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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Sensibilidade e Bom Senso (cap.I e II): As capacidades persuasivas de Fanny Dashwood

"Mr John Dashwood não tinha a mesma força de sentimentos do resto da família; mas sentiu-se afectado por uma recomendação daquela natureza feita em semelhantes condições, pelo que prometeu fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para tornar-lhes a vida mais confortável. O pai ficou tranquilizado por esta garantia, e Mr John Dashwood teve depois tempo para considerar quanto poderia, prudentemente, fazer por elas".

 

Este "...quanto poderia, prudentemente, fazer por elas" denota já o caráter frio e egoísta do filho de Mr Dashwood que, já rico, conta com uma 'forte caricatura' sua, 'ainda mais mesquinha e egoísta' que é a sua indelicada e arrogante esposa Fanny Dashwood, mulher pouco amável mas de quem é bastante amigo talvez porque são tão parecidos. Neste caso particular, os opostos não se atraem.

 

Ao fazer a promessa ao pai, John Dashwood pensou honrar essa promessa. No entanto, é a sua esposa, já instalada em Norland Park, que, maléficamente e fazendo jus ao seu caráter ganancioso e egoísta, lhe muda por completo as ideias, indo, no fundo, ajudá-lo a tomar uma decisão que se adequa mais ao seu próprio caráter, tão semelhante ao da esposa. Não duvido que ele seja um pouco mais sério e amável que ela. Todavia, é ela quem lhe molda a personalidade de acordo com a sua e acaba por ter um companheiro digno da sua pessoa e do seu caráter.

 

A conversa tida entre os dois, onde Fanny o persuade magnifica e evidentemente a não contemplar tão bem a madrasta e as meia irmãs, é de ranger os dentes de tanto que incomoda o leitor. Dá para pensar: como pode um homem ser tão influenciável ao ponto de perder o bom senso e desonrar as suas promessas a um pai no leito de morte?? Claro que Fanny usa um bom motivo para persuadir John que é pai. Colocar o seu próprio filho no meio desta distribuição de herança é por si só um bom argumento para prejudicar a outra parte da família. E, não tendo sido mencionados valores numéricos perante o seu moribundo pai, ele pensa que não está a prejudicar ninguém e apenas a pensar naqueles que são realmente seus. O que nos leva a fazer uma vénia a Fanny Dashwood e às suas capacidades de persuasão.

 

Não vou transcrever o segundo capítulo desta obra onde estão bem patentes estas capacidades persusivas de Fanny Dashwood. No entanto, quem já o leu, de certeza que se sentiu como eu. A mulher é realmente de uma mesquinhez fenomenal e consegue guiar a maneira de pensar do marido de uma forma inteligente e bastante perspicaz. Usasse ela essas qualidades para outras coisas mais generosas e seria uma mulher de qualidades enaltecedoras.

 

A importância das Governantas na educação na época da Regência

Em primeiro lugar, convém distinguir, dentro do termo 'governantas', aquele que define a mulher que tratava da educação das crianças e aquele, surgido mais tarde, que tratava não só das crianças (mais o bem estar pessoal que a educação) mas também da casa. Este último termo é o que actualmente mais conhecemos, dado que as governantas na educação passaram a ser as professoras propriamente ditas e as escolas.

 

No entanto, na época da regência, as governantas (governess) eram mulheres que se dedicavam exclusivamente à educação dos filhos de famílias ricas e principalmente das meninas dado que só os homens frequentavam as universidades. Daí podemos afirmar que a educação das meninas dependia largamente da perspicácia e sorte com que os pais escolhiam as suas governantas.

 

Por norma, as governantas eram mulheres de nascimento gentil, com um nível aceitável de educação, boas maneiras e um conhecimento da sociedade e seu funcionamento que lhes permitia, muitas das vezes, serem tratadas como membros da família. Não era incomum encontrar jovens senhoras amplamente instruídas a ocupar estes cargos (veja-se por exemplo o caso de Miss Taylor/Mrs Weston na obra de Jane Austen 'Emma' ou ainda Jane Eyre na obra de Charlotte Bronte). Mas encontravam-se também algumas que eram apenas competentes e dedicadas ao ensino. Não podemos, no entanto, esquecer que esta função era exercida normalmente porque estas mulheres vinham de famílias com poucos recursos e com necessidade de obterem meios para se sustentarem.

 

As funções das governantas na educação das crianças passavam pelo ensino da escrita e leitura, estudo de línguas (o francês por norma), bordar (caso das meninas), música, diálogos racionais e instrutivos e ainda o hábito de exercícios saudáveis. Estas actividades eram organizadas e definidas pela própria governanta, tendo em conta evidentemente os desejos dos pais. A elas cabia ainda a função de dar conselhos adequados e saudáveis.

 

As governantas eram normalmente tratadas como membros das famílias onde se empregavam, algumas eram bastante queridas pelos seus alunos e algumas chegavam mesmo a viver para sempre com essas famílias, isto quando não lhes era dada uma pensão para a sua aposentação. No entanto, havia também aquelas que viviam uma vida de solidão, preenchendo as suas horas de folga da melhor maneira possível e que não eram tão queridas pelos seus alunos ou familiares destes; por norma, estas eram consideradas apenas como mais uma criada apesar de o seu nível de instrução ser, muitas vezes, superior ao dos seus empregadores.