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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Uma crítica aos escritores dos romances em Jane Austen

Logo nas primeiras páginas da Abadia de Northanger, Jane Austen lança um ataque ferveroso a todos os críticos e escritores cépticos dos romances. Quando terminei esta passagem não pude deixar de sorrir. Esta constitui uma tomada de posição que seguiria na sua vida e, principalmente, na sua obra. Senão, poderia Jane Austen ter optado por outro tipo de matéria literária? Sabemos que a sua educação ficou cingida aos poucos livros que detinha a sua família que, para a altura, era uma colecção considerável, tendo a leitura destes influenciado a sua já natural inclinação para a escrita. Mas seriam as matérias ali disponíveis suficientemente alargadas para a influenciar noutro sentido? Acredito que não. Creio que Jane Austen detinha já uma inclinação natural de observação e assimilação de factos quotidianos e, bem assim, para a sua transcrição para o papel. Possuía uma imaginação que lhe permitia construir estórias engraçadas baseadas em factos reais.

 

Esta passagem, embora longa, é digna de registo e reflexão. Dentro de uma sátira objectivamente direccionada ao romance fantástico temos uma posição passional relativa ao romance em si. Ou seja, Jane diz-nos sim ao romance, mas não ao fantástico. Deixo então a passagem de que vos falo. O que acham?

 

"Sim, romances, pois não vou adoptar aquele hábito tão pouco generoso e tão rude que é comum entre os escritores de romances, para o qual eles próprios contribeum, de denegrir pelo desprezo das sua censura os seus próprios frutos, aliando-se aos seus maiores inimigos, conferindo os piores epítetos a tais obras e raramente permitindo que sejam lidos pela sua heroína, a qual, se por acaso encontrar um romance, seguramente virará as suas insípidas páginas com evidente desprezo. Ai de mim! Se a heroína de um romance não for amparada pela heroína de outro, de quem poderá esperar protecção e respeito? Eu não o posso aprovar. Deixemos isso aos críticos, que eles maltratem como bem entenderem tais efusões de imaginação, e que acerca de cada novo romance falem nos esforços gastos com o lixo sobre o qual a imprensa agora se debruça."

Há 2 anos online!

Faz hoje dois anos que o Jane Austen Portugal foi criado!

 

É incrível ver o progresso que se obteve desde então, muito além da expectativa incial que tinha quando me decidi a criar um espaço onde pudesse partilhar este meu enorme gosto pelas obras de Jane Austen e todos os seus sucedâneos.

 

Alargar este projeto a outros elementos foi essencial para que o JAPT se pudesse manter ativo e atualizado durante todo este tempo. Conto hoje com mais onze elementos fantásticos que contribuem para o crescimento deste blogue sempre que a sua disponibilidade o permite. E conto com leitoras e leitores, aguerridos seguidores que partilham connosco opiniões, participando através dos comentários e mais recentemente, através da participação com artigos na nossa Revista Online, criada no inicio deste ano e que, pondo de lado a modéstia, tem tido o seu sucesso.

 

Obrigada a todos,

 

PARABÉNS AO JAPT!

As mulheres e o trabalho no tempo de Jane Austen

Fonte: Reescrever-tuas-letras

 

Uma das cenas que mais gosto na obra de Jane Austen, é aquela em que Elinore Edwar Ferras falam sobre profissões. Enquanto ele se queixa que a mãe o pressiona para abraçar um mester que o destaque, por exemplo na política, ela chama a atenção para uma questão bem mais importante e abrangente: o facto de às mulheres da sua classe social lhes estar vetado o acesso a uma profissão. Também Anne, no conhecido diálogo que desenvolve com o Capitão Harville, se refere ao facto dos homens esquecerem mais depressa os desaires de amor porque têm outros horizontes profissionais que os “distraem”, pelo que as mulheres permanecem confinadas ao lar e à vida doméstica, o que lhes dá mais azo à meditação.

