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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Análise de Personagem: John Willoughby

Título Original: Character Analysis: John Willoughby
Retirado do site: November's Autumn
Autor do Artigo: Katherine 15.05.10
Traduzido e Adaptado por Clara Ferreira

 


 

O caloroso Mr. Willoughby faz uma grande entrada e põe Marianne a flutuar na nuvens, traz-lhe flores e poesia, une fraqueza com vivacidade, e, acima de tudo, é um apaixonado por música e dança e ainda assim, consegue adicionar a tudo isto, uma contínua rebeldia pelas regras da sociedade - até um certo ponto. Um verdadeiro e típico herói romântico da literatura. Mas será que isso significa necessariamente que ele seja um romântico? Quando ele é deserdado ele transforma-se, de repente, e torna-se convencional e prático. Ele não consegue seguir o seu coração e casar com Marianne, em vez disso, parte para Londres para casar com uma herdeira e depois, arrenpende-se das suas acções. Mas arrepende-se das suas acções porque Mrs. Smith lhe devolve a herança, que lhe permitiria casar com Marianne, se ele tivesse esperado? Ou porque não gosta da sua nova mulher? E era o seu amor por Marianne tão verdadeiro como ele pretende estabelecer? Ou será que agora ele idealizou Marianne e a sua ligação porque era muito melhor que o seu casamento?

 

 

As desculpas de Willoughby

 

"Quanto me tornei intimo da sua família, eu não tinha outra intenção, nenhuma outra ideia no nosso conhecimento para além dele me proporcionar um tempo agradável enquanto era obrigado a permanecer em Devonshire, mais agradável do que eu já fizera antes. A pessoa adorável que a sua irmã é e as suas maneiras tão interessante não podiam fazer nada mais para além de me agradar; e o seu comportamento para comigo desde a primeira vez foi sempre de gentileza - é incrível, quando reflicto sobre o que passei, e o que ela era, que o meu coração fosse tão insensível! - Mas primeiro, tenho de confessar, que a minha vaidade apenas se elevou por isso. Indeferente da sua felicidade, pensando apenas no meu divertimento, deixando-me levar por sentimentos que há muito estava habituado, eu tentei, por todos os meios ao meu dispor, tornar-me agradável para ela, sem qualquer desejo de devolver o seu afecto (...) A minha fortuna nunca foi muita, e eu sempre gastei mais do que devia, sempre com o hábito de me associar a pessoas com maiores rendimentos que eu. Todos os anos, desde que me tornei adulto, ou ainda antes, juntei dívidas; e embora a morte da minha prima Mrs. Smith me libertasse de tudo isso, sendo esse evento incerto e possivelmente distante, foi quase sempre minha intenção restabelecer a minha situação casando com uma mulher de fortuna. Comprometer-me com a sua irmã na altura, era algo impensável - e com maldade, egoismo, crueldade - que nenhum olhar indignado, insolente, mesmo de si, Miss Dashwood, pode reprovar o suficiente - eu agia desta forma , tentando captar a sua (Marianne) atenção, sem qualquer intenção de a devolver. Mas uma coisa pode ser dita em meu favor, mesmo nesse estado horrível de vaidade egoista, eu desconhecia a extensão do sofrimento que provocaria, porque, eu não sabia até à altura o que era amar. Mas alguma vez soube? - Bem, pode ser duvidável; porque se amei verdadeiramente, podia sacrificar os meus sentimentos por vaidade e avareza? Ou mais ainda, poderia sacrificar os sentimentos dela? Mas fi-lo. Para evitar uma pobreza comparável, que o seu afecto e sociedade privariam de todos os seus horrores, eu, através do aumento da minha afluência, perdi tudo o que faria disso uma dádiva."

 

Aqui percebemos que a sedução de Willoughby a Eliza foi apenas para seu gozo e divertimento; nunca teve intenções honradas para com Eliza, uma vez que sempre foi sua intenção casar com uma mulher de fortuna. O seu amor por Marianne pode também ser duvidável, tanto que ele próprio o admite. Não posso deixar de pensar se ele não casaria com Miss Grey, que ele detesta, mas antes uma mulher de fortuna por quem nem sentisse amor ou ódio, se esta cena não tivesse acontecido.

"Acreditou na altura - disse Elinor calmamente - que sentia algo por ela. - Sim, dei por mim a gostar muito dela; e as horas mais felizes da minha vida foram passadas com ela, na altura em que as minhas intenções era estritamente honradas e os meus sentimentos verdadeiros". Ele declara que as suas intenções com Marianne eram estritamente honradas, no entanto, continua a arriscar a reputação dela quebrando determinadas convenções. Um homem honrado faria isso à mulher que ama? (...)

 

O seu medo da pobreza e falta de autodisciplina poderiam, caso ele tivesse casado com Marianne, torná-lo impaciente e agitado. E talvez o seu amor por Marianne se tornasse também num arrependimento.(...)

 

"Não me fale da minha mulher! Ela não merce a sua compaixão. Ela sabia bem que eu não sentia nada por ela quando nos casámos." Esta é talvez uma das frases mais interessantes em todo o seu discurso de desculpas. Ele diz que a sua mulher não merecia qualquer tipo de compaixão pois já sabia que ele não sentia nada por ela aquando do casamento. Contudo, podemos imaginar que ela tenha caído na mesma espécie de "feitiço" por Willoughby, tal como Eliza ou Marianne. Pois é ele próprio que afirma, a propósito de Marianne que fez tudo ao seu alcance para se tornar agradável para com ela - é possível que tenha feito o mesmo com Miss Grey, ou mais ainda, dadas as circuntâncias. Ela sentiu-se tão atraída por ele que acreditou que conseguiria fazer com que ele a amasse. Mas o que será pior, ele casar-se com ela por dinheiro, ou ela deixá-lo?

 

Pobre Mr. Willoughby, fui muito dura com ele. "Existe nele uma expressão de bondade, e as suas maneiras tão agradáveis e abertas!", todos querem gostar dele e talvez se a sua educação tivesse sido mais firme, e ele menos indulgente em dar de barato a sua vaidade e prazeres, e tivesse ele tido o bom senso, a moral e honra, poderia certamente ter-se tornado num personagem interessante. Tal como é, é o vilão de Sensibilidade e Bom Senso, sendo os seus crimes o egoísmo e a vaidade.

 

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