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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Passatempo!

Infelizmente o nosso passatempo para encontrarmos um título para a nossa shortstory não teve nenhuma participação. Face a este resultado nulo o passatempo encontra-se neste momento suspenso. Relembro que a data limite terminou ontem e hoje começaria uma segunda fase onde seriam seleccionados dez finalistas. Como expliquei na altura, os dez finalistas seriam escolhidos pelas autoras do Japt e iriam ser votados posteriormente pelos leitores para se apurar, o vencedor. Em caso de haverem apenas dez participações ou menos a votação começaria hoje. Como não há participações fica anulado.

Shortstory – parte 55

 

 

Se as pessoas que se interessavam verdadeiramente pela felicidade dos seus entes queridos se sentiam felizes com os preparativos de tantos noivados e a antevisão das bodas que se realizariam já na próxima primavera, Emma era sem sombra de dúvidas, a pessoa que se sentia mais feliz e mais realizada com tantos alegres acontecimentos.

 

Nesse inverno em Hartfield, acompanhada pelo pai que passava os dias à lareira a preocupar-se com as correntes de ar, com as visitas frequentes de Mr. Knightley, por vezes visitando o Capitão e Mrs Weston, acompanhando o saudável crescimento da pequena Susan, recebendo e escrevendo inúmeras cartas para as suas amigas mais recentes, Emma ia passando os dias, esperando a chegada da primavera e com ela a realização de todas as bodas esperadas.

 

Como quase todos os dias, Emma dava por si a esperar com ansiedade pelas visitas de Mr. Knightley que ultimamente a dispunham tão bem a pontos de não se imaginar já sem a presença constante do seu querido amigo e das suas conversas tão inteligentes e interessantes.

Por vezes, Mr. Woodhouse manifestava o seu desagrado pelas saídas frequentes de Mr. Knightley para os visitar devido ao frio inclemente, às condições atmosféricas tão desagradáveis e à possibilidade de este adoecer, o que seria sem sombra de dúvidas, uma grande infelicidade e um transtorno enorme.

 

- Preocupo-me e com razão, porque não quero ficar privado da companhia do querido Mr. Knightley – dizia o pai de Emma, arrepiado de terror perante tal possibilidade – tenho de lhe pedir que seja mais cauteloso com as saídas neste tempo tão invernoso!

 

Emma e Mr. Knightley riam-se, tentando explicar-lhe que a distância era curta e que quando o tempo estava mesmo adverso se utilizava a carruagem com todos os confortos em vez do simples cavalo ou se as condições fossem mesmo muito desagradáveis, não se visitavam sequer.

 

- O meu querido pai recorda-se da última semana, quando nevou mais, e Mr. Knightley esteve três dias sem nos poder visitar! – salientou Emma.

- E como sentimos deveras a falta dele! – suspirou Mr. Woodhouse – É verdade que sentimos a sua falta… mas preocupamo-nos com os males que a exposição a temperaturas tão baixas lhe possa causar!

 

Emma riu-se e começaram a conversar animadamente. Era a hora do lanche e rapidamente Mr. Knightley se sentiu aquecido com o conforto das lareiras acesas e da chávena de chá quente. Naquele dia, havia um bolo de maçãs com aspeto muito sugestivo a acompanhar o chá que tentou Mr. Knightley a comer uma fatia.

 

- Não me parece muito boa ideia comer bolos… - comentou Mr. Woodhouse – não sei o que deu hoje em Emma para permitir que a cozinheira o fizesse…

 

- Paizinho, já lhe tinha dito que estamos a fazer experiências para decidir como serão os bolos dos casamentos, o de Anne com o capitão Wentworth e o de Catherine com Henry Tilney… combinámos fazer isso durante o inverno. Em Parque Mansfield também Fanny está a fazer experiências e vamos comunicando através das cartas…

 

- O que é um excelente pretexto para provar um doce tão delicioso! – comentou Mr. Knightley, já a iniciar a sua fatia de bolo.

 

- Mau pretexto, mau pretexto… - disse Mr. Woodhouse – com esta tendência que Emma tem para desejar casamentos, parece que não vão sobrar pessoas solteiras à nossa volta…

 

Mr. Knightley tossiu ligeiramente porque se lembrou de si próprio e dos sentimentos que diariamente amiúde já reconhecia, não tendo ainda a coragem necessária para os verbalizar, e perguntou:

 

- E quanto ao casamento de General Tilney e Lady Russell, também haverá provas de bolos?

 

Emma sorriu e respondeu:

 

- Não, não temos falado sobre isso. Apesar de ambos estarem muito mais comunicativos, ainda não dispomos de confiança suficiente para abordar o assunto dos bolos! O casamento está a ser preparado, General Tilney está muito simpático e humano com os filhos, Lady Russell já não se sente tão acima dos comuns mortais e tornou-se mais próxima das pessoas, mas não dispomos de suficiente à vontade para falar desses assuntos com eles! Com as nossas amigas já é completamente diferente…

 

E assim se passou a tarde em conversas animadas. Quando chegou a hora de Mr. Knightley sair, Emma acompanhou-o à porta.

 

- Nem sabe como nos fez falta na semana passada com a neve, Mr. Knightley! Nem nos soube bem a hora do lanche sem a sua presença!

 

Mr. Knightley tossicou ligeiramente e voltou a sentir aquela estranha impressão de querer estar mais tempo ali do que era habitual.

 

- Em breve, quando o tempo levantar mais, terei de ir a Londres tratar dos negócios…. – disse ele – e trazer notícias dos nossos familiares.

 

- Oh, Isabella está sempre tão ocupada que não escreve com a regularidade das minhas amigas… é sempre bom saber como estão todos eles! O meu pai preocupa-se imenso com as crianças por causa das correntes de ar…

 

- As crianças são felizmente todas muito saudáveis – riu Mr. Knightley com gosto, não lhe apetecendo partir.

 

- A Emma ainda está a pensar planear mais casamentos? - Mr. Knightley não resistiu a perguntar-lhe.

 

Emma ficou pensativa durante um instante e depois respondeu:

 

- Bem, ainda há Georgiana e a Fanny, e até a irmã de Marianne e Elinor, a jovem Margaret, mas eu penso que brevemente tudo se resolverá… os noivos que julgo que elas terão não precisam dos meus préstimos porque já se devem ter declarado ou estarão quase a fazê-lo…

 

Mr. Knightley não conseguiu ficar calado.

 

- E o seu próprio casamento, Emma? Já pensou como poderia ser?

 

Emma ficou sem fala. Os olhares que ambos trocaram eram já inquestionáveis. Agora era certo que tinham os dois consciência dos sentimentos que nutriam um pelo outro.