 

Jane Austen parece exprimir, através destas personagens, uma reflexão acerca do papel feminino no mundo do trabalho. É certo que nas classes sociais mais desfavorecidas, os trabalhos rurais e as funções serviçais eram áreas onde as mulheres laboravam, tal como os homens, embora seja quase certo que não tivessem o mesmo nível de pagamento, pois ainda hoje em certos contextos é comum os desfasamento salarial por género. Todavia, em classes sociais mais elevadas, a função da mulher cingia-se a casar, ter filhos e gerir o lar.

 

Com base no que se conhece da sua biografia, creio que Jane por um lado se sentia pressionada a casar e a seguir os preceitos sociais considerados adequados para a época, mas por outro acredito que gostasse da sua liberdade como escritora “profissional”. É certo que publicou pouco em vida; do que publicou parcos foram os rendimentos sobre o valor real da sua obra; além disso não tinha uma formalização da sua actividade, por exemplo através de contratos prévios com editoras. Mas publicou e daí tirou dividendos, trabalhando de forma autónoma como “freelancer”. Neste sentido Jane foi pioneira na arte da escrita e da publicação, abrindo portas e servindo de inspiração a muitos e muitas escritoras contemporâneas, com o exemplo de como uma mulher da sua época podia realizar trabalhos de âmbito intelectual, tão associados que estavam ao universo masculino.

Intemporalidade

 

Ao ler as diversas obras de Jane Austen, não é difícil perceber vários elementos retratados que coincidem com comportamentos nossos contemporâneos.

Talvez seja um traço coincidente em vários bons escritores. Talvez seja essa capacidade que os torna tão capazes de criar uma teia social atractiva nas suas histórias. Talvez possamos até considerar que os comportamentos sociais e as personalidades humanas não mudam assim tanto com a mudança de espaço ou tempo. Isso levar-nos-ia a uma discussão um tanto filosófica.

A característica social que eu quero referir neste post é a importância dada às primeiras impressões.

No século XXI é muito fácil cair na teia das primeiras impressões. A maior parte das pessoas (para não dizer que são todas, por mais que custe a aceitar) tem uma tendência natural para julgar o outro assim que o conhece. É bonito/feio, simpático/antipático e por aí a fora.

Jane Austen retrata tudo isto na maior parte dos seus livros. Qualquer leitor assíduo já se terá lembrado de vários exemplos, provavelmente, provenientes de Orgulho e Preconceito.

Aquela que é considerada por muitos como a obra-prima da escritora, faz das primeiras impressões e das aparências dois dos temas centrais (de tal forma que O&P teve como primeiro título ‘First Impressions’).

Através de Elizabeth o leitor é levado a adorar as simpatias do interessante Wickham e a detestar o orgulho desmesurado de Darcy. Escusado será repetir o final desta história.

Mas, por todas as obras de Austen encontramos situações em que determinadas personagens divertem-se a julgar e criticar outras baseando-se na sua posição social, conforto financeiro, beleza, história pessoal (geralmente baseando-se em relatos poucos fiáveis), etc.

Jane Austen escrevia sobre a sociedade do seu tempo, portanto, não é um erro considerar que as pessoas se comportavam de forma semelhante às personagens dos livros que ela escrevia.

Sendo assim, a intemporalidade é apenas mais uma das grandes qualidades literárias de Jane Austen.

Quase Uma Outra Irmã

 

Retrato de Fanny Knight por Cassandra Austen

 

Fanny Knight foi a primeira sobrinha de Jane Austen. Nascida em 1793, quando a tia tinha apenas dezassete anos. Fanny Knight foi a primeira filha de Edward (Austen) Knight, irmão de Jane Austen. A tia descreveu-a uma vez como sendo uma “quase-irmã”, podemos presumir daí uma forte amizade, cumplicidade e intimidade. Ésabido que Jane tinha uma forte preferência por esta sobrinha, assim como tinha por Anna, filha de um seu outro irmão. Isto revela-se pois algumas peças da Juvenilia dela foram dedicadas à sobrinha.

