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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Quando a Obra Ultrapassa o Autor

É ponto assente que Fanny Price e "O Parque de Mansfield" não reúnem consenso entre os muitos leitores de Jane Austen. Este livro faz parte, segundo alguns analistas literários, da segunda fase de escrita da autora. É mais denso, menos espirituoso e focado sobremaneira na moralidade. Esta última característica é personificada na figura principal do enredo, Fanny Price.

 

A menina frágil (fisicamente) e aparentemente apagada intelectual e psicologicamente chega a Mansfield Park com apenas 10 anos de idade. Repudiada por todos, inclusive pelos que tomaram a decisão de a recolher com o suposto intuito de lhe darem melhor condições de vida, encontra refúgio na atenção do seu primo Edward, segundo filho de Sir Tomas. Este pretende seguir a carreira clerical por vocação mas, também, por não ter outra alternativa, porquanto a herança da propriedade das terras de seu pai estava destinada ao seu irmão mais velho, é um rapaz culto. Em conversas com a sua recém chegada prima, descobre que esta é dotada de um espírito crítico e de uma boa dose de bom senso. Os diálogos entre os dois decorrem de forma serena. As suas opiniões convergem em quase tudo ao longo do romance, excepto no que toca à encenação teatral - Edward cede perante a força do restante grupo; Fanny mantém-se inalterável na sua posição e no que à personalidade dos irmãos Crawford concerne. No fim, sabemos que todos darão razão a Fanny Price pela sua aparente teimosia.

 

Tal final leva-me a pensar sobre quem teria influenciado quem. Foi Edward que moldou Fanny, tendo ela, como suposta obra (entenda-se aluna) superado o seu autor? Ou teria Fanny sido sempre mais astuta e intelectualmente mais capaz do que o seu primo?

 

Para mim, Fanny era uma pérola que precisava apenas de se descobrir. Edward deu-lhe um pequeno empurrão no mar calmo da literatura e da discussão que ela soube aliar às suas capacidades inatas, superando, em muito, o seu mentor.

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