente superior. Aliás, nesta cena final nem Hugh Grant nem Emma Thompson me convencem.

Acho que Hugh Grant não é “austeniano”. Não sei se estou a inventar um conceito, se ele existirá, mas penso que alguns actores – por muito bons que sejam – não tem o carisma suficiente para transmitir toda a dimensão de um homem idealizado por Jane Austen. Neste sentido, não sei se será correcto dizer que Hugh Grant não concebeu um Edward Ferrars à altura do personagem; ou se, por muito que tentasse, nunca seria capaz de fazê-lo. 

Classificação dos Heróis em Jane Austen

Título Original: Criteria for Rating Heroes
Retirado do site: Pemberley

Autor do Artigo: Ellen Moody

Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 

 

Vou aproveitar a pergunta sobre "porquê que gostamos mais de alguns heróis de Jane Austen do que de outros?". Eu penso que não é apenas uma questão de não ter nada para os perdoar, porque algumas coisas são mais fáceis de perdoar que outras, e quando decidimos o que achamos mais fácil de perdoar estamos a dizer mais sobre a nossa própria moralidade do que à de Austen.

 

  • Os heróis que têm normalmente menos fãs, são aqueles que são profundamente morais; deixem-me chamá-los de tipo Ashley Wilkes (de "E Tudo o Vento Levou"): sensíveis, bons, leais, com um comportamento impecável, tacto, gentis e altruístas e muito convencionais no que toca ao sentido que têm sobre como deve ser um "gentleman"; Austen, claro, engana-nos e adiciona a estas características a reserva, utilizada para proteger o próprio (como vemos em Knightley no seu comportamento com Emma), também o ser acanhado, muito pouco alegre numa festa - características/defeitos muitas vezes apontados e aos quais os leitores não perdoam a Edmund Bertram, Edward Ferrars, Coronel Brandon e George Knightley. Tal como Rhett Butler diz, eles são cavalheiros apanhados num mundo que idolatra a beleza, suavidade e a liderança. Edward Ferrars e Coronel Brandon são fracos nessa batalha de domínio entre pessoas, o que talvez seja a essência da vida. Heróis deste género são patetas, pedantes e empertigados, epítetos comuns atirados contra alguns tipos de heróis em Jane Austen, não? Mas Austen crê que estes homens quando são também inteligentes, queridos e constantes (com devido rendimento), fazem as mulheres felizes, especialmente quando a natureza e gostos de ambos são similares, exemplo disso são Elinor Dashwood e Edward Ferrars ou Fanny Price e Edmund Bertram. Diria que Knightley não assenta bem aqui, uma vez que não é fraco na batalha da liderança, ela apenas partilha de algumas qualidades de Edward Ferrars, Edmund Bertram e Coronel Brandon, pelas quais alguns leitores tiveram muito tempo até lhes perdoar. Eu sou fã de Edward Ferrars e Edmund Bertram, embora não me quisesse casar com eles, eles aborrecem-me até às lágrimas; e para ser sincera, eu não acredito totalmente no Coronel Brandon. Ele é um evadido de uma ficção gótica, fantástica, teatral, afectiva mas não totalmente persuasiva; nem o casaco de flanela consegue esconder a origem.

 

    • Agora os heróis que são também vilões aos quais podemos chamar de tipo Rhett Butler. Para ser menos anacronista e estar mais próxima do arquétipo fundamental temos os nossos subtis libertinos: Willoughby, Wickham, Henry Crawford, Frank Churchill e talvez William Walter Elliot. Estes são homens sedutores, sedutores precisamente porque são perigosos, engraçados de estar, divertidos, bonitos. O que +e que temos para perdoar aqui? Deslealdade, ter tido sexo com outra mulher, indiferente, despreocupado, egoísmo, a habilidade de estar infinitamente inactivo e mais importante, a incapacidade de olhar para eles próprios e ver o que está mal e mudar, porque eles não podem sentir o tipo de alegria que surge com o amor intenso e tudo o que vem com ele. Parece que Austen sugere que, enquanto grupo, estes homens são pouco profundos nas suas emoções, porque a estes "libertinos" dos romances é dada uma intensidade de emoção em demasiada escala. Austen não permite isso; isso é o delicioso veneno que bebemos para a nossa própria destruição. Eu diria que muitas pessoas não teria assim tão grandes problemas em perdoar as falhas acima citadas, mas Austen considera esse tipo de homem um mau material para maridos; e eu sugiro que a única qualidade que ela seria incapaz de perdoar a estes homens é a sua insensibilidade e inconstância. No entanto, sejamos justos, são géneros divertidos, nunca um momento aborrecido com Willoughby - embora lendo com cuidado, podemos afirmar que ele pode ser visto como pouco profundo e egoísta. É o tipo de rapaz que não se arrepende de ter passado um bom bocado, mas terrivelmente arrependido de não ter conseguido o seu doce no fim. E a Henry Crawford são dadas possibilidades, somos levados a achar que ele pode ter-se transformado no 3º tipo, embora eu duvide.