 

A relação entre tia e sobrinha é retratada no filme “Miss Austen Regrets” de 2008, baseado nas cartas trocadas entre ambas no período 1814-1817, além de outras fontes, claro.

 

Todavia, esta aparente excelente relação vem, mais tarde, pelas próprias mãos de Fanny, mostrar-se menos sólida, quando Fanny descreve a tia, numa carta de 1869 para a sua irmã Marianne: “Jane não era tão refinada quanto poderia ter sido ou como seria de esperar pelo seu talento... Os Austen não eram ricos e as suas relações não eram de elevado estatuto social, eram mediocres e eles, embora intelectual e culturalmente superiores, estavam ao mesmo nível no que a sofisticação e elegância diz respeito... A tia Jane era inteligente e colocava de parte todos os possíveis sinais de vulgaridade e impunha a si própria mais refinamento... Ambas as tias foram educadas na maior ignorância sobre o que era o mundo e as suas maneiras (refiro-me à moda, etc), e não fosse o casamento do papá, que as trouxe para Kent, elas estariam muito longe de representar socialmente uma boa companhia, embora inteligentes e agradáveis por si.”


A mãe de Fanny morreu quando esta tinha apenas 15 anos, deixando a seu cargo (como filha mais velha) dez irmãos mais novos e uma casa para administrar.

Durante a sua infância e juventude, Fanny foi muito próxima da tia, de quem fez confidente. Órfã de mãe, recorria muito à tia para pedir conselhos sobre a sua vida amorosa, perguntando-lhe sobre se devia ou não aceitar ou recusar uma corte. A 18 de Julho de 1817, escreveu no seu diário “a morte da minha querida Tia Jane”. Marianne Knight, uma das irmãs mais novas de Fanny, lembra “que quando a tia Jane nos visitava, trazia sempre consigo o manuscrito do romance que estava a escrever na altura e ela e a minha irmã, fechavam-se num dos quartos e liam alto”. Outro parente comenta que “embora esta sobrinha (Fanny) nunca tenha demonstrado qualquer habilidade literária, a tia sempre teve em conta a sua opinião para cada novo livro”.

 

Depois da morte de Cassandra em 1845, todas as cartas de Jane Austen, passaram para Fanny, assim como o manuscrito do ainda não publicado Lady Susan. Isto reflete a esperança que Jane depositava na sobrinha que, nesta altura, pareceu isensível ao legado. Fanny planeava passar o legado para a filha Louisa (que acabou por morrer antes dela), precavendo-a para que não os mostrasse indiscriminadamente e para que destruisse os que achasse melhor. Acabou por ser um dos seus filhos a publicar a primeira edição da colectânea de Cartas de Jane Austen.

 

Fanny viria, já depois da morte da tia, a casar-se com o Baronete Sir Edward Knatchbull (para ele, um casamento de segundas núpcias), tornando-se na Lady Knatchbull, tornando-se mãe de cinco afilhados e mãe biológica de nove crianças – uma grande família, portanto! Grande parte dos afilhados e cinco dos seus filhos morreram antes dela. Viveu até aos 89 anos com uma boa situação.

As obras inacabadas de Jane Austen

Para além das famosas obras que Jane Austen nos deixou e com as quais continuámos a deliciar-nos, existem ainda três obras que a autora não chegou a terminar ou que não revisou ou que ainda não tinham aprovação para publicação.

  • Sandition
  • The Watsons
  • Lady Susan

Sandition (publicada em 1817) - Obra também conhecida como Sand and Sandition foi escrita no final da vida de Jane Austen (entre janeiro e março 1817), faz uma análise das mudanças sociais e ambientais acontecidas no mundo do século XVIII. Tivesse Jane Austen terminado esta obra e ela seria certamente tão famosa como o são as outras por nós bem conhecidas. Contudo, a sua morte tornou Sandition numa obra misteriosa e esquecida.

