Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Shortstory – parte 60

Todos os casamentos se realizaram na altura prevista, tornando felizes aqueles que os protagonizavam e também os que a eles assistiam, passando a ser cada vez mais frequentes os contactos entre os amigos, alguns deles agora tornados próximos pelos parentescos resultantes dos casamentos.

 

Emma e Mr. Knightley, que ela agora chamava George, também eles recém-casados, assistiam com surpresa ao casamento que se realizava naquele dia de outono, com ares de pompa, em Mansfield Park.

Estavam ali todos presentes, já o tinham estado no casamento anterior que também ali se realizara, um mês atrás, entre Fanny Price e o seu primo Edmond Bertram.

 

Mas agora, apenas Georgiana e William não tinham comparecido, tendo já iniciado a sua ansiada viagem para as Índias Ocidentais. Apesar das saudades, Lizzie e Darcy estavam tranquilos e felizes, pois antes da partida, tinham-se encontrado todos com a irmã de Lizzie, Kitty, que também havia casado com um oficial da Marinha, passando desde então, mais tempo no mar do que em terra, não parecendo em nada mais envelhecida nem menos feliz do que se vivesse permanentemente no mesmo local. Pelo contrário, Kitty tornara-se uma mulher cada vez mais bonita e mais interessante, ultrapassados que tinham sido os tempos de futilidade, quando ela e Lydia só tinham pensamentos sobre oficiais!

Numa das visitas à família, Kitty e o marido tinham falado maravilhas do mundo que agora conheciam, estando agora enormemente ampliada a sua visão das coisas e do mundo, dando a Georgiana amplos motivos para sonhar ainda mais.

 

E assim, Lizzie e Darcy tinham-se conformado com a ausência de Georgiana, conscientes da enorme felicidade que a irmã mais nova estava a sentir. E havia Jane e Charles Bingley, cada vez se visitando mutuamente durante mais tempo, havia o bebé de ambos que recentemente nascera, um menino robusto que herdara o nome do pai, havia os gémeos que estavam cada vez mais crescidos e bonitos, havia também a própria Lizzie que descobrira nos últimos dias que estava outra vez de esperanças… eram tantos os motivos para sorrirem e se sentirem gratos pela vida que tinham!

 

Anne e Frederik Wentworth sentiam-se esfusiantes, ela ainda mal acreditando que aquele casamento a que agora assistiam em Mansfield Park era mesmo o daqueles noivos que ali se encontravam, ambos tão compenetrados na cerimónia e ao que se dizia, tão apaixonados um pelo outro! Nos seus pensamentos mais íntimos, Anne duvidava que a noiva estivesse realmente apaixonada, pois parecia-lhe que o peso maior da sua decisão estava no título e na fortuna do noivo, mas deixava essas considerações para si própria, esperando que o futuro não confirmasse as suas suspeitas e ambos fossem realmente sempre felizes e apaixonados.

 

- Nem consigo acreditar que este casamento se está a realizar! – suspirou Anne.

 

- Não te inquietes, meu amor! – disse Frederik, adivinhando no que estava ela a pensar.

 

Havia mais de meia hora que a noiva tinha passado de braço dado com o pai, vaidoso e inchado de orgulho, ela muito bela como sempre, de rosto no ar com aquele ar de petulância que lhe era tão característico.

 

- Viste como o meu pai não nos liga, só tem olhos para sir Thomas Bertram… - comentou Anne.

 

Wentworth sorriu e abraçou ainda mais a sua querida Anne. Sabia como a família dela sempre a tinha marginalizado e desprezado, sobretudo o pai e a irmã mais velha, Elisabeth, valorizando apenas as aparências, os títulos e as riquezas.

 

Após o casamento de Anne e Wentworth, sir Walter Elliot tinha-se feito convidado para Mansfield Park, juntamente com a sua filha mais velha, Elisabeth. Apesar de Elisabeth estar ligeiramente diferente, muito mais simpática com as irmãs e supostamente mais humana, este casamento que agora se realizava entre ela e Tom Bertram, o primogénito de sir Thomas Bertram, tinha-a elevado perante o pai, reforçando-lhe o orgulho e acentuando-lhe a vaidade. Elisabeth dizia que estava muito apaixonada por Tom Bertram e que esse amor nascera durante essa estadia em Mansfield Park.

