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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

ShortStory 2 - Parte 1

Naquele ano, o Outono assemelhava-se ao Verão, os dias iam passando e o calor parecia não diminuir. Por isso, aquele fim de tarde de Outubro estava particularmente quente e o ar era abafado, a este cenário juntava-se um silêncio opressivo que enchia a sala. Meia hora antes Georgina Darcy abandonara o piano para continuar a trabalhar no seu bordado. Miss Darcy sugeriu à sua cunhada Elizabeth que tocasse mas ela declinou a oferta e a sua resposta fora dado num tom tão baixo e inaudível que Mr. Darcy, que escrevia cartas sentado na sua secretária, começou a questionar-se se a ideia do jantar, era de facto, uma boa ideia.

 

Há três meses que os Darcy tinham deixado Pemberley, para evitar os silêncios que tomaram conta da casa após uma terrível tragédia. O primeiro destino fora a cidade, mas tal como o pai Elizabeth não gostava de lá estar e por isso a estada tinha sido curta, demasiado curta. Mr. Darcy decidiu então visitar os sogros em Longburn. A casa era agora apenas habitada pelo casal Bennett, Kitty casara-se com um oficial da Marinha e viajava agora com ele onde quer que ele fosse. Mary trocara Longburn pelo presbitério de Meryton. Era de esperar que Mrs. Bennet se alegrasse com a presença do casal Darcy e da jovem Georgina, mas ela era agora ainda mais nervosa do que nos dias em que tinha a casa cheia de filhas a quem queria casar. Mrs. Bennet já pouco prazer encontrava nas reuniões sociais precisamente porque o que mais apreciara noutros tempos era ver os cavalheiros que dariam bons maridos para as filhas. Nunca fora dada a leituras e por isso a única coisa que ainda lhe trazia alguma distracção eram os mexericos, mas até esses pareciam ser mais escassos e menos interessantes que nos dias em que tinha todas as suas filhas junto de si.

 

Assim, a visita a Longburn também se tornou muito depressa num incómodo em vez de ser um prazer, até porque a acrescentar aos contínuos ataques nervosos de Mrs. Bennet estava o seu genro, o pároco Mr. NotWorth, marido de Mary. Este cavalheiro passava muito tempo em Longburn tempo esse que devia estar a cumprir os seus deveres, mas ele achava melhor incomodar Elizabeth fazendo longos sermões. Se para alguém em pleno das suas capacidades os sermões já seriam maçadores imaginem para alguém com o espirito quebrado.

 

 

O Pecado de Lydia Bennet

(Fonte - clicar na imagem )

 

Lydia, a mais nova das irmãs Bennet, é aquela que casa primeiro. O seu escolhido é o galante Mr. Wickham que, para a maioria de nós, teve a sua quota de carinho no enredo da história até descobrirmos o quanto estávamos enganadas. Temo que Lydia só tenha feito tal descoberta, tarde de mais na sua vida.

 

Pergunto-me muitas vezes porque razão Jane Austen sacrifica tanto esta personagem. Não posso dizer que seja uma personagem com a qual crie empatia, não, longe disso! Jane Austen descreve-a como sendo completamente exuberante sendo um poço de excessos, superficialidade, inconsciência, irresponsabilidade e total falta de decoro. Mas ao mesmo tempo... Lydia revela-se extremamente ingénua a ponto de fugir com Wickham, escrevendo aquela nota. revelando uma completa inconsciência e uma estranha ingenuidade. Sem a intervenção de Darcy, ou seja, não havendo casamento entre Lydia e Wickham, ela seria provavelmente uma versão de Eliza de S&S, que mais tarde ou mais cedo seria abandonada por Wickham.

 

A situação da fuga de Lydia é facilmente comparável com aquela que acontece em Mansfield Park entre a recém casada Maria (Bertram) Rushworth e Mr. Henry Crawford, aliás, conhecendo esta obra são mais claras as consequências da situação do que em Orgulho e Preconceito (se bem que em Mansfield Park a situação é mais gravosa, uma vez que falamos de uma mulher casada).

Lydia é resgatada em nome do grande amor de Darcy por Elizabeth, pois de outra forma, Darcy jamais (?) poderia relacionar-se com Lizzie, uma vez que a má conduta da irmã se alargaria às restantes, como tão bem percebemos na obra.

 

Colocando-nos no tempo e no espaço da obra, a fuga de uma mulher com um homem sem estarem vinculados pelo matrimónio implicava uma total renegação pela dita “Sociedade”, não só a própria era afetada socialmente como também os seus parentes, pois era comum tais situações serem relatadas em jornais públicos (daí algumas das afirmações e pensamentos de Lizzie em relação a Mr. Darcy), gerando uma panóplia de boatos, maldicencias e fofoquices que corriam qualquer cidade e pequena vila em poucos dias.

 

Apesar de ser altamente mal visto na época, como talvez hoje em dia, temos apenas de ressalvar, que à data, não eram permitidos os divórcios, o casamento era perpétuo sem possibilidade de “desvinculação” – além disso, sabemos, e Jane Austen mostra isso muito bem, que grande parte dos casamentos era então feita por interesse social ou económico e não por afeição mútua entre os cônjuges (com sorte, isso veria depois para alguns). O recurso à “fuga” era muito comum para romper com a vida em comum, se bem que o estado civil permanecesse o mesmo – lembro-me de títulos como “The Tennant of Wildfell Hall” de Anne Bronte e a própria história da vida da escritora George Elliot.

 

Contudo, a “fuga” de Lydia nada tem que ver com estas causas, apenas foi o reflexo de muita inconsciência, muita irresponsabilidade e muita falta de disciplina por parte dos pais. Porque quereria Wickham fugir com Lydia? Duvido que tivesse qualquer intenção de casar com ela, os Bennet não tinham fortuna, logo isso excluia qualquer vantagem que pudesse existir; tal como Lizzie estou convencida que não lhe tinha afeição; li algures na imensidão da net que tudo se passou como plano de fuga não de Lydia, mas de Wickham, e ela foi apenas uma adição à fuga de Wickham que tinha já uma série de "credores" à perna.Quanto à felicidade deste casamento... isso é outra história e outro artigo!