 

O manuscrito de Sandition foi primeiramente intitulado de "The Brothers" devido aos irmãos Parker, personagens da história, e incluia apenas onze capítulos. Depois da morte de Jane Austen, a sua família renomeou-o de Sandition.  

 

Relativamente ao enredo da obra: É através de Charlotte Heywood, a personagem principal feminina da história, que o leitor é levado a conhecer a cidade de Sandition, lugar conhecido pelos benefícios do seu ar marítimo. Nos primeiros dias, Charlotte deleita-se tranquilamente com a apreciação da paisagem marítima. Contudo, logo se apercebe que esta estância costeira está recheada de escândalos e, para felicidade do seu senhorio, Mr Parker, ela descobre-se completamente conquistada pelo estilo de vida à beira-mar. Mas será que a cidade de Sanditon é verdadeiramente um paraíso, tal como Mr. Parker gosta de pensar e apregoar? Charlotte encontrará lá a sua felicidade?

 

Entre as várias continuações feitas a esta obra, a mais conhecida é a de Juliette Shapiro (2004) que continuou a obra a partir do 11º capítulo. 

 

The Watsons (publicado em 1871)- Jane Austen começou a escrever esta obra provavelmente em 1803 tendo-a abandonado em 1805, depois da morte do seu pai. Tem cinco capítulos e o seu manuscrito foi vendido, em Julho de 2011, à Bodlein Library por uma quantia assombrosa.  

 

Algumas tentativas para completar a obra foram feitas desde então. Em meados do século XIX, Catherine Hubback, sobrinha de Jane Austen completou-a e publicou-a com o título de "The young sister". Mais recentemente, em 2008, Helen Baker publicou também uma continuação da obra intitulada de "Os Watsons, por Jane Austen and another lady".

 

Quanto à história: Emma Watson foi educada por uma tia rica e espera-a um grande dote. Todavia, quando a sua imprudente tia casa novamente e muda de casa, Emma tem de retornar às suas origens, para uma família infeliz que ela mal conhece e tentar casar-se sem um dote. É nesse novo ambiente que ela vai conhecer as irmãs e irmãos, os pais e ainda os vizinhos e todas as vicissitudes inerentes a todos eles. Com uma acção muito semelhante a Pride and Prejudice e Emma, esta obra teria tudo para se tornar famosa. Uma verdadeira pena que não a tenha terminado no seu estilo muito próprio.
 

 

Lady Susan (publicado em 1871) - Escrito por volta de 1805 (ou 1794 segundo outros estudos) é uma obra que retrata os costumes e modos em Inglaterra na época da Regência. Estudiosos da obra de Jane Austen consideram Lady Susancomo um texto completo, talvez por não ser muito extenso.

 

Descreve as vivências e esquemas de uma mulher viúva, Lady Susan, que procura um novo marido para si e outro para a sua filha. Lady Susan é uma mulher egoísta e atraente que tenta capturar um marido adequado enquanto mantém uma relação com um homem casado. Ela subverte todas as normas da novela romântica: tem um papel activo, não é apenas bonita, mas inteligente e espirituosa e os seus pretendentes são significativamente mais jovens do que ela.
 

Resumindo... faz-nos pensar...

As obras magníficas que esta senhora podia ter acrescentado ao seu já maravilhoso espólio literário... se não tivesse morrido. No entanto, coloca-se uma questão pertinente: teria o seu sucesso sido o que é hoje, caso ela não tivesse falecido aos 41 anos?

 

Cassandra, a Confidente

 

Cassandra Elizabeth era a única irmã de Jane Austen e a quinta criança do casal Austen. Cassandra era dois anos mais velha que Jane, nasceu em Steventon no Hampshire, a 9 de Janeiro de 1773. Foi a grande amiga e confidente de Jane Austen, e entre elas trocaram-se incontáveis cartas, das quais poucas chegaram ao nosso conhecimento, uma vez que Cassandra, após a morte da irmã, destruiu grande parte delas, o que se compreende, pois representavam algo de muito íntimo .