     

    • Temos agora o 3º tipo, no qual eu sugiro que Henry Tilney entra. De certa maneira, Jane Austen foi a inventora deste tipo e por isso lhe chamarei o tipo de Frederick Wentworth. O que temos para lhes perdoar é aquilo que temos de perdoar a qualquer ser humano que é fundamentalmente decente e querido e inteligente e também capaz de ter uma conversa interessante - o tempo e as circunstâncias é que não estiveram sempre do seu lado. Isso acontece com Darcy - Darcy tem sido objecto de sincopacia continuada, demasiada indulgência e possuidor de um coração frio e repleto do orgulho materialístico de todas as Ladies De Bourgh deste mundo. Ele precisa de olhar para o seu coração para poder mudar. E fá-lo. Temos de lhe desculpar as reprimendas, a arrogância, o pessimismo em relação à natureza humana, uma certa frieza (...). Este grupo inclui Wentworth o meu herói favorito (...). Henry Tilney também não tem tudo do seu lado - tenhamos como exemplo o seu pai tirano; mas a sua mãe parece ter sido muito boa pessoa (tal como a mãe de Anne Elliot) e o rapaz tem a felicidade de possuir rendimento e garantir a sua independência. Na verdade, não havendo nada para perdoar, talvez por ser ainda tão jovem e alegre e tão humano, e por isso o coloco neste 3º tipo inventado por Jane Austen, os cavalheiros que têm tudo, tudo o que encanta uma mulher e que fazem deles um partido. Deixem-me terminar com George Knightley, porque ele sofre da falha que tem Tilney - não há nada a perdoar - mas neste caso, pobre homem, não podemos perdoar-lhe a perfeição, porque ao contrário do tipo 1, ele não é fraco nem pedante, nem acanhado (embora, tal como ele diz, não saiba muito bem expressar-se no que toca aos sentimentos do coração). Mas, lembremo-nos, conhecemos Knightley apenas pelo ponto de vista de Emma e talvez seja por isso que ele nos pareça tão perfeito. Mas eu amo Knightley, de verdade. Adoro o seu tacto, a cortesia, o cavalheirismo, o seu pensamento sempre acertado, nem me importa o seu pensamento moral por vezes exagerado. (...)

    Análise de Personagem: Edward Ferrars

    Trago novamente Edward Ferrars à baila... desde este artigo, que senti que sempre julguei mal o seu carácter e por isso, tenho pesquisado mais sobre ele.

     

    Título Original: Character Analysis: Edward Ferrars
    Retirado do site: November's Autumn
    Autor do Artigo: Katherine 15.05.10
    Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

     

     


    "Edward Ferrars não aparentava imediata simpatia por nenhuma graça peculiar da sua pessoa ou presença. Não era bonito e as suas maneiras precisavam de intimidade para se tornaram agradáveis. Era demasiado desconfiado para fazer justiça a ele mesmo; mas quando a sua natural timidez era ultrapassada, o seu comportamento dava todas as indicações de um coração aberto e afectuoso. A sua compreensão era boa e a sua educação garantira-lhe uma sólida melhoria. Mas ele não tinha habilidade nem disposição para responder aos desejos da sua mãe e irmã, que desejavam vê-lo disinguido por... nem elas sabiam bem de quê."

     

    Não é surpresa nenhuma que ele tenha caído nos encantos de Lucy Steele. Ela sabia exactamente como agradá-lo com as suas observações pouco sinceras, e a bondade dele, acreditou que eram sinceras. Ela foi a primeira mulher que o tratou com gentileza e que não o tiranizava, como a mãe e irmã faziam. Ela deixava-o ser ele próprio. Podemos também supor que Mr. Pratt era um cavalheiro corerecto e íntegro, pela diferença de educação entre Edward e o seu irmão Robert, e por isso, o jovem Edward assumiu que Lucy seria também. Ao amadurecer apercebeu-se do seu erro de julgamento.

