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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Shortstory 2 - Parte 23

Robert e Lucy Ferrars tinham chegado há três dias e não podiam ser visitas mais indesejadas. A recepção fora cerimoniosa e sem grande diálogo. Edward e Elinor fizeram a devida visita à casa e o olhar de desdém com que Lucy via e ouvia as descrições, não podia ser mais evidente. Enfim, Elinor suportou estoicamente todas as mais diferentes indirectas da cunhada: “Mrs. Ferrars confidencia-me muitas vezes a enorme felicidade que tem em me ter como sua nora!”, “Ah! Quando se tem uma sogra que se preocupa tanto connosco que nos manda bilhetes cerca de cinco vezes por dia, não se pode desejar mais!”, “Mrs. Ferrars já chegou a dizer que não há melhor nora no mundo!”. Todas as conversas com Lucy terminavam assim, “Mrs. Ferrars isto, Mrs. Ferrars aquilo”. Perante tais circunstâncias, é natural que ao terceiro dia, todos desejassem a partida dos Ferrars.


Catherine estava no quarto quando foi subitamente surpreendida pela sua amiga Marianne que entrava de rompante.


- Insuportável! Nunca na minha vida receberia tal criatura em minha casa!


 Perante este desabafo irritado de Marianne, Cathy compreendeu de imediato que o objeto de tanta crispação no espírito de Marianne só poderia ser Lucy Ferrars.


- Mas quem se julga ela? A dar ordens às criadas, numa casa que não é a sua? A insinuar que a minha irmã não sabe como governar a própria casa!


- Talvez esteja a tentar ajudar... – mas nem a própria Catherine acreditava em tal coisa. Nem mesmo a sua tendência aberta para gostar de todas as pessoas lhe permitia qualquer empatia com Lucy, cuja própria sombra lhe cheirava a falso e para mais, Marianne havia-lhe feito uma descrição pormenorizada do comportamento que Lucy tinha tido num passado bem recente.


Marianne sentou-se com um olhar incrédulo para Catherine, com que a dizer-lhe “Nem tu acreditas nisso!”. Catherine sentou-se ao seu lado.


- Não te aflijas tanto assim... se reages dessa forma, imagina o que não sentirá a tua irmã ao ter de ouvir semelhantes coisas. - Marianne nada disse, mas sentiu um aperto no coração. Conhecia bem demais o temperamento da irmã, imaginava o que sofria em silência, e ela ali, queixando-se egoisticamente quando devia estar junto da irmã a apoiá-la. Levantou-se num ápice, desequilibrando a pobre Catherine que estava sentada na beirinha da cama.