 

A história de Cassandra não é muito conhecida, e os detalhes que surgem à superficie vêm em consequência da história da personagem principal – Jane Austen. Quando tinha 10 anos e Jane cerca de sete, foram mandadas Oxford, para casa de Mrs. Crawley, da família de um dos seus tios, para aí serem educadas, porém, devido a uma febre contagiosa, foram enviadas de volta para casa. Dois anos mais tarde, foram mandadas para uma escola feminina em Reading para serem educadas.

 

A forte amizade que ligava as duas irmãs, de cedo se começou a mostrar, isso mostra-se, desde logo, pela sua contribuição em providenciar ilustrações para o primeiro “livro” de Jane Austen – The History of England – aproveitando o seu talento para pintar e ilustrar o livro da irmã com os retratos dos reis e rainhas de Inglaterra, embora se considere que os monarcas foram inspirados em membros da família Austen. Cassandra ficou também famosa pelos dois retratos que fez da irmã. O primeiro, que data de 1804, onde pinta Jane Austen de costas, sentada junto a uma árvore; o segundo, que data de 1810, e que é o retrato de Jane Austen que pode ser visto no Museu Nacional de Londres.

 

Sabemos que Cassandra, aos 21 anos, esteve noiva, durante cerca de três anos, de Thomas Fowle que, em busca de sustento e meios para se casar, acabou por falecer de febre amarela nas Caraíbas em 1797, para onde tinha partindo como capelão militar. Cassandra, por via do compromisso que ambos tinham, herdou uma renda de £1000. Thomas Fowle, tinha sido um antigo aluno do Reverendo Austen. Nunca se voltou a casar e dela, como da irmã, mais nenhuma história de amor é conhecida.

 

Os biógrafos de Jane afirmam que, durante toda a sua vida, Jane e Cassandra partilharam o quarto e poucas vezes se separaram. E quando tal acontecia, a correspondência entre ambas era tal que nem a distância as separava de facto.

 

"Their affection for each other was extreme; it passed the common love of sisters; and it had been so from childhood. My Grandmother talking to me once [of] by gone times, & of that particular time when my Aunts were placed at the Reading Abbey School, said that Jane was too young to make her going to school at all necessary, but it was her own doing; she would go with Cassandra; 'if Cassandra's head had been going to be cut off Jane would have her's cut off too' - " (Memoir of Jane Austen).

 

Jane morreu no colo da irmã em 1817 em Winchester. Numa carta para Fanny (sobrinha), Cassandra escreve: “I have lost a treasure, such a Sister, such a friend as never can be surpassed, - She was the sun of my life….I had not a thought concealed from her, and it is as if I had lost a part of myself” (Letter, July 20th 1817).

 

Depois da morte da irmã, Cassandra organizou os dois últimos romances e fez todos os esforços para que fossem publicados.Cassandra viveu em Chawton até aos seus últimos dias. Morreu a 22 de Março de 1845 com 72 anos. Foi enterrada na Igreja de S. Nicolas em Chawton junto da sua mãe.

 

Biografia de Jane Austen

Jane Austen nasceu a 16 de dezembro de 1775, em Steventon, Hampshire, Inglaterra, sendo a sétima filha, e segunda rapariga, do reverendo George Austen, o pároco anglicano local, e de sua esposa Cassandra (cujo nome de solteira era Leigh). O reverendo Austen era uma espécie de tutor, e suplementava os ganhos familiares dando aulas particulares a alunos que residiam na sua casa. A família era formada por oito irmãos, sendo Jane e sua irmã mais velha, Cassandra, as únicas mulheres. Dos irmãos, dois eram clérigos, outro herdou de um primo distante algumas casas em Kent e Hampshire e os dois mais jovens foram almirantes na Marinha Britânica. Cassandra e Jane eram muito amigas e confidentes, tendo trocado entre si muita correspondência, muita dela perdida pois Cassandra queimou muitas cartas após a morte da irmã. Nenhuma delas casou.
 