     

    "Lucy aparentava tudo o que era amável e agradecido. Era bonita também - pelo menos, assim pensei na altura, e tinha visto muito pouco de outras mulheres, para poder fazer comparações e não vi qualquer defeito. Considerando tudo, na altura, assim espero, insensato como o nosso compromisso era, insensato como se tem provado que era, não era, à época, tão pouco natural assim, ou de imperdoável insensatez".

     

    Era uma questão de honra, para um homem, manter o compromisso de noivado com uma senhora a quem propusera, só a senhora poderia romper esse compromisso. Imaginemos agora como ele se sentiu quando conheceu Elinor, sua igual, e se apaixonou mas teve de manter os seus sentimentos exclusivamente para si. Ver o contraste entre Elinor e Lucy e sabendo ele estar ligado para sempre com a última. O seu sofrimento foi igual ao de Elinor, se não maiores, por ser dele a insensatez que causava tanta dor.

     

    "Eu pensei, simplesmente, que pela fé estar ligada a outra, não haveria nenhum perigo em estar contigo; e que a consciência do meu compromisso manteria o meu coração tão sagrado e protegido como a minha honra. Eu senti que te admirava, mas disse a mim próprio que era apenas amizade; e até começar a comparar-te com Lucy eu não sabia para onde caminhava".

     

    Mas quando ele é deserdado, em vez de se "livrar" do compromisso e tomar um caminho mais simples, uma vida de riqueza com uma mulher que não amava, ele escolhe pobreza e sofrimento com Lucy Steele.

     

    "Tudo o que Mrs. Ferrars podia dizer para o fazer renunciar ao compromisso... não tinha efeito nenhum. Dever, afecto, tudo era negligenciado. Nunca pensei que Edward fosse tão teimoso e tão insensível. A sua mãe explicou-lhe os seus planos liberais, no caso de ele casar com Miss Morton; disse-lhe que lhe daria a propriedade de Norfolk para se estabelecer que, livre de impostos, renderia 1000 ao ano; ofereceu ainda, quando a situação se agravou, 12 000; e em oposição a isto, se ele persistisse nessa baixa conexão, apresentou-lhe a certa penúria de que resultaria o casamento. Os seus 2000 pounds seriam apenas o que teria; ela nunca mais o veria; não lhe prestaria a mínima assistência e caso ele se decidisse por alguma profissão com vistas a maiores rendimentos, ela faria tudo ao seu alcance para garantir que ele não avançava"

     

    Foi este honorável acto que verdadeiramente cativa o leitor, que o salva financeiramente pelo Coronel Brandon que lhe oferece a paróquia de Delafort e que lhe permite, no fim, casar com Elinor.

     

    Em Defesa de Edward Ferrars

    É um artigo longo, mas peço-vos que o leiam. Para muitas não será uma surpresa o que aqui está escrito, mas garanto que, para outras, ajudará a compreender melhor Edward Ferrars - como aconteceu comigo. E talvez Willoughby perca um pouco do encanto que deixou em nós.

     

    Título Original: In Defense of Edward Ferrars
    Retirado do site: JASA
    Autor do Artigo: Bertha McKenzie, 21 Junho 2001
    Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

     

     

    Robin Ellis - 1971; Bosco Hogan - 1981

    Hugh Grant - 1995; Dan Stevens - 2008



    Edward é-nos apresentado pela autora como "ele não aparentava imediata simpatia por nenhuma graça peculiar da sua pessoa ou presença." Ele "não era bonito", e era desconfiado e tímido, embora a "sua compreensão fosse boa". Para Mrs. Dashwood, uma romântica, "a sua forma de estar tranquila... ia contra todas as suas ideias de como as maneiras de um jovem devem ser", embore tivesse a maior opinião sobre o seu bom carácter. Na linguagem da sensibilidade, isso significa que ele tinha benevolência e preocupação pelo outro e o bom julgamento que deve saltar do coração. Richardson utilizou adjectivos como amigável, inocente, digno e sensivel para descrever o bom coração de uma pessoa. Mas isto dificilmente é a descrição de um herói romântico, assim, é preciso perguntar porque é que Edward é descrito de forma tão sóbria e maçadora.

