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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

As pérolas de Mary Bennet

Eis todos os discursos fluídos e seguros (ou tolos e desapropriados!) que Mary Bennet proferiu ao longo de Orgulho e Preconceito.

 

"O orgulho é um defeito muito vulgar, creio eu. Depois de tudo o que li, estou deveras convencida da sua vulgaridade, que a natureza humana lhe é particularmente atreita e que são raros aqueles entre nós nós que não nutrem um sentimento de condescendência própria baseada numa ou noutra qualidade, real ou imaginária. Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinónimos. Pode-se sentir orgulho sem ser vaidoso. O orgulho diz respeito mais à opinião que temos de nós próprios, enquanto a vaidade é aquilo que pretendemos que os outros pensem de nós."

(Cap. V; em conversa com Elizabeth e Charlotte Lucas sobre Mr Darcy e o seu caracter)

 

"Admiro a energia da tua benevolência, mas todo o impulso afectivo deve ser guiado pela razão; e, na minha opinião, o esforço deveria estar sempre em proporção com o que é requerido."

(Cap.VII; Sobre a ida de Elizabeth a Netherfield saber da irmã Jane)

 

"Sob o ponto de vista da composição, a sua carta não me parece defeituosa. A ideia do ramo de oliveira talvez não seja inteiramente nova, porém considero-a expressa com acerto."

(Cap. XIII; sobre a carta de Mr Collins a anunciar a sua visita a Longbourn

 

"Desde que possa dispôr das minhas manhãs, dou-me por satisfeita. Não considero um sacrifício participar ocasionalmente em festas nocturnas. Todos nós temos deveres sociais a cumprir e partilho, aliás, da ideia de que um intervalo para recreação e divertimento só traz benefícios."

(Cap.XVII; sobre a ida ao Baile em Netherfield)

 

"Longe de mim menosprezar tais prazeres, minha querida irmã; são os que, sem dúvida, se enquadram com mais naturalidade no temperamento feminino. Mas confesso que não me seduzem. Prefiro infinitamente mais um bom livro."

(Cap. XXXIX; para Lydia que fala sobre as estouvadices da viagem de volta do Hertfordshire para Longbourn)

 

"É um acontecimento deveras desagradável e será provavelmente muito comentado. Mas devemos opor-nos à maré da maledicência e derramar sobre os nossos corações feridos o bálsamo do consolo fraternal... Por mais infeliz que Lydia possa vir a ser, poderemos extrair de tudo isto uma lição útil: que a perda da virtude numa mulher é irreversível, que um só passo em falso acarreta uma série de desgraças sem fim, que a sua reputação não é menos frágil que a sua beleza e que uma mulher nunca será cautelosa demais para com as pessos do sexo oposto, especialmente para com aqueles que não merecem a sua confiança."

(Cap. XLVII; para Elizabeth depois de Lydia ter fugido com Wickham)

  

Porque será que Jane Austen não descreveu as roupas das suas personagens?

 

Recomendo vivamente o livro de Linda Grant, A arte de vestir, da Civilização Editora, que li num ápice, sentindo-me muitas vezes identificada com a autora. Escrito na primeira pessoa, as incursões nas questões do vestuário são muito interessantes, por vezes divertidas, assumindo-se que a roupa traduz também a vida e os acontecimentos que se vão desenrolando, sendo assim uma linguagem que fala do que somos e do que nos acontece.

A autora faz duas referências a Jane Austen. Na primeira (Grant, 2009: 90, 91), referindo-se à forma como as riquezas da vida se podem perder, refletindo-se a penúria na vida e naturalmente no vestuário, alude ao romance de Edith Wharton, A Casa da Felicidade, descrição da riqueza e depois da pobreza, onde a personagem, Lily Bart, perdendo tudo, se vê condenada a aprender o ofício de chapeleira para sobreviver, oficio esse que, segundo Linda Grant, está muito próximo da prostituição. Nesse sentido, a autora salienta como essa realidade tenebrosa poderia também ter sucedido às irmãs Benett caso todos os projetos tivessem descambado.

