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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Leitura Comparada e um Lançamento #3

Ainda dentro do clima de comemoração, toda a próxima semana será dedicada a Sense and Sensibility no Jane Austen em Português.

 

A Raquel irá focar toda a atenção no lançamento da edição ilustrada de Razão e Sentimento da Editora Nova Fronteira. E, dentro deste contexto, iremos proceder a partilha da terceira e última parte da Leitura Comparada que desenvolvemos no âmbito do Bicentenário de Sensibilidade e Bom Senso.

 

Será uma semana marcada pela sensatez de Elinor e pela paixão de Marianne em tons de delicadeza e emoção.

 

 

(fotografia: cortesia da Raquel Sallaberry Brião)

Leitura Comparada e um Lançamento #2

Já notaram que o blogue Jane Austen em Português da Raquel Sallaberry Brião tem uma nova imagem?


 

 

 

 

 

Esta nova imagem surge a propósito do aniversário do seu blogue (que será dia 21 de Junho) e do lançamento da edição de luxo ilustrada de Razão e Sentimento, tradução de Ivo Barroso (Editora Nova Fronteira). Como podem constatar o Jane Austen em Português ganhou um ar minimalista, clean e elegante. Eu adorei!

 

A Raquel está em clima de comemoração e tem todos os motivos para isso! O trabalho que desenvolve no Jane Austen em Português, no Lendo Jane Austen e no Bibllioteca Jane Austen é uma referência para todos que amam a escritora Jane Austen. O lançamento de Razão e Sentimento ilustrado é um resultado concreto desta dedicação em prol da paixão por Jane Austen e pelos livros.

Por estas e por muitas mais razões, minha querida Raquel, quero dizer-te publicamente: Parabéns!!

O Parque de Mansfield - a minha opinião

Quando no ano passado dedicamos um mês à análise do Parque de Mansfield como ainda não tinha lido o livro fiquei encarregue de fazer uma pequena review da adaptação de 2007.

De todas as  adaptações que já vi e aqui também incluo as que não pertencem aos livros de Jane Austen, foi a que mais detestei. Isso fez com que fosse adiando a leitura deste livro, além de outros comentários menos favoraveis ao livro.

Há umas semanas, encontrei a adaptação de 1999 no youtube e gostei muito mais do que da outra. Neste mês de Maio, o clube de leitura Jane Austen, a nossa parceria com as Livrarias Bertrand, que vocês tão bem conhecem, o livro a discutir era precisamente O Parque de Mansfield.

 

Tudo isto foram motivos para ler o livro porque se não fosse pelo clube talvez eu adiasse um pouco mais. Este livro surpreendeu-me muito pela positiva, o inicio é lento, mas à medida que vamos conhecendo melhor os personagens o interesse aumenta e torna-se ainda maior quando Sir Thomas regressa da Antigua.

Outra coisa que salta à vista é que há um maior aprofundamento das personagens; a exploração dos seus actos e maneira de ser é mais minuciosa que nas obras anteriores, Sensibilidade e Bom Senso e Orgulho e Preconceito. Além disso, ouvimos mais falar personagens secundários em dialógos que não participam os personagens principais.

A Fanny é muitas vezes apontada como uma desilusão enquanto heróina e não posso dizer que tenha gostado muito dela, mas achei que o facto de ela estar de certa forma á parte no seio familiar permite-lhe ver os Crawford como são realmente.

Não gostei especialmente do final porque o Edmund casar com a Fanny soa muito a prémio de consolação. Para além disso Jane Austen perdeu a oportunidade de provar que as pessoas podem mudar ao proporcionar a Henry uma mudança por amor.

Já quando li Sensiblidade e Bom Senso, há alguns anos fiquei com a mesma ideia, a partir do momento da conversa entre ele e Elinor, Willoughby podia ter sido reabilitado. Hoje sendo mais madura percebo que tal era impossivel já que engravidar uma rapariga era uma falha grande demais para ser perdoada pelo leitor e pela própria Marianne e de certa forma isso ajudou-me a gostar do fim dela que eu sei que quase ninguém gosta.

Mas Henry não tinha falhas graves e apenas o facto de cortejar de forma descarada as duas irmãs Bertram proporcionou a Fanny a certeza que ele não é sincero, quando na realidade era, embora não o fosse no inicio. Ela pouco ou nada acredita na sua declaração de amor.

Henry acaba por ser vitima dos seus próprios erros, seria esta a lição que Jane Austen pretendia dar ao leitor, já que não o reabilita?

Para terminar não posso deixar de dizer que muito me surpreendi com a maldade da Sra Norris, não que eu ache que o mundo está cheio de pessoa boas, mas chocou-me por toda a maldade ser direcionada a alguém que não merecia tal coisa e ainda por cima era sua sobrinha de sangue, filha da sua irmã. Se fosse sobrinha de casamento, eu ainda lhe dava alguma desculpa porque entendia que ela pudesse não gostar da cunhada ou cunhado...

 

Shortstory – parte 51

Houve que acomodar em Pembeley a maior parte dos visitantes, pelo menos aqueles cujas moradas eram mais distantes. Para que todos pudessem ficar alojados com conforto, em muito contribuiu a organização da governanta Mrs Portman, orientada por Georgiana e Darcy.

Bilhetes foram enviados pelos criados para as principais moradias, acalmando as preocupações pelas ausências dos seus habitantes.

Emma apressou-se a enviar um bilhete ao pai, assegurando que estavam todos bem e que em Pemberley não havia correntes de ar.

