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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Lost in Austen # 15

Júlia sentia-se esmagada. A sua objectividade e racionalidade tinham sucumbido perante a malvadez intrépida daquele homem odioso. Eduardo... o seu nome causava-lhe náuseas. Por mais que pensasse não conseguia descortinar um plano para proteger a irmã  e para se soltar da manipulação a que estava a ser sujeita. E se contasse tudo a Cecília? Será que ela acreditaria? Talvez Henrique a pudesse ajudar pois percebera imediatemente que este era bem diferente do irmão e conseguira ler nos seus olhos o amor verdadeiro que sentia pela irmã.

 

Foi arrancada destes pensamentos pelo toque do telefone. O seu coração deu um pulo e as suas mãos começavam a suar. Tinha quase a certeza de que era ele. Júlia atendeu com a voz quase apagada mas do outro lado soou uma voz feminina que pedia para falar urgentemente com a senhora dra. Cecília. Júlia ficou aliviada e  correu a chamar a irmã.

 

Um cliente francês com quem deveriam fechar um negócio na semana seguinte estava renitente em celebrar o contrato. Necessitavam agora da sua perícia enquanto economista e grande conhecedora daquela vertente da empresa para reavaliar a proposta. O melhor, diziam, era que a equipa reponsável por aquele projecto se deslocasse à sede da empresa do cliente, em Paris, por se tratar de um cliente importante que não poderiam perder. Ficou então combinado que saíria no dia seguinte, no voo das 10h30. A reunião teria lugar às 16h00, no escritório principal da empresa, nos Campos Elísios. Isto dar-lhe-ia margem para se instalar no hotel e rever alguma nota que achasse mais importante debater. Este telefonema veio retirar-lhe um pouco da angústia causada pelos acontecimentos anteriores. A cabeça estava agora ocupada com estratégias e planos para debater no dia seguinte.

 

Às vinte horas desceu para jantar e informou a tia e a irmã que se iria ausentar por dois ou três dias. No entanto, como a semana a que se dispusera ali passar ainda não tinha terminado, voltaria para ficar mais uns dias. Esta notícia alegrou a tia e acalmou o coração de Júlia. É sempre um tormento ver uma irmã sofrer mesmo quando a ligação de infância parecer ter-se desvanecido. Quando esta existe na infância, raramente se quebra para sempre.

 

Sozinha no seu quarto, Cecília era agora um rosto de angústia e tristeza. O seu reflexo na janela devolvia-lhe a figura de uma mulher arrasada pelo sofrimento. Tinha dificuldade em reconhecer-se. A lembrança de que há exactamente um ano tinha estado em Paris, para onde  seguiria no dia seguinte, vincavam ainda mais a sua tristeza. Não conseguia adormercer. Os seus pensamentos oscilavam entre a vivência dos acontecimentos daquela tarde e os dias passados em Paris, no Verão passado, com Henrique. 

 

 

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