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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Versões de Mrs. Jennings

 

Mrs. Jennings

 

 (versão 1995 e 2008)

 

  

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Elizabeth Spriggs "Sensibilidade e Bom Senso" 1995 e Linda Bassett "Sensibilidade e Bom Senso" 2008 )

 

Sobre esta personagem não preciso fazer muitas considerações. Elizabeth Spriggs foi perfeita como "Mrs. Jennings"; de longe, superior à interpretação de Linda Basset. Ela exprime toda a exuberância, alegria, coscuvilhice, ternura e generosidade de Mrs. Jennings. Acho que Jane Austen também teria ficado agradada com esta interpretação. 

Versões de Mrs. Dashwood

 Mrs. Dashwood (versão 1995 e 2008)

 

  

Gemma Jones (Sensibilidade e Bom Senso 1995) e Janet McTeer (Sensibilidade e Bom Senso 2008) 

 

Ambas são excelentes actrizes, não restam dúvidas. Durante muito tempo tive dificuldades de entender qual delas teria feito uma melhor abordagem de Mrs. Dashwood. Quando olho para Janet McTeer, a sua Mrs. Dashwood convence-me mais no sentido de transmitir a imagem de uma grande senhora, dona de Norland e a estranheza de ser despojada da mesma. Neste aspecto convence-me mais do Gemma Jones. Na interpretação destaa não sentimos tanto esta queda de estatuto, nem ela própria parece ser a grande senhora de Norland. Contudo, Gemma Jones transmite mais a tristeza e alheamento do luto do que Janet McTeer. Aliás, a dada altura Janet McTeer não parece sequer uma viúva. 

No papel de mãe, ambas fazem um papel bom mas acho que Gemma Jones tem aquele ar mais alheado que imagino em Mrs. Dashwood. 

Duas formas diferentes de ser mãe

Em "Sensibilidade e Bom Senso" encontramos vários exemplos de maternidade.  Talvez seja a obra onde o tema da maternidade esteja mais fincada. Torna-se irresistível para mim fazer uma comparação entre dois tipos completamente diferentes: Mrs. Jennings e Mrs. Ferrars.

Mrs. Jennings e Mrs. Ferrars devem se assemelhar em idade e condição financeira e social. Não será demasiado dizer que as semelhanças terminem neste dois factores. Ambas não podiam ser mais díspares em comportamento e visão de vida.

 

Mrs. Jennings é a minha predilecta no que diz respeito ao assunto maternidade em toda a obra de Jane Austen. Tenho consciência de que esta é uma personagem que não agrada a todos os gostos, devido ao seu espalhafato e alguma inconveniência; mas, perdoo-lhe todos estes pequenos detalhes da sua personalidade. A sua grandeza de sentimentos e generosidade supera largamente qualquer defeito. Mrs, Jennings é uma viúva que tem as filhas encaminhadas na vida e a sua distracção são os mexericos e promover casamentos entre os jovens da terra. Claro que as Dashwood não iriam escapar ao seu dom de casamenteira… Inicialmente vemos que as irmãs toleram-na mas não fazem questão da sua companhia. Algo que, penso eu, tenha sido um pouco injusto. É com a viagem a Londres, a decepção de Marianne com Willoughby e a doença de Marianne que toda a generosidade, bondade e carinho maternal de Mrs. Jennings vem à tona. E nem as irmãs Dashwood puderam deixar de reconhecê-lo. No relacionamento com as suas próprias filhas, notamos que é com Charlotte Palmer que ela lida com mais naturalidade, talvez por causa da semelhança de feitios. Contudo, é uma mãe presente e atenciosa com ambas filhas. Uma mãe que se preocupou em garantir para as filhas uniões matrimoniais que pudessem trazer-lhes felicidade.  Por sua vez, as filhas são também mães extremosas - cada uma à sua maneira - o que revela o facto de seguirem o exemplo da própria mãe.

 

Mrs. Ferrars não tem voz activa e presente na obra. Quase que sabemos o que ela pensa e diz através do relato de outros. Mas tudo o que é dito sobre ela revela uma frieza e distanciamento emocional dos filhos. Para ela, o estatuto social e as posses são o elemento primordial para um casamento. A união é um contrato, uma transacção de interesses. Excluindo Edward, os seus filhos Fanny e Robert parecem concordar com a mãe (mesmo depois Robert ter se unido a Lucy Steele). Fanny, sobretudo, parece ser uma fotocópia da mãe em feitio e na maneira como exerce a sua própria maternidade. Quando Fanny manipula o marido para este não auxiliar as irmãs Dashwood financeiramente usa como argumento o bem-estar do filho de ambos. Afigura-se-me que a sua preocupação real seria a sua própria ganância. Aos filhos que se rebelaram, primeiro Edward e posteriormente Robert, Mrs. Ferrars respondeu com deserdamento e desdém.

