Acho Mr Bingley o "homem doce" da história. Sempre disposto a aceitar as diferenças de todos, sempre com um sorriso na cara... Jane Austen apresenta-o como uma boa pessoa, que atura todas as esquisitices e "manias" de superioridade das suas irmãs e do seu amigo. Considero-o, contudo, demasiado passivo... pouco energico na batalha das suas convicções. Eu gostava que ele tivesse resolvido mais cedo a sua questão com Jane, que tivesse lutado pela mulher que amava... aquele abandono de Netherfield repentino e apenas porque as suas irmãs e amigo o tinham "convencido" da falta de sentimentos por parte da sua amada demonstra insegurança, agravada, considero eu, por um "espirito bondoso" que apenas vê o "lado bom" das coisas. Acima de tudo acho que ele era credulo em relação à amizade do seu amigo e ao amor das suas irmãs, não tendo em conta nesta equação o preconceito... um sentimento tão forte nas suas irmãs e no seu amigo.
Mr Bingley vivia a sua vida despreocupado, sem ver maldade e aceitando todos como são... mesmo as inconveniencias eram, não desculpadas, mas ignoradas por ele. Sabia reconhecer uma inconveniencia mas não lhe dava importancia, não eram essas inconveniencias que condicionavam a sua relação com os outros, nomeadamente a sua relação com os Bennet. Já as suas irmãs consideravam-se superiores a todos, poucos eram considerados seus iguais, poucos eram dignos da sua confiança e merecedores de um sorriso. Aliás são três irmãos em que a diferença se faz pelo sexo: o homem despreocupado e de coração "mole, as irmãs altivas e preconceituosas.
Bingley não é um personagem que nos cative pela sua energia na história: ele deixa-se conduzir. Mesmo quando assume a sua paixão por Jane e faz o tão esperado pedido, fá-lo porque o seu amigo lhe dá um "empurrão" para ele assumir o que há muito ele queria fazer... Mas consegue ser coerente na forma como trata todos: sempre com simpatia e bondade, mesmo em situações mais inconvenientes ele consegue sorrir e tolera a forma de ser dos outros, como quando tolerou o que Darcy lhe diz quando ele o incentiva a dançar com Lizzy, ou os "exibicionismos" de Mary.
As irmãs Bennet são todas diferentes entre si, como seria de esperar. Lizzie detém o estatuto de preferida do pai, no entanto é Lydia quem ocupa esse lugar no coração da Sra Bennet.
Apesar de serem cinco irmãs, eu diria que são apenas três, talvez porque sempre que olho para elas, parece-me que formam três duplas distintas: Jane/Lizzie; Kitty /Lydia e Mary.
Pois é Mary parece ficar sozinha nesta divisão, sabemos que ela é a mais feia das irmãs, mas eu nunca entendi se ela seria, a mais feia quando comparada com as outras ou se era realmente feia. De qualquer modo a beleza é um conceito deveras subjectivo e Orgulho e Preconceito, expressa mesmo essa ideia pela boca do Mr. Darcy. Quando questionado pela Miss Bingley num dos capítulos iniciais, Darcy não tem dúvidas em dizer que Lizzie não é bonita, mas aquando da visita dela a Pemberley e perante novo interrogatório da Miss Bingley, ele afirma que ela é das mulheres mais bonitas que conhece.
Assim, sem atractivos que saltem à vista, Mary acaba por se tornar estudiosa e dedicar-se ao desenvolvimento dos seus talentos. Julgo que isso a isola um pouco das irmãs. Calculo que num dia Mary passasse mais horas a treinar no piano do que a fazer uma qualquer actividade com as irmãs.
Apesar de mais velha Kitty segue Lydia cegamente. O que é curioso, já que seria de esperar o contrário. Eu diria estas duas são uma espécie de gémeas. E como nos gémeos, uma parece assumir o comando e liderar a outra. No filme de 2005, Kitty foi interpretado pela Carey Mulligan, ela disse em entrevistas que tinha tentado copiar os gestos de Jena Malone ( Lydia) precisamente pela relação das duas e isso ajudou-a no papel já que era inexperiente.