Na segunda referência a Jane Austen (Grant, 2009: 144), Linda Grant afirma que esta nunca descreveu em qualquer das suas obras o vestuário das suas personagens. E acrescenta uma citação de Jane Austen que ignoro de onde a terá retirado, mas que poderá fazer luz sobre o pensamento da nossa Jane: “O vestuário é sempre uma frívola distinção e uma ansiedade excessiva a seu respeito destrói frequentemente o seu próprio fim” (Grant, 2009: 144),

Dei então por mim a pensar por que razão não terá Jane Austen descrito o vestuário das suas personagens. As razões podem ser múltiplas e no entanto, podemos sempre imaginar o que vestia Lizzie ou Emma. Nesses pormenores somos certamente ajudados pelas versões adaptadas ao cinema que conhecemos e que nos surgem à memória quando lembramos Lizzie ou Emma ou qualquer das outras. mas como as imaginava Jane Austen? Como estava vestida Anne no dia em que recebeu a carta do capitão Wentworth? Como estava vestida Lizzie quando percorreu os jardins de Pemberley com os tios? O que vestia Catherine em Bath e depois, na abadia de Northanger? O que vestia Louisa quando se atirou para os braços do capitão Wentworth, errando o alvo e depois caindo e ficando inconsciente num traumatismo cerebral do qual mais tarde acaba por recuperar? O que veste a ajuizada Jane Benett? E Lydia e Kitty, nas tresloucadas procuras de oficiais? Emma veste da mesma maneira que Harriet Smith ou não? E Elinor e Marianne e até Margaret? O vestuário reflete a personalidade das pessoas que o envergam ou é semelhante por está na moda e é o que é esperado? Podemos sempre imaginar, é certo, tendo assim milhares de possibilidades, mas talvez nenhuma seja aquela que Jane considerou quando as criou.

Mrs Darcy versus the Aliens e outras atrocidades

Isto das sequelas de Orgulho e Preconceito e outras obras austenianas é algo que divide muita gente. Há quem adore, há quem goste, há quem faça por ignorar e há quem odeie. Quem odeia normalmente é porque não concebe a ideia de ver 'estragada' a obra original, apesar de uma sequela ser algo que se segue e que não altera a obra original. No entanto, pegar nos personagens e nos locais descritos por Jane Austen e 'brincar' com eles parece ser algo pecador.

 

Claro que, quando se trata de pegar na obra original e alterar os acontecimentos, o destino das personagens e o final original, aí o caso é outro, pelo menos para esta fã de Jane Austen. Mas o objectivo deste post não é falar sobre isso. Talvez numa próxima oportunidade.

 

Pessoalmente, sou daquelas que gosta de ler sequelas. Não todas, claro. Depende do rumo da história e das alterações que fazem às personagens. Infelizmente, a maioria delas tenho de ler em inglês porque, em Portugal, não se valoriza esse género de literatura. Verdadeiramente falando, não se valoriza muito a literatura de Austen, que dizer das obras baseadas nas suas histórias! Já é um consolo suficientemente bom terem traduzido as principais obras dela. 

 

No entanto, uma coisa me intriga! Das várias sequelas e obras baseadas existentes por esse mundo fora (e algumas atrevo-me a dizer que são bem interessantes), em Portugal (vá lá saber-se porquê!), a atenção das editoras e de alguns leitores, recaíu unicamente numa história absurda e fora do comum, que têm como atracção principal a referência a seres de outro mundo e fantasiosos. Chama-se Orgulho e Preconceito e Zombies de Seth Grahame Smith, foi editado pela 1001 mundos, e teve uma fase em que se vendia bastante bem. A frase de abertura é bem elucidativa do que vamos ler: «É uma verdade universalmente aceite que um zombie que consiga deitar a mão a um cérebro tem necessidade de mais cérebros.»

 

Razão para exclamar "Que diabo!"

 

Segundo o site online da Fnac, o resumo do história diz:

"É assim que começa Orgulho e Preconceito e Zombies, uma versão alargada do bem amado romance de Jane Austen. Apresenta cenas completamente novas, com a violência capaz de esmagar ossos, ao ser introduzida a presença dos zombies. A destemida heroína Elizabeth Bennet está decidida a varrer a ameaça dos zombies, mas rapidamente se vê afastada desse objectivo com a chegada do altivo e arrogante Mr. Darcy. Segue-se uma encantadora comédia de costume, com inúmeras lutas civilizadas entre os dois apaixonados e com lutas muito mais violentas, em campos de batalha ensopados de sangue. Munido de relações amorosas, corações despedaçados, lutas com espadas, canibalismo e milhares de cadáveres putrefactos, Orgulho e Preconceito e Zombies transforma uma obra-prima da literatura mundial em algo que o leitor não vai querer perder."