 

Imagino Mrs. Jennings como alguém que viveu um casamento feliz e cuja a maternidade resultou em prazer e felicidade; enquanto que no caso de Mrs. Ferrars, encaro-a como alguém que também na altura devida deve ter sido conduzida a um casamento mas por conveniência. Tudo isto determinou a forma como encaravam a vida e o destino de seus filhos. 

 

Ser mulher

Porque  não terá Jane Austen pensado num possível romance entre Mrs. Dashwood e Coronel Brandon?

Esta é uma questão amiúde levantada em discussões sobre  "Sensibilidade  e Bom Senso". Tenho pensado nesta questão porque não me parece de todo descabida. A idade de Mrs. Dashwood a recomendaria como um bom partido mais do que a filha, visto esta ainda tão nova. Trata-se de uma mulher vivida, com mais temáticas de interesse em comum e ambos partilhavam histórias de perda.


Contudo, concluo que nesta obra Jane Austen centralizou a sua atenção nas duas irmãs - Elinor e Marianne - mais do que em Mrs. Dashwood. Se repararmos, Jane não focou a questão da perda de Mrs. Dashwood - sentimentos, o  luto, a dor, a  saudade. Ela mostra-nos a nítida descida de estatuto social e económico, mas não aprofunda a dimensão psicológica de Mrs. Dashwood. Quase que acabamos por deduzir o que ela teria sentido e o que ela pensaria em determinadas situações. As suas falas, quase sempre, são no exercício do seu papel de mãe. O seu lado mulher teria sido completamente colocado de lado. A ideia com a qual eu fico é que Mrs. Dashwood teria de se conformar uma vida tranquila de viúva e de apoio às filhas. Por outro lado, Marianne estaria a despertar para o lado mulher. Como uma flor que estive a desabrochar na primavera. E é para ela que Jane conduz os olhos de Coronel Brandon.


Gosto de pensar que poderia ter havido um romance entre Mrs. Dashwood e o Coronel Brandon. Reconheço, porém, que se assim fosse, a natureza desta obra teria alcançado um rumo completamente diferente. 
 
De uma coisa tenho certeza, ao contrário da filha, acho que Mrs. Dashwood não se escandalizaria com os coletes de flanela de Coronel Brandon… 

Uma espécie de entrevista a Charles Dickens

O World Book Club é um programa de rádio de entrevistas a escritores. Este programa é diferente de outros do género, além da entrevistadora também o leitor/ouvinte é convidado a fazer perguntas. Além disso o programa foca-se apenas num livro do escritor convidado e não na sua obra e inclui a leitura de excertos do livro. Se derem uma vista de olhos no arquivo do programa irão ver que o espólio é grande e bastante atractivo, nomes importantes da Literatura como Doris Lessing, recentemente galardoada com o Prémio Nobel, Ian McEwn, o autor de Expiação e também Sebastian Faulks, cujo o livro Birdsong, objecto de uma adaptação recente para televisão, da qual a Sandra nos falou aqui foram já entrevistados no programa.

 

Como sabem este ano comemora-se o Bicentenário do Nascimento de Charles Dickens, na impossiblidade de uma entrevista o World Book Club, juntou vários especialistas de Dickens para conversarem sobre Great Expectations. A eles junta-se ainda o testemunho de alguns escritores sobre a influência de Dickens no seu trabalho. A leitura de excertos está a cargo de Simon Callow. Do painel de convidados faz parte Claire Tomalin que além da biografia de Dickens já escreveu uma da nossa Jane.

Outro trabalho de Claire Tomalin é The Invisible Woman, que se foca em Ellen Ternan, a mulher por quem Dickens se apaixonou e o motivo da sua separação da esposa. O livro está agora a ser adaptado para cinema e terá a realização de Ralph Fiennes, que também vestirá a pele de Dickens. A personagem de Ellen estará a cargo de Felicity Jones, Kristen Scott Thomas dará vida à mãe de Ellen. A última noticia de casting dizia que Tom Hollander iria ser Wilkie Collins, amigo de Dickens e também escritor, conhecido sobretudo pelo livro A Mulher de Branco.

O filme só deverá estrear em 2013, até lá ouçam o programa aqui.