    Rousseau, em "Confessions", desenvolveu uma doutrina a que se chamou "A Fantasia da Idade", que explica o seguinte, que uma sensibilidade delicada era acompanhada por uma superiodade de moral ou excelência. Esta ideia surge frequentemente em personagens de romances sentimentais da época, e foi profunda e brulescamente utilizada pela Jane Austen de 14 anos em Amor e Amizade de 1790, caracterizado por Brissenden como:

    "um trabalho surpreendentemente bem conseguido, e apesar de ser breve, o melhor e mais aprofundado de todos o burlescos de ficção sentimental. Os heróis e as heroínas... são todos criaturas possuidoras da mais requintada sensibilidade e do egoísmo mais rude e sem escrúpulos... Uma indulgência excessiva na sensibilidade, ou uma fé cega na capacidade do homem seguir os dictâmes do seu coração, para agir de acordo com os seus melhores sentimentos, é insensato e digno de ser ridicularizado."

    Por volta de 1810, quando Austen terminou Sensibilidade e Bom Senso, ela desenvolveu um subtil e convincente argumento contra esta doutrina, nas personagens de Edward e Willoughby. Para o leitor moderno, Edward, é um herói maçador. Porque é que ele, perguntamos nós, não diz, simplesmente, a Lucy, que mudou de opinião e que já não quer casar com ela. A resposta é a de que, na sociedade de Jane Austen, um cavalheiro de honra nunca falha à sua palavra.

    Em Sir Charles Grandison de Samuel Richardson, um livro que Jane Austen conhecia bem, o herói tem um compromisso anterior com uma Senhora italiana. Quando, mais tarde, Grandison se apaixona por Harriet Byron, quem ele salvou de ser raptada, ela não pode, na sua honra de cavalheiro, quebrar o seu compromisso com Signorina Clementina. Jane Austen aproveitou a ideia de anterior compromisso de Richardson para Edward, de forma a demonstrar a sua superioridade moral. Este dilema seria bem apreciado pelos leitores e ambos, Grandison e Edward seriam, imediatamente reconhecidos como cavalheiros de honra.

    Marianne "embora tendo a mais alta opinião quando à sua capacidade de julgamento e bom senso" decide que Edward não tem sensibilidade. (...) Ele não possui gosto verdadeiro porque não se sente atraido pela música e parece entender muito pouco de pintura. Ele lê frase de Cowper "que muitas vezes me deixaram sem fôlego" num tom sem qualquer emoção. Este julgamento diz muito mais sobre Marianne, e a permanência do conceito de sensibilidade, como era suposto, do que diz sobre Edward.

    É por Elinor que temos uma verdadeira imagem do carácter de Edward. Ele tem "bom senso e bondade", uma excelente compreensão, bons princípios e valores sólidos. Possui uma mente bem informada, disfruta dos livros, tem uma imaginação viva e um gosto "delicado e puro". É um homem de honra que se comporta com reserva e circunspecção para com Elinor enquanto se encontra limitado pelo compromisso com Lucy Steele que só ela pode, honoravelmente, romper.

    O comportamento de Edward e Willoughby é continuamente contrastante durante o decorrer do romance. A visita de Edward a Barton ocorre pouco depois da partida de Willoughby, para que possamos comparar o comportamento de Willoughby para com Marianne com o comportamento de Edward para com Elinor, depois de ela descobrir do compromisso com Lucy Steele (...).

    As circuntâncias dos dois homens, no que toca ao pensamento sobre casamento, são igualmente contrastantes. Willoughby é independente, com uma propriedade em Somersetshire avaliada em £600-£700 ao ano, uma soma adequada para um casal se poder casar naquele tempo, embora, caso Mrs. Smith cortasse a sua renda, isso não teria impedido Willoughby de continuar a viver de forma gastadora. Ele teria de desistir da caça e criação de cavalos, e provavelmente, não poderia manter nem uma carruagem. Embora Willoughby diga, mais tarde, que tinha intenção de pedir Marianne em casamento, ele prefere, ainda assim, despodar uma herdeira com £50,000.

    Edward, por sua vez, está totalmente dependente da sua mãe. Quando ela o deserda, ele tem uma renda de apenas £100 ao ano, escasso o suficente para o manter a ele mesmo, e para mais, a sua mãe ameaça-o de que fará os possíveis para que ele não consiga um adiantamento seja qual for a profissão que escolha. Jane Austen mostra claramente o comportamento de Edward como completamente honorável nas suas circunstâncias, em contraste com o de Willoughby, que está adequadamente fornecido para fazer livre escolhas.

    o resgate de Marianne é deliberadamente romântico, embora num romance romântico da época o resgate seria, provavelmente, consequência de uma tentativa de rapto. Ele é primeiramente apresentado como "incomumente bonito", com "maneiras graciosas e francas" e com "uma juventude e elegância". Para Marianne "a sua pessoa e ar eram iguais aos heróis que ela imaginara na sua história preferida". Tudo o que Marianne ouve de Willoughby, que é, de facto, muito pouco, alimenta a sua imaginação romântica enquanto o seu comportamento dele faz o resto. A linguagem cuidadosa de Jane Austen deixa claro que Willoughby se adapta rapidamente a todos os românticos amores e estusiasmos de Marianne, e serve-se do seu charme natural e vivacidade para conquistar o seu amor sem ter sérias intenções de se casar com ela.

