Embora os mais conhecidos sejam aqueles que são atribuídos ao cinema, os Bafta também são atribuídos à televisão. Sem qualquer tipo de visibilidade no nosso país, este ano, são especiais para nós fãs de Jane Austen, isto porque estão nomeados vários actores e atrizes que já fizeram um papel numa adaptação de uma obra de Jane Austen!
A nossa eterna Emma, Romola Garai está nomeada para melhor actriz pela mini-série, The Crimson Petal and the White. Já Anna Chancellor, a Miss Bingley da adaptação da BBC de Orgulho e Preconceito, está nomeada para melhor actriz secundária pela série The Hour que passou na Foxlife.
Temos ainda a Taimsin Grieg, a Miss Bates de Emma 2009, na categoria de melhor actriz em comédia, também por comédia mas na secção masculina temos Tom Holllander e a competir com ele Hugh Boneville que além de ter sido o Mr. Rushworth na adaptação do Parque de Mansfield de 1999, é muito conhecido por ser o dono de Downton Abbey :)
No domingo lá saberemos quem ganha o quê. Pessoalmente troço pela Romola Garai, uma das minhas actrizes preferidas e que acho que merece ganhar o Bafta.
Este podia ser o título de uma aventura com a nossa intrépida Miss Morland, mas não, nem creio que haja qualquer história fantasmagórica para contar acerca de Donwell Abbey... Mas quiçá, não esteja aqui um bom mote para uma das nossas próximas ficções aqui no Jane Austen Portugal!
Donwell Abbey é a distinta propriedade de Mr. George Knightley em “Emma”. Vou esforçar-me por fazer uma visita guiada a esta casa que terá sido o lar de Mrs. e Mr. Knightley depois da morte de Mr. Woodhouse.
A primeira referência a Donwell Abbey é feita no Capítulo III, Vol. I (aviso que a tradução é feita por mim do original):
"Felizmente para ele [Mr. Woodhouse], Highbury incluia Randalls na mesma paróquia e Donwell Abbey na paróquia adjacente, propriedade de Mr. Knightley. "
Mas tal referência pouco ou nada acrescenta ao que aqui já foi dito. É pelos pensamentos interesseiros de Mr. Elton, que magicava um possível relacionamento com Emma, que conhecemos um pouco mais sobre as suas vantagens patrimoniais, digamos assim, no Capítulo XVI, Vol. I:
"A área de propriedade de Hartfield era irrelevante, pois mais não era do que um pequeno entalhe na propriedade de Donwell Abbey, à qual a restante Highbury pertencia."
Deste trecho ficamos a perceber que em termos de vastidão de propriedade, Donwell Abbey não tinha rival em Highbury. Tal significa que Mr. Knightley era um grande proprietário na altura, tanto ou mais que Mr. Darcy em Orgulho e Preconceito. E é prova disso o trecho que coloco em seguida, retirado do Capítulo XII, Vol.I, a propósito da altura em que John Knightley vem de visita a Hughbury e Jane Austen nos congratula com a amizade entre irmãos:
"Enquanto rendeiro (...) tinha de lhe contar [a J. Knightley] acerca do que cada parcela de terra iria produzir no próximo ano, e dar-lhe toda a informação possível que seria do interesse do irmão, cujo lar em Donwell tinham partilhado durante muitos anos e pelo qual tinham ambos fortes ligações. O plano para uma drenagem, a mudança de uma vedação, a queda de uma árvore e o destino de cada acre de trigo, de nabos ou milho."
Sendo vizinho de Hartfield, sabemos que visitava várias vezes Mr. e Miss Woodhouse, quase sempre a pé. Isso sempre me fez achar que eram propriedades muito próximas. Mas Jane Austen desvenda o mistério logo no Capítulo I do Vol. I:
"Ele [Mr. Knightley] vivia a cerca de 1,5 km de Highbury."
Não é uma grande distância, é certo, mas indica que Mr. Knightley não tinha medo de uma boa caminhada! O que me faz acreditar que o Mr. Knightley idealizado por Jane Austen era, com os seus quase quarenta anos (já pareço Marianne Dashwood a falar!) um homem de exercício.
Não deixa de ser excepcional que Mr. Knightley, com todas as vantagens que possuía, uma vez que era um grande proprietário, culto, de alta posição e, interessante a todos os níveis, não fosse ainda casado e a propriedade estivesse destinada ao sobrinho, Henry (de acordo com as palavras de Emma). É então de supor que Donwell Abbey embora, não sendo assombrada, fosse uma casa vazia, tendo por único ocupante um homem solteiro. E nesse sentido escreve também Jane Austen, depois de uma pequena quezília com Emma a respeito do jogo de palavras que implicava Emma, Jane Fairfax e Frank Churchill:
"Pouco depois saiu rapidamente e foi para casa, para a frieza e solidão de Donwell Abbey."