Por fim Lizzie e Jane, as mais velhas e aquelas que pela sua sensatez e caracter acabam admiradas onde quer que vão. Como é possível que elas tivessem tanta capacidade de se comportar tendo em conta a forma como a própria mãe muitas vezes se comportava? Julgo que a solução apresentada pela minha colega Joana, neste post , será a mais correcta. À medida que iam nascendo mais meninas o interesse de Mr. Bennet foi diminuindo e as outras acabaram por ser mais criadas pela mãe. Às mais velhas ele ainda conseguiu incutir algum juízo. De resto, como sabemos as irmãs Bennet não tiveram uma preceptora e nunca nos dizem que tivessem frequentado uma escola. Assim, a sua educação foi totalmente dada pelos pais, mas como Lizzie diz a Lady Catherine aquelas que queriam aprender não faltavam livros, mas as duas mais novas sempre me pareceram mais interessada em perseguir os oficiais ou comprar fitas novas do que ir na direcção da biblioteca.
Apesar de tão diferentes, as irmãs não se davam mal entre si, nunca nos é dito que houvesse brigas ou disputas por namorados ou algo assim. Algumas cenas da adaptação de 1995 mostram Kitty e Lydia a gozarem com Mary, mas julgo que seria sem maldade e fruto da sua infantilidade, já não me recordo se no livro acontece algo assim. Nenhuma delas faz algo que prejudique outra irmã. Claro que teriam as suas divergências, mas com cinco feitios tão diferentes não seria de esperar o contrário.
Recebi, faz uns dias, um email de uma fã do JAPT, a Eva Rei, que irá participar numa exposição de fotografia, deixo aqui uma parte do seu email.
"Desde já, tenho a alegria de convidar para a exposição em que irei participar com 3 das fotografias que integram o meu trabalho final ("Regency Wardrobe").
Ainauguração da exposição “Trabalho Final” terá lugar no dia 3 de Dezembro (sábado), às 17:00 horas, na Galeria Geraldes da Silva, no Porto, reunindo uma mostra do trabalho de dez formandos finalistas do Curso Profissional de Fotografia 2009-2011, do Instituto Português de Fotografia do Porto e de Lisboa."
Para quem estiver no Porto parece-me uma excelente proposta!
São muitas as teorias sobre a morte de Jane, mas assassinato parece-me um pouco rebuscado, até porque como diz a noticia não parecem existir possiveis culpados.
Há um assunto, no âmbito do tema deste mês, que eu não podia deixar de comentar.
A relação de Mr. Bennet com a família é, no mínimo, interessante.
A sua filha favorita é, sem dúvida, Elizabeth. Depois, acredito, Jane.
Correndo o risco de irritar alguns fãs do chefe da família, não posso considerar Mr. Bennet um bom pai, pois, sabendo a personalidade da esposa, não se impôs na educação das filhas.
Reconheço-lhe como qualidade nunca culpar a esposa ou negligenciar as filhas pelo facto de não ter um filho (para perceber esta questão ver o post de 5/11/11 que explica a questão da herança de Longbourn de forma excelente).
Já pensei se a afinidade pelas filhas mais velhas não estará relacionada com o facto de à medida que as meninas iam nascendo, lhe parecesse cada vez mais improvável o nascimento de um rapaz e isso o levasse a um desinteresse crescente pela orientação das crianças.
Mr. Bennet é um homem com gosto pela cultura. Quem lhe tira os seus livros e o isolamento da sua biblioteca, tira-lhe tudo.
Deixando a educação das filhas apenas a Mrs. Bennet não espanta que Mary, Kitty e principalmente Lydia, tenham feitios tão… difíceis. Acho que ele só se arrepende disso aquando da fuga de Lydia (embora o seu arrependimento não dure muito tempo).
Por diversas vezes Mr. Bennet mostra que as maneiras indecorosas e a falta de senso das Bennet mais novas o entretêm muitíssimo. Tenho que lhe reconhecer o espírito leve porque até quando as repreende, fá-lo sempre de forma bastante engraçada e até sarcástica.
Podemos concordar ou não com as acções de Mr. Bennet mas ele é uma das personagens mais interessantes de Orgulho e Preconceito.
Este mês, como sabem, iremos falar das relações familiares em Orgulho e Preconceito. Já algum dia pensaram como as várias relações existentes entre os vários personagens acabam por ser o grande motor desta obra? Em nenhum outro livro que li de Jane Austen, me parece que essa teia de relações foi tão bem urdida e serve de formula quase matemática para fazer a estória avançar. Há uma série que relações que se fossem de outra forma não proporcionariam o desenrolar da estória tal como ela acontece. Terá Jane Austen criado os personagens à medida que foi precisando deles ou terá feito um esquema?
