Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Figuras maternas em Sensibilidade e Bom Senso - Mrs Jennings

Mrs Jennings é uma personagem controversa porquanto é capaz de produzir no leitor sentimentos opostos: tanto gostamos das suas iniciativas e bondade com as meninas Dashwwod, como dificilmente lhe perdoamos as confusões que arranja pela sua falta de cuidado com o que ouve e o que diz.

 

No entanto, ninguém poderá colocar em questão os seus bons esforços no sentido de ser boa mãe, sendo que, naquele tempo, isso passaria, entre outras coisas, por arranjar um bom casamento para as filhas. Tendo isto em conta, sabemos que não se saiu mal, mesmo no caso de Mrs Palmer em que boa parte da falta de virtude naquele casamento se deve a ambos. No que respeita ao amparo das filhas quando estas dão à luz, nota-se, por parte de Mrs Jennings, que a sua presença e apoio são os de uma verdadeira mãe que pretende estar ao lado das filhas nesses momentos. 

 

Mrs Jennings é uma mulher bondosa que acolhe as meninas Dashwood como suas filhas, fazendo por elas tanto quanto faria pelas suas filhas. A sua preocupação genuína pelo bem estar das irmãs Dashwood suplanta a sua, por vezes grande, inconveniência. A sua falta de perspicácia é, assim, desculpada pela sua vontade de alegrar e fazer bem às duas irmãs. Isso é notório ao longo do romance, desde o convite que faz a Elinor para a acompanhar a Londres, incluindo Marianne para que a primeira não se sinta só; desde todas as atenções e cuidados que dispensa a Marianne em Londres e aquando a sua doença. É incansável em tudo o que está ao seu alcance cognitivo e material.

 

As Miss Dashwood não tinham razões para estarem descontentes com o tipo de vida e conhecimentos de Mrs Jennings, nem com o seu comportamento para com elas, que era sempre simpático. Todos os seus convidados eram escolhidos segundo um plano mais liberal  possível, e com excepção de alguns velhos amigos da cidade, que para desgosto de Lady Middleton ela jamais abandonaria, nunca visitava ninguém cuja apresentação pudesse de algum modo perturbar os sentimentos das suas jovens companheiras.

(...)

 

Elinor fez justiça à bondade de Mrs Jennings, apesar de as suas efusões serem frequentemente perturbadoras e às vezes muito ridículas; reconheceu-lhe e agradeceu-lhe todas as suas amabilidades, que a sua irmã não poderia reconhecer pessoalmente. A sua boa amiga viu que Marianne estava infeliz e sentiu que tudo o que a pudesse pôr melhor deveria  ser feito. Portanto, tratou-a com toda a indulgência de uma mãe para com o seu filho preferido no último dia de férias. (...) Se soubesse de alguma coisa que ela gostasse, procurá-la-ia por toda a cidade.

 

Em suma, Mrs Jennings é uma verdadeira figura materna para as duas irmãs na ausência da sua verdadeira mãe.

 

Coronel Brandon em Sensibilidade e Bom Senso

O coronel Brandon é a minha personagem favorita em Sensibilidade e Bom Senso. Sinto uma natural simpatia por este homem sensível, genuíno, tímido e doce. A sua personagem cativou-me desde a primeira leitura. Não consigo gostar menos dele apesar de ser apresentado como velho solteirão por ter passado dos trinta e cinco anos ou por ser calado e sério. Para mim, ele é o oposto de Willoughby no que respeita às mulheres. Mas não só. A sua sensibilidade e as suas qualidades humanas transparecem em várias ocasiões e a sua generosidade é dirigida para aqueles que mais necessitam dela, como é o caso de Mr. Ferrars depois de ser deserdado pela sua mãe. Atrevo-me a dizer que ele é o verdadeiro herói desta trama romântica. Edward Ferrars é um ser apagado quando comparado com a verticalidade e maturidade do coronel. Quanto a Willoughby, muito haveria que limar o seu carácter para ser comparado com o coronel Brandon.

 

De todos os novos conhecimentos, apenas o Coronel Brandon, segundo Elinor, era uma pessoa que sob algum aspecto poderia merecer respeito pela sua inteligência, criar o interesse da amizade ou dar prazer como companheiro. Willoughby estava fora de questão.

 

(...) Contudo, a frase que enunciara foi prosseguida imediatamente pelo coronel Brandon, sempre atento aos sentimentos dos outros, e todos falaram muito sobre a chuva (...).

 

O coronel Brandon é um personagem que mesmo ausente, deixa no ar a sua presença porque quando regressa parece estar a par de tudo ou chega sempre no momento mais indicado, ainda que assim não o pareça a outros. É um verdadeiro amigo do seu amigo e ama incondicionalmente Marianne. É um gentleman apaixonado. Pelo que fica dito, é fácil apreciar este personagem.

 

Este é um tema que sai fora de todos os que estão a ser tratados agora no blogue, mas tendo lido recentemente a obra, mais uma vez, não pude deixar passar mais tempo sem falar nele, sob pena de o menosprezar, ainda que sem intenção.