Mas é no Capítulo VII do Vol. III que ficamos a conhecer Donwell Abbey pois Jane Austen proporciona-nos um delicioso rol de descrições sobre esta casa:
"Enquanto olhava para o tamanho e estilo respeitável da casa, era adequado, próprio, com condições características, pouco elevada e abrigada. Os seus jardins amplos estendiam-se ao longo do prado, regados por um ribeiro do qual a Abadia, com todo o abandono que o tempo produz, mal tinha um vislumbre. [A Abadia] Tinha muita abundância de árvores em fileiras e avenidas, que nem a moda nem as extravagências haviam destruído. A casa era maior que Hartfield e totalmente diferente, cobria um enorme pedaço de terreno, cheia de corredores e recantos irregulares, tinha várias divisões maioritariamente confortáveis e uma ou duas salas bonitas. No fundo, era tudo o que deveria ser, e parecia aquilo que era – e Emma sentiu um crescente respeito por ela, enquanto residência de uma família de verdadeira distinção."
"Depois de passearem durante algum tempo nos jardins (...) seguiram (...) para a deliciosa sombra de uma larga avenida de limeiras, que se estendia para além do jardim, a igual distância do rio (...), não levava a nada. A nada mais do que a uma paisagem que se podia apreciar debaixo de uma construção de pedra com altos pilares, cuja intenção parecia (...) dar a sensação de chegar a uma casa que nunca esteve lá. (...) Era em sim um agradável passeio, e a vista com que terminava era extremamente bonita. A considerável encosta, quase ao fundo do terreno onde a Abadia estava, adquiria gradualmente uma forma de vaso (...) e, a cerca de meia milha de distância estava uma rampa de considerável declive e grandeza, bem revestida com árvores e ao fundo desta rampa, favoravelmente localizada e abrigada, erguia-se Abbey Mill Farm (...). Era uma deliciosa paisagem – deliciosa para o olhar e para o pensamento. Verdura inglesa, cultura inglesa, conforto inglês, visto debaixo de um sol radioso sem se tornar opressivo. (...)"
Julgo que ninguém ficará indiferente a tal descrição. Penso que fiquei igualmente arrebatada com Donwell Abbey tal como com Pemberley. Aliás, através deste artigo, começo a encontrar diversas semelhanças entre Darcy e Knightley, se bem que o último tem um sentido de humor bem mais cativante, ou talvez seja só eu, pois sou suspeita, uma vez que tenho Knightley em maior preferência que Darcy.
Assim, Dowell, uma extensa propriedade, com uma enorme casa, ocupada por um solitário individuo seria, muito embora bela e imponente, uma casa com demasiadas divisões vazias, muito ao estilo de Northanger Abbey, se bem que esta última tinha sido alvo de algumas modernizações e estivesse mobilada “à la mode”!
O que sobressai da descrição feita por Jane Austen são, acima de tudo, os seus jardins—pois o interior da casa devia ser bastante soturno e desinteressante. Mas os jardins, esses, são cativantes e inspiradores, propícios a todo o género de passatempo .
A descrição feita da larga avenida rodeada de árvores as quais não tinham sido destruídas por nenhum ímpeto de moda ou extravagância, fazem-me recordar do famoso passeio à casa de Mr. Rushworth, em Mansfield Park, onde sabemos que um dos projetos será arrancar todas as árvores que circundam a avenida pois essa era então a moda do tempo. E se bem me recordo, Fanny Price fica muito surpreendida pois não entende como é que uma casa pode ficar mais bonita depois de destituída de tão frondosas árvores. Enfim, sabemos então que Mr. Knightley era um homem de bom gosto e sem qualquer pretensão de “estar na moda”.
Algo que também sabemos é que a Abadia de Donwell é famosa pelas suas macieiras e morangueiros, um pouco, se bem se lembram, à semelhança da propriedade do Coronel Brandon, famosa pelos seus pessegueiros!
Sabemos isto através de Miss Bates que caracteriza as maçãs de Donwell :
"As maçãs são das melhores para assar (…) vieram de Donwell ."
Quanto aos morangueiros, percebe-se claramente através do passeio feito a Donwell onde um dos passatempos foi precisamente o de apanhar morangos.
"Donwell era famosa pelos seus morangueiros."
Não sei quanto a vocês, mas eu cá não me importava nada de viver num sítio como Donwell Abbey, embora tivesse obrigatorimente de acrescentar mais elementos à família para preencher mais espaço e é isso que espero que Emma e Knightley tenham feito!