Shortstory – parte 59
E assim decorreram os casamentos, envoltos em felicidade e conversas, aproximando os amigos e tornando para todos eles a vida social bastante mais agitada e movimentada.
Emma apercebia-se agora que quanto mais próxima estava de Mr. Knightley, mais desejava estar. Após o êxito dos casamentos de Anne com Wentworth, General Tilney e Lady Russell e Henry Tilney e Catherine e perante a perspetiva breve dos próximos, a vida de Emma era agora uma roda viva de atividade e engenhos, sempre ternamente acompanhada por Mr. Knightley.
Apesar dos receios iniciais, Mr. Woodhouse aceitou bem a quantidade de afazeres da sua filha, mesmo quando a própria sequer julgava que ele o fizesse. Ainda assim, tendo permanecido no seu recato em Hartfield, o doce idoso queria saber todos os passos que havia sido presenciados e com todos os pormenores, pelo que Emma e Mr. Knightley passavam tardes e serões inteiros a contar-lhos, por vezes repetindo o que haviam dito anteriormente, pois Mr. Woodhouse pedia vezes sem conta que lhe dissessem o que já havia sido dito no dia anterior. Após os relatos e as respostas às suas questões, Mr. Woodhouse inquietava-se por todos na mesma medida em que se revelava curioso com os acontecimentos que não havia presenciado.
- Pobre Miss Elliot – ainda ele se lamentava quanto ao casamento de Anne – passou por tantas coisas há tão pouco tempo e já teve de casar!
- Mas querido papá – repetia pela décima vez Emma com ternura – A Anne casou com o seu amor de sempre, estão muito felizes os dois, não é pobre coisa nenhuma!
Mr. Knightley também estava presente e riu-se muito. Nos últimos tempos, Mr. Knightley estava sempre presente em todos os momentos, o que era ótimo, pensou Emma. Os queridos amigos, Mr e Mrs Weston tinham-se ausentado por alguns meses, levando a sua pequena Susan que já fazia seis anos, de visita a Frank e Jane Churchill, que também os haviam brindado com um neto. As cartas que chegavam eram sempre lidas com enorme felicidade, embora com saudade dos ausentes, todos sabendo que os meses passariam num ápice e em breve todos estariam novamente juntos.
- E o próximo casamento é já o de Georgiana com William Price em Pemberley… - contou Emma, também pela décima vez.
- Pobre Georgiana, essa é que é mesmo pobre… - comentou pesaroso Mr. Woodhouse – já que vai passar a vida nos navios a viajar por águas tumultuosas e revoltas, enfrentando perigos, piratas e doenças, e tudo isso para quê? Se tinha a felicidade em Pemberley, um conforto tão bom, rodeada daqueles que a amam, que necessidade tem agora de ir pelo mundo, exposta sabe-se lá a quê…
Emma e Mr. Knightley entreolharam-se divertidos. E foi quando se despediram até ao dia seguinte, que Emma acompanhou Mr. Knightley à porta e ele lhe disse de súbito:
- Emma, tenho tanto para lhe dizer que já não sei como contar…
Emma estremeceu mas manteve a sua serenidade aparente e respondeu rindo-se:
- Então diga, Mr. Knightley, diga…
Mr. Knightley olhou-a nos olhos e segurou-lhe na mão:
- A verdade é que a amo, Emma, e desejo muito casar-me consigo… não a levarei para longe, na verdade, estou a pensar mudar-me para Hartfield para podermos estar todos juntos, eu, a Emma e o seu pai… o que me diz?
Emma tinha de alguma forma sido apanhada de surpresa. Mas as perspetivas eram tão boas e o futuro tão alegremente sugestivo que não conseguiu dizer outra coisa que não fosse que sim.