Quem não vai querer perder!? Só se for por curiosidade. 

 

Como esse, há outros, embora não traduzidos para português. Lembro-me de Sense and sensibility and sea monsters de Ben H. Winters, de Northanger Abbey and angels and dragons de Vera Nazarian (este é escrito por uma mulher e penso que tem muito a ver com a imaginação fértil de Catherine Morland; no entanto...). 

  

Contudo, aquele que mais despertou (!!!estarreceu!!!) a minha mente foi um título com que me deparei por aí: Mrs Darcy versus the aliens de Jonathan Pinnock. A imagem da capa diz tudo.

crédito da imagem

 

 

Tal como é descrito no seu site oficial Mrs Darcy versus the Aliens é uma sequela algo demencial de Orgulho e Preconceito de Jane Austen ou então como algo escrito depois de uma noite passada a beber e a ver os Ficheiros Secretos (acredito mais nesta!). Começou por ser escrita como uma fanfiction que durou cerca de um ano (http://www.mrsdarcyvsthealiens.com/launchday.php) e, logo que acabou de ser escrita, foi editada pela editora Proxima Books.


De acordo com o mesmo site, aqui vai o resumo do livro:


"A year or two into her marriage, Elizabeth Darcy has much on her mind: she has still not produced an heir for Mr Darcy, there are preparations to be made for the Pemberly summer ball, and her youngest sister Lydia has been abducted by aliens. As Regency England sleepwalks towards tentacled oblivion, will she be able to reunite with her old foe Wickham and put a stop to their evil plans? Meanwhile, in the East End of London, the repulsive Mr Collins is running a Mission for fallen women whilst his poor wife Charlotte has fallen under the malign spell of Lord Byron and is now a laudanum addict. But is everything at the Mission all that it seems? What is Mr Darcy doing there? And why are there strange lights in the sky over Lady Catherine de Bourgh's seat at Rosings? This is probably the most unconventional sequel to a Jane Austen novel ever written. It is certainly the funniest."

 

Como diria Jane Austen, se tivesse oportunidade de nos visitar actualmente: "Oh, My God!! What have they done with my characters???"

 


Shrtstory 2 - Parte 21

Emma estava em êxtase. Uma enorme felicidade transparecia em todas as suas palavras, gestos, movimentos – o Baile estava a ser um sucesso!


Na pequena pausa da banda, os diferentes convidados dispersaram da pista de dança e formaram pequenos grupos de discussão e conversa. Junto ao piano, podíamos encontrar Mr. Darcy numa educada discussão com Sir Bertram e o Almirante Croft sobre as transações mercantes à qual assistia interessado John Knightley com um copo de ponche na mão. Sir Bertram, aceitara sem demora o convite de Emma e foi com muita emoção que reencontrou o seu amigo Mr. Woodhouse. Trouxera com ele a sobrinha, Fanny Price, que só muito recentemente fora apresentada à sociedade.


Também perto do piano encontrávamos um grupo feminino muito animado, composto por Marianne Brandon, Catherine Thorpe e Kitty Rickmansworth, irmã de Elizabeth Darcy, que estava temporariamente em terra com o marido, o Capitão Rickmansworth, conhecido e companheiro de Wentworth, pois dentro de uma quinzena partiriam para as índias Orientais. Emma não percebeu muito bem do que tratavam, mas pareceu-lhe ouvir “Olhem bem para o ar enfadado de Mrs. Robert Ferrars!”. E riam animadamente. De facto, Emma reparava agora, Lucy Ferrars estava a ser veemente importunada por, nem mais nem menos do que Miss Bates que enumerava, neste momento, todas as qualidades e habilidades da sobrinha, Jane Fairfax, afirmando peremptoriamente que “Não há nada que a minha querida Jane não saiba fazer! A menina nem imagina a alegria que eu e Mrs. Bates tivemos quando a minha querida Jane se casou com Frank Churchill, mas que sorte!”. Lucy podia bem suportar horas a fio os elogios contínuos e cínicos da sogra, contanto se dirigissem a si ou ao marido, mas ter de suportar elogios alheios era um terrível tormento.