Fosse como fosse, pareciam estar todos muito felizes e satisfeitos com aquele casamento que agora aproximava as duas famílias. Apesar de não achar muita graça ao pai da noiva, cuja cabeça de vento estava constantemente a magicar em futilidades, ligando apenas às aparências, sir Thomas Bertram não desgostava da noiva e achava que com o passar do tempo e alguma polidez, Elisabeth se poderia tornar sem problemas a futura lady Bertram.

 

A irmã mais nova de Anne e Elisabeth, Mary Musgrove, de braço dado com o seu marido Charles, também estava razoavelmente satisfeita, embora os achaques que sempre a ocupavam, não lhe dessem descanso.

Tinham agora cinco filhos, todos rapazes, inquietos e travessos que corriam pelo jardim e não lhes davam descanso. Mary queixava-se constantemente que ninguém se preocupava com a sua pessoa, sequer Charles, embora o próprio sentisse que não era assim.

 

Quanto a sir Walter, estava nas nuvens! A sua filha preferida, sem sombra de dúvidas, a mais bela das três, era também aquela que casava em último lugar, mas fazia o melhor casamento de todas!

Mansfield Park era realmente uma beleza e o sonho de qualquer pai, embora houvesse uma nódoa, mal esclarecida sobre uma filha de sir Thomas Bertram de quem ninguém falava, e que havia anos abandonara o marido, fugindo com outro indivíduo com quem afinal acabara por não ficar. Mas essa era uma mancha familiar que estava oculta, todos se fechando cuidadosamente a dar pormenores sobre esses distantes acontecimentos, sequer já se sabendo se essa filha de sir Thomas Bertram, Mary de seu nome, estava viva ou se já morrera.

 

A outra filha de sir Thomas Bertram, Julia Yates, era casada com um ator de teatro em Londres e dizia-se que ela própria também representava, o que sir Walter não achava grande coisa, pois suscitava falatórios, mas pelo menos apresentavam-se ambos muito elegantes e belos, provocando admiração nos rostos daqueles que os contemplavam.

Poucas vezes Julia Yates e o marido visitavam Mansfield Park e a sua vinda para os casamentos dos irmãos, com um mês de diferença entre ambos, suscitara tanta curiosidade e admiração por parte de todos, pois dizia-se que eram ambos muito excêntricos e que sir Thomas Bertram não gostava de os ter por perto.

 

Tanto melhor para Elisabeth, pensou ufanamente sir Walter, pois assim poderá ter Mansfield Park só para si no futuro!

 

What Matters in Jane Austen de John Mullan

Foi recentemente editado no Reino Unido um livro com o título: What Matters in Jane Austen, a autoria pertence a John Mullan.

Aqui vai a descrição retirada da Amazon:

 

Is there any sex in Austen? What do the characters call each other, and why? What are the right and wrong ways to propose marriage? And which important Austen characters never speak? In What Matters in Austen, John Mullan shows that you can best appreciate Jane Austen's brilliance by looking at the intriguing quirks and intricacies of her fiction - by asking and answering some very specific questions about what goes on in her novels, he reveals their devilish cleverness. In twenty-one short chapters, each of which answers a question prompted by Jane Austen's novels, Mullan illuminates the themes that matter most to the workings of the fiction. So the reader will discover when people had their meals and what shops they went to, how they addressed each other, who was allowed to write letters to whom, who owned coaches or pianos, how vicars got good livings and how wealth was inherited. What Matters in Austen explores the rituals and conventions of her fictional world in order to reveal her technical virtuosity and sheer daring as a novelist. Though not a book about Jane Austen's life, it uses biographical detail and telling passages from her letters to explain episodes in her novels; readers will find out, for example, what novels she read or how much money she had to live on or what she saw at the theatre. Inspired by an enthusiastic reader's curiosity, written with flair and based on a lifetime's study, What Matters in Austen will appeal to all those who love and enjoy Jane Austen's work.

 

 

 

Este livro, a julgar pela descrição será uma excelente leitura para todos nós amantes de Austen! Como não vivemos naquele tempo, alguns pormenores escapam-nos e por vezes nem sequer percebemos o quanto Jane Austen é brilhante.

O livro está no nono lugar do top Geral, publicado pelo jornal The Guardian. Vi esta informação na revista Ler deste mês, estou a partilhar para todos os interessados em Austen. Mais uma vez fica a questão porque será que este tipo de livros não chegam às editoras portuguesas? Porque será que temos continuamente de fazer o esforço de ler em inglês se queremos conhecer melhor algum escritor?