 

 

E assim, quando Elizabeth acordou no dia seguinte, já repousada e calma, muito bem-disposta e curiosa para ouvir a restante história das vicissitudes de Anne, descobriu com assombro mas também com alegria como a sua propriedade estava cheia de convidados. Depois tiveram de lhe contar sobre o acidente de Elliot e a sua consequente morte, facto que Elisabeth aceitou com naturalidade, dado o calibre do carácter desse indivíduo e os inexplicáveis sofrimentos que infligira a Anne.

 

 

Também Anne tinha despertado já retemperada das forças, as marcas das cordas nos braços já se esbatendo, tendo dormido um sono profundo sem sonhos lembrados, as mágoas e os traumas cada vez mais distantes, mergulhados nas memórias que sabia que iria esquecer.

Após um pequeno-almoço reconfortante, recebeu as primeiras visitas e quis recomeçar a sua história com novo fôlego. Estavam então presentes Lady Russell, Darcy, Georgiana, Elisabeth, Emma, Mr. Knightley, Wentworth, General Tilney, Fanny, William Price e Edmund Bertram.

 

- Quando meu primo me arrastou para aquela propriedade lúgubre junto ao mar, sempre repetindo a mesma história de meu pai estar doente – contou Anne – eu não desconfiei de nada, era tudo tão súbito, a carruagem, o percurso, a conversa, tudo… quando chegámos à propriedade e a carruagem foi embora, dei conta que não havia ali ninguém e a propriedade parecia desabitada, mas ele, sempre com a mesma conversa, levou-me para a entrada – Anne parou por um instante para respirar fundo – e foi aí que se aproximou de mim e me deu qualquer coisa para cheirar… e não me lembro de mais nada…

 

Os outros entreolharam-se. Wentworth, sentado na mesma cadeira do dia anterior, segurava-lhe na mão. Lady Russell estava deveras impressionada. Emma, ao lado de Mr. Knightley, pensava que sempre havia desconfiado daquele indivíduo.

 

- Quando acordei já estava amarrada. – disse Anne. – E foi horrível, fui percebendo o que se havia passado. Ele aparecia por vezes, libertava-me as amarras, amordaçava-me e dizia que tudo aquilo era para eu compreender que não tinha poder de decisão, porque não decidia bem e ele é que tinha de me levar para o bom caminho… que eu não sabia orientar a minha vida e ainda bem que o tinha a ele, que era uma bênção o nosso noivado…completamente louco, mostrava-me as cartas que escrevia em meu nome com os maiores disparates sobre o noivado, a propriedade que havia adquirido e tudo o resto… quando eu me tentava libertar, voltava a deixar-me desmaiada com aquela…. aquela substância que me obrigava a cheirar…

 

- O Almirante Croft contou que foi encontrada uma grande quantidade de ópio entre os pertences de Mr Elliot mas ignoramos ainda como poderia ele tê-la conseguido. – disse Darcy.

 

- Elliot era cheio de astúcias e muito inteligente para o mal. – disse Anne. – Não sei o que teria sido de mim se não fosse… - Anne olhou agradecida para Fanny.

 

Todos os olhares incidiram sobre a pequena Fanny. Embora não gostasse de ser o contro das atenções, Fanny já se sentia mais à vontade entre aquelas pessoas. Além disso, estava rodeada pelo primo e pelo irmão, facto que lhe reforçava a confiança.

 

- Foi por acaso que descobri o que estava a acontecer. – disse Fanny – Tínhamos por hábito fazer longas caminhadas, meu irmão, meu primo e eu, mas por vezes também o capitão Wentworth nos acompanhava. Havia algum tempo que sabíamos da história de amor entre Wentworth e Anne e estranhámos quando as cartas falsas de Anne começaram a aparecer…

 

- Não contaram a ninguém o que se estava a passar… - resmungou Emma, um pouco aborrecida por se sentir posta de parte.

 

- Não o fizemos porque não sabíamos bem o que estava a acontecer, não nos leve a mal, menina Woodhouse… - disse Fanny com doçura – Além disso já devem ter reparado que não me sinto muito à vontade com… com muitas pessoas à volta… - e Fanny ficou corada pelo facto de ter conseguido desenvolver uma conversa tão longa.

 

Mr. Knightley assentiu e fez sinal a Emma para que esta compreendesse melhor o que se passara.

 

- Pronto, então eu compreendo, não teve importância. – sorriu Emma – O que interessa é que Anne está bem.

 

- Não estaria se não fosse Fanny… disse Anne.

 

- Houve um dia em que saí sozinha a cavalo. – contou Fanny – Meu irmão e meu primo tinham-se ausentado para resolver não sei que assuntos e também o capitão Wentworth não estava presente… não sei como foi mas perdi-me, fiquei muito aflita e fui dar com a propriedade enorme junto aos penhascos. Sentia-me assustada porque não encontrava ninguém e pensei que talvez ali estivesse alguém que me pudesse ajudar.

 

 

Todos seguiam com interesse a narrativa de Fanny. Coronel Tilney olhou para Lady Russell e ela viu no seu olhar o refulgir de memórias há muito esquecidas e já quase apagadas. Eram tantas as memórias que agora lhe assomavam em catadupas, fazendo-a sentir-se incomodada e envergonhada com os seus preconceitos e a sua preocupação com as aparências que Lady Russell sentiu que estava a transformar-se numa pessoa diferente.