Em 1783, Jane e Cassandra foram para casa de Mrs Crawley, em Southampton, para prosseguir a educação sob sua tutela; porém tiveram que regressar a casa, devido a uma doença infecciosa em Southampton. Entre 1785 e 1786, ambas estudaram em Reading, lugar que pode ter inspirado Jane para descrever o internato de Mrs Goddard, que aparece na obra Emma. A educação que Austen recebeu ali foi a única recebida fora do âmbito familiar, ondeu aprendeu a ler, escrever, dançar e tocar piano. Sabe-se que o reverendo Austen tinha uma ampla biblioteca e, segundo ela mesma conta nas suas cartas, tanto ela quanto a sua família eram "ávidos leitores de romances, e não se envergonhavam disso". Assim como lia romances de Fielding e de Richardson, lia também Frances Burney. O título de Orgulho e Preconceito, por exemplo, foi retirado de uma frase dessa autora, no romance Cecilia.
 
A Reitoria em Steventon foi o lar de Jane durante os primeiros 25 anos da sua vida. A partir dessa idade, Jane esteve em Kent com o seu irmão, na sua mansão em Godmersham Park, perto de Canterbury, e ainda passou alguns períodos curtos em Bath, onde viviam os seus tios. Jane nunca foi grande apreciadora de Bath. No entanto, estas suas viagens foram usadas como inspiração para as obras que ia já esboçando (Elinor and Marianne, First Impressions e Susan).
 
Entre 1782 e 1784, os Austen fizeram representações teatrais na reitoria de Steventon, que entre 1787-1790 foram mais elaboradas graças à colaboração de sua prima, Eliza de Feuillide, a quem dedicou Love and Freindship.  Nos anos posteriores a 1787, Jane Austen escreveu, para o divertimento de sua familia, Juvenilia, que inclui diversas paródias da literatura da época: The Three Sisters, Love and Friendship, The history of England, Catharine or the Bower e The Beautiful Cassandra. Love and Freindship, que faz parte da Juvenilia de Jane Austen, parece ter um erro no seu título (freindship escreve-se friendship), facto que muito têm confundido os estudiosos desta escritora. Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras versões dos romances que se publicariam sob os nomes Sense and Sensibility, Pride and Prejudice e Northanger Abbey (que antes se intitulavam, respectivamente Elinor and Marianne, First Impressions e Susan). Provavelmente, também escreveu Lady Susan nesta época. Em 1797, o seu pai quis publicar Pride and Prejudice, mas o editor recusou.
 
Não há provas de que Jane tivesse sido cortejada por alguém, apesar de um breve amor juvenil com Thomas Lefroy (parente irlandês de uma amiga de Austen), aos 20 anos. Numa carta a Cassandra, datada de 1796, escreveu dizendo que tudo tinha terminado pois ele não podia casar devido a motivos económicos. Pouco tempo depois, uma tia de Lefroy tentou aproximar Jane do reverendo Samuel Blackall, mas Jane não se mostrou interessada.
 
Em 1800, o seu pai decidiu mudar-se para Bath. Nessa época, a família costumava ir à costa todos os verões, e foi numa dessas viagens que Jane conheceu um homem que se enamorou dela. Quando partiu, decidiram voltar a ver-se, porém ele morreu. Tal fato não aparece, porém, em nenhuma das suas cartas, mas foi descrito muitos anos depois, e não se sabe o quanto esse namoro possa ter afetado Jane. Alguns chegam a considerar esse episódio como inspiração para a obra Persuasion.
 
