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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Shortstory – Parte 49

Aquele dia parecia nunca mais terminar quanto às emoções, revelações e surpresas. Havia agora tantas pessoas no salão de inverno em Pemberley conversando animadamente, tomando chá, aquecendo-se nas lareiras, que a chegada de mais uma carruagem já não surpreendeu Darcy e Georgiana, entretanto surgida do quarto onde Anne estavam ainda Wentworth e Fanny.

William Price também descera com Georgiana, oferecendo os seus préstimos, encontrando-se de momento com uma chávena de chá na mão a conversar animadamente, sem perder de vista a bela jovem que admirava tanto, achando-a sem sombra de dúvidas, a pessoa mais bela e admirável de todo o salão.

General Tilney também conversava animadamente com todos, embora assomos de melancolia o percorressem amiúde, pois sentia-se culpado. Apesar de ser um homem tão duro e autoritário, habituado a tomar decisões sem hesitar nem se arrepender, dava por si a estremecer com aquela confusão que inadvertidamente havia causado. Sentia-se tão, mas tão profundamente arrependido por ter dado ouvidos àquele louco do Elliot! Pela primeira vez em muitos anos, General Tilney deu por si a refletir sobre o seu próprio comportamento e as suas atitudes para com os outros, envergonhando-se de muitas delas. E se tivesse recusado ajudar Elliot, o que teria acontecido? Nesse caso, teria aquele louco conseguido realizar os seus intentos? Estaria agora morto? Se estivesse, a tragédia não teria ocorrido na sua propriedade como acabou por acontecer, pensou amargamente General Tilney.

 

E foi então que subitamente a viu, maravilhosa visão surgida ao final de tantos anos, de tantas angústias e sentimentos reprimidos, de tantas renúncias, mágoas e sofrimentos! Ela estava ali, acabara de entrar no salão, acompanhada por pessoas que General Tilney não viu, só tendo olhos para ela, para os seus olhos cor de avelã e o seu porte aristocrático, os cabelos embranquecidos mas ainda bela, sempre tão bela!

Ela também o viu e certamente o reconheceu, por instantes assomando-lhe um lampejo de surpresa nos olhos belíssimos, mas parecia estar apenas preocupada com Anne, sendo prontamente levada ao quarto azul por Georgiana.

 

General Tilney sentia-se perdido, logo ele que era sempre tão direto e cheio de resoluções! Havia já muitos anos que não a via, desde que o seu noivado fora rompido em nome de outra união mais adequada, de acordo com a família e também com ela própria. Afinal, pensara então o jovem Tilney, o noivo dela era apenas um cavaleiro, não valia a pena tantos sofrimentos, renúncias e perdas por melhoria tão pequena! Mas ela era ambivalente, por um lado, tão honesta e com um sentido ético tão profundo, por outro, sempre tão presa a convenções e preconceitos sociais, não hesitando obedecer aos pais mesmo que isso significasse a destruição dele.

E então, o jovem Tilney tinha-a odiado tão profundamente, tinha desejado que ela partisse para longe, que desaparecesse com o seu cavaleiro e nunca mais voltassem, tinha-se tornado severo e rigoroso com os outros, também ele se importando já com as questões económicas e de promoção social, desprezando os sentimentos, odiando a felicidade dos outros, tão distante do que em tempos fora, apaixonado e sensível.

 

General Tilney foi interrompido pelo Almirante e pela Senhora Croft que lhe contavam mais uma vez como haviam sido bem-sucedidos na perseguição a Elliot.

- Mas que indivíduo tão mau e ardiloso! – exclamou a Senhora Croft – Imagine o General Tilney que ele andou a escrever cartas a toda a gente em nome de Anne a descrever com pormenores uma grande propriedade que supostamente haviam adquirido para viverem depois do casamento… e era afinal tudo mentira!

 

General Tilney assentiu e fez uma expressão horrorizada a tudo quanto era dito, embora estivesse a pensar sempre nela, naquela magnífica mulher por quem se apaixonara tantos anos antes e que agora lhe aparecera como se fosse uma visão. Seria mesmo ela que ali aparecera ou era ele que tinha imaginado tudo? Sentia-se tão atordoado e com a cabeça a andar à roda!

 

- Meu caro General Tilney, sente-se bem? – perguntou o Almirante Croft preocupado.

Box Hill nos dias de hoje...

 

Este local, referido no  romance Emma, assume um papel importante no desenrolar da história, não só por representar um dos poucos momentos em que Emma sai do ambiente familiar de Hartfield, mas também porque deste passeio resultam mudanças importantes no comportamento e atitude de Miss Woodhouse.

 

"They had a very fine day for Box Hill ... Nothing was wanting but to be happy when they got there. Seven miles were travelled in expectation of enjoyment, and every body had a burst of admiration on first arriving"

 


De acordo com o artigo "Emma: Picnicking on Box Hill" do blogue Jane Austen's World, "os piqueniques tornaram-se muito populares na viragem do século XIX, quando a sensibilidade romântica influenciava a tendência de comer ao ar livre como forma de comungar com a natureza".  Desta forma, sabemos que Jane Austen também seguia as tendências! Neste mesmo artigo, percebemos a dificuldade que havia em preparar tais saídas ao ar livre e toda a logística que isso implicava - na versão de 1996 com Kate Beckinsale tudo isso é muito bem demonstrado.

 

Assim como os piqueniques eram uma tendência na Época da Regência, também o era o local, Box Hill.

Box Hill, existe na realidade em Surrey, Reino Unido, aproximadamente a 30km de distância de Londres. Assim, será de supor que Jane Austen o tenha igualmente visitado.  A colina tem este nome em virtude de um antigo bosque situado num declive muito íngreme do lado oeste com vista para o Rio Mole.

 

As primeiras casas da pequena aldeia de Box Hill datam de 1800, embora grande parte da aldeia tenha sido construida na metade do século XX. Isto significa que a popularidade de Box Hill terá surgido, mais ou menos, na época em que Jane Austen viveu. 

 

Existem duas pinturas que retratam a vista de Box Hill, uma de George Lambert que data de 1733 e se encontra no Tate e outra de William Turner que data de 1796 e que se encontra atualmente no Museu Albert and Victoria em Londres, [constam ambas das imagens iniciais deste artigo, a maior de G. Lambert, a mais pequena de W. Turner) o que acentua mais a ideia de que as qualidades paisagísticas de Box Hill se tornaram mais conhecidas no preciso período de vida de Jane Austen.

 

Hoje em dia Box Hill integra uma Área Especial de Conservação, o que equivale certamente às nossas Áreas protegidas, implicando igualmente inúmeras restrições quanto a construções e destruição do meio ambiente.

 

Tem livre acesso ao público que pode optar por fazer um percurso pedestre de cerca de 1 km para Sul chamado “Pilgrims Ways” (Caminho do Peregrino); visitar o miradouro (Salomons Memorial) onde terá uma ampla paisagem, permitindo inclusivé que se veja a cidade mais próxima, Dorking; visitar o Forte, que só foi construído em 1890, portanto, ainda não exisitia à data em que foi escrita “Emma”; Broadwoods Folly, uma pequena torre circular construída em 1820; A Zig Zag Road, que data de 1869, um caminho muito íngreme com cerca de 2.5 km que já foi por muitos comparado aos Alpes Franceses; e ainda um pequeno percurso de pedras sobre o rio no fundo da colina junto ao Rio Mole.

 

Box Hill mantém a sua popularidade e, quem sabe, se Jane Austen, através de Emma, não teve grande influência nisso!