Ora vejamos, temos a familia Bennet, pai, mãe e cinco filhas que precisam de um marido, já que nenhuma delas irá herdar a propriedade. Surge em cena Collins, o primo, que se fosse um homem sensato até não seria um mau partido para Lizzy, Jane já estava sobre o feitiço de Bingley. Mary estava ocupada com o desenvolvimento dos seus talentos e para Lydia e Kitty, ele nunca podia ter algum encanto já que não usava uniforme. Mas Collins está longe de ser sensato e é na verdade um homem tolo e vaidoso, embora tenha uma boa situação na vida. Charlotte Lucas, que quer apenas casar, não querendo nada com o amor acaba por arranjar forma de ele a pedir em casamento, após a recusa de Lizzy. As manhas que Charlotte usou serão sempre um grande mistério. Agora reparem como a teia foi bem urdida, Charlotte podia ser apenas uma vizinha alguém que a família Bennet conhece, mas não ela é a melhor amiga de Elizabeth e é essa relação de grande amizade que proporciona a visita de Elizabeth ao Kent e o reencontro com Mr. Darcy. Acredito que se fossem apenas vizinhas a visita não acontecia naquela altura não se viajava tanto como hoje, pois como sabem as estradas não eram muito boas e o comboio ainda não existia. No Kent, há outra relação que também foi pensada, Mr. Collins podia ter por patrona uma velha rica e maçadora, mas ela é também tia de Darcy, que a visita todos os anos. Ora mais uma vez a relação de parentesco permite o reencontro entre Darcy e Elizabeth, que de certa forma é inesperado.
Porém o reencontro é desastroso e só um novo encontro proporcionado pelos Tios Gardiner é que resolve as coisas. Estes tios tinham um grande carinho por Elizabeth e por isso mesmo ela é a escolhida para ir como eles na visita ao Derbyshire. São também eles que vivem em Londres e acolhem Jane, que nessa visita descobre que Caroline Bingley não é muito boa pessoa.
Por fim chegamos a Lydia, a tresloucada da família que foge com um belo homem de uniforme, George Wickham. Ora este rapaz é filho do antigo administrador do pai de Darcy, se o nosso Mr. Darcy não o conhecesse era possível que nunca tivessem encontrado o feliz casal; afinal é ele que graças ao conhecimento que tem das antigas relações de Wickham acaba por encontrá-los.
Como vêem as relações estabelecidas entre os vários personagens acabam por ser um motor que ajuda a desenrolar a acção. Por isso acredito que a teia de relações foi bem urdida ou talvez como alguém disse uma vez: Jane Austen não queria acabar Orgulho e Preconceito e por isso foi acrescentando mais e mais desenvolvimentos e personagens...
Este texto tem como base o Artigo de Luanne Bethke, “Land, Law and Love”.
Para além de outras razões, Mrs. Bennet procura a todo o custo casar “bem” as filhas porque, caso Mr. Bennet morra, elas ficarão destituídas da sua casa e totalmente dependentes de familiares e aí, não haveria Darcys que lhes valessem.
Aos nossos olhos, mesmo tratando-se de um ordenamento jurídico diferente, não faz sentido que as Misses Bennet não tivessem direito a ser herdeiras, aliás, não nos entra na cabeça como é que a viúva, Mrs. Bennet, não é a principal herdeira em caso de morte do marido. Pois bem, a verdade, é que no tempo de Jane Austen, as mulheres estavam muito limitadas no que toca às heranças.
“No tempo de Jane Austen, embora as mulheres pudessem herdar, possuiam várias limitações no que tocava a dispor dos seus direitos de propriedade ou de fazer contratos. Isto era totalmente apliclável às mulheres casadas. Quanto às solteiras, quando atingissem a maioridade” (na altura 21 anos) “pareciam ter direitos equivalentes aos homens no que tocava aos direito de propriedade”, porém parecia haver uma lacuna legal pois essa equivalência não era referida, talvez porque se entendia que “todas as mulheres, aos olhos da lei, são casadas ou em vias de ser casadas”. No que respeita às mulheres casadas, elas não podiam dispor do seu próprio direito de propriedade, porque se presumia que tais direitos estariam sob a alçada do marido” pois entendia-se que marido e mulher configuravam uma só figura para o direito, sendo o homem o porta-voz das tomadas de decisão. Da nossa perspectiva actual, tudo isto parece quase blasfémia, mas na História temos de nos saber colocar naquele tempo para podermos compreender as suas linhas de pensamento – o que não nos impede de criticar tais valores.
Para entrar um pouco mais na nossa questão, é necessário perceber qual o regime sucessório que vigorava – Sistema de Primogenitura.
