Ser mulher
Porque não terá Jane Austen pensado num possível romance entre Mrs. Dashwood e Coronel Brandon?
Esta é uma questão amiúde levantada em discussões sobre "Sensibilidade e Bom Senso". Tenho pensado nesta questão porque não me parece de todo descabida. A idade de Mrs. Dashwood a recomendaria como um bom partido mais do que a filha, visto esta ainda tão nova. Trata-se de uma mulher vivida, com mais temáticas de interesse em comum e ambos partilhavam histórias de perda.
Contudo, concluo que nesta obra Jane Austen centralizou a sua atenção nas duas irmãs - Elinor e Marianne - mais do que em Mrs. Dashwood. Se repararmos, Jane não focou a questão da perda de Mrs. Dashwood - sentimentos, o luto, a dor, a saudade. Ela mostra-nos a nítida descida de estatuto social e económico, mas não aprofunda a dimensão psicológica de Mrs. Dashwood. Quase que acabamos por deduzir o que ela teria sentido e o que ela pensaria em determinadas situações. As suas falas, quase sempre, são no exercício do seu papel de mãe. O seu lado mulher teria sido completamente colocado de lado. A ideia com a qual eu fico é que Mrs. Dashwood teria de se conformar uma vida tranquila de viúva e de apoio às filhas. Por outro lado, Marianne estaria a despertar para o lado mulher. Como uma flor que estive a desabrochar na primavera. E é para ela que Jane conduz os olhos de Coronel Brandon.
Gosto de pensar que poderia ter havido um romance entre Mrs. Dashwood e o Coronel Brandon. Reconheço, porém, que se assim fosse, a natureza desta obra teria alcançado um rumo completamente diferente.
De uma coisa tenho certeza, ao contrário da filha, acho que Mrs. Dashwood não se escandalizaria com os coletes de flanela de Coronel Brandon…