Contudo, Emma não teve pressa em socorrê-la, e juntou-se ao grupo que estava perto da mesa de chá. Elinor conversava profundamente com Fanny Price, que parecia agora estar mais à vontade na companhia de alguém com quem depressa criou enorme empatia. Partilhavam uma enorme serenidade de carácter e uma sólida base moral. Embora agradada, Emma não perdeu muito tempo junto delas, pois ao fim de poucos minutos começou a sentir-se um tanto ou quanto enfadada, um pouco à semelhança da letargia que sentia quando ouvia os sermões na Igreja aos domingos.


Ao longe, reparou em Lizzie, sentada entre Mrs. Weston e a sua irmã, Isabella Knightley. Escutavam todas muito atentamente Mrs. Croft que contava uma das muitas histórias que viveu ao lado do marido nas inúmeras fragatas, mostrando ao mundo o amor incondicional pelo marido.


Margaret Dashwood, Harriet Smith e Georgiana Darcy assistiam divertidas à conversa entre Mr. Woodhouse e Mr. Bennet, pois o primeiro queixava-se constantemente das vagas de frio que assolavam o país e o segundo, corroborava tudo, deixando claro, que era muito rude da parte do Tempo, manter as portas abertas permitindo tais correntes de ar, e perante isso, Mr. Woodhouse acenava muito convicto pois encontrava agora algo para culpar de tamanho frio – o Tempo!


Junto de uma pequena mesa de jogo, sobre a qual Emma se debruçou, encontravam-se os quatro homens casados de fresco: John Willoughby, recentemente casado com Anne De Bourgh, e detentor agora de uma vasta fortuna; Frank Churchill; o Capitão Rickmansworth; e Mr. Crawford, cuja história de amor com Miss Eliza tinha feito correr muita tinta nas páginas dos jornais londrinos, uma vez que Henry Crawford tinha tido a ousadia de desposar uma mulher sem relações e com um passado obscuro e sendo ele um conhecido “quebra-corações” nunca ninguém se havia acreditado que se poderia apaixonar de verdade. Foi com grande custo que voltara novamente à sociedade e isto com grande ajuda do Colonel Brandon que, embora tardiamente, confiou nele e nos sentimentos verdadeiros e justos que nutria pela sua protegida Eliza. Jogando com eles, estava a esbelta e sedutora Mary Crawford que parecia entender-se às mil maravilhas com John Willoughby, aceitando sem dissimulação todas as suas atenções.


Eliza Crawford estava sentada junto de Colonel Brandon que falava com Fredrick Wentworth e Edmund Bertram. E agora que Emma reparava... onde estava Anne Elliot? Perscutou todo o salão mas sem resultado. Mr. Tilney falava, junto à janela, com Mr. Knightley e Edward Ferrars; perto deles, Mr. Robert Ferrars, dissertava sobre algo com Mr. Thorpe, Mr. e Mrs. Elton. Mrs. Bennet ria muito alto com Mrs. Jennings ao fundo do salão tendo por companhia a tímida Anne De Bourgh que parecia prestes a desfalecer, não fosse o solícito Mr. Weston que prontamente lhe ofereceu um cálice de Porto... e ali estava Anne Elliot com Jane Churchill! Que par curioso... de que falariam? Enquanto se dirigia para lá, a sua atenção foi desviada por Lady Russell.


- Minha adorável Miss Woodhouse! – disse sorridente, Lady Russell. A surpresa no rosto de Emma não podia ser maior. Lady Russell pertencia à família materna de Emma, as relações entre ambas nunca haviam sido muito fortes porque, depois da morte de Mrs. Woodhouse, Mr. Woodhouse cortara relações com esse lado da família por entender que tinha sido por culpa daqueles genes que a sua querida Mrs. Kathleen morrera. Todavia, quando Emma viajara até Bath, retomara agradavelmente as relações com Lady Russell. Podemos dizer que eram agora grandes amigas.