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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Shortstory 2 - Parte 5

O passeio foi feito em passo lento com algumas paragens para que melhor conseguissem expôr os seus assuntos. Anne apreciou a sagacidade de pensamento de Lizzie e admirou a forma sempre carinhosa e respeitosa com que falava quando se referia ao marido ou à sua cunhada, Miss Georgiana, ou ainda a Pemberley, seu lar, que devia ser realmente um lugar maravilhoso para se morar. Por seu lado, Lizzie gostou da forma doce e generosa com que Anne falava. Era uma mulher ponderada que podia ser considerada feliz não fossem as sombras que, amiúde, lhe atravessavam o olhar. Mas, por muitos fantasmas que habitassem os espíritos das duas mulheres, a conversa decorreu sempre agradável e fluída, salpicada por algumas risadas cúmplices.

 

Não falaram, contudo, nas suas angústias. Nenhuma delas mencionou especificamente aquilo que as atormentava. Falaram sobre a cidade (Bath). sobre o tempo, sobre Longbourn, Pemberley, Kellynch, mas nunca sobre algo mais íntimo. Eram terrenos perigosos que não discutiam. Não por se conhecerem há poucos minutos mas por receio de verbalizarem alto o que lhes ameaçava rebentar o peito, tanta era a dor.

 

- Parece-me que o meu marido também arranjou companhia - disse Lizzie pouco depois de se voltarem para fazer o caminho de volta.

 

Anne olhou lá para o fundo e estremeceu. Era difícil para ela não o reconhecer. Mesmo à distância conseguia distingui-lo de todo e qualquer outro homem.

 

- Talvez seja o seu noivo, Anne - sugeriu Lizzie.

 

Anne pigarreou, desconfortável.

 

- Não, não - disse - Vim sozinha. O meu... noivo está ausente da cidade em negócios. Só regressa mais logo.

 

- Oh, que pena! Seria engraçado tê-los aos dois ali à nossa espera.

 

À medida que se iam aproximando do final da sua jornada pela beira-rio, Anne não pode evitar sentir-se ansiosa e embaraçada. Era a primeira vez que encontrava o Capitão Frederick Wentworth desde que o seu noivado com o primo fora anunciado. De facto, até o julgava fora da cidade e convencera-se nos últimos dias de que ele, ou voltara para o seu posto na Marinha, ou fora novamente para casa da irmã. Sabia tê-lo magoado, mais uma vez, impiedosamente, e desta vez nada a desculparia, nada o faria perdoá-la. Nada. Especialmente depois que ele se declarara novamente a ela através daquela maravilhosa carta que guardava a sete chaves e que todos os dias lia e relia à medida que soluçava inconsolavelmente.

 

- Lamento muito, meu querido Fitzwilliam - disse Elizabeth dirigindo-se ao marido - Temo ter demorado mais do que esperava.

 

Mr Darcy pegou a mão da esposa e beijou-a. Ao seu lado, o Capitão Wentworth tentava disfarçar a surpresa de rever Anne, mas o semblante apresentava-se carregado.

 

- Não faz mal, querida - disse Darcy - Vejo que fizeste uma amiga.

 

- Sim - exclamou Lizzie - Esta é Miss Anne Elliot. Penso que mais logo teremos o prazer de jantar com ela e a sua família e que iremos ter oportunidade para conhecer o seu noivo. Não é verdade, Anne?

 

Anne sorriu timidamente. Fez uma vénia a Mr darcy que correspondeu e evitou custosamente olhar para Frederick.

 

- Lizzie, querida, quero apresentar-te o Capitão Wentworth, um velho amigo da família.

 

Ambos se cumprimentaram também com uma vénia e um sorriso. Elizabeth Darcy era extremamente bela. Mas, para Frederick era a mulher ao seu lado que lhe sulcava o coração da forma mais violenta que alguma vez pudera imaginar. Quando foi apresentado a Anne, olhou-a brevemente, sem qualquer sinal de emoção no rosto e dirigiu-lhe uma vénia formal.

 

- Somos conhecidos - disse apenas, mais para o casal ao seu lado.

 

Anne não o olhou. Sorria aquele sorriso que se esperava dela quando, no fundo, queria estar longe dali. Longe dele e de todas as más decisões que tomara na sua vida ou que outros tinham tomado por ela.

 

- Deve então conhecer o noivo de Miss Elliot, Capitão - quis saber Lizzie - Já sei que ambos são primos. Mas será ele tão dócil e amoroso quanto ela é?

 

Frederick tentou não demonstrar a fúria que sentia ao pensar no noivado, em Mr Elliot e ainda na decisão de Anne que, mais uma vez, fora persuadida a tomar uma decisão contra a sua vontade.

 

- Pouco ou nada conheço de Mr Elliot, Mrs Darcy - esclareceu educado - Só o vi uma ou duas vezes e nunca falámos.

 

Evitou sempre olhar para Anne e ela fez o mesmo, mirando o chão a seus pés ou o rio à sua frente.

 

- Lizzie, o Capitão Wentworth veio encontrar-me aqui em Bath para tratar de alguns negócios - informou - Aparentemente está interessado em adquirir alguns terrenos próximos a Pemberley. Estava a pensar que o podíamos convidar para o jantar de hoje à noite. E agora que vejo que é também conhecido dos Elliot, mais uma razão vejo para que estejas presente, Frederick. Podemos contar contigo?

 

O Capitão pareceu ponderar o convite. Observou Anne de relance mas esta fingia-se mais interessada nas águas do rio. E ele sabia-a tão ansiosa quanto ele.

 

- Sim, penso que sim - acedeu finalmente - Será um prazer, Darcy. Obrigada pelo vosso convite.