    O autor diz-nos que "nada poderia ser mais expresso do que a existência de um compromisso entre eles do que o comportamento de Willoughby. Para Marianne tinha toda a ternura e distinção que um coração apaixonado poderia dar, e para com o resto da família, ela a atenção afectuosa de um filho e de um irmão". Mrs. Dashwood diz a Elinor "Não tem o seu comportamento para com Marianne e todas nós, nos últimos quinze dias, declarado de que ele a ama e a considera como sua futura mulher?". Marianne, ela própria diz, depois da carta de rejeição de Willoughby, "Eu senti-me solenemente comprometida com ele, como se uma convenção legal nos tivesse ligado". O mesmo sucede com o Capitão Wentworth, com muito menos razão, quando se encontra numa situação parecida com Louisa, ele sentiu-se obrigado, por via da honra, a pedir-lhe a mão se ela assim o desejasse.

    Willoughby é o herói romântico da imaginação de Marianne, bonito, prestável, e com uma aparente sensibilidade. Pelo menos ele tem, ou finge que tem, os atributos que servem para indicar sensibilidade: fogo, ânsia, vivacidade, entusiasmo, amor pela música e poesia romântica, rapidez de pensamento...e por aí em diante. Mas ele não tem sentido de honra ou de obrigação perante os outros pelo seu comportamento egoísta. A opinião de Elinor sobre ele é a de que ela não poderia acreditar que ele era capaz "de estar tão afastado da aparência de todo o sentimento honorável e delicado - pelo menos tão afastado do comum decoro de um cavalheiro. (...)

    Edward não tem nada da aparência ou charme romântico de Willoughby, para mais, é tímido e estranho quando vai a Barton para pedir a mão de Elinor. Mas ainda assim, ele tem gosto e imaginação, possui bom senso e compreensão. Ele é um homem da maior integridade e um cavalheiro de honra. (...)

    Sensibilidade e Bom Senso não é apenas sobre o bom senso de Elinor e a sensibilidade de Marianne, é também sobre a absurda associação da moral com sensibilidade ou a falta dela, e enquanto o leitor moderno, estando longe da sociedade de Jane Austen, pode não conseguir ver Edward como um herói romântico, temos de admitir que ele é um homem íntegro e honorável e que está em contraste directo com Willoughby, que não possui uma coisa nem outra.

    Edward Ferrars

     

    Edward Ferrars é um dos heróis de Sensibilidade e Bom Senso. É o filho mais velho da família Ferrars, tem um irmão - Robert Ferrars e uma irmã - Fanny Dashwood, casada com o meio-irmão das irmãs Dashwood.


    É descrito no livro como não sendo particularmente bonito, cujas maneiras precisavam de intimidade para poderem ser chamadas de "agradáveis". Mas depois de ultrapassar a sua timidez natural, o seu comportamento dava sinais de um coração aberto e cheio de afecto.


    Edward Ferrars, é uma personagem capaz de pôr em causa a sua felicidade com Elinor por causa de uma promessa feita anteriormente, mas cujos laços são frágeis. Mas até que ponto isto é uma prova de amor?


    Nunca compreendi muito bem esta atitude, e isso sempre me deixou de pé atrás com Edward Ferrars, ser fiel à palavra é uma coisa, ligar-se a uma pessoa sem ter qualquer laço que as unisse, simplesmente por uma promessa feita ingenuamente na juventude, parece-me estupidez e uma lacuna no seu carácter.


    É um personagem complicado, com um carácter muito introspectivo e demasiado tímido. Semelhante à aparente frieza de atitude de Elinor embora se torne adorável nas partes em que o vemos mais íntimo com a família Dashwood.

     

    Não encontrei nenhum livro que nos contasse a versão da história de Edward Ferrars, seria interesante.


    No grande ecrã, Edward Ferrars foi interpretado por:

     

    • Robin Ellis (1971)

    • Bosco Hogan (1980)

    • Hugh Grant (1995)

    • Dan Stevens (2008)