Neste sistema, “o filho mais velho (primogénito) herdava toda a propriedade, se não sobrevivesse para herdar, secundava-o o próximo filho na linhagem,e por aí fora”. Esta questão faz-me lembrar a situação da doença de Tom Bertram em Mansfield Park e em como Mary Crawford estava morbidamente exuberante por ver cair a fortuna nas mãos de Edmund, com quem esperava vir a casar. Prosseguindo, “a racionalidade deste sistema advinha do facto de, mantendo a parcela de propriedade intacta, recebiam-se mais impostos e mantinha-se o elevado grau de prestígio do nome da família. Daí que fosse mais proveitoso passá-la por inteiro para o filho mais velho do que dividi-la de forma a distribui-la por todos os filhos.
Todavia, os filhos mais novos podiam herdar dinheiro, embora lhes fosse vedado o acesso à herança de propriedades, e é por isso que geralmente seguiam a vida militar ou clerical em busca de uma rapariga detentora de uma grande herança. (...) As filhas, por sua vez, não podiam herdar coisa alguma enquanto houvesse filhos-homens na família. Nessa situação, as filhas seriam tratadas como uma unidade e herdariam a propriedade em conjunto, pois considerava-se que, havendo apenas filhas, era mais vantajoso dividir a propriedade de forma a garantir que cada uma ficasse com uma soma razoável (dote) que lhes permitisse celebrar melhores casamentos .”
Contudo, a situação em Orgulho e Preconceito não é exatamente esta, pois caso fosse, Mrs. Bennet não precisava de ter tanta urgência em casar a prole, uma vez que, com a morte do pai, as Misses Bennet seriam as herdeiras de facto. O que acontece é que, em O&P, a propriedade dos Bennet, Longbourn, é uma propriedade em fideicomisso. Isto significa que Mr Bennet não era detentor pleno da terra, isto é, a propriedade foi-lhe deixada sob certas regras definidas pelo concessor/doador, e neste caso, a herança da propriedade foi limitada à linha masculina. Lembro que esta situação é semelhante à que ocorre em Sensibilidade e Bom Senso.
“A razão para vincular a herança aos herdeiros homens, à parte da questão sexual discriminatória própria daquela época, era também a de proteger as mulheres de ‘caça-fortunas’ como Wickham, uma vez que as propriedades de uma mulher eram geridas ou pelo pai, enquanto solteira, ou pelo marido, quando casada. Apesar de tudo o que foi dito, uma mulher podia herdar propriedades e dispor delas livremente e com plenos poderes, embora fosse bastante raro e só em situações de famílias ricas sem filhos homens onde se desejessasse beneficiar a filha com um avultoso dote.”
Analisando agora especificamente a herança dos Bennet. Como disse atrás, Mr. Bennet possuia uma propriedade sob o regime de uma doação estrita (fideicomisso) que limitava as heranças à linha masculina. “Caso os Bennet tivessem tido um filho, este poderia herdar a propriedade, mas só e apenas depois da morte do pai.” Mr. Collins, neste caso, o herdeiro, não poderia, igualmente, fazer nada quanto à herança enquanto Mr. Bennet fosse vivo, pois embora fosse o herdeiro presumido, legalmente ainda não estava investido dos poderes daí inerentes e por isso, só depois da morte de Mr. Bennet poderia tomar Longbourn, conquanto Mr. Bennet não tivesse um filho enquanto vivesse e isso destruía toda a legitimidade sucessória de Mr. Collins.
“Suponhamos que os Bennet tinham um filho, mas que tal filho não viveu o suficiente para atingir a maioridade. O interesse do filho ser-lhe-ia investido aquando do nascimento e por isso, passado para os seus herdeiros masculinos. Se ele morresse antes de produzir descendência masculina, os Bennet voltariam de onde tinham começado. Contudo, se ele tivesse um filho antes de morrer, tal filho – neto de Mr. Bennet – seria o herdeiro do interesse da herança.
Suponhamos ainda que os Bennet tinham tido um filho e que Mr. Bennet morria antes de ele atingir a maioridade, o resultado dependeria do facto de estar próximo ou longe da idade da maioridade. Se estivesse próximo dos 21 anos e fosse responsável, seria feito administrador/mandatário até à maioridade, altura em que teria plena capacidade. Se fosse ainda muito novo, o tribunal teria de nomear um administrador ou mandatário para gerir os seus interesses até que atingisse a maioridade. “
Espero ter ajudado a perceber a questão, pelo menos mais do que a complicá-la!