Em dezembro de 1802, estando Jane e Cassandra com a família Bigg, perto de Steventon, Harris Bigg-Wither pediu Jane em casamento, e ela consentiu. No entanto, rompeu o compromisso no dia seguinte, e foi com Cassandra para Bath. Cassandra estava comprometida com Thomas Fowle que, sem condições financeiras para casar, adiava o casamento desde 1794. Thomas acabou por morrer de febre amarela, em 1797, no Caribe, onde estava colocado como militar, justamente para ganhar dinheiro para o casamento. Nem Jane, nem Cassandra Austen chegaram a casar-se.
                                                
Em 1803, Jane Austen conseguiu vender a obra Northanger Abbey (então intitulado Susan) por 10 libras esterlinas, apesar de o livro ter sido publicado somente 14 anos depois. É possível, também, que nessa ocasião tenha começado a escrever The Watsons, logo abandonando a ideia. Em janeiro de 1805, morre o seu pai, deixando a esposa e as filhas em situação economicamente precária pelo que elas passaram a depender dos seus irmãos e da pequena quantia que Cassandra herdara do seu falecido prometido.
 
Em 1806, os Austen mudaram-se para Southampton, perto da marina de Portsmouth, o que lhes permitia visitar frequentemente os irmãos Frank e Charles, que serviam na marinha como almirantes. Em 1809 mudaram-se para Chawton, perto de Alton e Winchester, onde o seu irmão Edward as abrigou numa pequena casa dentro de uma das suas propriedades. Esta casa tinha a vantagem de ser em Hampshire, o mesmo condado onde elas tinham passsado a infância. Uma vez instaladas, Jane retomou as suas atividades literárias revisando Sense and Sensibility, que foi aceite por um editor em 1810 ou 1811, apesar de a autora assumir os riscos da publicação. Foi publicado de forma anónima, em outubro, com o pseudónimo "By a Lady". Segundo o diário de Fanny Knight, sobrinha de Austen, esta recebeu uma "carta da tia Cass pedindo que não fosse mencionado que a tia Jane era a autora de Sense and Sensibility". Teve algumas críticas favoráveis, e  sabe-se que Jane lucrou 140 libras esterlinas.
 
Jane adoeceu em 1816, possivelmente com a Doença de Addison, uma enfermidade rara do foro endócrino cujos sinais e sintomas desenvolvem-se de forma lenta e subtil e que se caracteriza basicamente pela deficiência da hormona cortisol e outros corticosteróides. Daí que Jane começasse a evidenciar sinais de cansaço fácil, fraqueza e enjoos. A doença era fatal se não tratada pois induzia a insuficiência renal. No verão de 1817, a família levou-a para Winchester para estar mais perto do seu médico. No entanto, este nada pode fazer por ela e, a 18 de Julho de 1817, Jane Austen morreu pacificamente, nos braços da irmã, aos 41 anos de idade. As suas últimas palavras foram: "Nada quero mais do que a morte". Cassandra herdou tudo aquilo que era de Jane.
 
Foi sepultada, dias depois, na ala norte da Catedral de Winchester. Sobre o granito preto do seu túmulo foram escritas algumas palavras sobre Jane Austen,  mas reconhecendo-a como filha do Reverendo George Austen e não por ser autora dos grandes livros que escreveu. Só no seu memorial, colocado mais tarde perto do túmulo, foi enfatizado o seu trabalho como escritora.
 
Northanger Abbey e Persuasion foram publicadas já depois da morte de Jane, em 1818. Deixou ainda como inacabadas as obras Sandition e The Watson, posteriormente publicadas. 
 
Jane Austen é hoje considerada como uma das maiores e mais amadas escritoras britânicas. Actualmente, as suas obras são objecto de inúmeros estudos académicos. Com milhões de fãs espalhados por todo o mundo, as suas obras tornaram-se ainda mais apreciadas desde que começaram a ser adaptadas à televisão e ao cinema.
 

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